Mara Naves enumera ações de homenageadas
Senhoras e senhores,
Mais uma vez é com imensurável júbilo que o augusto Poder Legislativo do Estado de Goiás confere esta homenagem à memorável loja maçônica "Educação e Moral N° 08" que completará 60 anos de fundação no dia sete de julho do corrente ano. Em consórcio a esta iniciativa, esta Casa de Leis também presta justa homenagem às esposas dos ex-veneráveis mestres da citada loja, através da instituição "Colméia da Amizade", organização feminina ligada à citada Loja. Tal reconhecimento leva em conta o trabalho das valorosas mulheres e guerreiras, esposas dos maçons e veneráveis da Loja Educação e Moral, que muito fizeram em prol da maçonaria universal.
Os goianos sabem muito bem o valor e o trabalho dessas mulheres em prol do social em nosso Estado, da fidelidade, do amor à família e do devotamento à pátria. Com um trabalho nobre e dignificante, essas bravas mulheres tem apoiado e desenvolvido atividades sociais, culturais, cívicas e filantrópicas que são próprias de organizações regulares maçônicas e paramaçônicas. Além do mais, elas têm promovido o reconhecimento e a defesa dos direitos universais. Grandes mulheres são todas aquelas que se distinguiram na criação daquilo que é útil e agradável à nossa sociedade. Este trabalho só pode se materializar, como dizia Gandhi, porque as ações dessas senhoras estão em consonância com seus pensamentos.
Tal como mulheres que se destacaram na história do mundo, do Brasil e de Goiás, podemos citar: a) Anita Garibaldi, conhecida pela coragem e pelo companheirismo nas guerras e nas privações, lutou por seus ideais e ficou conhecida como "A heroína de dois mundos"; b) Anita Malfatti, que tornou-se a mulher mais importante do inicio do século XX no que diz respeito a revolução na pintura brasileira, musa do modernismo; c) Carmem Miranda, a pequena notável, que conquistou a América com seus ritmos e boas músicas; d) Cora Coralina, grande escritora do estado de Goiás, que se destacou também nacionalmente. A lista é interminável.
Mulher! Com crescente papel na sociedade e posição crítica perante o mundo, o sexo feminino tem descoberto e provado que não há nada de frágil em ser mulher. Mesmo antigamente quando elas eram obrigadas a manter-se em segundo plano - com o risco de serem condenadas à fogueira ou à guilhotina - muitas ousaram ser diferentes, lutando por ideais sem perder a doçura feminina. São acima de tudo sábias por natureza, porque, espontaneamente, sabem combinar vontade, amor e inteligência.
De acordo com Ana Cristina Canosa, psicóloga, educadora, terapeuta sexual e professora da disciplina ‘Grandes Mulheres da História" na Universidade Aberta à Maturidade (PUC e Unisant'anna), em São Paulo, as mulheres sempre exerceram influência e apenas não tinham espaço ostensivo, porque por algum tempo foram destinadas quase que só ao lar.
"Quando estudamos a biografia de homens importantes da história, esbarramos no pensamento e na atuação de algumas companheiras; muitos deles foram inspirados por elas. No entanto, as mulheres, por uma questão cultural, e sem as quais não teriam tido a força indomável que as impedem às ações, não apareciam como os homens. Outras tantas mulheres mantiveram suas posições submissas aos preceitos sociais, sem buscar participar ou desenvolver atividades fora do lar. Era uma dinâmica retroalimentada", detalha Ana Cristina, que complementa: "foi a coragem de algumas mulheres para lutar e conquistar a autonomia e o direito de atuação nos espaços públicos e também de alguns homens que permitiram a expressão de suas mulheres, que levou tantas outras a despertarem o desejo de seguir o caminho a se encontrarem, nas atuações profissionais, e nas suas realizações pessoais". E como cada uma tem habilidades e características peculiares, as mulheres importantes da história também se destacaram em todas as dimensões que formam a dinâmica da sociedade.
