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Notícias dos Gabinetes
Lissauer Vieira busca fortalecimento regional

19 de Março de 2018 às 15:44

Em entrevista ao Jornal Opção, edição nº 2227, o deputado estadual Lissauer Vieira (PSB) reforçou o seu espírito municipalista, pregando o desenvolvimento regional. Para o deputado Lissauer, “a força econômica da região Sudoeste é muito importante para o Estado e tem uma densidade eleitoral considerável, de quase 600 mil habitantes, por isso, seria interessante politicamente, principalmente por conta do agronegócio, ter um representante da região”.

Durante a entrevista, o parlamentar falou ainda dos problemas da atual administração de Rio Verde, e de sua pré-candidatura a reeleição. Confira na integra a entrevista: O Sudoeste merece um lugar de destaque na chapa majoritária da base aliada e nada seria melhor do que a vice-governadoria. Esse é o entendimento de Lissauer Vieira (PSB), deputado que representa Rio Verde e os demais municípios da região na Assembleia Legislativa. Ao mesmo tempo, ele crava como certa a dupla de candidatos ao Senado com o governador Marconi Perillo (PSDB) e Lúcia Vânia, sua correligionária. 

Depois de uma disputa ferrenha — e um tanto fratricida — com o deputado federal Heuler Cruvinel (PSD) na disputa eleitoral de Rio Verde, em 2016, onde ambos foram derrotados à prefeitura por Paulo do Vale (MDB), Lissauer admite que pode fazer dobradinha com o ex-adversário. “Temos nossos pontos de divergência e isso é natural na política. Porém, as eleições passaram e não temos de ficar olhando para o retrovisor. Nós dois somos da mesma base. Não vamos ficar com picuinha o resto da vida prejudicando a população da região Sudoeste”, resumiu. O que pode evitar a dobradinha é o atendimento ao pleito do primeiro candidato: Heuler já colocou seu nome à disposição para ser vice do pré-candidato José Eliton (PSDB). 

Nesta entrevista ao Jornal Opção, o gaúcho da pacata Coronel Bicaco — Lissauer veio com a família para Rio Verde aos 8 anos — fala também sobre as demandas do meio rural, com o qual se envolveu antes mesmo de entrar para a política. 

 

A entrevista

Euler de França Belém — Embora pareça existir um “muro de Berlim” entre a capital e uma cidade como Rio Verde, este é um município que deixa surpreso quem o visita, tal é a produtividade e a modernidade que se encontram ali — não só em Rio Verde, mas em toda a região. Não tem nada da imagem idílica ou nostálgica que alguns tem do campo. Os produtores são autênticos empresários, alguns entre os maiores do País em seu ramo. Como está a economia de Rio Verde? A crise é mais branda do que em outras regiões do País?

Procede, sim. Obviamente, a crise também chegou em nossa região, mas em tamanho menor. Mas a pujança do agronegócio abrange não apenas Rio Verde, mas toda a Região Sudeste. Temos municípios como Jataí, Mineiros, Santa Helena, Montividiu — um município menor, mas que é muito forte no desenvolvimento econômico, principalmente por conta da agropecuária. O produtor rural de nossa região faz de sua propriedade uma empresa e assim a gere. É um empreendedor, que busca tecnologias de ponta fora do Brasil. Prova disso é a grandiosa feira Tecnoshow Comigo — que, a propósito, ocorre agora em abril, com abertura oficial no dia 9 —, uma das maiores do País e onde se encontra o que há de mais moderno no agronegócio. 

Quando se diz que há uma barreira da capital com os municípios do interior, se alguém for a Rio Verde ou em outra localidade do Sudoeste vai verificar que a realidade é totalmente diferente de outras regiões do Estado de Goiás. Isso vem por conta da força da agroindústria, das empresas que estão lá totalmente ligadas ao agronegócio, que, se vai bem, nossa região e o Estado vão bem, se desenvolvem de maneira maior. Tanto é que o setor que vem tirando o Brasil da crise é o agronegócio. 

Marcelo Mariano — Há uma história muito repetida, segundo a qual o agronegócio teria sido o último setor a entrar na crise e o primeiro a sair. Isso é verdade?

