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Deputada Mara Naves presta homenagem a Erothides Raya

22 de Novembro de 2010 às 16:01
Discurso proferido pela deputada Mara Naves (PMDB) durante sessão especial de homenagem a Erothides Rodrigues Raya. 19.11.2010.

Prezadas Senhoras,
Prezados Senhores,

É uma alegria, é um prazer muito grande estar aqui, nesta manhã de hoje, para fazer esta homenagem. Dona Erothides é uma mulher forte, corajosa e cheia de fé. E este Poder Legislativo Estadual está tendo a honra hoje de homenagear esta pioneira, esta mulher que tem escrito belas páginas na história de Goiás, dos goianos e de todos nós. Então, o discurso onde vou expressar aqui o Título de Cidadã Goiana à Dona Erothides Rodrigues Raya, Cora Coralina que também foi uma mulher que também deixou muitas saudades, muitas lembranças, muitas boas recordações pelos seus exemplos, pela sua vida, pela sua história, trajetória, pelas suas ações. Ela escreveu, foi guardado e ficou na lembrança para sempre. Ela disse: “O saber a gente aprende com os mestres e com os livros, mas a sabedoria se aprende é com a vida e com os humildes”. Cora Coralina.

 

O Século XX foi palco de transformações importantes na sociedade. Uma das principais se deu quanto ao papel da mulher. Ela deixou a condição de submissa ao marido para lutar por mais espaços, direitos e aos conquistar, com muita luta e determinação. Manteve a sua presença no lar e passou a andar ao lado de seu companheiro, como conselheira e ativista, preocupada com as mudanças necessárias, e as fazendo acontecer. Um marco dessas mudanças aconteceu de forma trágica, nos Estados Unidos, e serviu de instrumento par essa luta por igualdades. Foi no dia 25 de março de 1911, quando um incêndio numa fábrica em Nova Iorque matou 146 trabalhadores – a maioria costureiras. O número elevado de mortes foi atribuído às más condições de segurança do edifício, é considerado o pior incêndio da história dessa cidade e uma das referências quando se fala em homenagem à mulher trabalhadora.

 

Ao longo desses cem anos, a mulher passou a ousar e avançou. Conquistou o direito de ingressar no mercado de trabalho, de votar, de se vestir de forma menos convencional. Saiu da passividade para se engajar nos movimentos de emancipação feminina, nas lutas sociais e por direitos iguais para todos, a ser um agente econômico. Nessa ação passou a ter uma jornada de trabalho tripla: cuidar da casa e da família, trabalhar fora e para o sustento do lar. Eu ainda acrescento aqui, não é, grande companheiro Jales Naves que é uma honra muito grande. Ele nos apresentou Dona Erothides e faço questão de ressaltar aqui que fiquei muito emocionada pela sua trajetória, pelo trabalho e aí falei para o Jales: “Vou ter a honra e o privilégio – a hora que eu cheguei e fui cumprimentá-lo aqui – ele falou que bom, e obrigado”. E eu disse: “Sou eu quem agradeço o privilégio e a honra de poder estar aqui prestando esta mais justa homenagem à Dona Erothides”, e devo isso ao Jales Naves, o que faço questão de ressaltar aqui a pessoa dele e a referência dele a ela e os nossos parabéns e agradecimentos.

 

E como mulher que sou, Dona Erothides, eu vou aqui dizer uma coisa, que além da jornada tripla aqui: que é cuidar da casa, da família e trabalhar fora para o sustento do lar, a função realmente tripla. Porque a mulher, primeiro ela era procriativa, isso foi antes. A mulher procriativa é a mulher que foi educada, doutrinada para ser mãe, esposa e dona de casa. Aí, com o passar do tempo, quando ela foi conquistando o espaço, claro lado a lado com os homens, tendo o apoio dos homens, que é sempre fundamental como parceiro, como companheiro, tendo apoio, sabendo da competência, da boa vontade, da disposição das mulheres, a mulher passou a ser além de procriativa, provedora. Ou seja, a mulher trabalhadora que foi trabalhar fora para ajudar também na economia e no sustento do lar. Então, além de ser: procriativa, mãe, esposa, dona de casa, provedora, mulher trabalhadora, ela é a mulher competitiva, porque o mundo é muito competitivo. Você tem que fazer aquilo que você faz, como diz a Bíblia Sagrada, que é o livro dos livros, com muita fé e muita esperança. Mas de nada adianta se não fizer com muito amor. Porque, quando você faz as coisas com amor, além de você ser feliz, você faz quem está a sua volta feliz. Então, a vida não tem segredos. Basta você fazer o que gosta e fazer com amor.

 

E a Dona Erothides é esta mulher. Eu creio que pude aqui mostrar a admiração que a gente tem por ela e estar aqui hoje fazendo esta homenagem. Nessa luta, o envolvimento foi progressivo e cada uma atuou de forma que considerou mais eficiente. Umas mais atiradas, lideraram movimentos revolucionários, ficaram expostas a retaliações e muitas chegaram a ser sacrificadas. Outras, a maioria anônimas, envoltas num processo de mudanças tudo fizeram para que a situação se alterasse e foram fundamentais, muitas igualmente sacrificadas. Inclusive, essa luta possibilitou a eleição, neste ano de 2010, da primeira mulher Presidente da República, Dilma Rousseff.

