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Projeto Mulheres no Legislativo

31 de Maio de 2019 às 13:00
Crédito: Denise Xavier
Projeto Mulheres no Legislativo
Lila Spadoni é entrevistada do Projeto Mulheres no Legislativo
Lila Spadoni, deputada estadual durante a 14ª Legislatura, é a quarta entrevistada do projeto "Mulheres no Legislativo". Lila fala das dificuldades enfrentadas para conciliar a atividade parlamentar e ser mãe durante o mandato.

Para ela, a palavra "mãe" diz muito sobre a sua breve, porém intensa, passagem pelo Parlamento Goiano. Estamos falando de Lila Spadoni, filha da ex-prefeita de Rio Verde e também ex-deputada estadual, Dona Nelci [Spadoni]. Com a sua entrevista, damos sequência ao especial “Mulheres no Legislativo” deste mês de maio. E, por meio desta, deixamos registrada, mais uma vez, a justa e devida homenagem desta Casa de Leis a todas as mães goianas.

“A minha entrada na política foi muito circunstancial, devida à presença da minha mãe, que já atuava na área. Com certeza ela foi a minha maior inspiração e sempre representou um exemplo para mim. Eu nunca imaginei fazer uma trajetória longa na política, tanto que tive apenas um mandato e optei por não continuar. Eu realmente entrei na política única e exclusivamente para apoiar minha mãe, para ajudá-la a cumprir essa missão que ela tinha na época, porque naquele momento ela precisava de mim”, disse Lila, ao iniciar nossa conversa.

Com apenas 27 anos, a professora Lila Spadoni, como prefere ser hoje reconhecida, foi deputada pelo PFL (atual Democratas), durante a 14ª Legislatura (1999 a 2003). Do capital político herdado de sua mãe às disputas posteriormente travadas enquanto oposição ao então Governo do Estado, que culminou em sua total desvinculação do meio político e integral reinserção no meio acadêmico, ela nos relata o turbilhão de emoções vivenciado em sua juventude e relembra as aventuras e desventuras vividas enquanto uma voz feminina no Poder Legislativo de Goiás. “Para mim, o mais desafiador foi perceber que havia um jogo, uma disputa muito grande ali dentro do Parlamento, onde muitas vezes o interesse da população era relegado a jogos políticos e, a mulher, colocada sempre em segundo, terceiro, quarto planos”, continuou.

Essa desigualdade de gênero, inclusive, foi algo que ela, por se considerar, na época, muito “jovem e ingênua”, afirma ter demorado um pouco para perceber. “Depois de uma certa vivência no Parlamento é que eu fui enxergando a sutilidade do preconceito. E, às vezes, as coisas sutis são mais cruéis que as coisas abertas. Eu acho que as mulheres que entraram para o Parlamento sabem que ali realmente é uma luta”, observou. Luta esta que Lila levou a cabo até à sua total saída desta Casa de  Leis. Isto porque, ao final de seu mandato, a mãe a ser defendida passaria a ser, agora, ela própria. “Eu me lembro que o fato de ter ficado grávida foi motivo de muita crítica. Fui praticamente sentenciada à derrota, ao fracasso, pelo fato de eu ser mãe durante o mandato. Teve, inclusive, uma pessoa que falou assim: agora a carreira da deputada Lila acabou porque ela pegou uma imagem de mãe e não de [figura] política”, comentou.

Lila deu a luz, na ocasião, à menina Maria Luiza, hoje já uma jovem de 20 anos.  

Legado

Notáveis contribuições podem ser destacadas dessa breve passagem de Lila pelo Plenário da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), e não apenas na luta travada em prol das mulheres e de questões ligadas à maternidade e ao universo infanto-juvenil, mas também em propostas apresentadas nas áreas da saúde e da economia, bem como nas políticas de inclusão. Presidiu ainda, neste sentido, as Comissões de Assistência Social e Saúde e da Criança do Adolescente, cargos que foram assumidos, respectivamente, entre os anos de 1999 e 2000 e 2001 e 2002.