É verdade. O agronegócio, como eu disse, tem carregado nosso País nas costas. A geração de empregos e os números positivos do PIB brasileiro se dão por conta desse setor. Apesar de ter pouco incentivo, especialmente do governo federal, o agronegócio dá certo. Precisaríamos de políticas públicas melhores para alavancá-lo ainda mais. Todos sabemos que, se o produtor tiver condição de fazer sua safra com tranquilidade — por exemplo, de que teria segurança de rentabilidade, mesmo com adversidades climáticas —, isso poderia ser muito melhor. Mas, quando tem uma supersafra no Brasil, infelizmente o preço cai, pela lei da oferta e procura. Tínhamos de ter uma política de preços mínimos, de plano-safra de pelo menos cinco anos, mas a cada ano tudo muda e temos novidades, às vezes muito negativas, para o produtor. Não há estabilidade para quem quer gerar riquezas e fazer seu negócio desenvolver. 

Marcelo Mariano — Este ano há uma expectativa de safra recorde de soja. Como estão os produtores da região em torno disso?

Temos visto o clima positivo por conta da colheita da safra, acima da média. Por conta de uma crise hídrica na Argentina, os preços estão equilibrados, apesar de mais baixos do que no ano passado, mas em um bom patamar. O plantio da safrinha do milho, com uma perspectiva boa de o período chuvoso se prolongar — apesar de que a chuva veio mais tarde e praticamente não plantamos na janela de outubro. Outro fator que tem animado é que tivemos uma safra recorde no ano passado, mas vendemos o milho a 19 reais, 20 reais a saca. O custo é alto e este ano temos a perspectiva de o milho ter um preço melhor, talvez chegando próximo a 30 reais ou até superando essa barreira. Com uma produtividade boa e o preço nesses patamares, teremos uma rentabilidade significativa para a safrinha, que é naturalmente menor. 

Cezar Santos — E como está a estrutura rodoviária para escoar esse produto?

É um dos problemas que temos no agronegócio. O primeiro problema é este, as estradas, o outro é energia elétrica, que é muito grave também. Temos a esperança de que a privatização da Celg possa fazer superar esse quadro, apesar de que até agora não avançou, com a Enel [empresa que comprou a Celg].

Já as rodovias em nossa região são uma das minhas maiores preocupações e para a qual sempre procuro a Agetop [Agência Goiana de Transporte e Obras]. Da porteira para dentro, o produtor sabe gerir sua propriedade rural e gerar riquezas, mas os investimentos, no agronegócio, são muito altos. Para plantar qualquer pedaço de terra é preciso investir mais de R$ 1 milhão. Só uma colheitadeira custa mais do que isso. Se for comprar todos os equipamentos necessários para fazer produzir e colher, isso vai chegar a R$ 2 milhões a R$ 4 milhões. É muito dinheiro para depois não ter condições de escoar a safra com tranquilidade. 

Marcelo Mariano — E o que precisa ser feito?

O governo está atento a isso. Tínhamos uma demanda muito grande em nossa região, em torno da GO-174, entre Rio Verde e Montividiu. Considero que é a GO mais importante de Goiás e, felizmente, a Agetop resolveu o problema e está inaugurando em breve a obra, com a terceira faixa de rolamento e feita com qualidade. Temos muitos problemas em estradas vicinais, que não são pavimentadas, tanto GOs como estradas municipais, que dependem de muito trabalho do poder público para recuperá-las. Já sugeri à Agetop e à Secretaria de Desenvolvi­mento Econômico (SED), mas vou sugerir novamente agora ao vice-governador José Eliton (PSDB), para que façamos patrulhas agrícolas mecanizadas [conjunto de máquinas e implementos] regionalizadas. Hoje a SED tem essas patrulhas, que ficam uma semana no município, mas não resolve o problema, é um período muito curto e acaba havendo um desconforto com os prefeitos. Precisávamos ter em cada região uma garagem em um município base — por exemplo, em Rio Verde, em nosso caso — e para ficar à disposição de dez prefeituras de acordo com um cronograma, para darmos condições a todos. 

Augusto Diniz — Na safra recorde do ano passado houve problema de armazenamento. O início do plantio foi com o dólar em alta para a compra de insumos e a safra teve de ser vendida com a moeda em baixa. Esse ano há uma previsão para minimizar esse impacto?

Na realidade, o preço da soja, na safra do ano passado, estava em um bom patamar. O problema foi com o milho. Plantamos com um custo muito alto — sementes, adubo, insumos em geral — e colhemos com uma produtividade considerada boa, mas a lei da oferta e procura puxou o preço para baixo. Terminamos praticamente empatados ou talvez até no prejuízo, mesmo produzindo bem, porque o preço estava muito baixo. Neste ano a tendência é de que o preço melhore, já que geralmente, em relação a valor, uma commodity acompanha o preço da outra. Tem de ter um equilíbrio, a perspectiva para este ano é de uma lucratividade maior —obviamente, tudo depende do tempo. 

