Anualmente a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBF) se une aos demais profissionais, em todo o globo, para celebrar o Dia Mundial da Voz. Esta data, 16 de abril, foi oficialmente instituída no calendário comemorativo nacional, por meio da Lei nº 11.704/2008, com o objetivo de buscar a colaboração massiva dos profissionais da área de fonoaudiologia, para disseminar o conhecimento, orientar a população, promover ações em saúde e favorecer encaminhamentos adequados de prováveis ou reais problemas de voz.

No Brasil, a primeira grande campanha da voz se deu em virtude das comemorações da Semana Nacional da Voz, conhecida ainda nos longínquos anos de 1999, mas, a partir de 2003 passou a ter expressão internacional, com diversos eventos organizados também nos Estados Unidos, Europa e Ásia e ganhando cada vez maior visibilidade.  

“Minha voz, nossa voz: a força da conexão” é o tema da campanha do Dia Mundial da Voz neste ano de 2024.  A jornada conclama a população para ações que visem à conscientização quanto a importância da saúde da voz em suas várias dimensões, principalmente para aqueles que a utilizam como instrumento de trabalho, como os professores, operadores de telemarketing, atores, cantores, profissionais do direito, locutores, entre outros.

Além disso, as ações promovem a possibilidade de autoavaliação, o que faz com que as pessoas busquem profissionais qualificados que possam realizar o diagnóstico precoce de doenças, como o câncer de laringe, que acomete principalmente homens, sendo o terceiro mais prevalente na região de cabeça e pescoço. De acordo com dados da SBF, o País ocupa o segundo lugar no ranking de câncer da laringe e coloca, o cigarro e o álcool como sendo os grandes vilões que desencadeiam esse tipo de neoplasia. Quando associados, o fumo e o álcool  tem potencial para triplicar as chances de desenvolver a doença.

Entretanto, todos esses cuidados com a voz somente se tornaram possíveis nas últimas quatro décadas, quando foram reconhecidos, em 1981, os primeiros cursos de nível superior da área da fonoaudiologia. Inicialmente, o campo de atuação estava muito restrito ao distúrbio da comunicação, voltado para o atendimento infantil. Ao longo dos anos, porém, outras abordagens foram desenvolvidas, até que surgiu o especialista em voz, que trabalha em três aspectos principais: prevenção, clínica e aperfeiçoamento vocal. 

A voz é uma das ferramentas mais primárias do ser humano 

Mas, afinal, o que é a voz? Conforme o dicionário Aurélio, a voz pode ser descrita como sendo o som ou conjunto de sons produzidos pelo ser humano e por determinados animais e pode ser utilizada para a comunicação e a expressão de emoções. É também a faculdade do ser humano de falar, se manifestar, reclamar, protestar e suplicar. A voz é uma das primeiras ferramentas que o ser humano dispõe para interagir com a sociedade. 

Os estudiosos explicam que, logo ao nascer, diante do primeiro suspiro de vida, o indivíduo já começa a construir sua personalidade por meio da expressão do primeiro choro, da sua voz mais primitiva e gutural - som emitido pela garganta. É ainda no instante do parto que o indivíduo passa a utilizar da sua voz para dizer ao mundo a que veio, passando a se utilizar dessa ferramenta para a construção da própria personalidade, além de recorrer a ela como meio de comunicação com o mundo interno e externo - através da linguagem que vai formando o inconsciente. 

A fonoaudióloga Sílvia Maria Ramos explica que a voz é uma das ferramentas primárias que o ser humano dispõe para interagir com a sociedade. É tão individual quanto nossa impressão digital e pode nos identificar, expressando nossa idade, sexo, personalidade, emoção e profissão. Ela detalha que esse mecanismo de produção da voz ocorre pelo ar expiratório, que, ao passar pela laringe, aproxima e faz vibrar as pregas vocais. Esse som laríngeo é “transformado” e amplificado pelas chamadas “cavidades de ressonância” (principalmente a boca e a faringe), que funcionam como uma espécie de filtro, que modificam e qualificam a voz.

A especialista ilustra que fisiologicamente a voz é produzida na laringe, onde se encontram as pregas vocais.  “Ao longo da vida, a voz se modifica naturalmente, pois acontecem mudanças na frequência fundamental, que é o número de vibrações por segundo em que as pregas vocais vibram. Essas mudanças ocorrem em virtude das transformações de crescimento e envelhecimento das estruturas responsáveis pela produção vocal”. 

Segundo Ramos, ao longo da vida, dentre os problemas mais frequentes que podem acometer a voz estão a rouquidão - que, se passar de 15 dias, deve ser investigada-, o pigarro constante, a voz fraca, as falhas ou cansaço ao falar. Ela orienta que, diante de qualquer um desses problemas, é importante consultar um fonoaudiólogo e um otorrinolaringologista para que todos os cuidados sejam tomados. 

Dentre as patologias que mais atingem a voz é possível incluir doenças respiratórias (rinites, resfriados, gripes), laringites inflamatórias, infecciosas, lesões das cordas vocais (nódulos, pólipos, cistos), paralisia de cordas vocais, refluxo gastroesofágico, câncer da laringe, doenças tireoidianas, hábitos como ingestão alcoólica, tabagismo e uso abusivo da voz, entre outras. 

A melhor forma de prevenir e garantir a saúde da voz é por meio de alguns cuidados considerados básicos, tais como: ingerir diariamente, no mínimo, 2 litros de água; se alimentar de forma saudável e equilibrada; dormir, pelo menos, 8 horas por noite; preservar a voz, durante os períodos gripais e evitar falar alto; evitar pigarrear, gritar e dar gargalhadas; evitar fumo e ingestão de bebidas alcoólicas; evitar ingerir leite e derivados, bebidas gasosas, chocolate e, ainda, ficar atento aos primeiros sintomas de alteração vocal como cansaço, ardor ou dor ao falar, falhas na voz, mudança de tom, pigarro e rouquidão. No caso de problemas vocais, procurar um profissional da fonoaudiologia, especialista em voz, e um médico otorrinolaringologista.