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Jornalista conclama deputados a discutir reforma política

28 de Maio de 2008 às 08:54
Uma ampla discussão pelo Legislativo Estadual sobre a reforma política em tramitação no Congresso Nacional. Este foi o apelo lançado pelo jornalista Reynaldo Rocha durante sessão especial na Assembléia Legislativa que prestou homenagem à imprensa. (26.05.2008).

É este 2008, efetivamente, um ano emblemático.Ele marca os duzentos anos da imprensa no Brasil. Marca, ainda, os cem anos da Associação Brasileira de Imprensa. E marca, também, os quarenta anos de instalação do primeiro curso  superior de comunicação do Centro-Oeste, o pioneiro Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás.

Venho de lá. Fui um pioneiro também, ao integrar a primeira turma dos jornalistas formados pela UFG. De lá para cá foi uma longa história, e que teve passagem absolutamente marcante naquele histórico ano de 1968.

Hoje de manhã, aqui nesta Assembléia Legislativa, o deputado Hélio de Souza lembrou-se da inquietude da juventude francesa irrompida nos dias de maio de 68, o ano que não acabou, segundo o jornalista e escritor Zuenir Ventura. Não se deu então, naquela época,  a palavra de ordem para a baderna, a revolta  e a anarquia. Na verdade, levantou-se um brado pela liberdade. E o mundo depois não seria mais o mesmo.

O Brasil não ficaria indiferente a esse movimento histórico pela transformação. Mas o País sofreria muito ainda, por mais vinte e um anos, até que pudesse reacender a chama do que mais caracteriza a liberdade, que é o direito de as pessoas elegerem pela vontade própria os seus governantes.

Mil novecentos e sessenta e oito foi o ano do AI-5, a sinistra intervenção que cassou as liberdades civis e públicas. Mas o Brasil mudaria. E em 1989, finalmente, voltaria a escolher, em eleição direta, o presidente da República.
No processo da reabertura política lenta e gradual, os brasileiros, quatro anos antes, já haviam voltado a escolher, pelo voto popular, os prefeitos das Capitais.  E aqui em Goiânia – me lembro bem – foi uma grande festa popular,

E assim se fez até que se normalizou de vez a vida democrática no País, na histórica eleição presidencial de 1989.

Hoje, quase vinte anos depois, vemos a plenitude da democracia num país que recuperou o brio e retomou a vontade. Padecemos apenas da esterilização do quadro gerador de novas lideranças, o que ainda  – com honrosas exceções – nos põe diante de gestores públicos não vocacionados e sem qualificativos.

É onde entra em foco um princípio basilar da democracia, qual seja a interdependência entre os três poderes do Estado. Neste aspecto, precisamos avançar bem mais. Legisla-se muito ainda - aliás, legisla-se exageradamente – com o recurso das medidas provisórias. Pior imagem do que esta apenas aquela do uso abusivo dos decretos-lei que se notabilizou ao longo do regime militar.

Mas se falamos agora, também neste ano emblemático de 2008, em reforma política, é a hora de pôr cobro às inversões, pondo longe as amarras que ainda tentam deter a marcha natural do processo democrático. Esta é uma missão para a representação política brasileira, e que tem tudo a ver com a atuação do parlamento nacional.

Ainda em referência ao episódio desta manhã aqui na Assembléia Legislativa, durante um café da manhã que marcou o início das homenagens à imprensa e aos jornalistas – e que têm seu ápice nesta memorável noite aqui no Plenário Getulino Artiaga - , lá lembrou o deputado Júlio da Retífica que o papel da imprensa em relação ao parlamento também deve ser marcado pela fiscalização.

Melhor que fiscalizar, no entanto, nobre deputado,  é dialogar. Por isso, me permito – e, com a devida vênia, o faço em nome dos demais jornalistas homenageados – me permito a sugerir que a Assembléia Legislativa de Goiás coloque na sua pauta o tema da reforma política, levando as conclusões do seu debate ao cenário da discussão maior, a ser travada no Congresso Nacional.

Mas é indispensável que eu fale um pouco sobre os elevados misteres que pesam sobre nossos ombros. Um deles, o de responder pela designação de ser a imprensa o quarto poder da República. Não apenas pela sua capacidade de ingerência, mas pelo compromisso ético que marca o seu trabalho, como interponto entre a esfera dos que decidem e o leito de onde emanam as demandas populares.