Dentre as contribuições até aqui citadas, destacamos, em especial, duas matérias que tratam da área de abastecimento energético do estado, ambas datadas do ano de 2001. A primeira referia-se à consulta plebiscitária sobre a venda da Celg, estatal que era então responsável pelo referido setor em Goiás e cujo patrimônio hoje pertence à companhia italiana Enel. A segunda, por sua vez, visava disciplinar o regime de concessão do ramo, abrindo, assim, espaço no mercado para “a sadia concorrência na prestação dos serviços públicos de energia elétrica”, conforme justificativa apresentada pela própria deputada, na época.  

Importante notar que tal tema tem sido, inclusive, alvo de sucessivas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), nesta Casa Legislativa. A primeira foi instaurada em 2009 e apurou questões relacionadas ao então endividamento da Celg. A segunda encontra-se em andamento no corrente ano e investiga, por sua vez, supostas irregularidades na privatização da estatal citada, além da qualidade dos serviços prestados pela sua sucessora, a Enel em Goiás.

O maior destaque da atuação parlamentar de Lila talvez esteja impresso nas matérias voltadas para o setor educacional, bandeira esta que a ex-deputada tem defendido com afinco até os dias atuais. Dona de extenso currículo na área, Lila, que é psicóloga de formação, hoje exerce a função de professora no curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO). Possui ainda doutorado na Sorbonne (Paris/França), especialização em Saúde Pública e é pós-doutoranda na Université de La Rochelle, também francesa.  

Foi, na área educacional, autora de importantes projetos, muitos deles na vanguarda de discussões hoje em destaque na Casa, como o que trata da inclusão de acompanhamento psicológico nas escolas da rede pública goiana e outro que institui programa de prevenção à violência no ambiente escolar. O primeiro, por exemplo, chegou a ser pauta da legislatura passada, sendo já reiterado também na atual, em proposituras defendidas, respectivamente, pelo ex-deputado Francisco Jr e por Diego Sorgatto (PSDB).

Também nessa área, Lila puxaria ainda outro importante debate: sobre a educação em tempo integral. Política esta que começaria a se tornar realidade em Goiás somente a partir do ano de 2006, conforme informações coletadas junto à própria página oficial da Pasta que cuida do referido setor no estado.

Ainda que a maior parte dos seus projetos tenha sido arquivada ou vetada, várias discussões, ali iniciadas, permaneceram em pauta nas legislaturas seguintes, exercendo, como já dito, influência até os dias atuais.

Embora lembre com pesar dos seus quatro anos de mandato na Alego (possivelmente únicos, visto que a entrevistada não demonstra qualquer inclinação atual ou futura para a retornar à vida política), Lila faz um balanço positivo de seu legado enquanto parlamentar, e o faz também em reverência a outras deputadas que lhe antecederam, sucederam ou lhe foram contemporâneas. "As mulheres são, em geral, mais sinceras [do que os homens] na política. Elas têm um desejo genuíno de melhorar a vida das pessoas, principalmente das crianças. Eu não diria que isso é natural, mas, sim, algo a que a mulher é socialmente ensinada. Esse lado socialmente feminino nos faz ter uma maior sensibilidade para com as questões sociais", concluiu.

A seguir, apresentamos a íntegra da entrevista concedida às jornalistas Luciana Lima , da Agência Assembléia de Notícias, e Bruna Mastrella, da TV Alego, no último dia 6. Ela compõe a série "Mulheres no Legislativo", que foi criada para homenagear as célebres trajetórias de todas as mulheres que cumpriram mandatos nesta Casa de Leis. Lançado em 12 de abril deste ano, o programa, que reflete nova produção da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), já divulgou entrevistas realizadas com Ana BragaBetinha Tejota e Adriana Accorsi.

Além dos dois setores citados, a iniciativa conta também com a parceria das Seções de Assessoramento Temático e de Publicidade, Imagem e Identidade Corporativa deste Poder. A ação reforça, portanto, o caráter integrado de todo o projeto, uma marca forte nos trabalhos da Alego.

As entrevistas estão sendo também veiculadas pela TV Alego, no canal aberto (61,2), na Net (8) e no Youtube.

Você mencionou que sua entrada na política, em 1998,  se deu em razão da necessidade de dar suporte à sua mãe. De que tipo de ajuda ela precisava naquele momento?