Sobre a armazenagem, é um dos gargalos que temos. Nossa região até tem muito armazém, mas o produtor precisa se conscientizar em relação a possuir seus próprios galpões, em sua propriedade. O governo federal deveria disponibilizar mais recursos — hoje tem, mas é muito pouco — para incentivar a armazenagem na propriedade. A partir do momento em que tem esses armazéns, o produtor passa a ser de fato dono de seu produto. 

Marcelo Mariano — A ferrugem asiática [praga que ataca lavouras da soja] é uma preocupação dos produtores ou é algo muito tímido na região?

É uma preocupação, mas o produtor aprendeu a trabalhar com a ferrugem asiática. Hoje temos poucos problemas, muito menores do que no passado. Antes, os produtores e os técnicos da área não tinham a experiência necessária para lidar com a doença. Para ter uma área limpa, é preciso aplicar os fungicidas preventivamente, bem como os vizinhos fazerem o mesmo sistema. Hoje, todos trabalham com essa prevenção tranquilamente, inclusive com o tratamento de sementes e, com duas ou três sessões, tudo se resolve. 

Euler de França Belém — A soja transgênica melhorou a resistência a pragas?

Não. Hoje, o tipo de soja de maior tecnologia é a Intacta, que é resistente à lagarta. Essa soja dá uma tranquilidade maior ao produtor em relação ao manuseio das lagartas. Já a soja RR, que é transgênica e resistente ao glifosato só dá uma tranquilidade maior na questão das pragas que saem na lavoura. 

Euler de França Belém — Qual é o papel da Comigo [Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano] na região?

É fundamental. A Comigo é importantíssima, uma das maiores cooperativas do Brasil e que tem feito realmente o papel que lhe é destinado, o do cooperativismo, auxiliando o produtor, dando a ele a assistência técnica devida e entrando no mercado no momento certo. Por meio do trabalho da Comigo, com a estrutura da Tecnoshow, o produtor rural tem acesso ao que há de mais moderno na agricultura. Isso vale também para a armazenagem, a compra de grãos, para a industrialização. A Comigo é referência não só para a região, mas para todo o Brasil. 

Marcelo Mariano — Parte dos ambientalistas considera o agronegócio como o grande vilão do meio ambiente. Como o sr. enxerga isso?

Precisamos alimentar o mundo, mas com responsabilidade ambiental. Um setor não pode invadir a área do outro. Ninguém defende que o agronegócio explore todas as reservas que temos, mas precisamos produzir para o mundo, desde que haja sustentabilidade e trabalhando em parceria, caminhando juntos. 

Marcelo Mariano — A sustentabilidade tem sido trabalhada com os produtores?

Sim, está sendo trabalhada. A Federação da Agricultura, bem como os sindicatos rurais, tem investido nisso. É possível trabalharmos juntos. 

Euler de França Belém — Como se encontra a situação da BRF [multinacional do setor alimentício], depois de todos os problemas enfrentados [a empresa chegou a ter frigorífico fechado, em Mineiros, por conta da Operação Carne Fraca, em 2016]?

Continuam com a produção normalmente. Apesar de todos os problemas ocorridos, tudo continua como antes, o abate, as exportações, tudo normal. 

Euler de França Belém — É uma empresa realmente muito importante para a cidade, pela cadeia que puxa na região.

É uma empresa que emprega 8 mil pessoas só na indústria, fora os agregados — na zona rural, que são integrados. Há ainda outras empresas que são paralelas — fabricantes de embalagem, transportadoras etc. A BRF é realmente uma empresa muito importante para a cidade. 

Augusto Diniz — E a segurança pública? É uma questão séria hoje no campo?

Seriíssima. Cheguei a fazer uma proposta na Assembleia, que não passou por ter sido avaliada como inconstitucional. Tive a oportunidade de ser relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) no ano passado e, dentro dela, pus como prioridade a segurança pública. Por meio de um programa criado em 2015 no PPA [Plano Plurianual], introduzi, dentro do programa de segurança pública, a criação do Batalha de Polícia Rural. Como temos a Polícia Ambiental, a Polícia Rodoviária Estadual, a própria Polícia Civil — apesar de ser outro departamento —, a ideia é criar em Goiás um batalhão específico do campo. Não para cuidar dos crimes depois de acontecerem, para isso temos um braço da Civil que cuida de crimes no campo. O que temos de trabalhar é com prevenção e com ação. Aí entra a Polícia Militar.

