Palácio Maguito Vilela sedia lançamento de livro e debate sobre os desafios das mulheres em tratamentos de longa duração
O Palácio Maguito Vilela sediou, na noite dessa segunda-feira, 31 março, o lançamento do livro "É (Sobre) Viver", da doutoranda em educação Mônica Strege. O evento foi promovido pela Assessoria Adjunta de Atividades Culturais da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), com apoio do gabinete do deputado Mauro Rubem (PT).
A obra relata a experiência de vida da autora, com ênfase na forma como vem fazendo o enfrentamento a um câncer incurável, porém sem ter a doença como protagonista. Quem olha para a professora Mônica e não a conhece, jamais imagina que ela convive com um tumor maligno no pulmão, sem possibilidade de cura e em processo de cuidados paliativos. A aparência saudável e a disposição em nada remetem à imagem de um paciente nessa situação.
A educadora conta que começou a sentir dores de cabeça, tosse e rouquidão em plena pandemia de covid-19, em 2020. Ela então procurou ajuda médica, passou por vários especialistas, que não suspeitaram da doença. Somente no sexto profissional consultado, um otorrinolaringologista, é que se cogitou a possibilidade de um câncer. Isso nove meses depois dos primeiros sintomas.
A demora no diagnóstico também trouxe consigo uma notícia impactante: a doença tinha chegado em um estágio para o qual não havia mais tratamento. Na época, a professora já estava escrevendo o livro, que passou a ter mais um personagem: o câncer.
“Eu tive que mudar um pouco a história porque esse novo personagem, que é o câncer, teve que entrar, mas ele não protagoniza a minha vida, nem a história do livro. É sobre vida, sobre como sobreviver. É sobre como eu consegui superar, de uma certa forma, esse impacto tão pesado que essa notícia nos traz e ressignificar a minha vida, no sentido de que a finitude está para todos”, discorre a autora.
A partir do diagnóstico, a professora passou a ser acompanhada por vários profissionais na chamada terapia de cuidados paliativos. Nestes quatro anos ela tem buscado viver, de verdade, um dia de cada vez, sempre refletindo e aproveitando o presente. E é essa mensagem que o livro traz: “Eu estou viva na minha vida até o último dia. Essa foi a ideia, não morrer antes da hora”.
Paliativos
Mônica discorre sobre a importância dos cuidados paliativos em casos como o dela. “Há muita coisa a ser feita pela pessoa quando há nada mais a se fazer pela doença. No meu caso nós estamos controlando a doença, mas cuidando de mim, da Mônica. Daí vem a equipe multidisciplinar que oferece diversas abordagens, focada no conforto, no bem-estar, na qualidade de vida, por isso estou aqui escrevendo, viajando, falando com as pessoas. O cuidado paliativo faz a integração do corpo e se entende o que é melhor para o paciente.”
A médica Amanda Travaglia Vitoy, especializada em clínica médica e medicina paliativa e vice-presidente da Academia Estadual de Cuidados Paliativos de Goiás, explicou que os chamados cuidados paliativos têm como objetivos principais aliviar e prevenir sofrimentos, sejam físicos, sociais, emocionais e até espirituais. “É dar qualidade de vida em todas essas dimensões de cuidado.”
Para o deputado Mauro Rubem, o sistema público de saúde precisa estar organizado para atender casos como o de Mônica e, nessa direção, é preciso construir uma política de cuidados paliativos. “Nós temos uma situação em que os cuidados paliativos na área da saúde são fundamentais. Porque o que significa o resto da nossa vida? Se for uma semana ou um mês, cinco anos, dez anos... é tudo que a gente tem pela frente e ele pode ser melhor do que a gente tem vivido hoje.”
Além do lançamento do livro, também houve uma mesa-redonda com o tema "Sobrevivências de mulheres em tratamento de longa duração".
Participaram do debate: deputado Mauro Rubem; médica Amanda Travaglia Vitoy; cardiologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e professor no Centro Universitário de Mineiros (Unifimes), Douglas Valiati Bridic; médica paliativista e presidente da Academia Estadual de Cuidados Paliativos de Goiás, responsável pelo Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital Municipal de Aparecida (HMAP) – Albert Einstein, Lídia Milioli; psicóloga Jacinta Fátima Cavalcante; e otorrino Gustavo Vasconcelos.
A autora
Mônica Strege nasceu em uma pequena cidade no interior de Santa Catarina e foi criada em Mato Grosso. Atualmente, mora em Goiânia, devido ao diagnóstico e ao tratamento de um câncer. Educadora por vocação, é graduada em biologia e, com paixão pela educação básica, concluiu seu mestrado e está finalizando o doutorado em educação. Strege é professora efetiva da rede estadual de Mato Grosso e tem sido uma militante fervorosa pela educação como ferramenta de superação das desigualdades sociais.