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Crise generalizada em torno da produção agrícola

17 de Abril de 2008 às 08:39
Uma revisão das políticas para o setor agrícola do país, sob pena de caos geral na produção. É o que aborda o deputado Wagner Guimarães, PMDB, em artigo publicado no jornal "Diário da Manhã", edição de 17.04.2008.

* Wagner Guimarães é deputado estadual pelo PMDB


É cavernosa e rouca, mas incisiva a voz que proclama nos ouvidos dos produres brasileiros “quero ver se suportam mais esse golpe”. Não acredito no sobrenatural, mas confesso estar cada vez mais crente na existência de uma "força estranha" agindo contra o êxito da produção agrícola no Brasil. Se de nada adiantam as críticas ou os pedidos de revisão das políticas para o setor ao governo (se é que existem), não temos outro caminho a não ser o misticismo. Sem exagero: seria mais reconfortante ouvir de um ministro ou secretário um pedido para rezarmos por melhores condições de produção. Pelo menos, não permaneceríamos nesta angústia da espera por dias melhores.

A novela em que o produtor figura como vítima parece não ter fim. Já critiquei aqui a total ausência de políticas de longo prazo, mas as más notícias para quem está no ramo não param. O preço dos insumos atinge índices nunca antes vistos e a expectativa de investimentos em plantas industriais nacionais para a produção de defensivos no Brasil já se tornou um mito. Essa dependência de mercados internacionais, é preciso que se diga, é talvez o maior algoz para o segmento. A questão não é brincadeira: a dependência da importação é da ordem de 70%. Isso, aliado ao lento processo de registro de defensivos agrícolas, emperra a produção, considerando também que o País não tem capacidade para atender a demanda interna destes insumos.

Esta semana a Câmara de Insumos Agropecuários se reuniu com representantes do Ministério da Agricultura. Nada de boas notícias. Pelo contrário, há indicativos de escassez do produto no mercado nacional. Basta? Ainda não. Vejamos se o produtor agüenta mais essa: a greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que já dura um mês, aumenta na mesma proporção a fila de caminhões carregados de grãos nos portos e a inflamação da úlcera não só no estômago de quem exporta, mas de quem ainda nem plantou, porque a paralisação também está tendo efeitos no abastecimento e no preço dos referidos insumos. O momento é propício para que se estoure uma mobilização nacional, porque o que está havendo logo, logo, caso não haja reação do governo, pode redundar numa crise de abastecimento do mercado interno. Aí, sim, com prejuízos políticos, talvez o governo tome atitude.

O problema está se generalizando: a associação das empresas de transporte de carga de Foz do Iguaçu está temerária com a cobrança de diárias no pátio da Estação Aduaneira do Interior enquanto durar a greve dos auditores e, diante dos prejuízos, prometem ações na Justiça. A associação representa 15 empresas responsáveis simplesmente por toda a movimentação de insumos agrícolas entre o Brasil e o Paraguai, além do transporte de grãos entre os dois países. Com isso, já são claros os indícios de que a balança comercial brasileira já está sendo afetada, em especial o embarque de produtos agrícolas; muitos produtores perdem clientes no exterior porque não conseguem embarcar a mercadoria no tempo previsto. Sem contar que estamos no auge da temporada de embarque da soja.

Não há dúvidas de que a situação anuncia uma crise de proporções generalizadas, que envolve produtores, transportadoras, exportadores, a própria Receita Federal. Se formos mencionar ainda as patinadas nas exportações da carne brasileira, as dificuldades com escoamento por causa das péssimas condições de conservação da malha viária, a falta de incentivos, o problema da segurança nas propriedades rurais, teremos motivos mais que suficientes ou para nos mobilizarmos de uma vez ou então para largarmos a produção agrícola e mudar de profissão.

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