Apesar de ter melhorado muito, no campo ainda temos dificuldades de comunicação — com sinal de celular, internet etc. —, problemas com energia elétrica e questões de habitação, porque mora muita gente dentro das fazendas. Todos têm seu carro, têm sua família. Os equipamentos e insumos são de alto valor. Isso tudo agrega muito dinheiro. Como fazer então, diante de um ataque de bandidos, sem comunicação, sem essa estrutura e sem poder ter uma arma?

Marcelo Mariano — O sr. então considera positivo o porte de arma na zona rural?

Claro, tem de ter uma arma, é óbvio (enfático). Como um fazendeiro, ou seu caseiro, pode ficar totalmente desguarnecido de qualquer tipo de comunicação, longe de tudo. Como não pode ter uma arma para defender sua própria propriedade? 

Augusto Diniz — O sr. é a favor especificamente da posse de arma no caso de quem more no campo ou de forma geral?

Sou a favor de que quem more no campo tenha esse direito. Se o tema for a liberação geral das armas, acho que seria necessário um estudo maior. Posso até ser a favor, mas desde que a pessoa passe por um treinamento, por uma qualificação e por exames, para saber se terá realmente condições de possuir uma arma. Aqui mesmo em Goiânia já tivemos problema de criança pegar arma de seus pais — e pais preparados —  e causar uma tragédia [caso da Colégio Goyases, no Conjunto Riviera, em que um adolescente, filho de PMs, matou dois colegas e feriu outros, deixando uma estudante paraplégica, em outubro do ano passado]. 

Euler de França Belém — Tempos atrás, havia uma forte reivindicação, por parte dos produtores, em relação ao seguro para a safra. Essa luta ainda existe?

Continua do mesmo jeito. Ainda não temos uma política de seguro rural eficiente. Estamos vulneráveis à questão climática. Em Goiás, graças a Deus, os prejuízos que as intempéries causam são poucos, apesar de ocorrerem problemas em uma ou outra região.

Euler de França Belém — A produção rural pode se diversificar além da soja, milho e cana-de-açúcar?

Nossa região tem condições, pode crescer, inclusive com áreas irrigadas — o que depende, porém, de uma burocracia muito grande, mas temos de entender e respeitar a questão ambiental. Realmente, o Sudoeste se concentra em grãos e cana-de-açúcar — esta, pouco cultivada em Rio Verde —, mas tem condições de diversificar, desde que haja áreas irrigadas, por meio de pivôs.

Cezar Santos — O Sudoeste goiano tem problema de desemprego?

Temos, mas não como ocorre em outras regiões do Estado. Rio Verde oferece muitas oportunidades, temos a BRF e sua cadeia produtiva, tem a Comigo, temos um alto número de empregados na zona rural. Entre­tanto, onde há muito, há também muita demanda. Houve uma alta migração de pessoas do Norte e do Nordeste do País, tanto que a população deu um salto nos últimos anos.

Cezar Santos — E como o sr. vê a administração da cidade, hoje?

Quando disputamos a eleição municipal de 2016, a base aliada do governo perdeu por causa de um racha. Tínhamos o então prefeito [Juraci Martins, hoje no PPS] e dois deputados, um federal [Heuler Cruvinel, do PSD] e eu, como estadual. Naturalmente, isso fortaleceria o adversário. Disputamos as eleições com nossas ideias, sempre respeitando os adversários, mas o que se vendeu na campanha de Rio Verde pelo nome vitorioso vemos agora que muito pouco tem sido colocado em prática, até mesmo no planejamento para os quatro anos de governo. É uma gestão engessada, centralizadora, que tem passado um “batom” na cidade e terminado algumas obras que Juraci havia deixado praticamente prontas. A cidade já tem uma infraestrutura muito bem-feita pela gestão anterior — o ex-prefeito deixou a cidade com 100% de pavimentação, muito bem organizada — para que hoje haja apenas algumas revitalizações de avenidas e coisas nesse sentido.

Por outro lado, vemos muitos problemas. Temos falta de vagas para crianças nos Cmeis [centros municipais de educação infantil]; na área de saúde, o prefeito [Paulo do Vale (MDB)], que é médico, falou que em três meses acabaria com as filas de cirurgias eletivas, mas hoje elas não diminuíram nem um pouco; com o funcionalismo, ele se comprometeu em valorizar a categoria, mas hoje o servidor público está, além de mais desvalorizado, até desmotivado para trabalhar. É também uma gestão engessada em relação a dar autonomia aos secretários.