Precisamos entender que, se hoje uma mulher no poder já gera muitos embates, imagine, há 20 anos, uma mulher como minha mãe despontar na Política da forma como ela despontou, sem nenhum background (suporte anterior) masculino. Tradicionalmente no Brasil, bem como aqui em Goiás, as mulheres fazem carreira política após o marido ou o pai. Elas são herdeiras de algum homem dentro da Política. Esse não foi o caso da minha mãe, que se lançou numa época em que o machismo era ainda mais proeminente. Então hoje, 20 anos depois, eu olho para trás e vejo que ela realmente foi uma heroína. Porque estar dentro de um partido de direita, como era o DEM, o PPB, na época, e sendo mulher, foi muito difícil mesmo. Depois, houve ainda o fato de nós termos feito a opção de passarmos de posição para oposição [ao Governo do Estado, representado, na época, por Marconi Perillo, do PSDB], e isso gerou muita perseguição política e a nível pessoal também. Foi uma época sofrida!

E, apesar de toda essa disputa política, você acha que, no Parlamento, conseguiu oferecer esse apoio que sua mãe necessitava na época?

Eu acho que eu consegui pelo menos ser uma voz.Uma voz que defendesse a presença da mulher, que denunciasse as coisas terríveis que aconteceram na época, o que foi muito sofrido para mim. Eu não tenho nenhuma saudade [da experiência de deputada], pelo nível de violência das palavras, do machismo que eu vivi ali naquela circunstância. Mas, ainda assim, reconheço que tudo isso tenha servido de aprendizado. Por isso, quando eu saí da Assembleia eu tive a convicção de que meu lugar era na Educação, e de que a gente só mudaria essa situação [de agressividade contra as mulheres na Política] por meio da educação e das novas gerações.

Na sua família, o pioneirismo na carreira política coube à sua mãe mesmo?

Sim, coube a ela, que, na verdade, começou esse trabalho como assistente social do Hospital Evangélico [de Rio Verde]. Minha mãe sempre teve um amor muito grande pelas causas sociais, e eu herdei isso dela. Como ela era uma pessoa que se envolvia com a população, de repente isso foi capitalizado para uma eleição. E, disso, ela despontou como uma liderança política, sem nunca ter imaginado, sem nunca ter desejado essa posição. Eu creio que, tanto ela quanto eu, éramos bastante ingênuas para o contexto da época. Então, naturalmente, foi bastante sofrido, mas creio que contribuímos para história de Goiás.

Quer dizer, então, que você herdou capital político da sua mãe? Porque até então você era um nome desconhecido no cenário político estadual.

Com certeza, totalmente dela. E era um capital de amor ao próximo, que ela tinha construído durante décadas de trabalho. Foi só por isso que eu realmente topei ser candidata naquela época e aguentei até o fim, bravamente, o mandato de deputada (risos).

Você já fez uma prévia de que foi um momento bastante tenso para você. Que avaliação você faz da sua experiência no Parlamento? Quais os momentos mais impactantes que você guarda em sua memória?

São muitos. Talvez o mais dramático tenha sido o momento em que nós realmente iniciamos nossas desavenças com o governador da época, que é o ex-governador Marconi Perillo. A partir dali a gente passou a sofrer uma perseguição muito grande. Dentro da Assembleia, eu passei também a sofrer muitas retaliações, não da instituição em si, mas de alguns colegas que, na época, eram muito favoráveis ao governo. Apesar de tudo isso, eu penso que a experiência foi válida, assim como é toda experiência que a gente vive, na medida em que a gente aprende com cada uma delas. Isso me fez uma pessoa bem mais forte e preparada para vida.

Então, naquele momento, você articulou uma oposição ao governo da época, é isso? Você conseguiu?

Na verdade eu fiz uma oposição. Não sei se foi articulada (risos), mas foi uma oposição bastante espontânea. Eu diria que até emocional e muito sincera.

E você não angariou o apoio de outros parlamentares? 

Sim. Tive apoio de vários parlamentares que já faziam oposição [ao Governo Marconi]. Pessoas que me ofereceram ajuda, que foram solidárias com a nossa situação.

Você disse que os embates eram violentos, na palavra, e talvez a discordância não ficasse apenas restrita à Tribuna, ao Plenário. Havia uma agressão que ultrapassava o Parlamento?

