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Mulheres no Legislativo

08 de Novembro de 2019 às 10:11
Crédito: Marcos Kennedy
Mulheres no Legislativo
Entrevista com a ex-deputada Cleuzita de Assis
Ex-deputada Cleuzita de Assis é a entrevistada da 9ª edição do projeto "Mulheres no Legislativo". Ela fala sobre sua participação na constituinte de 89, a luta da mulher por maior espaço no Parlamento e os embates enfrentados na vida pública.

Ela recebeu com empolgação a equipe de reportagem do projeto "Mulheres no Legislativo" em sua casa, para conceder uma entrevista que durou mais de duas horas. Aos 76 anos de idade e dona de uma energia admirável e muita lucidez, Cleuzita de Assis nos contou detalhes de sua história na política goiana tanto como deputada por dois mandatos – 11ª e 12ª Legislaturas – quanto como esposa de José de Assis – também ex-deputado estadual e federal.

Durante o primeiro mandato, Cleuzita participou de um importante marco da historiografia goiana: a Assembleia Estadual Constituinte, em que atuou como segunda vice-presidente da Mesa Diretora. Na ocasião, foi também suplente da Comissão de Organização dos Estados e dos Poderes. Acompanhou, portanto, na íntegra, todos os passos que levaram à promulgação da Constituição do Estado de Goiás, que comemora, neste mês de outubro, 30 anos de vigência.

Apesar de uma história de vida marcada por muito trabalho e dedicação, Cleuzita esbanja vitalidade. Quem a vê ainda hoje tão disposta, não imagina o quão árduo pode ter sido o seu passado. Passado este que ela vai buscar, com carinho, no fundo da memória, evocando episódios de uma juventude toda vivida em Mineiros, município do Sudoeste goiano, localizado à 420 km de Goiânia. Ela relembra, então, da época em que auxiliava os pais nos trabalhos da lavoura. “Na hora da colheita quem ajudava papai e mamãe éramos nós, os filhos. Íamos colher feijão, arroz, milho. Isso fez parte da nossa vida, da nossa adolescência”.  

Mas nada disso seria um fardo para a trajetória de Cleuzita, que não hesita em destacar o aprendizado obtido em tais experiências. “Era muito difícil a vida naquele tempo, mas a gente era feliz ainda assim, com toda certeza”, conclui, com toda a simplicidade que lhe é característica.

Capital político

Foi também em Mineiros que Cleuzita conheceu José de Assis, aquele com quem viria a se casar e a construir, segundo ela, uma história que durou exatos “17 anos, 3 meses e seis dias”. Não fossem as agruras de uma triste fatalidade, é possível que estivessem juntos até hoje. Mas quis o destino levar consigo o marido, que viria a falecer em 1979, aos 44 anos, vítima de um acidente aéreo.

Não obstante a dor, provável e incômoda companhia desde então, ela relembra, com alegria, da primeira vez em que ouviu o nome José de Assis ser proferido por seus irmãos mais velhos. Ela era ainda uma adolescente desconhecida. Ele, um militante estudantil já muito influente na época.

Mas o contato direto com seu futuro esposo só viria mesmo a acontecer algum tempo depois, numa festa de quermesse, dessas que são bem típicas das cidades do interior de Goiás. “Foi na festa de São Sebastião, que ocorre nos dias 19 e 20 de janeiro. Nós somos de famílias católicas e a igreja fazia essa festa. Daí namoramos dois anos, depois terminamos e acabamos voltando. Por fim, com 19 anos eu me casei com ele”, contou.

É a partir daí que Cleuzita começa a ter contato bem próximo com a vida pública, ao acompanhar de forma bastante direta a trajetória política de seu marido. Eles tinham apenas três meses de casados, quando José de Assis venceu as eleições para vereador em Mineiros. “Eu participava de tudo. Com o tempo, você vai aprendendo e tomando gosto, porque ele era um apaixonado pela política. Se ele fosse vivo hoje, ele ainda estaria envolvido ativamente com a política mesmo com os 83 anos que ele teria”, disse, com nítida admiração pelo homem que um dia teve ao lado e de quem herdaria grande parte do capital político de que viria a se valer anos mais tarde.

Isto porque, em 1982, cerca de três anos após a morte de José de Assis, é ela própria, Cleuzita, que decide agora se envolver com a vida política. A ex-deputada constituinte afirma que a decisão viria após provocações feitas por representantes das bases que acompanhavam seu falecido marido e que clamavam pela sua candidatura. “Em 1982 eu participei da eleição para deputada estadual. Fui muito bem votada, porém não alcancei o índice do coeficiente eleitoral do partido. Daí, em 1986 eu disputei as eleições novamente”, arrematou.

Durante a construção do seu próprio legado como representante do Sudoeste goiano nesta Casa de Leis, Cleuzita defendeu pautas muito importantes como, por exemplo, a criação de vários municípios, que viria a beneficiar não apenas a sua região, mas também aquela que hoje se reconhece como sendo o Entorno de Brasília. Também levantou bandeiras em prol de melhorias nos presídios femininos e da valorização do funcionalismo público, dentre inúmeras outras.

