Para o bem do coração
O primeiro grande poeta grego, Homero, foi quem apresentou, em sua obra, indícios de como era vista a relação entre o corpo e a alma (ou mente) e como eram definidos os conceitos de saúde e enfermidade. O primeiro termo destacado pelo autor é "coração", que se referia não somente ao órgão físico, mas também aos sentimentos e afetos. Para o homem homérico, seria no "coração" onde os sentimentos se manifestam, não havendo distinção entre o processo psíquico e o órgão físico em si.
Discípulo de Homero, foi Aristóteles o primeiro a considerar o coração como sede da "alma", das emoções e do intelecto. Para ele, o coração possui papel importante por se encontrar numa posição central do corpo e responder pelas faculdades da alma, sendo fundamental para a vida humana. Aristóteles observou que o coração é o órgão a se desenvolver primeiro no embrião, sendo a fonte do sangue e a origem dos vasos sanguíneos. Talvez por isso, Aristóteles é geralmente considerado o pai da anatomia comparada.
Ao longo da história, não somente os filósofos gregos se interessaram pelo coração. No mundo inteiro, desde o século XVIII, época em que as especialidades médicas foram surgindo, diversos estudiosos se dedicaram ao estudo do sistema cardiovascular, mantendo interesse até os dias de hoje nessa área, fazendo a ciência evoluir para salvar vidas.
Na contemporaneidade, a saúde do coração é um assunto que continua merecendo toda a atenção, pois as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e no mundo, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Cerca de 14 milhões de brasileiros têm alguma doença no coração e cerca de 400 mil morreram (dados 2021) em decorrência dessas enfermidades, o que corresponde a 30% de todas as mortes no País. Por isso, se faz tão importante o hábito de consultar esse especialista para manter a boa saúde do coração e dos vasos sanguíneos.
Considerando esse cenário e a importância que tem essa especialidade médica para a manutenção da saúde, a SBC criou, em 2007, o Dia do Cardiologista a ser comemorado anualmente no dia 14 de agosto. A data foi estabelecida como uma forma de valorizar esse profissional e relembrar a sua importância, além de coincidir com o nascimento do médico Dante Pazzanese, importante cardiologista brasileiro, que nasceu em 14 de agosto de 1900. Ele foi pioneiro na cardiologia no Brasil e fundador da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em 1943. Afora esses fatores, a celebração também pretende alertar a população sobre os cuidados que devem ter com a saúde do coração.
Atualmente, apesar da elevação no total de casos de problemas cardiovasculares, devido ao crescimento e ao envelhecimento da população, em boa parte do mundo a situação vem melhorando e o número relativo de mortes ajustados por idade, recurso estatístico que permite comparar dados de populações com estruturas etárias diferentes, encontra-se em queda nessas três décadas. No Brasil, a redução foi de 55,6%: baixou de 356 mortes por 100 mil pessoas em 1990 para 158 por 100 mil em 2022. No restante do planeta, a redução foi de 35%. Caiu de 358 óbitos por 100 mil em 1990 para 233 por 100 mil em 2022.
Apesar desse quadro preocupante e da prevenção ainda ser de extrema importância, 23% dos brasileiros nunca foram ao cardiologista, o que pode colaborar para que as doenças cardiovasculares não só representem a maior causa de mortes no Brasil, bem como cumpram a previsão de que até 2040, a mortalidade devido a esses eventos pode aumentar em até 250%. Atualmente, estima-se que aproximadamente uma pessoa sofre um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) a cada dois minutos no país.
Especialista
De acordo com o cardiologista Darlan Carneiro, dentre as doenças cardiovasculares mais prevalentes estão aquelas popularmente conhecidas como infartos do miocárdio (ataque cardíaco) e derrames cerebrais (AVCs). Geralmente eles são eventos agudos causados principalmente por um bloqueio que impede que o sangue flua para o coração ou para o cérebro. A razão mais comum para isso é o acúmulo de depósitos de gordura nas paredes internas dos vasos sanguíneos que irrigam o coração ou o cérebro. A projeção é de que 40% da população brasileira possui excesso de gordura no sangue.