Havia uma agressão verbal no próprio Parlamento, que reverberava no lado pessoal. Eu não tenho boas lembranças disso. E hoje quando eu olho prá trás, 20 anos depois, eu percebo que, de fato, para mim foi muito agressivo. E eu tenho certeza que aquela agressividade era assim tão aberta pelo fato de eu ser mulher. Acho válido lembrar, inclusive, que eu era muito jovem, que fui eleita com 27 anos e nessa época [da oposição] eu devia ter entre 30 e 32 anos.

Nesse ponto que eu queria chegar. Você ingressou em um Parlamento majoritariamente masculino. Desde a mudança da capital para Goiânia, o local não recebeu mais do que 30 mulheres. Quando você tomou posse, essa questão de gênero se impôs para você? Ela já era presente? Você a detectou rapidamente? 

Não logo de início. Porque eu era muito jovem e ingênua, mas depois de uma certa vivência no Parlamento é que eu fui enxergando a sutilidade do preconceito. E, às vezes, as coisas sutis são mais cruéis que as coisas abertas. Então, essa sutileza, ela tem uma crueldade muito implícita, que realmente fere. Eu acho que as mulheres que entraram para o Parlamento sabem que ali realmente é uma luta.

Você falou de uma das facetas do preconceito que é o machismo. Você teria alguns exemplos que pudessem ilustrar esse ponto de vista?

Eu lembro que, quando a gente resolveu tornar pública a nossa situação de oposição ao governo, naquela época, alguns deputados [da base governista], especialmente um, subia na Tribuna e era extremamente desrespeitoso, tanto com minha mãe quanto comigo. Foi uma coisa que causou muita revolta nos próprios parlamentares, alguns até mesmo da situação, tamanha foi a violência. Com certeza, na Assembleia, deve haver gravação dessas coisas. Com o tempo eu fui adotando uma tática de cinismo. Eu me lembro de um dia em que esse deputado estava lá cuspindo toda raiva e ódio que ele tinha e aí eu fui, muito calmamente, e tirei o copo d’água da frente dele, assim como quem queria dizer “eu vou tirar, antes que ele jogue esse copo de água em cima de mim e com toda violência”. Eu lembro que foi uma coisa que causou muito espanto. As pessoas ali presentes riram, ao mesmo tempo em que perceberam que eu estava usando um pouco de cinismo, porque é muito difícil você combater, com palavras uma pessoa, que não tem papas na língua. Até porque se você perder essas papas na língua, você se torna igual. Então, em função mesmo da minha criação, eu nunca quis me rebaixar ao mesmo nível. Mas era coisa de uma violência enorme mesmo.

E essa violência era contra você e sua mãe, apenas, ou envolvia também as outras parlamentares com quem compartilhava o mandato? Na época, estavam também Denise Carvalho, Isaura Lemos, Lamis Cosac, Onaide Santillo, Raquel Rodrigues e Rose Cruvinel.

Nesse caso era especificamente contra mim, por essa situação de eu fazer oposição ao Governo. Mas, por muitas outras vezes, eu assisti esse deputado cometer o mesmo tipo de violência com outras colegas mulheres dentro da Assembleia. Hoje eu olho para trás e penso: como isso era aceito? Era uma violência muito sexista, muito desrespeitosa mesmo.

Esta bancada feminina se socorria, se apoiava?

Nós, mulheres, sim. Eu me lembro de receber muito apoio da deputada Isaura Lemos, da deputada Onaide Santillo, e algumas vezes também da deputada Denise, que se colocavam como solidárias ao meu sofrimento, naquela época.

Hoje observamos ainda uma situação bem semelhante...

É com muita tristeza que eu escuto isso, mas a gente percebe esse retrocesso no país. A gente percebe que está se tornando, muitas vezes, bonito ser machista ou ofender as pessoas. Triste.

Outras mulheres entrevistadas no Mulheres no Legislativo relataram a mesma coisa sobre essa questão do machismo no seio do Parlamento. Um ambiente extremamente hostil que parecia não ser feito para receber mulheres. Não havia sequer banheiro feminino ali no Plenário, até bem pouco tempo atrás. O que era mais desafiador para você, nesse aspecto?

