Thiago Peixoto fala sobre cinquentenário do Country
Prezados Senhores e senhoras,
As comemorações em torno do cinquentenário do Country Clube de Goiás nos dão a oportunidade de relatarmos a todos aqui presentes como se constrói uma instituição de sucesso. E como o tripé família - esporte - gestão sustenta o Country Clube há cinco décadas e o torna referência em seu setor.
Para que possamos compreender o êxito atual, relembremos o fim da década de 50, quando aquele grupo de amigos, então denominado Clube dos 20, cansado da falta de segurança e da baderna que ocorria em alguns salões e clubes da cidade, optou pela escolha de uma área onde, acompanhados de suas respectivas famílias, pudessem se sentir tranqüilos.
Foi em 6 de janeiro de 1960 que foi redigida a primeira ata de fundação do clube, assinada por um de seus fundadores, José Hermano Sobrinho. A escolha do local que até hoje abriga o Country precisaria ser próxima à rodovia federal, a BR-153, porque esta era um dos poucos trechos asfaltados à época. O espaço físico também não poderia ser mais adequado, já que era próximo a uma mina de água.
A ideia inicial era contar com apenas 100 sócios. As obras que se sucederam no clube incentivaram a diretoria já constituída a dobrar este número. Hoje já são cerca de mil e 300 sócios proprietários e mil e 800 títulos de filhos de sócios.
A preocupação com a família já era algo tão latente que no início da década de 60, pessoas solteiras não poderiam se tornar sócias do Country. Este critério não existe mais. Mas permanece o sentido de que a família countryana deve ser cada dia mais valorizada, até mesmo para que sirva de testemunho para uma sociedade que, dominada pela falta de tempo e atacada pelas agruras da modernidade, está totalmente voltada ao individualismo.
Muitos eventos são organizados para que pais, mães, filhos e amigos se divirtam conjuntamente.
Será que muitos aqui ainda se lembram do “Gambar´s”, que nada mais era do que uma mesinha entre as quadras onde os amigos se reuniam no início da década de 80? E do cronista Olindo Teatini, sócio do Country, que tão bem relatou as histórias que ali aconteciam? Teatini foi um dos idealizadores do “torneio do amor”, uma competição de tênis com duplas mistas. E o que dizer da disputa “quibe” versus “pizza”, que era como ele se referia à competição entre as colônias árabe e italiana?
Momentos pitorescos que vão ficar na lembrança de todos. Assim como ninguém vai se esquecer quando, em 1962, doutor Cláudio Borges comemorava o Carnaval nas dependências do clube com um surdo pendurado no pescoço e que sua esposa, norte-americana e recém-chegada ao Brasil, não entendeu absolutamente nada e ficou apavorada pensando que o marido não passava bem.
Quantas histórias não devem ter ocorrido depois de tantos jogos e competições dentro das dependências do clube, verdadeiro celeiro de talentos na prática desportiva? O tênis, além de ser um esporte considerado a menina-dos-olhos do Country, fez com que o clube tivesse hoje o maior complexo de quadras da região Centro-Oeste e o segundo maior do país, tornando-se inclusive palco de diversas competições nacionais.
As escolinhas de práticas desportivas, que sempre encantam atletas que vêm de fora, ensinam às crianças e aos jovens coutryanos o verdadeiro sentido da competição, os benefícios de uma vida saudável e o que de fato significa espírito coletivo diante das vitórias e diante das derrotas.
Falando em vitórias, meus parabéns, presidente Murilo, pelo jogo de ontem.
A gestão do clube, ao longo destes cinqüenta anos, destaca-se em mais de um aspecto. Sem tirar o olho do passado, mas focando em algo tão em voga como meio ambiente, ressalto aqui os esforços e a preocupação com ações que traduzam responsabilidades socioambientais.
Antes mesmo de Goiânia tornar-se a cidade dos parques e jardins e de ser a segunda com maior área verde por habitante do mundo, o Country já se preocupava com a preservação do meio ambiente. Cito como exemplos a aquisição de áreas verdes que ultrapassam vinte mil metros quadrados, os investimentos feitos em reflorestamento e no plantio de mais de duas mil e quinhentas mudas de árvores.
E por falar em árvores, impossível não destacar aqui nesta noite a antiga “turma do coqueiro”, jovens solteiros com espírito crítico aguçado, que ansiavam por mudanças e novidades, e que se reuniam à sombra de uma macaúba. Uma turma sem um líder definido, mas que tinha à sua frente nomes como o advogado Léo de Queiroz Barreto, meu sogro, e o arquiteto Ailton Lélis. Quantas decisões importantes para o clube não foram tomadas ali, debaixo daquela sombra?
É consenso que todos os presidentes, e todos os integrantes da diretoria e dos respectivos conselhos que passaram pelo Country deixaram sua parcela de contribuição e trabalharam de tal forma que, o que fizeram, serviu como alicerces para as iniciativas do seu sucessor. A tal ponto que o Country não se viu na mesma situação de outros clubes tradicionais que até hoje enfrentam dificuldades ou que fecharam suas portas.
Lá atrás, quando tudo começou, o primeiro acerto: não comercializar títulos remidos. Nos dias de hoje, outras ações relevantes: transparência nas contas, auditadas internas e externamente. Dedicação total dos seus gestores que não são remunerados. Não trabalham em troca de salários, mas por um compromisso. Reclamações trabalhistas não existem, e é bem provável que esteja aí um forte indício do bom e justo tratamento que é dispensado aos funcionários do clube.
Rigidez e disciplina fizeram com que o estatuto, esta espécie de manual de princípios do clube, fosse seguido à risca. Não é que o Country não se adaptou às mudanças do mundo nestas cinco décadas. O fato é que o Country não deixou que as mudanças do mundo desvirtuassem seus valores e suas tradições, sempre focando no bem – estar, nas pessoas e nos relacionamentos.
Cinquenta anos depois, ei-nos aqui para a entrega da Medalha Pedro Ludovico Teixeira, a mais alta comenda concedida por este parlamento, aos fundadores e conselheiros natos, aos ex-presidentes eleitos e conselheiros efetivos e ao atual presidente Murilo Antunes.
Esta homenagem trata-se, na verdade, de dar o devido reconhecimento àqueles que optaram por, em muitos momentos de sua vida, priorizar horas de trabalho em prol deste clube e que são exemplos para todas as gerações de goianos de integridade e de seriedade no que fazem.
Aliás, quero assinalar que apenas homens estarão aqui no alto desta mesa diretora recebendo a medalha Pedro Ludovico Teixeira. Mas embora eu tenha menos de dez anos de casamento, já serei audacioso para dizer, enfaticamente, a vocês, esposas, mães e filhas: parece clichê, mas não chegaríamos tão longe sem vocês ao nosso lado.
Muito obrigado.