Mesmo representando um região que é expoente do agronegócio em Goiás, ela se mostrou também  uma defensora tenaz de pautas ambientais, tendo deixado importantes legados para o estado nesta área. Dentre estes está a criação da Polícia Florestal, entidade cujo trabalho tem se revelado hoje indispensável para a proteção da biodiversidade e a preservação das nascentes de parques nacionais. Inclui-se aí o próprio Parque Nacional das Emas, cuja entrada está localizada em Mineiros.

“Uma das razões de eu defender a questão ambiental é o fato de eu ser da região sudoeste, que é rica em lavouras. Ali víamos que (as atividades produtivas em larga escala) estavam acabando com o cerrado, com as matas. Por isso entrei de corpo e alma nessa causa. Tanto é que chegaram a mandar recado para mim, com ameaças, dizendo que ‘bicho não votava’, porque eu defendia a valorização do cerrado. Me intimidaram, mas eu continuei”, relatou.

Outra propositura que diz ter defendido com afinco, foi a implementação da ferrovia Leste-Oeste. Sem encontrar qualquer aparente resquício de reciprocidade entre os colegas de Plenário na época, ela afirma ter sido a única a ocupar a tribuna para discutir os méritos de tal pleito. “Os outros 40 deputados subiam para defender a Norte-Sul. Mas, a Leste-Oeste era mais viável e muito mais barata”, comentou.

Mais detalhes sobre a rica trajetória de Cleuzita de Assis podem ser apreciados na entrevista abaixo. Com ela lançamos a nona edição da série Mulheres no Legislativo, que foi criada para homenagear e valorizar o legado feminino no Parlamento goiano. 

Em tempo: por ser Cleuzita a única representante viva das mulheres na constituinte goiana (ao seu lado esteve apenas Conceição Gayer, que faleceu em 2006), o material integra também especial referente aos 30 anos da Constituição Estadual. Em razão destas comemorações, uma série de matérias sobre o assunto está sendo produzida e divulgada neste portal ao longo de todo o mês de outubro. 

A senhora é goiana, nasceu em Mineiros, no Sudoeste do estado, numa região pólo do agronegócio e, por isso, expoente econômico de Goiás. Temos informações aqui de que a senhora trabalhou na lavoura quando jovem, ajudando a família nas atividades do campo. Como foi essa experiência?

Nesse período, meu pai trabalhava como agregado nas fazendas da região e nós fomos crescendo nesse meio da agricultura. O local em que vivíamos não era formado por grandes lavouras, nós chamávamos de roça porque eram pequenas propriedades. Na hora da colheita, quem ajudava papai e mamãe éramos nós, os filhos. Íamos colher feijão, arroz e milho. Isso fez parte da nossa vida, da nossa adolescência. Nós somos seis irmãos, quatro mulheres e dois homens. Os mais velhos não chegaram a exercer esse tipo trabalho pesado. Minha irmã mais velha, ao contrário do resto de nós, foi criada na cidade grande. Mas, eu e a mais nova participamos muito desse trabalho. Tudo isso é um aprendizado na vida da gente, e não há dinheiro que pague toda essa experiência que tivemos. Em Mineiros há um lugar que chama Pilões e lá há uma água medicinal. Nós moramos lá quatro anos e meu pai cuidou de uma pensão nesse período. O mês de julho era o período em que o pessoal ia para lá para fazer tratamento. Os empregados éramos nós. Então, isso é uma experiência muito bonita. Era muito difícil a vida naquele tempo, mas a gente era feliz ainda assim, com toda certeza.

Acredita que essa experiência influenciou sua carreira na vida pública?

Não, com toda certeza, não. Pois nessa época eu ainda não conhecia José de Assis. Eu apenas ouvia histórias sobre ele, que era um militante estudantil nessa época. Meus irmãos mais velhos já o conheciam. Nesse período ele era noivo de uma outra pessoa. Meus irmãos contavam a história de José de Assis com a noiva e eu passei a conhecê-lo depois que ele terminou esse noivado. Foi quando nós nos vimos pela primeira vez e começamos a conversar. Tudo aconteceu numa festa de quermesse em Mineiros, a festa de São Sebastião que ocorre nos dias 19 e 20 de janeiro. Nós somos de famílias católicas e a igreja fazia essa festa. Daí namoramos dois anos, depois terminamos e acabamos voltando. Por fim, com 19 anos eu me casei.

Teria então sido ele que trouxe a senhora para política?

Sim, foi a convivência com ele que me despertou para a vida pública, pois nesse período eu passei a participar dos trabalhos que ele liderava. Nos casamos em julho e em outubro ele saiu candidato a vereador na eleição municipal. Eu participava de tudo e assim foi nossa vida por 17 anos, 3 meses e seis dias de casamento. Eu fiquei mais em casa por conta dos filhos, mas no período de eleição eu sempre arrumava um jeito de sair para ajudá-lo. Antigamente, a campanha eleitoral era muito diferente de hoje. Por exemplo, nós, que morávamos no interior, saíamos de casa em casa pedindo votos. Quando passava o período da eleição, eu voltava para dentro de casa para cuidar da casa e dos filhos. José de Assis fazia as reuniões dentro de casa, então eu participei de tudo ativamente, nos mínimos detalhes. Com o tempo você vai aprendendo e tomando gosto, porque ele era apaixonado pela política. Se ele fosse vivo hoje, ele ainda estaria envolvido ativamente com a política mesmo com os 83 anos que ele teria.