No entanto, apesar das conquistas alcançadas por meio de muita determinação, dois terços dos 876 milhões de analfabetos do mundo são mulheres, e não há expectativas de que esse número diminua significativamente nos próximos 20 anos. O sexo feminino representava cerca de um terço da força de trabalho no mundo, exceto no norte da África e na Ásia oriental, e permanece segregado no mercado de trabalho, sendo mal pago e concentrando-se em ocupações de pouca ou nenhuma relevância, conforme "As Mulheres do Mundo 2000: Tendências e estatísticas", um relatório que observa a situação da mulher pela análise de dados recolhidos em todo o mundo que permite comparar o padrão de vida nos cinco continentes e destacar a discrepância da condição feminina, que, em relação à dos homens, muito ainda há por melhorar. Há muito ainda por fazer e cada um deve propor os avanços e colocá-los em práticas, para que haja a equidade de direitos e de espaço para desenvolvimento entre os gêneros.
O primeiro e grande passo foi dado logo após o Renascimento, Reforma e o Iluminismo, já que a mulher deixou de ser apenas "do lar", isto é, o ser destinado a bordar e cuidar da família. Mas ler, refletir, problematizar e atuar no espaço público, em tempos mais remotos, não seria a elas permitido. Foi nos anos de 1800 que o Brasil reconheceu que a população feminina merecia ser educada, devido à sua importância para a constituição de um novo país. A primeira legislação relativa à educação feminina surgiu em 1827 e permitiu a criação de escolas elementares, somente de meninas. Porém, tais escolas deixavam a desejar, tanto pelo número insuficiente de estabelecimentos, como pela qualidade do ensino ministrado: os mestres só poderiam ser do sexo feminino e como, em geral, as mulheres não tinham uma boa educação, raramente professoras tinham a instrução necessária.
Aos poucos surgiram os periódicos contra-revolucionários e feministas, como "O Sexo Feminino", fundado em 1873 pela professora mineira Francisca Senhorinha da Motta Diniz, levantando a bandeira da educação feminina e alertando as mulheres que o inimigo com quem lutavam era a ignorância sobre os seus direitos e sobre a importância de sua participação na sociedade. Registre-se ainda, neste contexto, o "Jornal das Senhoras", o primeiro editado por mulheres no Brasil. Tais periódicos, apesar de elitistas e seletivos quanto ao poder aquisitivo, já que custavam caro, propiciaram alguns avanços como uma maior inserção da mulher na sociedade.
Já na década de 1920 surgiram as feministas, que propunham a emancipação da mulher em todos os planos de vida social, seja na fábrica ou no lar. Elas lutavam pela instrução da classe operária e, principalmente, da mulher, pois viam nela o veículo de formação do novo homem e, por conseqüência, da nova sociedade libertária. Todavia, elas acreditavam na representatividade feminina e lutavam pela idéia do voto para a mulher. Pouco mais para frente, em 1962, suprimiu-se do Código Civil A Submissão da Mulher Casada, que era considerada relativamente incapaz, comparada a menores de idade. Cinco anos depois, foi elaborada a primeira Constituição após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, constando o preceito que garantiu a igualdade legal, sem distinção de sexo, dispositivo este absorvido pela atual Constituição Cidadã do Brasil que, em seu artigo 5º, inciso I, proclama a igualdade entre homens e mulheres.
Atualmente, em pleno século 21, as mulheres conquistaram independência emocional, com aprovação da lei do divórcio; sexual, com a chegada da pílula anticoncepcional; financeira, ao entrar no mercado de trabalho com admirável competência e determinação; além de outras tantas conquistas em construção. E não é tudo. Para Ana Cristina, um dos pontos mais importantes - herança feminina - conquistada e disseminada para a humanidade, é a subjetividade. Nas palavras da autora, "o maior legado feminino é a inclusão da subjetividade nas relações, que é a característica marcante das mulheres, força motriz para reflexões que incluem o aspecto emocional do ser humano. Se a mulher fosse tão objetiva quanto à maioria dos homens o é, não haveria sensibilidade necessária para as questões de cunho humanitário que surgem na história, como a luta contra o preconceito em todas as ordens, a tentativa de união de povos, a busca pela paz e pela dignidade da existência humana".
Por toda breve história feminina aqui recuperada, e por saberem muito bem os goianos e as goianas o valor e o trabalho destas guerreiras da "Colméia da Amizade" em prol do social do nosso Estado, é que hoje a Assembléia Legislativa de Goiás reconhece e contempla o trabalho destas valorosas mulheres com a medalha Pedro Ludovico Teixeira, a mais alta comenda do nosso Estado.
