Thiago Peixoto discursa em homenagem a Arthur Rios
Talvez muitos de vocês já tenham participado de sessões especiais como esta. E talvez eu devesse fazer aqui na tribuna como o homenageado desta noite, que também é jornalista e muito se orgulha disso. Rezam as regras do bom jornalismo que a principal informação deve vir logo no começo da matéria. E que esta informação deve ser objetiva e revestida de imparcialidade. Por fim, as primeiras linhas também devem trazer respostas às perguntas “quem?”, “onde?”, “quando?”, “como” e “por quê?”.
Em outras palavras, eu poderia sintetizar dizendo que o advogado e jornalista Arthur Rios irá receber nesta noite o título de cidadão goiano graças a um projeto de lei apresentado por mim em 2009 e aprovado por todos os outros 40 deputados. E ainda resumiria dizendo que após o meu discurso, ele receberá a certificação do título de cidadania, usará a tribuna e o presidente desta mesa, logo após, seguirá os trâmites e encerrará a sessão.
E ponto final. Matéria jornalística concluída.
Talvez tudo isso que eu disse até aqui pudesse ser aplicado a qualquer outra pessoa. Mas em relação a Arthur Rios, definitivamente, não é o caso. E por vários fatores.
Primeiro, porque não temos como olhar para a sua história de vida e julgarmos o que foi ou é mais importante para figurar no começo de uma matéria jornalística. A vida de Arthur Rios é importante. E ponto.
Segundo, não posso agir com imparcialidade. Temos laços familiares que se estendem em sentimentos como amizade, respeito e admiração mútua.
Terceiro, não seria objetivo para correr o risco de omitir fatos que só venham ressaltar o seu caráter.
E por fim, não me preocupo, neste momento, em responder àquelas perguntas determinadas pelos manuais de jornalismo. Me preocupo sim em compartilhar com vocês passagens da vida deste homem para que no momento em que ele receber o título de cidadão goiano, todos possam ter a convicção de que a propositura apresentada por mim mais do que se justifica.
Os caminhos da vida são definidos por Deus. O caminhar, pelos homens. Alguns, com passos firmes, fazem da vida uma jornada do bem. Com a mesma origem conheci dois homens que o fizeram: meu avô, Peixoto da Silveira, e o homenageado desta noite, Arthur Rios. Passo a passo, se tornaram verdadeiros filhos de Goiás.
Meu avô, que deixou um rastro de dignidade e realizações, já se foi. Arthur continua a sua jornada, enriquecendo os dias daqueles que, como eu, tem a alegria e o privilégio de conviver com ele. Meu avô sempre dizia, e isso me lembro bem, que Arthur era seu melhor jovem amigo. Quanto ao meu pai, me recordo das longas conversas por telefone e de ouvi-lo dizer que tinha nele um grande conselheiro.
Arthur, ao construir sua carreira, conquistou as nossas mentes e corações. Cada gesto, cada ação, o tornava mais amigo dos muitos e muitos amigos e amigas que conquistava. E cada dia da sua vida o tornava mais e mais goiano.
Deste homem, de tantas referências, cabe mencionar algumas para termos uma vaga idéia da grandeza de sua vida.
Eu sequer tinha nascido e a ligação do Arthur com a minha família, Peixoto da Silveira, se consolidava no ano de 1962. Foi lá no antigo Hotel Amazonas, em Belo Horizonte que, durante um jantar, meu avô, então deputado federal, se tornou o principal responsável pela vinda dele a Goiás. Arthur já exercia a profissão de jornalista e já era formado em Direito.
Meu avô disputaria as eleições para o governo do Estado em 1965 e queria, desde aquela época, a participação de Arthur no seu projeto político. Meu avô fez uma espécie de intimidação - no bom sentido, claro. Avisou que já havia falado com a mãe dele e que não aceitaria um “não” como resposta.
