Karlos Cabral conclama jovens a maior participação na igreja
SENHOR PRESIDENTE,
SENHOR DEPUTADO HUMBERTO AIDAR, CO-AUTOR DA
PROPOSTA DESSA AUDIÊNCIA,
PADRES, BISPOS,
TODA JUVENTUDE PRESENTE A ESTA SESSÃO,
SENHORES E SENHORAS CONVIDADOS,
Cumprimento aos senhores e senhoras que se fazem presentes aqui,
meus nobres pares, nossa equipe de trabalho, os funcionários desta
casa, todos que nos assistem pela TV Assembleia e a todos que vieram prestigiar esta Sessão Solene em Homenagem à Campanha da Fraternidade de 2013 que está em sua 50ª edição, em especial à
juventude aqui presente.
Neste ano o tema é Fraternidade e Juventude, que tem como objetivo fortalecer o desejo de evangelização dos jovens, buscando compreender a realidade vivenciada e a riqueza de suas diversidades. Uma forma de acolher os jovens no contexto de mudança de época, proporcionando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na
vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna,
fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz.
O caminho de muitos jovens se assemelha muito ao do jovem nazareno, ele que antes de ser um dos maiores exemplos para a nossa humanidade, e aqui não discuto sobre atos que estão além da
compreensão lógica, experimentou tudo que um jovem está sujeito a passar. Vivendo intensamente pelo que acreditava e se revoltando com uma lógica opressora, vivendo e fazendo política, de forma simples e acolhedora conseguiu mobilizar multidões e acima de tudo, trouxe um dos mais valiosos exemplos para as gerações que viriam; “Amar ao próximo como a si mesmo”.
Eu, como seguidor desse mandamento, sou fruto de muitas Campanhas da Fraternidade. Comecei no colo da minha mãe e tive uma longa trajetória na igreja e em especial na Pastoral da Juventude desde 1992, na época, a Campanha da Fraternidade também teve a juventude como tema. “Juventude Caminho Aberto”, discutíamos naquele ano. Vivendo essa experiência pastoral, cheguei a ser coordenador do grupo de jovens da comunidade que eu participava e que recebendo o mesmo nome do tema da CF/92 era carinhosamente chamado de “Grupo JUCA”. Daí pra frente estive cada dia mais presente na organização e nas causas da PJ em favor das juventudes. Alguns anos depois fui coordenador da Pastoral da Juventude na Diocese de Jataí e representante da Diocese na Coordenação Regional da Pastoral, que compreendia os estados de Goiás, Tocantins e Distrito Federal. Nesse mesmo Regional, fui também assessor da Pastoral da Juventude. Logo,
minha fala e meu posicionamento sobre a temática juvenil, partem da minha experiência de vida.
Nossa constituição afirma a laicidade do estado, e longe de mim ir ao contrário pois, tal preceito é fundamental para a democracia e para o respeito com todas as religiões. Contudo as experiências que garantem vida, autonomia e a transformação da realidade que oprime, devem ser anunciadas aos quatro ventos, sejam elas quais forem.
A Campanha da Fraternidade surge durante o Concílio Vaticano II,
momento em que a Igreja Católica promove várias mudanças
estruturais. Na América Latina essas mudanças transcenderam os
limites dos templos e sacristias indo ao encontro dos problemas
concretos da sociedade, a fim de ligar à dimensão profética à ação
prática transformadora.
É um grande desafio para a Igreja, discutir a temática da juventude.
Dentre tantas particularidades do que é “ser jovem” logo de início
encontramos um mundo de julgamentos e preconceitos. O jeito de se vestir incomoda. O modo de falar, as relações com o próprio corpo e as relações afetivas, o espírito impetuoso... nada passa despercebido ao olhar crítico dos adultos, normalmente carregado de pré-concepções de moralidades e de prioridades que, com certeza, não foram escolhidas por eles quando jovens.
