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Doença é progressiva e não tem cura, mas diagnóstico e tratamento precoces podem amenizar e retardar os sintomas

21 de Setembro de 2022 às 08:40
Doença é progressiva e não tem cura, mas diagnóstico e tratamento precoces podem amenizar e retardar os sintomas

Conhecido como um dos fatores responsáveis pela perda da memória com o passar dos anos, o Alzheimer é uma doença progressiva neurodegenerativa. Caracterizada pela morte das células cerebrais, causando a perda das funções cognitivas, trata-se de uma patologia que afeta, geralmente, pessoas idosas, acima de 65 anos de idade.

Apesar de ser considerada incurável, os sintomas do Alzheimer podem ser minimizados, controlados e até mesmo retardados por meio de cuidados e tratamentos médicos. Quanto mais cedo descoberta e tratada, menores podem ser os impactos na vida da pessoa com a doença. Diante disso, com o objetivo de conscientizar a população brasileira sobre a importância da participação de familiares e amigos nos cuidados dispensados foi instituído, por meio da Lei Federal nº 11.736/2008, o Dia Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer. A data é celebrada anualmente em 21 de setembro.

Tratamentos

Dentre os tratamentos disponíveis, são indicados medicamentos com o intuito de amenizar os sintomas causados pela patologia. São os chamados, de acordo com a médica geriatra e supervisora da residência médica de geriatria do Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), Juliana Junqueira, potencializadores da cognição. “São medicamentos que estão no mercado há mais ou menos 20 anos e que tentam realçar o que o paciente ainda tem de função e memória e retardar um pouco as perdas”, diz.

A profissional afirma que, quanto antes tratada, maiores as chances de sucesso, já que é uma doença que evolui com o tempo. “Além da perda de memória, a pessoa vai perdendo a autonomia, a capacidade de gerenciar a própria vida e pode ter, também, alterações comportamentais e de humor, que trazem um grande impacto de sofrimento para o paciente e para os familiares.”

Segundo a médica, com a descoberta precoce o paciente apresenta uma resposta melhor aos tratamentos. Além da indicação farmacológica, informa ela, consegue-se orientar a família sobre as medidas de cuidados e isso tem um grande impacto na saúde do paciente e da família. "Quando há orientação desde o início, há também um melhor conhecimento de como cuidar e abordar os conflitos à medida em que forem acontecendo”, salienta.

Experiente em tratar pacientes com Alzheimer, Juliana explica que, para estes sintomas existem medicações específicas. Outra opção indicada e satisfatória, em alguns pacientes, é a cannabis medicinal. “Em alguns casos, em que os pacientes não respondem aos medicamentos clássicos, a cannabis entra como uma alternativa para ajudar no controle mental e na ansiedade. Passa a ser um recurso a mais a ser utilizado”, frisa.

O resultado, entretanto, conforme a geriatra, depende do perfil do paciente e do tipo de sintoma. “Tem paciente que não nota efeito nenhum. Outros já têm uma melhora comportamental muito importante, como melhora do sono, da agressividade. Então, não é uma droga para ser usada igual para todos”, pondera.

Sistema endocanabinóide

De acordo com o médico intensivista, diretor e fundador do Instituto de Medicina Orgânica (IMO) de Goiânia, João Carlos Normanha, uma questão relacionada ao Alzheimer seria o comprometimento do sistema endocanabinóide que, segundo o especialista, é produzido pelo organismo humano. Deste modo, o profissional explica que resultados recentes de pesquisas vinculam tal eficiência a um dos processos da patologia.

“Esse sistema é responsável por controlar algumas funções neurológicas, como a memória, as emoções, o comportamento, a agressividade, o equilíbrio. Então, quando ele é comprometido, ele pode estar envolvido nos sintomas e na gênese do Alzheimer. E a cannabis tem dentro dela componentes que simulam o nosso canabinóide, por isso algumas pessoas têm resultados com o tratamento”, esclarece, com a ressalva de que o Tetrahidrocanabinol (THC) presente na cannabis é o que impede, de acordo com estudos, a progressão da doença.

Curando Ivo

Um exemplo de sucesso com o tratamento realizado pela cannabis medicinal é de Ivo Suzin, cuja história se transformou em uma associação, por nome “Curando Ivo”. De acordo com o filho do paciente, Filipe Suzin, o diagnóstico para Alzheimer veio no ano de 2013. Ele afirma que, na época, não foram apresentadas soluções satisfatórias de tratamentos para o caso. A partir de então, começou a pesquisar alternativas que pudessem proporcionar uma melhor qualidade de vida para o pai. 

Um ano depois, descobriu a respeito do sistema endocanabinóide e o tratamento com a cannabis. Apenas em 2019, entretanto, quando conheceu o médico João Carlos Normanha, veio a possibilidade do tratamento. “Ele abraçou a nossa causa e foi assim que começou”, relata Filipe. “Era um tratamento no qual eu acreditava, desde sempre, que poderia surtir resultados, e graças a Deus não deu outra”, celebra.