 

Uma no meio da multidão, lutando e somando com sua presença e com seu trabalho, Erothides Rodrigues Raya enxergou esse papel e procurou dar a sua contribuição. Paulista de Olímpia, ela casou-se em 1950 com seu conterrâneo, Armando Raya e tiveram uma vida em comum feliz que durou 30 anos. “Tida”, como é carinhosamente tratada, esteve sempre ao lado do marido, e quando o perdeu, há 30 anos, deixando-a com três filhos, não esmoreceu. Como é de seu feito, juntou as forças, arregaçou as mangas e seguiu em frente: precisava continuar lutando, criar os filhos e viver a sua vida.

 

Desde jovem aprendeu a costurar, atividade que a ajudou no sustento da família. Costureira de mão cheia, ela fazia as roupas dos familiares, depois viu que poderia produzi-las para outros e mais meritório ainda, que poderia ensinar muitas mulheres a ter esta atividade. Assim estava lhe possibilitando não apenas uma ocupação profissional, mas, principalmente, a sua independência financeira e pessoal ser alguém capaz de se manter e de manter a sua família. Nesse período de 23 anos na ativa foram mais de mil pessoas que tiveram a oportunidade de aprender o ofício nos cursos que ministrou na Fundação Municipal de Desenvolvimento Comunitário (FUMDEC), de Goiânia, onde trabalhou até se aposentar em 1988. A partir daí essas pessoas construíram uma nova etapa em suas vidas: passaram a ter uma atividade econômica, dignidade e se tornaram cidadãs, com endereço e profissão. Nessa época, anos 70 do Século XX, a participação das mulheres no mercado era de apenas 18%, e em 2007 elas saltaram para mais da metade (52,4%) em atividades produtivas. Exemplo da presença e da participação da mulher, ainda que anonimamente, Erothides Rodrigues Raya construiu uma vida respeitada, admirada e compartilhada pelos muitos amigos que conquistou ao longo de seus 84 anos.

 

A aparente fragilidade, os movimentos suaves e delicados, a voz mansa, sem nunca se alterar, a solidariedade e a sua generosidade com as pessoas se somam ao espírito forte, guerreiro e determinado que realçam a sua simpatia e o seu carisma. Ela herdou dos pais, o espanhol Ambrósio Rodrigues e a paulista Isabel Maria de Jesus, o espírito aventureiro de gostar de viajar e de dançar, paixões que nunca abandonou. A aventura maior foi se mudar com o marido e os dois filhos, Luiz Carlos e Paulo Cézar, de São Paulo, onde moravam, nos distantes anos 50, para Goiânia que estava se estruturando como cidade e ainda pouco oferecia. O amor pela Capital goiana foi instantâneo e não mais a deixou. Tem sido muitos momentos felizes. Goiânia viu nascer seu terceiro filho, Marco Antônio, em 1961, o casamento dos filhos – Luiz Carlos com Rosana Pan, e Paulo Cézar com Gláucia Machado -, o nascimento dos sete netos – Carla, Camila e Caio Vinícius, de Luiz Carlos e Rosana; Sávio, Danilo e Felipe, de Paulo Cézar e Gláucia; e Jade, de Marco Antônio e Sirlene -, e agora passa a acolher os bisnetos: Luiza, brasiliense, filha da neta Camila; Marcus Vinícius, brasiliense, filho do neto Caio Vinícius; e Antônio, paranaense, que está chegando, filho da neta Carla. Solidária, ela acolheu em sua casa dois irmãos e suas famílias, que viviam momentos singulares: Walter Rodrigues, com a mulher, Elza; e depois Tereza, com o marido, Walter Bógea. Foram três perdas no período que a marcaram: o irmão Godofredo, que a trouxe para Goiânia; o marido, Armando, vítima de câncer; e o filho Marco Antônio, com pouco mais de 30 anos, num acidente de moto.

 

É esta mulher guerreira, batalhadora e que muito contribuiu na construção de Goiânia e Goiás como pioneira, ajudando o marido numa das primeiras mercearias da cidade e depois como costureira, que a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás tem a honra de homenagear nesta manhã. O Legislativo Goiano reconhece a importante contribuição de Erothides Rodrigues Raya ao longo de 50 anos em Goiás e lhe confere o Título Honorífico de Cidadã Goiana. Nesta oportunidade a Assembleia Legislativa de Goiás resgata esta pessoa fantástica, solidária e presente que ela sempre foi, que atuou de forma anônima, mas firme e corajosa por Goiás e a torna de direito a Cidadã Goiana que ela de fato sempre foi.

 

Que Deus, Dona Erothides, que é infinito em sua bondade e sabedoria, possa continuar derramando muitas bênçãos sobre esta mulher forte, corajosa, de fé, esse exemplo para nós, mulheres goianas que têm cada vez mais nos alegrado e que podemos ver aqui hoje e dizer, vale a pena. O maior bem que Deus nos dá é o dom da vida e a vida a gente tem que celebrar, a gente tem que comemorar, esse é o maior bem. E aqui hoje, familiares, amigos, a quem todos nós, emocionados, estamos aqui prestando essa mais justa homenagem, agradecendo mais uma vez esse homem guerreiro, intelectual e também exemplo para Goiás que é Jales Naves. Agradecer esta oportunidade por estarmos aqui hoje celebrando a vida, comemorando com a Dona Erothides, esta mulher, que é a homenageada e que se torna a mais nova Cidadã Goiana aqui no Estado de Goiás.

 

Parabéns, Dona Erothides e o nosso muito obrigado a todos.

 

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