Tudo isso antecedeu a própria entrada da senhora na vida política. Segundo consta, essa deu-se somente no ano de 1986, sete anos após a trajetória política do seu marido ter sido interrompida, em decorrência de um acidente aéreo, de que foi vítima fatal, em 1979. É isso mesmo?

Na verdade, em 1982 eu participei da eleição para deputada estadual no mesmo período em que Iris Rezende saiu como candidato a governador. Foi o auge da vida pública dele. Ele disputou com o ex-governador Otávio Lage. Então, eu saí candidata, mas não consegui. Fui muito bem votada, porém não alcancei o índice do coeficiente eleitoral do partido. Daí, em 1986 eu disputei as eleições novamente.

José de Assis te apoiaria nessa escolha pela vida pública?

Não sei dizer, acho que isso nunca passou pela cabeça dele. Ele nunca pensou que eu daria continuidade. Mesmo porque ele tinha um projeto de vida na política e de repente, tão novo, com 44 anos, ele faleceu. Ele queria ser deputado federal e depois governador, pretendendo até mesmo concorrer à presidência da República. Ele tinha um projeto e vivíamos muito em função disso. Ele fazia toda a movimentação política dentro de casa e eu sempre atendia muito bem os companheiros e as lideranças que o acompanhavam. Então, assim que ele faleceu, logo sua base partidária começou a me procurar e me incentivar a me candidatar porque eu tinha um bom relacionamento com as bases dele. Essas pessoas me conheciam muito e gostavam do meu atendimento. Isso é algo que acho que ajudou muito José de Assis na vida pública dele, pois havia dificuldade financeira para tocar uma campanha, então, era um trabalho de corpo a corpo dele, e que envolvia também toda a nossa família. Na ausência dele as pessoas começaram a me procurar. Muito antes de eu sair candidata eu tive oportunidade, às vezes, de ir para Brasília porque eu acompanhei muito de perto as decisões do meu marido nos ministérios. Desse modo, chegou o momento que entrei para a política.

A senhora falou muito sobre essa questão da base. Quando seu marido faleceu essa base ficou em busca de um representante a altura de José de Assis. Vocês representaram apenas o Sudoeste ou isso se estendeu por outras regiões do estado?

A base mais forte era no Sudoeste, mas José foi um homem votado quase que no estado todo, e eu herdei isso. Esses dias eu estava olhando a minha lista de votos e vi que tive no estado inteiro também. Um aqui, dois ali, mas o grosso mesmo foi no Sudoeste. De qualquer maneira, vejo todos esses votos como um ato de gratidão.

Durante seu primeiro mandato, como constituinte, a senhora defendeu, em proposituras apresentadas, outras regiões como, por exemplo, o Entorno de Brasília. Observa-se que, em termos de região, era outra realidade, não é?

Sim, era outra realidade. Mas ainda assim eram municípios que José de Assis representava. Graças a Deus, assim como ele, eu também tive uma credibilidade popular. As pessoas vinham atrás de mim em busca de ajuda, o que nunca neguei a ninguém. Se eu tinha votos ou não, se eu era representante ou não, sempre que me pediam eu estava pronta para ajudar.

A senhora é mãe de quatro filhos e, segundo consta em notas biográficas publicadas a seu respeito, teria ficado longos 17 anos cuidando exclusivamente da casa, do marido e da família e só entrou mais tarde para a política. Quando abraçou a vida política, encontrou dificuldades para conciliar a vida pública com a particular, familiar?

Não foi fácil porque fui muito cobrada, uma vez que meus filhos estavam na adolescência. Margarete, que é a minha filha mais velha, tinha 16 anos, o outro tinha 15, o terceiro tinha 12 e o mais novo tinha quatro anos. Então, não foi fácil em momento algum.

A senhora pôde contar com o apoio de outros membros da família na sua vida política? Qual foi o principal apoio que recebeu nesse sentido?

Eu tive apoio sim, embora, no começo tenham ficado receosos, pois família de político sofre muito, e a nossa já tinha vivenciado isso na trajetória política de José de Assis. Ainda assim, minha família me apoiou muito. Eles abraçaram a causa também. Meu filho Ulisses começou a trabalhar na Assembleia Legislativa, Margarete sempre esteve comigo e me ajudou em tudo, me assessorou muito bem como irmã. Meus irmãos ficaram um período com meu filho mais novo para me auxiliar na campanha. Portanto, eu tive esse apoio familiar muito importante para que eu pudesse realizar a minha campanha política. Isso foi fundamental. Sem eles eu não teria a mínima condição de participar.

A senhora acredita que essa dificuldade de conciliação é uma realidade que afeta as mulheres de forma geral mais do que os homens?

Sim, eu tenho certeza. Normalmente a mãe é muito apegada aos filhos, apegada à casa, à família e política tira a gente desse convívio um pouco. Na minha visão isso é uma coisa que dificulta que as mulheres participem da política.

 

A sua formação universitária também veio mais tarde, visto que a sua graduação em Direito, pela Faculdade Anhanguera, só aconteceria em 1996, após o seu mandato como deputada. Como foi para a senhora essa experiência de formação acadêmica tardia?