De acordo com Filipe, o resultado do tratamento com o óleo da cannabis foi apresentado em seu pai em um período de apenas três meses. “Antes era uma pessoa completamente agressiva, sem autonomia, que não se alimentava nem tomava banho sozinho e praticamente não dormia”, conta. “Após começar a fazer uso do óleo, ele passou a ter mais coordenação cognitiva e motora, a se alimentar sozinho, deixou de ser agressivo. As mudanças foram várias.” 

Com o entusiasmo em razão da melhora, Filipe decidiu gravar um vídeo em forma de documentário, para registrar o antes e depois de seu Ivo, no período de um ano. “Porém, com três meses já houve um resultado, que foi compartilhado, viralizou e surgiu a busca de várias pessoas por essa essa revolução. A partir disso, surgiu o entendimento de que poderíamos transformar a história do meu pai no acesso para outros pacientes”, relata.

Foi quando surgiu a Associação Curando Ivo, cujo objetivo é garantir a informação e o acesso a um tratamento multiprofissional em conjunto com pesquisas científicas. “O que a gente quer é tentar auxiliar para que outros Ivos possam ter esse mesmo direito de tentar ter a mesma qualidade de vida”, pontua Filipe que afirma que a entidade conta hoje, também, com núcleos focados em nutrição, fisioterapia e enfermagem, dentre outros. “O óleo tem um potencial gigantesco, mas envolve também alimentação e outras questões.”

Conscientização

Diante da revolução, o filho de seu Ivo destaca a necessidade da conscientização por parte de familiares de pacientes com Alzheimer para tratamentos que proporcionem melhorias. Neste sentido, evidencia o olhar humanizado em levar a informação a respeito de tratamentos alternativos, como o realizado com a cannabis, além da necessidade de enxergar a planta como algo eficaz para determinadas patologias. 

“A forma com que se usa o produto é que o torna danoso. A cannabis é um medicamento maravilhoso para várias doenças, diferente do uso individual em grandes doses”, salienta o médico João Carlos Normanha, com a afirmativa de que a utilização é completamente diferente e o paciente não sente o efeito da mesma forma que alguém que fuma a maconha. “Comparar este uso com quem utiliza de forma terapêutica é desleal, visto que a ação e os riscos são diferentes”, conclui o especialista.

Atuação Parlamentar

Voltado ao assunto, tramita, na Casa de Leis, um projeto apresentado pelo deputado Virmondes Cruvinel (União Brasil) na atual legislatura. Protocolada sob o nº 4177/20, o parlamentar visa instituir, em Goiás, a Política Estadual de Orientação, Apoio e Atendimento aos Pacientes, Familiares e Cuidadores dos Portadores da Doença de Alzheimer e Outras Doenças Neurodegenerativas.

O objetivo, de acordo com o texto, é garantir atendimento médico e clínico, acompanhamento geriátrico, psiquiátrico e neurológico especializado e periódico junto às Unidades Básicas de Saúde e na rede hospitalar que presta atendimento aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), aos pacientes com a doença e aos familiares e cuidadores; permitir o diagnóstico precoce da doença e também o acesso mais ágil ao tratamento para os pacientes com Alzheimer ou outras doenças neurodegenerativas; facilitar a obtenção de medicamentos considerados excepcionais e indispensáveis, gratuitamente, aos doentes, através da rede pública de saúde, bem como o fornecimento de outros medicamentos receitados aos cuidadores.

E ainda: fomentar programas de orientação, treinamento, apoio assistencial e de conscientização aos familiares e cuidadores, referentes aos males causados pela doença, cuidados especiais no manuseio, capacidade de adaptação e segurança dos portadores; confeccionar e distribuir cartilhas, ou outro tipo de material informativo, para orientar os familiares e os cuidadores, assim como a população em geral; implementar medidas e promover política de auxílio às famílias e cuidadores dos portadores da doença, para identificar as necessidades individuais de cada portador, de modo a que este possa ter acesso aos exames clínicos necessários, assim como a tratamento fisioterápico, de terapia ocupacional, de fonoaudiologia, de terapia ocupacional, psicológico, de estimulação fisica e comportamental, nutricional.

Após passar pela Comissão de Saúde, a matéria se encontra apta para ser apreciada em Plenário. “Como se trata de uma doença cujas causas ainda não foram estabelecidas, o diagnóstico é extremamente complexo e envolve o trabalho de equipes multidisciplinares. Quando identificada em seus estágios iniciais, maiores são as chances de se controlar os sintomas”, explica o autor da proposta, em sua justificativa.

“O objetivo é fortalecer e sistematizar as ações públicas destinadas ao tratamento das doenças neurodegenerativas, em especial a de Alzheimer, as quais ocasionam profunda deterioração das funções cerebrais do paciente, culminando em quadros de demência e do comprometimento permanente de áreas como a linguagem, memória ou da capacidade de autocuidados”, salienta Cruvinel, em sua propositura.

Agência Assembleia de Notícias
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