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Em busca da felicidade

20 de Março de 2025 às 10:00
Em busca da felicidade

A data foi criada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2012, apontando que a felicidade e o bem-estar são metas universais e devem ser reconhecida nas políticas públicas.

Todo dia é dia para ser feliz, já que a felicidade é considerada uma meta humana fundamental de vida. Ela tem até o próprio dia, 20 de março, destacado no calendário de datas comemorativas, quando é celebrado oficialmente o Dia Internacional da Felicidade. Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2012, a data tem como principal objetivo fazer com que as pessoas percebam a importância da felicidade nas suas vidas e na vida daquelas que rodeiam. 

A partir dessa iniciativa, houve um consenso crescente sobre a importância de medir a felicidade global, o que levou ao desenvolvimento do World Happiness Report pelo sociólogo espanhol Luiz Gallardo, com o intuito de utilizar ferramentas que possam avaliar, comparar e ranquear os níveis de felicidade entre os países do mundo todo. 

Aproveitando essa data, a fundação World Happiness Report lança um estudo anualmente indicando quais são os países mais felizes do mundo, elegendo seis fatores qualitativos principais, utilizados para obter o resultado final, tais como: apoio social, renda, saúde, liberdade, generosidade e ausência de corrupção. Além destes, outros fatores também são avaliados e incluem o PIB per capita, a esperança de vida saudável, o apoio social, a liberdade, a generosidade e a ausência de corrupção. Esses critérios são ponderados e combinados para formar uma avaliação mais abrangente.

Nos relatórios divulgados, especialistas de várias áreas — economia, psicologia, análise de pesquisa, estatísticas nacionais, entre outros — descrevem como as medições de bem-estar podem ser efetivamente usadas para avaliar o progresso das nações. Cada relatório está organizado por capítulos, que se aprofundam nas questões relacionadas à felicidade, incluindo doenças mentais, benefícios objetivos da felicidade, a importância da ética, implicações políticas e as ligações com a abordagem da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) com vistas a mensurar o bem-estar subjetivo e o Índice de Desenvolvimento Humano.

Segundo Luiz Gallardo, um dos maiores desafios para finalizar o estudo é a coleta de dados comparáveis dos mais diversos fatores que influenciam a felicidade e, ainda são capazes de interagir entre si, em diferentes países e culturas.

Em 2024, o estudo indicou que os países mais felizes do mundo são: Finlândia, Dinamarca, Islândia, Suécia, Israel, Holanda, Noruega, Luxemburgo, Suíça e Austrália. O Brasil ficou em 44º lugar no ranking, cinco posições acima do ano anterior. Na América do Sul, o Brasil ficou atrás apenas do Uruguai (26º) e Chile (38º). A Finlândia foi considerada o país mais feliz do mundo, por ter uma distribuição de renda mais igualitária, sensação de segurança e estabilidade, além de um forte senso de comunidade, solidariedade e cumplicidade. 

No caso do Brasil, mesmo com a recente queda de posições, Gallardo disse, na ocasião da divulgação dos dados, que enxerga o potencial de melhora para a situação brasileira. Segundo ele, o Brasil enfrenta desafios como desigualdade econômica, problemas de saúde pública, corrupção e violência. No entanto, também existem oportunidades, como o fortalecimento de redes sociais, investimento em saúde e educação, promoção da igualdade econômica e melhorias na infraestrutura e meio ambiente. O País pode se beneficiar ao abordar esses desafios e aproveitar essas oportunidades para melhorar o bem-estar e a felicidade de sua população.

É importante lembrar que ninguém é feliz sozinho; por isso mesmo, no Brasil, o senso de comunidade precisa ser fortalecido a exemplo das sociedades das nações do dito primeiro mundo. Segundo Gallardo, isso pode potencializar o sentimento de pertencimento e influenciar o nível de interação, permitindo que o indivíduo tenha uma percepção de maior proteção, dentro daquele ambiente onde está inserido, ampliando com isso, uma perspectiva mais otimista frente à realidade. 

A felicidade na visão da psicanálise 

Quem falou com a equipe de reportagem da Agência de Notícias sobre esse assunto foi o psicanalista Fábio Pereira Alves, fundador do Instituto Catarses, que oferece cursos de formação na área da psicanálise na capital. Ele explica que a busca da felicidade gera em nós conflitos internos que despertam desejos reprimidos que podem ser barrados pelos mecanismos do inconsciente.  

O psicanalista pontua que os modelos de felicidade contemporâneos divulgados na mídia e da sociedade às vezes levam o sujeito a se iludir de que precisa de tudo aquilo para ser feliz, mas pode descobrir que não é disso que precisa, que a felicidade é uma outra questão, muito mais interna do que externa, e pode não ser aquilo que foi idealizado. Ele acredita que o processo psicanalítico pode surpreender o indivíduo de forma inovadora e reestruturante.

O estudioso entende que a felicidade contemporânea quer insistentemente prometer que é possível atingir um ideal de felicidade definitivo. Essa experiência contemporânea, segundo ele, propõe que a felicidade é um objetivo e não algo transitório. Ele relata que percebe em seu consultório um tipo de pensamento contemporâneo que cria uma realidade epicurista, na qual produz um grande número de sujeitos vivendo num misto de tristeza e ansiedade por não conseguirem alcançar o jardim de Epicuro. Porém, ele percebe que no mundo contemporâneo, cada dia aumenta o número de pessoas que vivem no jardim das aflições.

O psicanalista enfatizou que a felicidade não é mesma para todo mundo, pois cada sujeito é feliz de forma diferente. Para a grande maioria, a felicidade é uma espécie de tentativa de equilíbrio, ainda que seja temporário. Ele cita a premissa postulada por Sigmund Freud, pai da psicanálise, que diz que “a felicidade é um problema individual e que nenhum conselho é válido. Cada pessoa deve procurar por si própria tornar-se feliz”. 

“Ainda que busque a felicidade constantemente, o sujeito não estará isento dos conflitos que geram tensões entre ele e as demandas sociais. O que pode fazer a vida um pouco mais satisfatória ou um pouco mais feliz, por assim dizer, são o amor e o trabalho - ainda que estamos sujeitos a frustrações e limitações”, defende o fundador do Instituto Catarses.  

Alves relata que Freud era pessimista quanto a alcançar um ideal absoluto de felicidade, principalmente se esse ideal estiver ancorado na satisfação do prazer. Para ele, a busca da felicidade é utópica, pois, para que ela possa existir no absoluto, o sujeito não poderia depender do mundo real. O objetivo não é tanto “ser feliz”, mas aprender a conviver com o mal-estar inerente ao humano. O psicanalista acredita que Albert Camus foi feliz ao dizer que “quando procuro o que há de fundamental em mim, é o gosto da felicidade que eu encontro”.

Agência Assembleia de Notícias - Reportagem: Ana Cristina Fagundes Krebs
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