Quando me casei eu havia cursado apenas até o segundo ano primário, tinha filhos pequenos e era dona de casa. Mas, fui estudando aos poucos. Foi muito difícil, pois meu marido não tinha uma condição financeira grande para nos ajudar. Além disso, havia outro problema, porque meu marido tinha um ciúme doentio de mim. Ele não queria que eu estudasse em colégio que não fosse de freira. Esses colégios não me aceitavam, pois eu já era casada. Eu ia deixando isso para lá, não ia brigar por isso. Mas, como ele trabalhava muito, quando ele se dava conta eu já estava matriculada em outras escolas, e assim fui estudando aos pouquinhos. Fiz supletivo para ganhar tempo porque minha formação escolar já estava tardia. Mas, com o falecimento dele é que consegui concluir meus estudos. Essa realidade me atrasou um pouco porque não é fácil conduzir uma faculdade, sendo mãe e dona de casa. Escolhi cursar Direito pois penso que acrescenta muito no exercício da vida política. Eu sempre fui simpática ao curso também, pois José de Assis era advogado e militante, então, isso acaba nos contaminando, né?

Sabemos que após os seus mandatos de deputada a senhora chegou a ocupar cargos importantes primeiramente junto à Secretaria de Educação (1999) e depois junto à de Cidadania e Trabalho (1999 a 2002), todos durante a primeira gestão de Marconi Perillo (PSDB) como governador do Estado. Há também informações anteriores sobre cargos ocupados junto à Secretaria de Educação e à Sudeco, o que teria ocorrido antes de sua entrada na vida política. Podemos dizer que a sua atividade pública se inicia, então, como funcionária destas instituições? Ou os seus primeiros contatos com a população se deram de forma mais proeminente com a sua candidatura ao Parlamento Estadual? Que outras funções de destaque teriam embasado a sua trajetória política?

O primeiro cargo que tive foi no Projeto Rondon assim que José de Assis faleceu, pois eu fiquei sem emprego e não tinha dinheiro. Nessa época, companheiros políticos de meu marido, que eram deputados estaduais, deram entrada na Assembleia Legislativa em um projeto de lei para que eu tivesse uma pensão especial. A partir daí eu comecei a ter dinheiro para arcar com as minhas despesas, porque antes eu não sabia nem mexer com banco, fiquei 90 dias sendo sustentada pelos meus familiares. O ex-ministro Mário Andrezza, que era amigo de José de Assis, arrumou para mim esse emprego. Depois fui para a Sudeco logo mais para uma secretaria geral e depois para o Ministério da Educação em Brasília, onde então pedi minha disposição para Goiás. Fiquei esse período todo trabalhando no Estado, onde eu fiquei na Secretaria da Educação e Cidadania e também na assessoria do então governador Marconi Perillo. No segundo governo dele eu saí e logo pedi a minha aposentadoria.

A senhora se elegeu deputada estadual pelo PFL e, em nome desta legenda, exerceu ambos os mandatos na Alego. [Retrospectiva: o PFL é um partido que surge de uma dissidência com o PDS, que, por sua vez, surge da dissolução do Arena, sigla que dava sustentação política à Ditadura Militar. Em 2007, passa a se chamar Democratas, partido do atual governador do Estado de Goiás. Legenda de centro-direita, adepta do conservadorismo liberal]. Como se deu a sua escolha pela filiação ao PFL? A sua afinidade com o partido se mantém até os dias atuais?

Naquele momento, tínhamos amigos, companheiros partidários que foram para o PFL e eu acompanhei a maioria. Depois saí e fui para o PP. Meu primeiro mandato na Assembleia eu fiz pelo PFL e o segundo pelo PP. Essa mudança de partido se deu por conta de amizade forte que fiz com o Irapuã Costa Júnior e a Senadora Lúcia Vânia. José de Assis, no período dele de deputado federal, principalmente, nos dois últimos mandatos dele, foi secretário de educação quando Irapuã era governador. Então, construímos uma amizade muito forte. Entretanto, sinceramente, eu tenho a convicção que eu não deveria ter saído do PFL, porque naquele momento, Ronaldo Caiado era deputado e já era o presidente do partido. Ele não aceitou muito a minha saída e isso trouxe um prejuízo enorme para mim. Inclusive, eu perdi minha eleição em função disso. Mas, hoje posso afirmar que tudo na vida passa. Eu mantive amigos no partido. De qualquer forma, eu acho que os partidos hoje ficaram muito à mercê de credibilidade. Assim, a gente vai se afastando. Eu me afastei do PP e do PFL. Hoje eu estou filiada ao PSD em função do ex-colega Vilmar Rocha. Sempre o acompanhei. Na época da Constituinte, Vilmar Rocha era o presidente do PFL.

Quais foram as suas principais fontes de inspiração/referência para os trabalhos desenvolvidos na sua carreira pública e na vida política de forma geral?

Meu espelho foi José de Assis. Me espelhei nele, essa é a grande realidade. Minha referência foi o trabalho que ele fez.

 

Se fosse deputada hoje, qual projeto ou bandeira a senhora defenderia? Que pessoas seriam dignas da sua homenagem? Alguma mulher em especial?