“Sou pré-candidato à reeleição e não mudo o plano”.

Cezar Santos — Então, Paulo do Vale é “bom de batom”?

O que ele tem feito até agora, como eu disse, é concluir obras que Juraci Martins deixou praticamente prontas e revitalizando algumas avenidas e coisas para melhor aparência no centro da cidade. Se alguém for para os bairros mais afastados de Rio Verde, verá muitas dificuldades, muitos problemas. 

Euler de França Belém — Procede que havia um córrego já com obra pronta de canalização e inaugurou de novo?

Sim, procede. Ele pegou a obra pronta — Juraci Martins, antes de sair, até a inaugurou —, o que faltava era jardinagem e iluminação. Foi inaugurada no aniversário da cidade, mas já pronta. 

Euler de França Belém — Na área da educação, falam que ele colocou contêineres como salas de aulas. Isso procede também?

Sim, são as chamadas “escolas de lata”. Na semana passada, o Judiciário bloqueou R$ 12 milhões da prefeitura por falta de vagas em Cmeis. Tiveram de fazer um TAC [termo de ajuste de conduta] para conseguir desbloquear o dinheiro, mas continuamos a ter um déficit muito grande em vagas. Outra coisa: o compromisso de campanha não foi de fazer “escolas de lata”, porque não dá dignidade para o aluno e porque é um paliativo. Vai se gastar muito dinheiro com aluguéis para não atender as necessidades do aluno com estrutura física. O compromisso era o de construir novas escolas, mas não vemos nenhum movimento nesse sentido. Fui atrás da senadora Lúcia Vânia, que é presidente estadual de meu partido, e lhe solicitei que nos ajude a liberar, por meio do FNDE [Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação] e do Ministério da Educação — ela é presidente da Comissão de Educação do Senado — recursos para a construção de escolas. Não é justo que os alunos fiquem estudando em contêineres alugados e com os cofres públicos tendo de pagar por isso.

Euler de França Belém — Segundo o deputado federal Heuler Cruvinel, o prefeito Paulo do Vale tem uma resistência muito grande em ser ajudado pelos parlamentares goianos, dando a impressão de que ainda não saiu do palanque. Isso procede?

Totalmente. O prefeito não tem diálogo e, como eu falei, é centralizador. Não aceita opiniões contrárias ou que divirjam de sua visão ou de seu projeto. Posso falar de minha parte: tenho muita dificuldade de poder ajudar o município, porque não temos abertura com nada — nem com os secretários, muito menos com o prefeito. 

Euler de França Belém — Como está a questão do portal da cidade?

O portal está saindo. É uma verba obtida por emenda do deputado Heuler, de dois ou três anos atrás. Só que o prefeito mudou o projeto, além de não admitir que a obra seja com verba federal. 

Cezar Santos — Houve parceria do programa Goiás na Frente com a prefeitura de Rio Verde?

O governador Marconi Perillo (PSDB) foi a Rio Verde e disponibilizou, a pedido nosso — os deputados da base de Rio Verde — R$ 6 milhões. A prefeitura, até onde eu sei — e não posso afirmar de fato, porque não dão informações para nós —, não havia apresentados à Secretaria de Governo do Estado os documentos necessários para a efetivação do repasse.

Euler de França Belém — Dizem que o sr. pode fazer dobradinha com Heuler Cruvinel nas próximas eleições. Depois dos conflitos de 2016, a base do governo em Rio Verde está se reagrupando de novo?

Na realidade, tivemos um rompimento da base em 2016. Eu e o deputado Heuler disputamos as eleições, no que é nosso direito. Temos contrapontos de ideias, divergências, o que é natural no processo político. Porém, as eleições passaram e não temos de ficar olhando para o retrovisor. Nós dois somos da mesma base política e do mesmo grupo político em Rio Verde. Não vamos ficar com picuinha o resto da vida prejudicando a população da Região Sudoeste.

Se eu puxar para um lado e ele, para o outro, as coisas não vão acontecer e o governo ficará até constrangido de levar benefícios. Quem vai perder será a população. Não temos de ter vaidades pessoais; pelo contrário, é preciso ter maturidade para sentar e resolver os problemas, respeitando as divergências de ideias, mas poder caminhar juntos para beneficiar a cidade. 

Marcelo Mariano — Isso fortalece o nome de José Eliton na cidade. Mas o senador Ronaldo Caiado [pré-candidato do DEM ao governo] não seria o nome mais benquisto entre os produtores rurais?