Senhoras e senhores, encorajadas por Deus e por seus ideais, estas mulheres sempre lutaram bravamente pelos mais pobres e por seus familiares, se tornaram vencedoras e prestaram um grande serviço ao Estado de Goiás e ao Brasil. Por isso, aqui desta tribuna testemunho o meu reconhecimento pela luta dessas valorosas e distintas senhoras.
Não se pode, entretanto, negar que essas mulheres fortes e decididas, nas suas variadas formas de luta, sempre defenderam os direitos essenciais e os deveres condizentes com amor à família, à fidelidade e ao devotamento à pátria, como também deixaram a marca de seu trabalho, nobre e dignificante, em prol das comunidades carentes. Sempre lutaram por um Mundo mais justo e humano.
Assim, "chamo grandes mulheres a todas aquelas que se distinguiram e se destacaram na criação daquilo que é útil e indispensável à sociedade, como essas mulheres homenageadas na noite de hoje".
Enfim, aos amigos que aqui vieram prestigiar as homenageadas desta noite e a todos, eu apenas digo: olhai e vedes como estamos em júbilo e em festa. Isto tudo em razão da dedicação destas mulheres de bem que hoje homenageamos.
Antes, porém, de concluir minha fala, não poderia deixar de nominar cada uma das valorosas mulheres que hoje recebem essa nossa homenagem. Por isso, peço a todos a atenção, a reverência, o reconhecimento, sobretudo, o voto de incentivo e de agradecimento pelas batalhas vencidas por essas grandes mulheres, autênticas heroínas, cujos nomes passo a declinar:
1) Maria Cirene Vaz Dechichi, do lar; esposa de João Fernando Dechichi (falecido em 31/05/2005), Venerável Mestre no período de 1971/1972;
2) Lenis Guimarães Duarte, do lar; esposa de José Duarte, Venerável Mestre no período de 1975/1976;
3) Maria do Carmo Guimarães e Sousa, aposentada; esposa de Benedito Silva de Sousa (falecido em 14/12/2006), Venerável Mestre no período de 1978/1979;
4) Deolinda Silva Porfírio, empresária; esposa de Cezar Porfírio, Venerável Mestre no período de 1979/1980 e 1980/1981;
5) Elza Melo Dechichi, do lar; esposa de Eros Dechichi, Venerável Mestre no período de 1982/1983;
6) Aracy Ferreira Di Lorenzzo do Couto, do lar; esposa de Luiz Alberto Di Lorenzzo do Couto, Venerável Mestre nos períodos de 1987/1988, 1988/1989, 1990/1991, 1999/2000 e 2000/2001;
7) Nadir Seabra Lopes, do lar; esposa de Maurício Lopes Ferreira, Venerável Mestre no período de 1989/1990;
8) Maria das Graças Carneiro Requi, juíza de direito; esposa de Eros Dechichi, Venerável Mestre nos períodos de 1991/1992, 1992/1993, 2004/2005, 2005/2006 e 2006/2007;
9) Iris Danesi Silva, do lar; esposa de Nailton Pereira da Silva, Venerável Mestre nos períodos de 1993/1994, 1998/1999;
10) Vanda Borges de Paula, professora universitária; ex-esposa de Guilhermino de Paula Sousa, Venerável Mestre no período de 1994/1995;
11) Maria Messias da Silva Cruz, aposentada; esposa de José Ferreira Cruz (falecido no dia 01/04/1999), Venerável Mestre no período de 1995/1996;
12) Consuelo Portelinha Falconi, advogada; esposa de Luiz Carlos Falconi, Venerável Mestre no período de 1996/1997;
13) Lair Maria Pires Guimarães, do lar; esposa de Dércio Ferreira Guimarães, Venerável Mestre no período de 2001/2002;
14) Olívia Alves Marcos de Oliveira, empresária; esposa de Jairo Marcos de Oliveira, Venerável Mestre no período de 2003/2004;
15) Adriane Borges de Paula Couto, professora universitária; esposa de Marco Aurélio do Couto Ramos, Venerável Mestre no período de 2008/2009.
Assim sendo, concluo minha fala prestando uma homenagem ao ilustre maçom, João Batista Fagundes, ex-grão-mestre da Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás, homem de alta referência na maçonaria Goiânia e brasileira, e que foi a pessoa que muito contribuiu para este grande evento de hoje.
Por tudo isso, parabéns às homenageadas! Viva a maçonaria! Viva a Colméia da Amizade!
Muito obrigada!