Eu destacaria a ex-senadora Lúcia Vânia como uma mulher muito guerreira no estado de Goiás. Ela trabalhou muito e sempre apresentou projetos relevantes. O estado hoje está carente de políticos que tenham projetos de curto, médio e longo prazo. Eu não posso acreditar que um político não trace sua trajetória orientada por projetos consistentes. Acho que o político imediatista não vai a lugar nenhum. Eu, por exemplo, não vejo, por mais que eu acompanhe, deputados brigarem por um projeto no governo. Os deputados hoje são aliados do governo, e pronto. Fazem o que o governo quiser. Já os de oposição só sabem criticar. Se eu estivesse na política hoje, eu estaria lutando por projetos. Por exemplo, construção e manutenção de estradas. Acredito que o governador Marconi Perillo fez, apesar de todos seus defeitos, um grande trabalho no estado de Goiás nessa área de infraestrutura. Eu também estaria defendendo a área do meio ambiente.

Qual foi a maior dificuldade que a senhora enfrentou durante seus mandatos? O fato de ser mulher contribuiu para isso? Como foi lidar com o fato de ser minoria em um Parlamento majoritariamente masculino [na 11ª Legislatura ela divide essa condição com Conceição Gayer e na 12ª com Denise Carvalho e Vanda Melo]? Como era a sua relação com essas deputadas? 

No primeiro mandato eu tive mais poder de luta. Naquele período eu defendi muito o servidor público e, se eu retomasse minha carreira política hoje, eu defenderia isso novamente, porque eu acho que o servidor público é injustiçado. Também trabalhei muito por causas sociais. Além disso, defendi a manutenção da BR-364 daqui de Goiás para Mato Grosso. Foi o pior período, na história do Brasil, desse trecho. Naquele momento, Fernando Henrique era presidente. Fui a Brasília várias vezes lutar pela melhoria daquele trecho, que se tornou muito perigoso. Perdi as contas de quantas vezes fui ao Ministério dos Transportes. Juntei os deputados do Sudoeste e fui até Brasília, inclusive o Maguito Vilela foi conosco em busca do melhoramento das rodovias. A divisa de Goiás e Mato Grosso, e também a Ferrovia Leste-Oeste, foram minhas bandeiras. Nessa legislatura havia deputados com conhecimento jurídico muito grande. Foi diferente. No segundo mandato, no entanto, ocorreu uma intensa renovação parlamentar, que não sei se foi para melhor. Quanto ao trabalho das deputadas, posso afirmar que a Conceição Gayer foi uma guerreira que defendeu muito a segurança pública, pois ela era delegada. A Denise é do PT e por isso levanta uma bandeira constante em defesa do trabalho e das massas. Trabalho que ela fez muito bem.

O fato de ser mulher dificultou o desempenho de seu trabalho na Casa?

Dentro da Assembleia não, mas fora, nas bases, sim. Dentro da Casa, graças a Deus, eu tive um respeito muito grande perante os parlamentares e me entrosei muito bem com eles. No entanto, no interior já foi mais difícil. Tivemos momentos desagradáveis em que se percebia o desprezo. Já tive a oportunidade de ouvir de alguém que lugar de mulher é na cozinha. Então, isso me entristecia, mas tudo passa.

A senhora foi a primeira mulher a chegar à Mesa Diretora da Alego. A posição segue sendo a de maior prestígio alcançada por uma mulher na Casa, visto que todos os presidentes foram, até o presente momento, homens. Depois disso, identificamos apenas o caso de Lamis Cosac, que chegou também a ser segunda vice-presidente, na 14ª Legislatura. Que fatores a senhora considera terem contribuído para que pudesse alcançar tal posição, na época? Que significado o cargo ocupado teve para o exercício de seu mandato e para o Parlamento, de forma geral? Como foi atuar como vice-presidente da Casa, sobretudo em momento tão importante como aquele, em que se elaborava aqui a nova Constituição Estadual?

Uma representação na Mesa se dá por meio das composições de partidos na eleição do presidente da Assembleia. Naquele período, o PFL me indicou para representar o partido na segunda presidência, e a nossa chapa ganhou. Nesse momento eu assumi segunda vice-presidência. O partido que me indicou para ocupar cargo. Fiquei muito honrada com essa participação, porque fui muito respeitada enquanto estive no exercício da segunda vice-presidência. Eu não tinha uma experiência tão grande de parlamento, no entanto, recebi muito apoio dos meus colegas. Foi muito importante para o meu ego o respeito e o carinho que eles tiveram comigo.

Como eram as relações dentro do seu partido? Havia disputas? De que tipo? Havia outras companheiras mulheres?

Havia, na época, poucas mulheres na política. O partido era novo, e estava em fase de formação. Quando se dilui um partido e forma outro, normalmente, certas dificuldades para o crescimento da sigla. Então, nesse momento, nós fomos à luta para criar o partido e assim crescer dentro do estado. Eu tive uma participação boa como deputada do PFL porque nós fizemos inúmeras reuniões não só em Goiânia como também no interior para filiações. Isso me deu uma condição maior de conhecimento, de engajamento na política. As pessoas passaram a me conhecer mais. Meu partido compunha a bancada de oposição. Tanto no primeiro quanto no segundo mandato.

A luta em defesa da mulher foi uma bandeira que esteve presente durante os seus mandatos. Prova disso pode ser encontrada em uma proposta de sua autoria que tratava da regulamentação dos presídios femininos. Em que consistia essa proposta? O que a motivou a apresentá-la?