O senador Caiado é muito forte no segmento, até por ter escrito uma história no agronegócio, como defensor dos produtores rurais. A gente entende isso e respeita, mas temos nossas lideranças, nosso grupo político, que é da base do governador, e vamos defender o nome de José Eliton e os candidatos de nossa base para podermos ter uma votação expressiva na região. O agronegócio é forte, mas também sou representante dessa categoria, trabalho por ela. Vamos fazer um trabalho muito sério para levar o nome, as ideias e as propostas de José Eliton. 

Euler de França Belém — Heuler Cruvinel disse que o nome dele está à disposição para a vice na chapa da base. O sr. defende essa possibilidade?

Eu a avalio com bons olhos. Falamos aqui bastante da força econômica de nossa região; ficamos quase meia hora falando de agronegócio, agroindústria, geração de emprego e renda. Isso significa que é uma região importante; ora, se é assim, e tendo uma densidade eleitoral considerável — devemos ter quase 600 mil habitantes no Sudoeste —, por que não nós, como lideranças políticas da região, defendermos um candidato a vice entre nós? Politicamente, seria interessante para o governo, por conta do agronegócio, inclusive para contrapor a intenção de voto em Caiado. Um representante do Sudoeste — que é importante, repito — poderia contrapor isso. Tenho falado, nos veículos de comunicação e vou reafirmar: estou encabeçando essa ideia e vou trabalhar para que a Região Sudoeste indique o vice de nossa chapa.

Cezar Santos — Nesse caso, o sr. sairia candidato a deputado federal?

De forma alguma, sou pré-candidato à reeleição e não mudo meu planejamento, até porque está muito em cima da hora. Temos outros nomes que podem chegar a ser candidatos à Câmara dos Deputados, de Rio Verde e de outros municípios — como o próprio ex-prefeito Juraci Martins, que poderia também ser candidato a vice na chapa. O deputado Heuler tem uma força muito grande por conta de seu partido, o PSD, ter um pré-acordo — é o que a gente escuta — para indicar o vice da chapa. O que precisamos é que saia do Sudoeste o vice-governador na chapa de José Eliton.

Marcelo Mariano — Estamos na janela partidária. O sr. permanecerá no PSB?

Permaneço, não tenho motivos para sair.

Augusto Diniz — O PSB já bateu o martelo sobre a permanência na base aliada?

Está batido o martelo. E a senadora Lúcia Vânia comporá a chapa da base ao Senado Federal juntamente com o governador Marconi. Foi isso exatamente o que sempre defendi, porque o PSB sempre foi da base e nunca dela nos afastamos. Temos três deputados na Assembleia que sempre estiveram com o governo. O que defendíamos era que precisávamos ser ouvidos, nos sentando à mesa. Sempre falei que o momento para isso seria 2018. Tudo aconteceu com tranquilidade, sem maiores problemas e, caso a senadora quiser ser candidata, assim será, ao lado do governador Marconi.

Euler de França Belém — Antônio Chavaglia, presidente da Comigo, é um líder muito respeitado na região. Volta e meia seu nome é citado como possível candidato a deputado federal. Ele já manifestou algum interesse pela disputa?

Não acredito. Chavaglia seria um excelente nome e que, não tenho dúvida, sairia eleito de Rio Verde. Porém, não creio que, por seu perfil e pela responsabilidade que tem em relação à cooperativa, ele topasse um desafio desses.

Euler de França Belém — E como o sr. vê o nome de Jacqueline Nascimento [ex-presidente da Associação Comercial e Industrial de Rio Verde (Acirv)] para essa mesma postulação?

É um bom nome também, de potencial. É uma pessoa do bem, tem família tradicional e é militante do setor produtivo, além de ter uma estrutura empresarial muito boa. Ela teria condições, sim. Temos também outros nomes, como o de Edwal Portilho, o “Chequinho”, diretor da Adial [Associação Pró-Desenvolvi­mento Industrial do Estado de Goiás].

Euler de França Belém — Se Heuler não for candidato a vice, vocês farão dobradinha de deputado federal e estadual?

Já estamos juntos em muitos municípios. A maioria das cidades de que sou representante como deputado estadual mais votado, ele é também representante como deputado federal mais votado. Para ter noção, represento 11 municípios nessas condições; ele representa, junto comigo, de 10 desses. Ou seja, temos uma responsabilidade muito grande em cima desses municípios. Temos também alguns municípios com prefeitos em comum apoiando nossas pré-candidaturas — posso citar aqui Aparecida do Rio Doce, Itajá e outros. Ou seja, não temos qualquer dificuldade em construir um projeto comum nesses municípios.