Claro que Arthur aceitou o convite e aqui desembarcou também com a proposta de trabalhar com o jornalista Jaime Câmara, já que as articulações políticas naquele ínicio da década de 60 desenhavam a chapa Peixoto da Silveira como candidato ao governo e Jaime Câmara na vice. A chapa não se concretizou e meu avô não se sagrou vencedor naquela eleição.
Mas desde 62, paralelamente à assessoria política, Arthur já se dedicava ao trabalho em O Popular. A coluna hoje conhecida por todos como Direito e Justiça, no caderno de Cidades, era mantida por Arthur com outro nome, intitulada “Conheça seus Direitos”.
Mas o golpe de 1964 o fez sair do jornal no ano seguinte, graças às interpelações de agentes da ditadura junto à direção da Organização Jaime Câmara.
Imaginem vocês que, para os militares, Arthur Rios representava uma ameaça à ordem. Numa conversa prévia antes da redação deste discurso, nesta semana, ele também não se fez de rogado: fez questão de destacar o papel que teve como líder estudantil em Belo Horizonte e das greves que liderou na faculdade.
Agora que vocês já sabem dos fatos e dos devidos protagonistas que provocaram a vinda do nosso homenageado para Goiás, me permitam entrar em alguns aspectos mais subjetivos.
A simplicidade e a determinação que marcam a personalidade do Arthur podem ser ilustradas com uma passagem muito, mas muito interessante da década de 60 e que envolve um dos expoentes da redemocratização brasileira: Tancredo Neves.
Aliás, ao término deste relato, tenho certeza de que vocês poderão elencar até outros adjetivos como ousadia, força de vontade e dinamismo.
O ano era 1954, e o palco do encontro entre Arthur e Tancredo ocorreu no edifico Niemeyer, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Nas mãos, uma carta do pai recomendando o filho a um velho amigo e solicitando que este o arranjasse uma qualificação profissional. Saiu de lá sem o tão almejado emprego, mas com uma promessa de quando Tancredo ocupasse algum cargo executivo, o pedido por trabalho seria atendido.
Oito anos depois, em 1962, lá estava Arthur, como um simples anônimo, na posse de Tancredo Neves na secretaria estadual da Fazenda. Cobrou a promessa. E, claro, foi atendido. Tornou-se oficial de gabinete e assessor no período noturno. O que parecia ser um trabalho relativamente fácil acabou exigindo muito esforço: não raro o expediente entrava madrugada adentro.
Mas a partir de 70, Arthur dedicou – se à Universidade Federal de Goiás, onde chegou a disputar a eleição para a reitoria – e ao seu escritório de advocacia. Na década de 80, destaque para sua incursão pelo mundo da escrita, quando lançou o primeiro de seus livros, intitulado “Manual de Direito Imobiliário” e também para o posto alcançado como articulista da Folha de SãoPaulo.
Dando agora um salto para o presente, citemos a presidência da Academia Goiana de Direito como a menina dos olhos de Arthur Rios. É lá que ele se dedica, à luz do Direito, em elevar o estado de Goiás perante outros estados brasileiros.
Por tudo isso, Arthur, o título de cidadão goiano representa, em linhas gerais, um muito obrigado de todos nós. Este novo goiano trouxe a coragem e os princípios de uma juventude comprometida e engajada com o futuro da nossa terra.
E contrariando mais uma vez as regras jornalísticas, deixei para o final informações tão importantes como o fato de que Arthur Rios nasceu em Campos Belos, em Minas Gerais, em 1938. Sua esposa se chama Arlene e seus quatro filhos são Paulo, Eduardo, Miriam e Arthur Junior, todos advogados como o pai.
Na verdade, deixei isso para o final de maneira proposital. Pra que esta informação, como a última dita por mim aqui nesta tribuna, fique impressa na memória de vocês e os faça lembrar sempre de que Arthur Rios personifica tantas qualidades porque nunca se esqueceu de que a família representa seu alicerce.
Muito obrigado.