Isso é interessante. Me procuraram para que eu pudesse ajudar as detentas. Havia uma dificuldade enorme com sanitários para as mulheres. Elas tinham, muitas vezes, que usar o sanitário masculino, o que era uma situação muito deficitária. Se até na Assembleia Legislativa não havia banheiro feminino, imagina no presídio. Assim, os familiares das detentas me procuraram e eu abracei a causa. Não existiam muitos presídios naquela época.

Como foi defender esse tema na Casa, naquele período? Houve resistência? O projeto foi aprovado?

Eu tenho certeza de que ele foi aprovado, mas não sei se foi executado, porque eu era de oposição. Infelizmente, há muitos requerimentos aprovados, mas que não são executados, pois somos de oposição. É uma pena, mas de qualquer forma, abriu uma porta para que outros parlamentares defendessem essa causa também. Houve muitos projetos na época da Constituinte que eu não consegui tomar a bandeiras, muitos eu não conseguia nem assinar.

Além desta bandeira, consta ainda a luta pela valorização do setor público, tanto no que se refere ao capital humano quanto à infraestrutura pública. Em relação ao funcionalismo, a defesa de eleições livres para as diretorias das escolas do estado, seria um exemplo. Por que se engajou nessa luta? Que efeitos ela teria para a qualidade da educação no estado?

Eu me engajei nessa luta porque a pior coisa que existia naquele período de eleição nas escolas era a indicação de diretores. Não se escolhia o mais competente, mas sim o companheiro político. Então, eu dei muita ênfase nisso porque eu acho que com educação não se brinca, pois se trata do futuro dos nossos filhos e dos nossos netos. Por isso, eu acho que nós temos que ter uma preocupação de buscar o melhor. Naquele período aconteciam brigas homéricas quanto a essa situação. Eu defenderia de novo.

A senhora disse anteriormente que o servidor público é injustiçado. Por quê?

No início do governo, Marconi se cansou de defender o servidor público, uma vez que sempre buscava valorizar a categoria. Eu participei de inúmeros cursos, principalmente na Secretaria de Educação. Muitos deles de capacitação para professores e técnicos. No seu primeiro mandato, Marconi fez isso muito, mas não sei se continuou depois que sai do Estado, mas ele teve essa visão.

Depois, o servidor público ficou um período sem essa colaboração, sem acesso a cursos de capacitação. Os governos passaram a valorizar o contrato. Isso foi ruim demais para servidores públicos, o que provocou uma desvalorização geral da categoria. Quando eu participei da Secretaria de Educação, nós tínhamos, e sei que ainda há, muitas pessoas preparadas. Mas acontece uma eleição, daí amanhã chega uma nova turma de pessoas contratadas. Às vezes, até esses chegantes viram grandes profissionais, mas acho que a política está errada nisso. É necessário valorizar primeiro o profissional da casa, dar condições para ele se estabelecer e se preparar. 

Em relação ao patrimônio, o destaque vai para a defesa da ferrovia Leste-Oeste. [Essa questão da integração transversal, por linha férrea, para escoamento da produção regional e nacional é um projeto que já vem sendo discutido, pelo menos, desde a Era Vargas e vários traçados já foram propostos, porém nunca integralmente concretizados. A implementação só começou a ser realizada, de fato, recentemente, por volta da última década]. Como era esse projeto que a senhora defendia? Qual era o traçado dele? Que benefícios ele pretendia trazer para Goiás? 

Nós éramos 41 deputados e apenas eu subia na tribuna para defender a ferrovia Leste-Oeste, os outros 40 subiam para defender a Norte-Sul. A ferrovia Leste-Oeste era viável e mais barata, ia para Uberlândia e chegava a Santos. Outra coisa era o fato de eu ser representante do Sudoeste, uma região rica, que precisava de transporte. Lá é feito o transporte por caminhões. Então, eu defendia a Leste-Oeste exatamente para escoar a produção não só do sudoeste de Goiás, como da região do norte de Mato Grosso, que pega a BR-060. Seria uma ferrovia viável e mais barata que a Norte-Sul. Eu acompanhei o grande produtor Olacyr de Moraes, que foi o mentor da ferrovia Leste-Oeste, em vários estados brasileiros com a luta pela ferrovia, passando ali no Alto Araguaia indo para o Pará e Mato Grosso afora. Eu defendia a ferrovia passando do Alto Araguaia, Jataí, Rio Verde e Itumbiara, que é uma região produtora, até Uberlândia, chegando em Santos. Essa foi a nossa briga. Mas, foi válido demais porque não só eu como outros deputados depois passaram a defender essa causa.

Por que só a senhora defendia no Plenário a ferrovia Leste-Oeste?

Nós tínhamos uma bancada muito forte do governador Henrique Santillo e também de deputados da região do Tocantins. Isso foi antes da divisa de Tocantins. Eles começaram a defender a Norte-Sul e eu não tinha nada no Tocantins, a minha região era toda Sudoeste, então eu fui defender o meu estado.

Uma outra bandeira importante, inclusive destacando aqui já um pouco do seu trabalho enquanto deputada constituinte, foi a criação da Polícia Florestal, marco para a proteção da biodiversidade e preservação das nascentes dos Parques Nacionais. A questão ambiental foi uma preocupação realmente relevante nos seus mandatos? 