Nosso país sempre viveu uma carência de políticas públicas voltadas
para a juventude. O Governo do Presidente Lula ousou mudar essa
história, com a criação em 2003 da Secretaria Nacional da Juventude.
Em 2005, foi implementado o Conselho Nacional de Juventude –
CONJUVE, e o ponto alto dessa mudança foi em 2008 com a
realização da 1ª Conferência Nacional de Juventude. A Presidente
Dilma, entendendo a importância desse processo, convocou em 2011 a 2ª Conferência Nacional da Juventude.
Ambas as conferências proporcionaram uma ampla escuta da juventude brasileira, que participou ativamente, apresentando as demandas de todo o seguimento juvenil em nosso país para a criação de políticas públicas.
Ao discutirmos essa temática dentro da CF, é importante atentarmos
para alguns dos problemas mais sérios que envolvem os jovens, como por exemplo, a alta taxa de desemprego.
Uma pesquisa do Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu
Abramo, feita no Brasil, entre jovens que vivem em regiões
metropolitanas, de quinze a vinte e quatro anos, revela que 42% dos jovens entrevistados estão em situação de desemprego, sendo que 10% destes buscam seu primeiro emprego. Dos 36% que trabalham, apenas 41% está no mercado de trabalho formal e 59% no informal, sendo que 54% destes jovens recebem até dois salários mínimos.
Diante disso, os jovens acabam sendo penalizados por estarem privados da participação no mercado. A sua pouca formação e a falta de renda dificultam seu acesso às oportunidades. Porém, não basta inserir o jovem sem experiência no mercado de trabalho através do primeiro emprego. É necessário prepará-lo melhor para assumir postos, com uma capacidade de intervir e contribuir não só na produção como também na sociedade.
Outra questão é: o quanto é perigoso ser jovem no Brasil,
especialmente para quem é negro e de periferia. Vivemos um tempo de verdadeiro genocídio da juventude negra. Nossas prisões estão
abarrotadas de jovens e, na sua grande maioria, com as mesmas
características.
Segundo dados do Mapa da Violência de 2012, de 1998 até 2010, a
taxa de homicídios no país aumentou em torno de 1%, enquanto em
Goiás, o crescimento foi de 119,4%. Um fato assustador que o Mapa
também revela é que a taxa de homicídios entre os jovens passou de 17,2 mortes a cada 100 mil jovens, em 1980, para 52,4 mortes para cada 100 mil no ano de 2010. Isso significa um crescimento de 204% ao longo desses 30 anos.
Diante disso temos culpados; primeiramente as escolhas por um
modelo econômico que induzem os jovens a um consumismo
desumano que muitas vezes se torna um caminho sem volta, após
temos o Estado que deveria prover educação de qualidade, segurança, saúde, lazer, condições mínimas de sobrevivência. E por fim a sociedade, que como havia dito, “jogam o mundo nas costas dos jovens porque afinal, eles são jovens e aguentam”.
Mas é importante também, lembrar que logo no começo do meu
mandato de Deputado Estadual, apresentei um projeto nesta Casa de Leis que cria a Comissão Permanente de Juventude na Assembleia Legislativa de Goiás. Tal Comissão terá como objetivo a difusão de conhecimentos e projetos que criam oportunidades de aprendizagem, tais como: atividades cooperativas de crescimento individual e social, o saber ouvir, o saber argumentar e a solidariedade. Esperamos em breve que essa Comissão seja instituída nessa Casa, e que a juventude seja pautada nas discussões para uma sociedade melhor e mais harmoniosa
de se viver.
E agora, a Campanha da Fraternidade volta os olhos em um ano muito importante para a juventude brasileira, ano este que marcará a aprovação do Estatuto da Juventude.
O Estatuto foi resultado de um processo de escuta de jovens de todo o Brasil. Ele deve nortear as políticas direcionadas à juventude. Contudo tal instrumento tão rico não deve ser dispensado pela sociedade civil, que tem o dever de fiscalizar a aplicação pelo estado.