A justiça social, Senhor Presidente e Senhores Deputados, não pode acabar meramente como um tema do discurso político. Ela precisa ser praticada. E só será praticada se a esfera do poder estiver devidamente conscientizada de que, antes de mais nada, é o agente da construção e da transformação. Como referencial ético, não há como se negligenciar diante dessa tarefa de alta magnitude. Aí está um ponto para a fiscalização da imprensa, na forma sugerida pelo deputado Júlio da Retífica. Mas é também um ponto a mais – ou o ponto principal – para que este discurso, que é antes de tudo um discurso de agradecimento, traga para dentro da Assembléia Legislativa uma sugestão que antes de mais nada mira a restauração plena da dignidade da população.

Antes de encerrar, não poderia ficar sem um registro do perfil empreendedor do deputado Júlio da Retífica, o autor do projeto de que resultou esta inesquecível homenagem que aqui hoje estamos recebendo. Nascido Júlio Sérgio de Melo, num ano também emblemático – 1954 –, o araguarino Júlio da Retífica se fez empresário em Goiânia. Guiado pelo sonho dos que se contaminam pelo chamamento do empreendedorismo, ele abandonou  o curso de Economia na Universidade Católica de Goiás, no último ano, e foi para Porangatu, no ainda pré-emergente Norte de Goiás, para ali instalar a primeira retífica da região.

Era o ano de 1980. Dezesseis anos depois, com a fama do empreendedor a varrer a região, foi convocado para a missão política. E assim se elegeu prefeito do município. Viria depois um segundo mandato. Daí a chegada à Assembléia Legislativa, onde tomou posse em agosto do ano passado, marcando seu trabalho, nesse quase um ano de atividade parlamentar, pela mesma determinação e pela mesma seriedade.

Não estou falando por falar. Na prefeitura de Porangatu, Júlio da Retífica acumulou prêmios, como o de prefeito-empreendedor do Sebrae e destaque-cultural da Conselho Estadual de Cultura. E tudo isso aconteceu porque ele inovou. Ao implantar os princípios da iniciativa privada no serviço público, criou um modelo de gestão que seria depois copiado, numa extraordinária contribuição para a melhoria geral na administração pública municipal em  Goiás.

Mas este também é o momento de reconhecermos e de enaltecemos a visão e a modernidade do presidente desta casa, deputado Jardel Sebba, que vem implantando mecanismos voltados para a maior transparência dos trabalhos legislativos. O portal hoje montado na Assembléia Legislativa, que fica entre os melhores de Goiás, abriga mais de setenta sites, disponibilizados para os Senhores Deputados, dando-lhes o espaço democrático para que mostrem o trabalho que realizam, com o que se atinge o objetivo maior, que é a justa prestação que o poder legislativo deve aos cidadãos.

Não apenas Porangatu deve ao nobre deputado Júlio da Retífica. Todo o Norte deve. Como presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Porangatu, e depois como presidente da Amunorte, a Associação dos Municípios do Norte de Goiás, fez com que a região avançasse. E hoje o Norte não é apenas uma região do futuro. É o presente, caracterizado pela pujança, marcado pelo empreendedorismo e tomado pela vocação do desenvolvimento.

À Assembléia Legislativa de Goiás, e manifesto em particular ao deputado Júlio da Retífica, o mais sincero agradecimento por esta homenagem.

E que a minha palavra final, pela propriedade intrínseca que se encerra nesta cerimônia, e pelas preocupações que aqui manifestei, seja uma reverência a um brasileiro ilustre, que deu ao Legislativo a exata dimensão que ele precisa ter: paladino da ética, do bem-fazer, da seriedade. Falo do senador Jefferson Péres, que nos deixou no começo da manhã da última sexta-feira, 23 de maio, vitimado por um infarto fulminante. E faço minhas – e quero crer, dos meus colegas homenageados – as palavras que sobre ele escreveu a jornalista Dora Kramer: “Se oportunidade tivesse de comentar a própria despedida, diante da exaltação geral à sua conduta ética como atributo de exceção, o senador provavelmente repetiria o que dizia em vida – AGIR ETICAMENTE PARA MIM É TÃO NATURAL QUANTO O ATO DE RESPIRAR. NÃO É POSE. NÃO É BANDEIRA ELEITORAL. NÃO É CONSTRUÇÃO ARTIFICIAL DE IMAGEM PARA USO EXTERNO. É COMPROMISSO DE VIDA.

Muito obrigado!
  

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