Naquele período quase ninguém falava da questão ambiental. Eram um ou dois deputados, o resto não queria nem saber, porque a conscientização era muito pouca. Naquela época, em qualquer lugar do estado as pessoas jogavam lixo de dentro do carro, por exemplo. Então, não existia essa conscientização. Para uma luta assim, alguém teria que levantar essa bandeira. Se eu tivesse sido eleita em 1982, acho que meu trabalho teria sido muito maior. Uma das razões de eu defender a questão ambiental é o fato de eu ser da região sudoeste que é rica em lavouras. Ali víamos que estavam acabando com o Cerrado, com as matas. Por isso entrei de corpo e alma nessa causa. Tanto é que chegaram a mandar recado para mim dizendo que ‘bicho não votava’, porque eu defendia a valorização do Cerrado. Me intimidaram, mas eu continuei. A Universidade Federal de Goiás (UFG) também foi muito importante na defesa dessa bandeira. Fazíamos muitos encontros em Mineiros, até mesmo para poder “amansar” esses produtores. Hoje, lá melhorou muito essa área. Apesar de ser o grande celeiro do estado de Goiás, já há uma conscientização dos produtores de produzir sem impacto.

Também enquanto deputada constituinte, outro assunto que chama atenção em seu trabalho refere-se à criação de novos municípios no estado. Valparaíso, no entorno de Brasília, seria um exemplo. Chapadão do Céu, no Sudoeste, outro. Tratam-se de regiões com características bastante distintas. Como surgiram cada uma dessas demandas? A senhora tinha base eleitoral nessas localidades? Como foi o processo de criação de cada um deles? A senhora acompanhou o movimento de perto? Qual foi o ganho para cada uma das regiões citadas e para o estado de Goiás, como um todo? 

Isso é uma política para todos os políticos. Se você abraçar uma causa dessa, de emancipação de um distrito, quer dizer que a cidade já passará a ter vida própria, pois cria essa estrutura administrativa do município, que passa a crescer. Nesse caso, há também uma grande visibilidade para o político representante da região que luta pela emancipação. Isso se dá pois, imagine que você é alguém que mora há anos no distrito e, de repente, vê sua cidade crescer e conhece quem defendeu isso, quem foi o deputado que possibilitou essa mudança, por exemplo, certamente você o apoiará, o que promove um crescimento político muito grande para o representante. Por conta disso, todo mundo briga por essas causas também. Na época da Constituinte esse tipo disputa aconteceu demais. Mas, isso é uma faca de dois gumes. Por exemplo, Perolândia estava como distrito de Jataí, daí eu entrei com o processo de emancipação e foi tudo muito bem. Mas, nesse período, Agenor Rodrigues, que hoje é prefeito de Mineiros, e era deputado junto comigo, viu que eu estava praticamente com o município emancipado, daí ele fez uma cachorrada tremenda comigo. Eu tive até que largar de defender, pois ele me jogou contra os moradores de Mineiros que habitavam a região e eram proprietários de fazendas que se localizavam parte em Perolândia e parte em Mineiros.

Na política econômica, a senhora legislou em favor do povo goiano ao apresentar projeto que impediu aumento referente à cobrança de ICMS sobre a conta de energia elétrica, cuja a taxa seria de 25% e, ao final da disputa, ficou estabelecida em 17%. Essa questão envolvendo o setor de energia elétrica tem sido alvo de inúmeras polêmicas atualmente, visto que, em alguns casos, a alíquota hoje cobrada para clientes residenciais chega à casa dos 29%, fora os outros impostos que incidem sobre a chamada “conta de luz”. Como a senhora avalia essa questão hoje? Mudou muito o foco das discussões desde a época do projeto citado?

Os deputados têm que ter projeto, como eu já disse. Não vejo nos jornais, deputados defendendo o estado de Goiás. Não falam nem em deputados nos jornais. O estado ficou de lado. Tem que ter vontade e querer abraçar essa causa. Os donos de empresa só querem ganhar mais, vai entrar 29%, daqui a pouco será 30% e só vai aumentar se não tiver alguém para gritar contra. Falta muita vontade dos parlamentares.

Que balanço a senhora faria dos seus mandatos?

Eu não diria que eu deixei um legado, eu acho que eu deixei exemplo. Fui uma parlamentar por pouco tempo, um mandato e meio e considero que fiz muito por Goiás. Acho que hoje precisa de vontade da classe política, não só de Goiás, mas do Brasil inteiro. Eu, por exemplo, com toda certeza, estudei para poder compreender os projetos pelos quais precisávamos brigar. Até mesmo para ajudar o próprio governo. Não é porque eu era a oposição que eu não ia ajudar. Tanto é que os governadores me recebiam muito bem. Eles sabiam que eu estava lá para trabalhar, e não só para criticar.

É também da sua época, como parlamentar, a discussão sobre a criação do Estado do Tocantins, que acabou sendo aprovado pela constituinte nacional. Qual era a sua posição sobre esse assunto? Havia divergências? 

Em relação a isso os tocantinenses têm que agradecer muito ao cidadão que se chama Siqueira Campos. Dia e noite ele defendia essa criação. Então, quando vieram os movimentos que ele conseguiu arrebanhar, foi muito forte porque foi um trabalho de base, um trabalho de anos para ele conseguir a emancipação. Em Goiás, a maior parte dos parlamentares foi a favor da emancipação. Eu fui a favor, junto aos colegas conseguimos ajudar, pois era bom para o estado de Tocantins e para Goiás. Ambos ganharam.

