Isaura Lemos aponta conquistas da mulher brasileira
Prezados senhores,
“Pisadas, espezinhadas, ameaçadas.
Desprotegidas e exploradas.
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito.
Necessárias fisiologicamente.
Indestrutíveis.
Sobreviventes.
Estrutura sólida e indestrutível da sociedade,
de todos os povos, de todos os tempos.”
Cora Coralina.
Neste momento solene e tão especial, quero cumprimentar todas as mulheres aqui presentes, reverenciando aquela que representa um dos símbolos da emancipação da mulher goiana e, porque não dizer, brasileira.
Iniciar esta homenagem a nós mulheres declamando o poema de Cora é o reconhecimento de nossa bravura, de nossas lutas, de nossas conquistas tão bem representadas na figura da Aninha da casa da ponte. Mulher, que como todas nós, saiu do anonimato imposto pela sociedade dos homens para galgar os pródomos da liberdade e mostrar que nós também somos gente. Gente que vive, gente que sente, gente que sofre, gente que faz, gente que luta, gente que ama. Como disse o poema: “Estrutura sólida e indestrutível da sociedade, de todos os povos, de todos os tempos.”
Quão belas estas palavras para nos representar, para refletir a história de lutas e resistências das mulheres ao longo da história humana.
Das resistências anônimas das mulheres progenitoras dos tempos antigos e medievais. Das que ainda hoje também, de forma anônima, enfrentam a dura realidade de ser mãe, companheira e chefe de familia: 40 % das famílias hoje têm à frente a mulher como principal responsável.
Mulher, mão-de-obra barata da moderna era capitalista que rompe com o anonimato da exploração, estabelecendo o marco histórico do dia 08 de março de 1857. Teve a coragem de dizer não ao julgo imperialista do homem patrão e pagar o preço com a própria vida.
Da mulher brasileira do século xx, que não menos sem luta e participação, conquistou, em 1932, o direito de votar e ser votada para os cargos legislativos e executivos.
Mulher Ana, mulher Delaíde, mulher Dilma, mulher Joana, mulher Louise, mulher Lucrécia, mulher Maria, mulher Olga, mulher Rosa e tantas outras mulheres heroínas anônimas, que não sem menos importância, fizeram e escreveram suas histórias no livro da vida.
Não importa em que lugar estejam as mulheres, não importa a tua profissão, o teu labor, a tua posição social, o que importa é a tua bravura, a tua coragem para luta e a tua consciência enquanto agente transformadora da desigualdade social, desigualdade de gênero e raça. Agente da construção de um mundo mais fraterno, justo e humano.
Mulher que, com sua capacidade altruísta, com seu sentimento de mãe que gesta a vida, que cuida da vida, da sua e dos outros, deve galgar cada vez mais o respeito perante um mundo em constantes mutações.
Nossas conquistas são inegáveis e inevitáveis, porque somos mulheres guerreiras, indestrutíveis, sobreviventes, resistentes ao tempo e aos homens.
O advento da lei Maria da Penha para coibir e punir os excessos, ainda cometidos contra nós na maioria das vezes por aqueles que deveriam nos proteger, é resultado de nossas lutas.
A cada dia nos organizamos mais e essa organização tem como resultado o crescimento célere de inúmeras entidades de defesa de nossos interesses, muitas vezes neglicenciados pelo poder público gestado por homens.
A inclusão pelas Nações Unidas, em 2000, da igualdade entre sexos e valorização da mulher, dentre os oito objetivos do milênio a serem atingidos até 2015 é outra grande conquista.
Estudos comprovam que ainda hoje no Brasil as mulheres chegam a ganhar até 40% a menos do que os homens para exercer as mesmas funções de trabalho. Situação que deve ser modificada, com a luta continuada e vigilante.
Cabe, portanto, a nós mulheres, e porque não dizer aos homens que congregam conosco esta incansável luta, reivindicar o cumprimento de nossos direitos e denunciar as práticas ostensivas de desigualdade.
Foi por fruto de nossa organização que leis foram alteradas e criadas. Como a supressão pela Constituição Federal do termo chefe de família anteriormente atribuído ao homem. Hoje existem inúmeras famílias lideradas por mulheres.
Os avanços conquistados por nós, nas duas últimas décadas, têm sido surpreendentes, sobretudo no que diz respeito à proteção legal e à força de trabalho onde estamos ocupando de forma gradativa espaços tradicionais e historicamente masculinos.
A eleição da presidenta dDlma Roussef representou o reconhecimento de um número expressivo de brasileiras e brasileiros à força da mulher.
Ressaltando sua capacidade de gerir questões controversas e de administrar com acurada capacidade o destino de 192 milhões de brasileiros, Dilma é o símbolo da nossa competência. 70 milhões de brasileiras depositaram o seu voto em Dilma.
O mundo todo acompanhou esse acontecimento histórico, com atenção, surpresa e admiração. Sobretudo vindo de uma região ainda machista, latino-americana e emergente.
Com esta nova situação, o país não fica na contramão da dinâmica mundial ao indicar mulheres para os lugares chaves da administração federal.
O governo de Dilma Roussef conta com nove ministras e inúmeras presidentes e diretoras de órgãos e empresas estatais. Segue o mesmo caminho dos países escandinavos, como Noruega e Suécia, onde as mulheres têm preponderância no poder central.
Entretanto, no Legislativo, o quadro ainda é preocupante. No Senado, de um total 81 vagas, apenas 12 são mulheres. Na Câmara Federal, de um total de 513 vagas, apenas 47 são mulheres, entre elas três goianas.
Outro ponto lamentável a considerar é que esta Casa Legislativa teve o número de deputadas drasticamente reduzido de sete para apenas duas, nesta atual Legislatura. Contudo, esse fato não nos esmorece. Pelo contrário, a vigilância seguirá merecendo nossa mais veemente atuação.
Antes de finalizar, já que falei um pouco sobre nossas conquistas, gostaria aqui de exaltar e agradecer aos homens que vestiram junto a nós a farda de nosso exército feminino e foram à luta pelas nossas conquistas, pela nossa emancipação. Vocês também são guerreiros que tiveram a coragem de fazer a diferença. Aqui, em nome de meu companheiro Euler Ivo, rendo a nossa homenagem a todos os homens que nos apoiaram e apoiam esta luta.
Em minhas considerações finais, expresso meu imenso desejo de que, no próximo ano, estejamos aqui neste ato comemorativo, relatando avanços e conquistas substanciais inerentes à atuação e à participação da mulher ao longo do ano vindouro, seja nas esferas públicas ou privadas. E, com certeza, essa participação estará representando o que há de mais sublime no gênero, além de nossa competência gestora, a nossa capacidade altruísta, tão necessária para a construção de um mundo mais fraterno, justo e includente.
Que esses avanços e conquistas representem, também, uma diminuição substancial e gradativa nos números estatísticos de violência contra a mulher, avançando, muito em breve, para a sua total erradicação, consolidando uma sociedade sem discriminação de gênero.
Muito obrigada!