Você pode perguntar: mas o maior colégio eleitoral é Rio Verde. Lá, estamos conversando e pacificando a união da base para, então, podermos planejar a campanha na cidade. A partir disso, se ele for candidato a federal e para o bem da cidade, não terei dificuldade nenhuma em conversar e fechar.

Euler de França Belém — E no plano estadual, o sr. acha que a base vai se unir?

Vejo que o vice-governador José Eliton tem feito um trabalho habilidoso, coerente e que tem conseguido aglutinar toda a base. Veja que está tudo certo com o PSB e o PPS; o PP agora, com a filiação do ministro Alexandre Baldy [Cidades], também figura na base aliada; o PTB tem conversado e alinhado seu pensamento. Outros partidos, menores, estão em conversação e construindo uma pacificação dentro da base. Acho até que a base pode conseguir aglutinar um número maior de partidos do que em 2014.

Augusto Diniz — O deputado Heuler já deixou clara esse interesse como pré-candidato a vice. Mas o PSD já está, com essa decisão, já mantido na base de forma definitiva ou isso ainda não é algo certo?

É algo que será visto internamente pelo partido. Não faço parte mais do PSD e não sei como estão as tratativas, tanto em nível nacional como estadual, já que o presidente Vilmar Rocha [presidente do PSD em Goiás] pleiteia uma posição na chapa majoritária. É coisa interna no partido e eles têm de conversar e resolver.

Marcelo Mariano — Com o PP fechando com a base aliada, como fica a situação de Wilder Morais, que tem interesse na reeleição ao Senado?

O senador Wilder é uma pessoa de credibilidade muito grande, bem como de capacidade administrativa respeitável, mas que ainda não conseguiu construir totalmente sua participação política, sua estrutura, exatamente por ter tido pouco tempo para trabalhar. Se compararmos o trabalho da história de Lúcia Vânia ao de Wilder, veremos que ela tem muito mais serviços prestados, até pelo tempo de política. O senador está erguendo isso ao longo dos anos e vai continuar nesse caminho, mas deve ter o pé no chão. O momento dele talvez fosse o de continuar na base aliada e seguir nesse processo junto aos prefeitos e as lideranças, com toda a militância, quem sabe buscando a suplência do governador Marconi ao Senado. Mas, reitero meu respeito e digo que isso é uma opinião minha. Entendemos que ele trabalha para ser candidato, mas na base realmente essa vaga seria difícil de ser obtida, por conta da história e da força dos dois outros postulantes, tanto Lúcia como o governador Marconi.

Marcelo Mariano — Falando do PSB nacional, apesar de Márcio França ser vice-governador de São Paulo e pré-candidato ao governo paulista, tem sido ventilada a possibilidade de o partido compor com o PDT, indicando o vice da chapa de Ciro Gomes [pré-candidato à Presidên­cia]. Se isso ocorrer, o sr. subiria no palanque de Ciro ou do candidato do PSDB?

O PSB tem o vice-governador de São Paulo, que assumirá com o afastamento do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Não tenho informações concretas, mas até onde eu sei há um acordo do PSDB de São Paulo para apoiar Márcio França…

Marcelo Mariano — Mas João Doria [PSDB, prefeito de São Paulo] já lançou sua pré-candidatura ao governo.

Seria o caso de o PSDB trabalhar isso, com Doria esperando um pouco mais. Se o acordo com o PSB for cumprido, o caminho natural de nosso partido será estar com o PSDB em nível nacional. Caso contrário, poderá haver algum entrave na negociação. Mas aqui, em nossa região, vejo que o PSB terá de entender e respeitar nossa realidade. E aqui em Goiás nosso caminho natural será caminhar com o PSDB.

Augusto Diniz — Pessoalmente, o sr. preferiria que o vice de Alckmin fosse Henrique Meirelles [PSD, ministro da Fazenda] ou o deputado Rodrigo Maia, do DEM?

Henrique Meirelles, até por conta de Goiás. Temos de defender nosso lado e Meirelles, queira ou não, é goiano e uma pessoa com uma militância e um histórico significativos. Pela força e credibilidade que ele tem internacionalmente, o ministro seria um nome bem melhor.

Euler de França Belém — As pesquisas de intenção de voto dão Ronaldo Caiado em 1º lugar e Daniel Vilela (MDB) e José Eliton disputado o 2º. Se um eleitor de sua base perguntasse “por que José Eliton vai ganhar a eleição?”, o que o sr. diria a ele?