A última informação que temos sobre a sua vida pública data de 2002, quando a senhora deixou, após quatro anos de trabalho, o cargo ocupado à frente da Superintendência Executiva da Secretaria de Cidadania e Trabalho, da primeira gestão de Marconi Perillo como governador do Estado. Como parlamentar, sua trajetória teria se encerrado quase uma década antes, em 1995. A senhora ainda pretende retornar algum dia para a política? Afinal, hoje, quem é e o que faz Cleuzita de Assis? 

Não pretendo voltar. Política é uma coisa interessante, porque ou você sai na hora certa ou a sociedade coloca você para fora. Meu tempo já passou, mas se eu fosse mais nova eu almejaria voltar. Torço para que tenhamos grandes parlamentares. Acho  muito bonito ver um parlamentar que abraça a causa com amor e determinação. Hoje, eu vivo para a minha família. Eu me aposentei. Estou sempre ajudando meus filhos no cuidado com meus netos e cuido também dos meus bisnetos. Estou satisfeita. Tudo na nossa vida tem seu tempo, gostaria de estar com mais energia, mas a realidade hoje é outra. Tenho 76 anos, vontade eu tenho muita, mas não tenho mais forças como antes. Mas a gente se adapta a tudo.

Como era a realidade das mulheres que ocupavam cadeiras no Parlamento Goiano e que faziam política na sua época?

A participação da mulher é muito importante no Parlamento. Essa falta de participação feminina é consequência da realidade da política brasileira. Hoje, a política está muito desgastada e, como a mulher já tem mais dificuldade de participar da vida pública, contribui muito para o afastamento das mulheres da política. É o próprio meio político que cria uma barreira. Têm mulheres que tentam participar da política, mas não são bem aceitas na sociedade. Temos que superar isso. Eu defendo que haja mais mulheres ocupando esses lugares. No mínimo meio a meio em relação os homens.

Há um projeto tramitando na Câmara Federal que defende a paridade de gênero propondo 30% das vagas para mulheres. Qual sua opinião sobre essa questão?

Eu sou contra. Eu acho que essa participação da mulher tem que partir dela, da vontade dela. Precisa haver uma campanha maior, um trabalho maior que motive a feminina. É necessário expandir essa conscientização porque ainda estamos num momento que não há ainda essa consciência da participação das mulheres. Muitas vezes o partido coloca qualquer pessoa, só para fazer número. Tem que deixar livre e trabalhar a conscientização da importância do trabalho feminino. Tenho visto que há pessoas que não tem a mínima condição de serem eleitas, muitas vezes entram lá para pegar dinheiro. Esse é um fator ruim.

Em relação a esse assunto e em termos de políticas públicas o que precisa ainda ser feito para aumentar a representatividade feminina no Legislativo e na política de forma geral? 

Essa questão é um trabalho de base. A missão da mulher é pesada e muito forte, pois envolve casa, filhos, trabalho, etc. Tem que haver um trabalho de base nas associações de bairros para que essa mulher comece a trabalhar e tenha gosto pela política. Se deixar, nós vamos acomodar. Afinal, é um desafio como nenhum outro isso de ser mãe, ser esposa, ser dona de casa, ser tudo. E política, por si só, é muito difícil, você tem que gostar. Você passa a gostar quando participa da base. A criação de políticas públicas para aumentar a representatividade feminina é o grande lance para que ela possa se conscientizar, compreender o processo e entrar na base. Acho que tem que haver uma valorização maior da participação da mulher por parte dos governantes. Isso ajuda a mulher a crescer, a enxergar a própria capacidade e a perceber que ela está sendo valorizada para então se sentir motivada a participar da vida pública.

A senhora iniciou sua vida política no período da redemocratização nacional, iniciado após a queda do Regime Militar, que deteve o poder no país por duas décadas. Na época em que a senhora exerceu seus mandatos já era possível encontrar um ambiente que se pudesse chamar de fato democrático?

Penso que hoje é mais democrático do que era antigamente. Atualmente, há mais participação popular e mais discussão. Houve um avanço nesse aspecto. Era um ambiente difícil antes. Era mais fechado, principalmente quando tinha mulher no meio. Nós estávamos sempre de fora. Éramos deixadas de lado.

Ao seu ver, qual o legado que mulheres como a senhora têm deixado na história do Parlamento Goiano? Qual incentivo a senhora poderia dar às mulheres para que elas possam participar cada vez mais da vida pública e política do nosso estado? 

Para atuar na vida pública, tanto no Executivo quanto no Legislativo, é necessário gostar de política. Na minha opinião, no Executivo há mais possibilidades para que as mulheres atuem, e de fato realizem, do que no Legislativo. O coração da mulher é maior. No Legislativo é muito diferente, pois você tem que correr e às vezes não chega a lugar nenhum. Enquanto no Executivo você faz acontecer. Acho que isso, para as mulheres, é uma coisa muito importante porque se consegue de fato concretizar algo. O Parlamento é frustrante. Se você não gostar de política, se não for apaixonado, você não consegue se destacar. Eu gosto de atuar no Executivo e penso até que eu seria uma prefeita que trabalharia muito, e ainda daria muito trabalho para os outros (risos).

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