A Campanha da Fraternidade trará, à luz do evangelho encarnado na
realidade do povo, a necessidade de sabermos ver tudo o que causa a morte da juventude, para que possamos de fato nos apresentar como os dizeres do lema: “Eis-me aqui. Envia-me.” (Is 6,8) para que possamos romper as a amarras e transformar de fato um “outro mundo possível”, a “Terra sem males!”.
De 1992 quando a Campanha da Fraternidade também discutiu a
temática juvenil para cá, muitos desafios permanecem. Outros vieram com a evolução social e muitas inquietações nos interpelam e precisam de respostas, como a questão da política de cotas, a redução da maioridade penal e a necessidade da igreja e da sociedade se converterem, de fato, a juventude...
Que esta Campanha da Fraternidade seja luz para esses desafios!
Como agente político, cristão, católico e formado nas comunidades
juvenis da igreja e alguém que há anos vive a Campanha da
Fraternidade, não poderia também deixar de chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas pelas organizações que fazem a opção de defender a juventude e discutir políticas públicas voltadas para esse seguimento.
Destaco o que está ocorrendo com o projeto do Circo Laheto, um
espaço que há anos trabalha com adolescentes e jovens empobrecidos e hoje vive a ameaça de perder seu espaço, fato já ocorrido em anos anteriores. O que mais me entristece, é ver o interesse imobiliário pelo terreno que fica atrás do Estádio Serra Dourada, interesse que serve apenas para o lucro da especulação imobiliária. Como defensor da juventude, tenho posição contrária a essa ação do Governo do Estado de vender a área e assim, acabar com um projeto que defende a vida, um preceito cristão e tão humano.
Também relato, com muita dor, o encerramento das atividades
pastorais da Casa da Juventude Pe. Burnier, e justamente no ano que a Campanha da Fraternidade discute a temática juvenil e que
receberemos no Brasil a Jornada Mundial da Juventude com o Papa.
Faço este destaque, pois a Casa da Juventude faz parte da minha
história. Foi lá que tive o fortalecimento da minha fé, meu
discernimento vocacional e aprimorei os valores que trouxe de dentrode casa e que pautam meu trabalho como parlamentar nesta Casa.
Sem dúvida, se aqui hoje estou, a Casa da Juventude tem uma grande participação nisto.
Vivemos agora na nossa Igreja um momento muito importante: o
anúncio da renúncia do Papa Bento XVI. Foi sem dúvida uma surpresa para o mundo todo, em especial para nós católicos, ver um líder na altura de seus 85 anos de idade, renunciar ao posto de chefe de tão grande e importante instituição.
Além do gesto sensato, uma fala recente do Papa me chamou a atenção, em especial. O Sumo Pontífice nos convida a promover uma “verdadeira renovação” na Igreja, inspirados no Concílio do Vaticano II. Tarefa que também nos cabe nesta Campanha da Fraternidade.
Assim, me dirijo em especial aos bispos, padres, religiosos, aqui
presentes, devemos acreditar e promover a nossa juventude. É ela, sem dúvida a maior força para que essa verdadeira renovação aconteça.
Faço um convite a toda sociedade, para que acreditemos no
protagonismo dos nossos jovens. Vamos promover espaços para
formação de cidadãos comprometidos com o bem comum e com a
Civilização do Amor. A Campanha da Fraternidade é um tempo
propício para refletirmos sobre nossas ações e nos convertemos à
juventude. Convertermos-nos a esse jeito de ser Igreja e ser sociedade. Sem preconceitos, sem amarras, e com muita vontade de contribuir para um mundo melhor de se viver.
Agradeço a oportunidade e me coloco à disposição de toda a juventude do nosso Estado e todos que lutam por causas que beneficiem a Juventude.
Vivamos com muita intensidade essa Campanha da Fraternidade.
Termino, ressaltando que eu acredito na Juventude e respondamos
juntos, inspirados na Campanha da Fraternidade, que sociedade
sonhamos construir com a nossa juventude...
Deus nos abençoe.
Muito Obrigado.