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Romilton presta homenagem a Ibsen Pinheiro

15 de Abril de 2008 às 09:59
Discurso proferido pelo deputado Romilton Moraes (PMDB) em sessão especial em que o deputado federal Ibsen Pinheiro recebeu o título de Cidadão Goiano. (14.04.2008).

Senhoras e Senhores,

A Assembléia Legislativa do Estado de Goiás tem a honra de conceder nesta noite, numa feliz iniciativa do ex-deputado Fernando Netto que assumimos com muita honra e alegria, o título de cidadão goiano a um homem de bem que sofreu uma das maiores injustiças que se tem notícia no Brasil: o ilustre e digno deputado federal gaúcho Ibsen Pinheiro.

Trata-se, sem dúvida alguma, de um grande brasileiro, figura que inspira o mais alto crédito, personalidade que merece o nosso respeito e admiração pela sua trajetória de vida, sobretudo pelo espírito de luta e notável capacidade de enfrentar e vencer adversidades.

Ibsen Pinheiro entrou para a história brasileira ao presidir a sessão da Câmara dos Deputados que aprovou o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, em 28 de agosto de 1992.

Em franca ascensão, ganhou poder, fama e ampla exposição na mídia. O parlamentar do PMDB Rio Grande do Sul, vindo de uma carreira bem sucedida como jornalista e como promotor de Justiça, passou a se constituir em referência política do Legislativo no Brasil.

Os ventos da política conspiravam a favor de Ibsen Pinheiro e embalavam merecidos projetos de ascensão política. Daí, não ter sido surpresa alguma ver o seu nome ser lembrado como potencial candidato à Presidência da República nas eleições de 1994.

Mas, em setembro de 1993, uma reportagem da revista Veja denunciou a existência de um esquema de corrupção monumental: um bando de deputados manipulava verbas orçamentárias e desviava dinheiro público.

Era a chamada máfia dos anões do Orçamento. A denúncia sacudiu o país. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi instalada na Câmara de Deputados e, por meio de informações equivocadas, o nome honrado de Ibsen Pinheiro acabou envolvido no esquema e jogado irresponsavelmente na lama.

O denuncismo irresponsável alvejava impiedosamente o deputado gaúcho: uma operação bancária sem a menor importância foi tomada como lavagem de dinheiro, uma fotografia de Ibsen em companhia de alguns dos deputados  investigados considerada prova de crime de formação de quadrilha, e uma transação financeira de mil dólares transformou-se numa megaoperação de um milhão de dólares.

Estava feito o estrago. Toda a imprensa entrou na onda da denúncia. Em 11 de novembro de 1993, a manchete de capa da Veja estampava: "Até tu, Ibsen?". A revista publicava uma devastadora matéria assinada pelo jornalista Luís Costa Pinto sustentando as acusações contra o deputado com base numa fantasiosa movimentação de um milhão de dólares, incompatível com os rendimentos declarados do parlamentar.

A tragédia não tardaria a se consumar: no ano seguinte, amargando toda a sorte de humilhações, Ibsen teve abusrdamente o mandato cassado pela Câmara dos Deputados num julgamento turvado por inquinações políticas, apesar das evidências incontestáveis apresentadas pela defesa contra as acusações.

Segundo ele escreveria mais tarde, houve um momento, no meio de todo aquele furacão, em que tomou uma decisão que vale como lição de força e energia para todos nós: convenceu-se que a melhor coisa que podia fazer por ele próprio seria agarrar-se à vida.

Ele não poderia simplesmente morrer: era preciso viver, ir à luta para ver até onde iria tudo aquilo, o quanto resistiria e como seria o seu restabelecimento pessoal e público.

Quase 15 anos após a cassação, Ibsen Pinheiro – que neste momento honra com a sua presença a Assembléia Legislativa do Estado de Goiás - é hoje uma prova irrefutável de que a verdade sempre triunfa. A matéria da revista Veja estava errada. Os números não batiam e aquele milhão de dólares não passa de ficção. O próprio autor da matéria, jornalista Luiz Costa Pinto, teve a coragem de vir a público para reconhecer o erro.

Depois de se eleger vereador mais votado em Porto Alegre em 2004, o bravo gaúcho de São Borja, filho de dona Lília e do espanhol Ricardo Pinheiro Bermudes, em 2006 reconquistou nas urnas o mandato na Câmara dos Deputados e resgatou pelo voto popular uma história de vida que é exemplo para todos nós.

Parece até que, ao se reerguer, Ibsen encarnou o verso do genial poeta goiano Afonso Félix de Souza, que escreveu:

“O mundo é isso
e o jeito é ir chutando e vou chutando
e vou driblando e vou sendo driblado
e vou caindo e vou-me erguendo...”

Enfim, que aconteceu com o deputado Ibsen Pinheiro é do cotidiano de nossas vidas. Não deveria ser, mas é. Infelizmente, não são poucos os episódios de linchamento moral movidos pelo ódio e pela inveja, frutos não só do comportamento irresponsável, mas também da mediocridade.

Ibsen Pinheiro teve a felicidade de reafirmar a sua inocência e trazer a verdade à tona. Como disse o juiz Hugo Black, da Corte Suprema dos Estados Unidos, a luz do sol é o mais poderoso detergente. Com humildade, Ibsen Pinheiro desfez o equívoco e limpou a sua biografia.

Pobre daquele que passa sua vidas sem conseguir o necessário reparo da calúnia devido a força e a falta ética de seus detratores, que autoritariamente sequer admitem o sagrado direito à defesa.

A grande lição que nos deu Ibsen Pinheiro está expressa na defesa apaixonada que fez da liberdade de imprensa, mesmo tendo sido espezinhado por ela.

Cito as suas próprias palavras para concluir o meu pronunciamento: “O mau jornalismo se combate com o bom jornalismo. O regime da liberdade de imprensa é o único que dá pelo menos a esperança de reparação. No regime da imprensa censurada, a infâmia é eterna&rdquo. Em nome dos 41 deputados que integram o Parlamento goiano rendo homenagem e saúdo este grande homem público, orgulho do Rio Grande Sul e do Brasil – e, agora, nosso irmão de fé por um Goiás mais humano, mais justo e mais digno para a sua gente.

Muito obrigado.

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