O deputado Mauro Rubem (PT) promoveu, na tarde desta segunda-feira, 24, audiência pública em homenagem aos 70 anos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que serão completados em 22 de dezembro.

Além de Rubem, compuseram a mesa a diretora técnica do Dieese, Adriana Marcolino; a supervisora técnica do órgão, Leila Brito; o superintendente regional do Trabalho em Goiás, Nivaldo Santos; o ex-coordenador do Dieese, Edmilson Lima; a presidente do Sindsaúde, Luzinéia Vieira; e o jornalista Pinheiro Salles. Também estiveram presentes diretores e representantes de sindicatos de trabalhadores de todo o Estado, homenageados com certificados emitidos pelo gabinete do parlamentar.

A importância estratégica da informação confiável e a defesa do Estado Democrático de Direito nortearam o discurso do deputado Mauro Rubem. O parlamentar destacou que as conquistas e a resistência da classe trabalhadora seriam inviáveis sem a atuação do Dieese e sublinhou o valor da informação fidedigna em momentos decisivos.

“A classe trabalhadora com certeza não teria acumulado vitórias, não teria reduzido perdas, não teria feito enfrentamento, se a existência do Dieese não fosse tão presente na vida cotidiana de todos e todas aqui”, afirmou.

Rubem recordou a atuação histórica da instituição no contraponto aos dados oficiais, citando especialmente debates sobre inflação e cesta básica em que, segundo ele, os levantamentos do Dieese apresentavam valores que expressavam melhor a realidade das famílias trabalhadoras e fortaleciam negociações sindicais.

Transformações

Durante seu pronunciamento, o deputado também abordou o cenário político atual do Brasil. Ele afirmou que pessoas que considera “golpistas” estão sendo responsabilizadas criminalmente.

“Nós estamos vendo, pela primeira vez, golpistas sendo presos e muitos outros serão presos”, declarou.

O parlamentar agradeceu a presença da direção do Dieese, destacando que a participação dos dirigentes contribuirá para fortalecer o órgão.

Novo modelo de financiamento sindical

O superintendente regional do Trabalho de Goiás, Nivaldo Santos, defendeu a urgência de uma reforma no sistema de financiamento sindical e ressaltou a importância das pesquisas do Dieese para a classe trabalhadora. Ele enfatizou que o custeio atual é insuficiente e destacou a necessidade de diálogo para a construção de um novo modelo de sustentação financeira.

Segundo Nivaldo, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) já sinalizou a necessidade de mecanismos transparentes de financiamento que atendam tanto o setor patronal quanto o dos trabalhadores. Ele afirmou que o debate nacional deve priorizar um modelo democrático de custeio e mencionou projetos de autoria do deputado Mauro Rubem que buscam fortalecer as entidades sindicais.

Nivaldo destacou, ainda, a importância de manter convênios com o Dieese e informou que recursos de fundos setoriais e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) podem ser utilizados para esse fim. Ele relembrou uma pesquisa realizada em parceria com o Dieese para compreender o perfil de uma categoria, ressaltando que dados técnicos são decisivos em negociações.

“Hoje, qualquer líder sindical que vai a uma negociação tem que fazê-la com dados bem embasados”, pontuou. Ele reforçou que apoiar o Dieese e o movimento sindical é responsabilidade do Estado.

Adaptação

A diretora técnica do Dieese, Adriana Marcolino, destacou que o mundo do trabalho passa por transformações rápidas e complexas, envolvendo regulação, inovações tecnológicas e mudanças no padrão de desenvolvimento. Segundo ela, todos esses fatores afetam diretamente a vida da classe trabalhadora.

“Para se manter relevante e cumprir sua missão histórica de apoiar os trabalhadores, o Dieese precisa se transformar e se modernizar para acompanhar essas novas realidades”, afirmou.

A diretora explicou que, além do apoio às negociações laborais, o Dieese atua na produção de análises que contribuem para debates estratégicos sobre políticas públicas. “A transformação visa capacitar o movimento sindical não apenas para a negociação de contratos, mas para a participação informada e estratégica na construção de políticas públicas inclusivas e democráticas, honrando sua trajetória de 70 anos.”

Atuação estratégica

A supervisora técnica do Dieese, Leila Brito, resgatou a origem do escritório em Goiás, que nasceu do interesse de sindicatos em replicar a experiência paulista. Ela lembrou que a atuação se consolidou com o crescimento do número de entidades filiadas e a ampliação dos serviços.

Entre os principais trabalhos, citou assessorias para negociações coletivas no setor privado, como comércio e derivados de petróleo, e no setor público, como saúde e educação. Também destacou estudos sobre economia e mercado de trabalho em Goiás.

Leila revisitou parcerias institucionais relevantes, como o convênio com a Prefeitura de Goiânia (1994–2004), que financiou a pesquisa da cesta básica municipal; a criação do Observatório do Trabalho de Goiás (2010), em parceria com o Governo Estadual e o MTE; e a instalação da subseção do Dieese no Sindsaúde, em 2015.

Ela destacou que a Reforma Trabalhista de 2017 e as mudanças no mercado de trabalho impõem novos desafios ao movimento sindical e ao Dieese. “O objetivo do Dieese, ao completar 70 anos, é aprimorar a assessoria, a pesquisa e a educação sindical para atender às novas demandas e seguir fornecendo suporte necessário à classe trabalhadora goiana.”

Ferramenta de negociação

A presidente do Sindsaúde, Luzinéia Vieira, destacou o orgulho de sua entidade ao contar com uma subseção do Dieese, fruto de uma decisão estratégica. Segundo ela, o acesso a dados técnicos é fundamental para fortalecer negociações trabalhistas tanto no setor público quanto no privado.

Ela ressaltou que a luta cotidiana da categoria seria inviável sem o suporte analítico do Dieese e citou a contribuição de pesquisadoras como Adriana Marcolino na Conferência Estadual do Trabalho. Luzinéia afirmou ter certeza de que os resultados da conferência “terão impacto significativo no futuro do mundo do trabalho a nível nacional”.

Ditadura

O jornalista Pinheiro Salles abriu sua fala saudando o Dieese, a classe trabalhadora e a democracia. Ele destacou a importância da união e do compromisso coletivo para construir um país mais justo e igualitário.

Relatou, ainda, sua experiência como preso político durante a Ditadura Militar, descrevendo as sequelas físicas e emocionais da tortura: danos no braço direito, nos ouvidos, na fala e a reconstrução das duas mandíbulas com platina. Mencionou também as “deficiências na alma”, decorrentes dos nove anos de perseguições e torturas que sofreu no Rio Grande do Sul e em São Paulo.