Carneiro explica que os acidentes vasculares cerebrais também podem ser causados por uma hemorragia em vasos sanguíneos do cérebro ou a partir de coágulos de sangue. Dentre os principais sintomas, pode acontecer dor ou desconforto na região peitoral, podendo irradiar para as costas, rosto, braço esquerdo e, raramente, braço direito. Essa dor costuma ser intensa e prolongada, acompanhada de sensação de peso ou aperto sobre o tórax, provocando suor frio, palidez, falta de ar e sensação de desmaio.
De acordo com o cardiologista, outras duas condições consideradas bastante comuns são a hipertensão e a insuficiência cardíaca. A hipertensão ou pressão alta também é uma condição em que a pressão do sangue persistente nas artérias é muito alta, podendo causar problemas de saúde graves, tais como: doenças cardíacas, derrames e insuficiência renal. Nesse caso, o coração não consegue bombear sangue eficientemente para atender às necessidades do corpo.
Já na insuficiência cardíaca, o paciente apresenta o coração fraco e não consegue bombear sangue suficiente para o corpo. Isso pode causar cansaço, falta de ar e inchaço. Além destas, existem algumas outras doenças cardíacas significativas que devem ser consideradas: arritmias, doença valvular, cardiomiopatia, doença do pericárdio, doença cardíaca congênita, endocardite e miocardite.
“A literatura médica aponta que o colesterol elevado no sangue é um dos principais fatores para doenças cardiovasculares e pode ser uma das causas que podem levar ao infarto e ao acidente vascular cerebral. Em qualquer momento da vida é importante a consulta ao especialista, mas quando o indivíduo atinge os 40 anos de idade já é necessário redobrar os cuidados buscando manter uma rotina preventiva. Os números absolutos das doenças cardíacas aumentaram. Entretanto, os números proporcionais diminuíram graças ao tratamento preventivo, que controla, principalmente, os níveis de colesterol no sangue”, relata o experiente cardiologista clínico que atua na área há muitos anos.
Controlar as taxas de gordura no sangue é fundamental para reduzir os riscos que levam às doenças do coração, que, na maioria das vezes, agem de maneira silenciosa. É importante saber que há dois tipos de colesterol, o HDL, considerado “bom”, e o LDL, considerado “mau”. A prevenção e a diminuição do LDL passam pela adoção de hábitos saudáveis, como atividades físicas e uma alimentação adequada. “O paciente precisa ter como meta a redução dos níveis de colesterol que pode ocorrer por meio de uma mudança no estilo de vida”, adverte o especialista.
Carneiro sentencia que 80% das mortes por doenças cardiovasculares poderiam ser evitadas com mudanças de hábitos e medidas preventivas, tais como prática regular de atividades físicas, alimentação adequada, não consumo de álcool e qualquer tipo de tabagismo, diminuição do nível de estresse, todas elas medidas que são consideradas simples, porém muito eficazes para garantir uma boa qualidade de vida.
Legislativo Goiano
Sempre conectada com as demandas da sociedade, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) vem contribuindo na luta pelo combate ao colesterol e pela saúde do coração de toda a população goiana. No último dia 6 de agosto, o presidente da Comissão de Saúde da Casa, deputado Gustavo Sebba (PSDB), promoveu audiência pública sobre infarto agudo do miocárdio (IAM), evento que reuniu, no Auditório Júlio da Retífica, autoridades, especialistas e pessoas que tiveram e/ou têm o problema e o estão combatendo.
A discussão abordou estratégias para prevenção, diagnóstico e tratamento do IAM, com foco na regionalização do atendimento e nos desafios enfrentados durante a fase pré-hospitalar. Foram discutidos indicadores e metas para a melhoria do manejo do infarto, bem como o financiamento das linhas de cuidado.
Como resultado do debate, foi apontada a necessidade de se aprimorar as políticas de atendimento à atenção primária, com diagnóstico adequado, incluindo a teleconsulta, e melhorias no transporte e na regulação. Adequações na política de regionalização e gestão tripartite, com financiamentos proporcionais à arrecadação, foram identificadas como fundamentais à descentralização adequada.