Audiência pública realizada na Alego debateu políticas de enfrentamento ao racismo e à intolerância religiosa

A Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) realizou uma audiência pública na manhã desta terça-feira, 21, em parceria com organizações de movimentos negros e terreiros de matriz africana, para celebrar o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), e o recém-criado Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. O evento foi conduzido pelo autor da iniciativa, deputado Mauro Rubem (PT), no auditório 2 do Palácio Maguito Vilela, sede da Alego.
A mesa de debates foi composta por diversas autoridades, como o deputado Fred Rodrigues (DC), o promotor de Justiça e coordenador de Políticas Públicas, Direitos Humanos e do Núcleo de Gênero, Marcelo Machado, e o coordenador do Grupo de Trabalho pela Igualdade Racial da Defensoria Pública do Estado de Goiás, o defensor público Salomão Neto. Além disso, durante o evento, o Quilombo Urbano do Jardim Cascata apresentou uma performance cultural e a cantora Tainá Janaína emocionou a plateia com sua voz marcante e canções de resistência negra.
O objetivo principal da audiência pública foi aprofundar o debate sobre o racismo, incluindo o religioso, e discutir ações afirmativas para combater a discriminação racial. Um dos temas abordados foi o veto integral à proposta da ex-deputada estadual e agora federal Adriana Accorsi (PT), que previa a reserva de 50% das vagas nos programas de estágio nos órgãos públicos de Goiás para pessoas negras (pretas e pardas), indígenas e quilombolas. O veto está em trâmite na Alego e aguarda relatório do deputado Major Araújo (PL) na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ).
Durante a audiência, diversos participantes enfatizaram a importância da valorização da cultura afro-brasileira e da luta contra o racismo e a discriminação. A professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-GO), do Instituto Federal de Goiás (IFG), e coordenadora da Rede Estadual de Mulheres, Janira Sodré Miranda, ressaltou que “defender essa temática da intolerância é defender a liberdade religiosa, defender o racismo é edificar todas as liberdades na terra".
O deputado Mauro Rubem (PT) destacou a importância do evento em seu discurso: "É a primeira audiência pública que o nosso atual mandato realiza. Ela materializa todo esse processo que temos que enfrentar no Brasil, talvez de uma das piores chagas que possuímos, que é o racismo, e também agora a intolerância religiosa”. Ele ainda enfatizou a relevância da audiência para construir um país mais igualitário: “Essa audiência vem para colaborar com a construção de uma nação que respeite essa grandeza e essa beleza racial e religiosa que temos".
Já o deputado Fred Rodrigues (DC) afirmou estar presente na audiência mais para aprender e escutar, do que para falar. Ele também cumprimentou a mesa e as pessoas presentes na plateia, destacando o trabalho desenvolvido pelos autores do projeto Corda, Pedro e Paulo Henrique, que trabalham com crianças.
O deputado Cairo Salim (PSD) enfatizou a importância da liberdade religiosa e do respeito às crenças de cada indivíduo. Durante sua participação no debate, o deputado ressaltou que a maioria da população brasileira é miscigenada ou negra, o que reforça a necessidade de defender ações anti-racismo. Ele também destacou que todas as pessoas têm o direito de professar a religião que quiserem, e que é preciso respeitar as crenças de cada um. "Se tenho direito de falar que Jesus é Deus, o outro também tem direito de acreditar nos seus orixás, de ter suas casas religiosas, e ter a sua fé exposta da maneira que entender que tem que ser", afirmou o deputado.
Além disso, Cairo Salim defendeu o direito à liberdade de expressão, mesmo que isso possa ser constrangedor para algumas pessoas. "Quero ter direito de falar coisas que são constrangedoras para algumas pessoas, mas que fazem sentido na minha fé. E isso estar tudo bem. Todos temos o direito de acreditarmos naquilo que bem entendermos", disse.
O evento enriquece o debate e demonstra o compromisso da Alego com a promoção da igualdade racial.