Para mim, o mais desafiador foi perceber que havia um jogo, uma disputa muito grande ali dentro, onde muitas vezes o interesse da população era relegado a jogos políticos, e onde a mulher também era sempre relegada a segundo, terceiro, quarto planos. Então, eu acho que as mulheres são, em geral, mais sinceras [do que os homens] na política. Elas têm um desejo genuíno de melhorar a vida das pessoas, principalmente das crianças. Eu não diria que isso é natural, mas, sim, algo a que a mulher é socialmente ensinada: a se importar com as crianças, com a família. Esse lado socialmente feminino nos faz ter uma maior sensibilidade para com as questões sociais.

É interessante notar que a sua atuação parlamentar segue realmente por essa vertente. Em quatro anos você conseguiu apresentar bastante propostas. Você chegou a presidir a Comissão de Saúde e a da Criança e do Adolescente. Que outros fatos, projetos você considera relevantes? Você acha que produziu um legado?

Na verdade, eu acho que o meu legado está, de fato, na Educação. Todos os dias quando trabalho como professora, quando eu educo, ensino, eu sinto que estou deixando um legado. Quanto à minha passagem pela Assembleia, eu lamento, porque muitas vezes os projetos ficaram apenas no papel, apesar de eu ter me esforçado para contribuir com o país e com o estado. Na educação é diferente, porque você está inserido de fato no processo e, em razão disso, você consegue ter mais possibilidade de agir; você tenta transformar a vida do outro. O conhecimento é transformador. Eu me sinto mais realizada na educação.

Você apresentou muitos projetos que estavam inclusive na vanguarda de discussões que só depois vieram a se tornar política nacional e estadual, como as escolas em tempo integral. Além disso, também encabeçou discussões sobre a questão do psicólogo nas escolas e muitas outras, ainda em voga nos dias atuais. Grande parte dos projetos foram arquivados, infelizmente, mas qual deles você gostaria de destacar, dado à sua importância ou por ter ido mais adiante?

Eu me lembro que fazia um esforço para colocar projetos que melhorassem, principalmente, a vida das crianças. Até porque, na época, eu estava me tornando mãe. Inclusive minha filha hoje tem 20 anos e ela é super politizada (risos). E eu penso, inclusive, que, se ela for seguir carreira política, que seja na política internacional, porque essa política partidária [brasileira] é terrível. Mas eu me lembro que eu tinha uma grande preocupação com o bem-estar das crianças, o que originou esse projeto de escola em tempo integral, que não era bem esse que temos hoje. A tentativa era dar uma vida mais digna, uma educação transformadora e mais completa para essas crianças. A gente sabe que, em muitos países, as escolas têm um tempo de aula maior. Mas, não adianta a gente pôr uma escola de tempo integral sem investir na qualidade dessa escola, não é? Esse outro projeto de exigência de psicólogos nas escolas, para você ver, 20 anos depois, ainda existe uma matéria tramitando com o mesmo tema. Inclusive, a nível nacional, nosso Conselho Federal de Psicologia está lutando por essa conquista. Já era para ter psicólogo nas escolas há muito tempo. Quem sabe, com isso, a gente não estaria vivendo esse terror dentro das escolas: assassinatos, violência, suicídios, tantas coisas que poderiam estar sendo prevenidas. Eu lembro também que, na época, eu sofri bastante por ser muito aguerrida na luta antimanicomial, e fui muito criticada por isso. Eu estava saindo da faculdade de Psicologia, tinha uns 2 ou 3 anos de formada e era numa época em que a lei do Paulo Delgado  (Lei da Reforma Psiquiátrica, de autoria do ex-deputado federal constituinte) estava muito em voga, destacando esse forte interesse em se assegurar uma maior humanização na Psiquiatria. Eu lembro também que essa foi uma área muito difícil.

Estas bandeiras, que tratam, via de regra, da humanização nas instituições públicas, são difíceis de defender?

Muito. E é até um pouco chocante, porque na época eu era do PPB e depois do DEM e estava defendendo essas pautas. Na verdade eu tinha essa tendência de esquerda, mas tinha também que acompanhar minha mãe. Porque, como já dito, a minha entrada na Política foi muito circunstancial devido à presença da minha mãe na Política. Então, eu a acompanhei dentro dos partidos dos quais ela fazia parte. E por isso talvez tenha me sentido tão deslocada ali dentro [da Alego]. Foi bastante complicado, mas eu achei um jeitinho de colocar um pouco dessas pautas. Eu pessoalmente preferiria uma legenda mais à esquerda ou talvez centro-esquerda. Eu não me identifico com essa agenda da direita brasileira, de forma alguma. Acho que é por isso também que eu não me identifiquei com essa atividade [política]. Eu gosto mais, me interesso mais e sinto que contribuo mais com o país através da educação. Realmente achei meu lugar.