Primeiramente, pela força da base. Ninguém duvida da força e da união dos aliados ao governador Marconi. Isso é comprovado historicamente, são cinco eleições com vitórias seguidas. Ao mesmo tempo, falam em desgaste, pelos 20 anos no poder. Só que se esquecem de que são 20 anos em que Goiás progrediu, avançou, se modernizou. Tivemos novas rodovias, uma novidade como o Vapt Vupt, alto investimento em áreas do terceiro setor, programas inovadores — como o Cartão Reforma, a Bolsa Universitária, o Cheque Moradia, o Restaurante Cidadão, o Renda Cidadã etc. — muitos dos quais viraram exemplos até para o governo federal.

Marconi é um governador moderno, que vem se reinventando ao longo dos anos. Com responsabilidade, ele tem se antecipado às crises, o que podemos constatar agora: apesar de todas as dificuldades que vive o País, com Estados e prefeituras praticamente falidos e quebrados, Marconi é um dos poucos governadores que podem falar que têm pago sua folha em dia e ainda feito investimentos para que seu Estado possa avançar, crescer cada vez mais. A história do governador Marconi, a força política da base aliada e os serviços prestados nesses 20 anos naturalmente vão fortalecer o nome de José Eliton, que vai naturalmente crescer nas pesquisas.

Euler de França Belém — Por que Caiado está tão forte? É por conta de ser mais conhecido ou por causa de sua imagem ética?

As duas coisas. O conhecimento é muito importante. Não tenho números certos de pesquisas, mas, se formos analisar, o conhecimento sobre Daniel Vilela e José Eliton é muito menor do que o de Ronaldo Caiado, até por aqueles terem começado na política bem mais recentemente.

Cezar Santos — Caiado tem em torno de 90% de conhecimento pela população.

Sim, é um índice enorme. Isso naturalmente o coloca na frente. Mas, na hora em que as campanhas forem para as ruas e estiverem na televisão, as coisas tendem a tomar outro rumo.

Euler de França Belém — Em um segundo turno, a tendência é José Eliton disputar com Caiado ou com Daniel?

Tem de esperar. Como especulação, hoje seria José Eliton contra Caiado.

Marcelo Mariano — O sr. vê possibilidade de as oposições se unirem, DEM e MDB?

Não vejo essa possibilidade. O MDB tem uma perspectiva muito boa: Daniel é novo e jovem e seu partido é muito forte, com raízes em todo o Estado de Goiás. Observe há quanto tempo o MDB não ganha uma eleição e mesmo assim continua forte, com estrutura. Tem totais condições de lançar uma candidatura ao governo do Estado. Daniel tem o pedigree de seu pai, Maguito Vilela, que só não foi presidente ou vice-presidente da República. Com um partido forte como o MDB, será natural que lancem seu candidato.

Marcelo Mariano — Nesse sentido, como o sr. vê Paulo do Vale, prefeito de Rio Verde pelo MDB, declarando apoio a Caiado?

É problema do diretório do MDB de Rio Verde, eles têm de se resolver por lá (risos). Mas realmente é uma incoerência muito grande: ele se filiou ao MDB, usou a sigla para ganhar a eleição, foi eleito pelo MDB e agora vira as costas para o partido e vai apoiar alguém de outro partido? O mínimo seria estar ao lado de seu partido. Poderia até defender a união das oposições, mas, se isso não fosse alcançado, o mínimo seria ficar com seu partido.

Augusto Diniz — Mas não só o prefeito Paulo do Vale tem esse posicionamento. Outras figuras históricas do MDB têm defendido a pré-candidatura de Caiado, como Adib Elias [prefeito de Catalão], Ernesto Roller [prefeito de Formosa] e o deputado estadual José Nelto. Isso não é estranho, até mesmo a indecisão de Iris Rezende [prefeito de Goiânia] entre apoiar Caiado ou Daniel?

Iris já declarou que, se o MDB tiver candidato, tem obrigação de apoiá-lo — até porque, nas fases boas ou ruins, o MDB sempre esteve a seu lado. Por outro lado, não vejo Ernesto Roller como figura histórica do partido, porque, até dois mandatos atrás, ele era secretário de Segurança Pública do governo Alcides Rodrigues, do PP; da mesma forma, Paulo do Vale era militante e filiado ao PSDB até três ou quatro anos atrás. Ou seja, não são figuras históricas, talvez sejam pessoas que estejam usando o partido. Depois de ganhar as eleições, não estão do lado do partido como deveriam.

 

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