Notícias dos Gabinetes
As circunstâncias exigem a coesão da base.
A história não se limita ao mero registro dos fatos; tem, por natureza, vocação pedagógica. A experiência coletiva permite que seja possível estabelecer uma relação de causa e conseqüência diante de decisões importantes, ainda não aproximada. Não à toa, muitos pesquisadores buscam na partícula condicional “se” uma reflexão sobre infinitas possibilidades diante de um dado contexto histórico. Raciocínio idêntico pode ser aplicado ao campo da política.
Os projetos políticos são construídos conforme o contexto conjuntural do momento. Trata-se de uma estratégia que procurar abarcar a dinâmica social, cada vez mais fluída e descentralizada, conforme orienta o sociólogo Zygmunt Bauman. O Tempo Novo foi uma iniciativa vencedora porque superou o imediatismo político em nome de um sólido projeto a longo prazo. Trata-se, sobretudo, de uma mudança de modelo de gestão, de mentalidade. Decorre daí uma lição da história, que permite refletir sobre o futuro do Democratas em Goiás.
Em 1998, o PFL elegeu dois deputados federais – Ronaldo Caiado e Vilmar Rocha – e dois estaduais – Célio Silveira e Jalles Fontoura. Dois anos depois, em pleito municipal, o partido elegeu 37 prefeitos e 282 vereadores. Houve uma melhora em 2002: a legenda conseguiu um senador – Demóstenes Torres – três deputados federais – Ronaldo Caiado, Vilmar Rocha e Sandro Mabel e três deputados estaduais – Nilo Rezende, Chico Abreu e Célio Silveira.
Em 2006, a legenda elegeu um deputado federal – Ronaldo Caiado – e dois deputados estaduais – Nilo Rezende e Helio de Sousa. O PFL havia lançado candidato ao governo, Demóstenes Torres, mas foi derrotado com apenas 3,508% dos votos válidos.
O resultado das eleições de 2006 indica uma queda significativa na quantidade de eleitos – apenas a metade dos deputados conseguiu resultado positivo. Há de se considerar ainda que a realidade de uma eleição estadual e federal difere em vários aspectos de um pleito municipal. Ainda assim, os dados mostram um prognóstico perigoso para o partido em Goiás a médio prazo.
A explicação mais provável para a curva eleitoral ascendente do PFL é o projeto do Tempo Novo. A aliança formada com partidos modificou a dinâmica política em Goiás e derrubou a hegemonia do PMDB em Goiás. A proposta – da qual o PFL é um dos formuladores – trouxe uma mudança de mentalidade, renovando a prática política goiana com racionalidade administrativa da gestão pública e responsabilidade social. A queda nos resultados da última eleição – uma anomalia política – pode ser explicada pela fragmentação do PFL, que lançou candidato ao governo, que fazia oposição ao projeto político do Tempo Novo.
Neste ano, será realizada novamente uma eleição municipal. As pesquisas iniciais apontam o nome de Iris Rezende como favorito à prefeitura de Goiânia. A base aliada do governador Alcides Rodrigues ainda não se alinhou diante de um nome que faça frente ante ao prefeito, ainda que se tenha opções fortes. Isso pode ser um reflexo da turbulência vivida pela aliança que forma o Tempo Novo.
O DEM (sucedâneo do PFL) possui um nome forte, o senador Demóstenes Torres. É um político com capacidade de agregar e aplicar a bem-sucedida proposta do Tempo Novo à realidade de Goiânia. Iris Rezende não é imbatível. O partido vive um duplo desafio: manter a coesão da base aliada ao governador e evitar a perda das vagas de prefeito e vereador já conquistadas. Um resultado positivo em 2008 significa a mudança da curva descendente do DEM sugerida nas eleições de 2006.
A história é pedagógica para quem mantém o poder sob rédeas. Uma base governista sólida pode alterar a dinâmica eleitoral no pleito de Goiânia, a maior vitrine municipal de Goiás para qualquer legenda. O momento é de unidade; a coesão não deve ser fruto de projetos imediatos, mas de propostas cristalizadas a longo prazo. Caso não se siga esta regra, o poder vai ao gosto das circunstâncias. O alerta do historiador grego Heródoto permanece atual: “São as circunstâncias que governam os homens, não os homens que governam as circunstâncias”.
Vilmar Rocha venceu em 2006, mas não levou. Se em 2010, o Democratas continuar isolado da base, teremos um grupo de políticos notáveis, sem mandatos, porque a razão é mais forte que a matemática.
Helio de Sousa, médico, é deputado estadual pelo Democratas