Em suma, nessa trajetória política toda, o que você julga ser mais difícil, mais desafiador para uma mulher?

Sem dúvida é quando a gente tem que lidar com o meio político. Lidar com a população eu não diria que é fácil, mas é bastante agradável. Pelo menos é uma parte que eu gostava na política. Conhecer as pessoas, tomar um cafezinho com elas, conhecer os problemas da população, andar pelas ruas… Tudo isso era uma parte bastante agradável da atividade política. Mas, quando você entra na Assembleia, e o seu trabalho se reduz a lidar realmente com o meio político, aí o nível de complexidade aumenta bastante.

E como foi conciliar a questão de ser mãe, esposa, enfim, a vida familiar com a vida no Parlamento? Foi difícil?

Sim. Teve muita coisa. Eu me lembro que eu ter ficado grávida foi motivo de muita crítica. Inclusive, teve uma pessoa que falou assim: “agora a carreira da deputada Lila acabou porque ela pegou uma imagem de mãe e não de [figura] política”. Eles praticamente me sentenciaram à derrota, ao fracasso, pelo fato de eu ter sido mãe durante o mandato. Não havia licença maternidade. Com dois meses eu voltei a trabalhar. Tanto que quando eu terminei o mandato, eu fiz a opção de ficar dois anos só por conta de ser mãe. Porque eu senti que a atividade política me usurpou muito desse prazer. Depois, também, por causa da perseguição do Marconi, eu não arrumava um emprego nesse Goiás. Quem me contratasse recebia uma varredura fiscal avassaladora. E essa questão da gravidez pesou muito nesse preconceito. Era uma coisa horrível. As pessoas falavam isso abertamente no meio político. Já junto à população, não, eu recebia muito carinho. Mas no meio político foi bem pesado.

Olhando para trás, para essa sua trajetória política, você mudaria alguma coisa na sua postura? Teria algo a alterar, caso, hipoteticamente, viesse a disputar novamente outro cargo eletivo ?

Com certeza (risos). Porque, com essa idade que eu tenho hoje, eu percebo o quanto fui ingênua, o quanto eu era imatura, naquela época. Quando eu olho para trás, a imagem que me vem à memória é a de uma espécie de cordeirinho jogado aos lobos. Aos 27 anos, hoje eu posso perceber, a gente não tem muita noção do impacto dos nossos atos e muito menos do impacto desses atos na vida pública, como é a vida de uma deputada. Então eu acho que mudaria bastante coisa. Sobretudo, eu seria mais assertiva e menos emocional.

Você tem uma carreira acadêmica muito consolidada, muito produtiva e inclusive está fazendo um pós-doutorado. Entre as temáticas que você estuda, chamam atenção as representações sociais e a construção da noção de justiça e de injustiça. O que te motiva a pesquisar sobre essas questões?

Eu acho que nós temos hoje no Brasil uma crise de valores. Então eu dirijo muito meus estudos, minhas pesquisas para esse tema. Eu iniciei minha carreira estudando esses valores de justiça e injustiça e depois fui caminhando para outros valores. Hoje estudo valores da honestidade e da corrupção. Não no sentido do que eles são, mas de como as pessoas, o senso comum, compreendem esses valores e fazem esse julgamento. Eu estudei, durante um bom tempo, como as pessoas fazem o julgamento daquilo que é justo e daquilo que é injusto. Tenho dirigido sempre para aí a minha pesquisa, porque isso me interessa. Eu acho que realmente a gente precisa retornar, não aos valores antigos, da Ditadura Militar, mas realmente nos perguntar quais são os valores da nossa época, até mesmo dentro do ensino. Quais os valores que nós temos que ensinar? Será que a gente ensina valores ou que isso é papel só da família? Que geração é essa que nós queremos para o futuro?

Você consegue estabelecer algum tipo de conexão entre a vivência do Parlamento e esses estudos?

Eu acho que a minha vivência no Parlamento me fez questionar muito as concepções de Justiça do brasileiro. Na minha tese de doutorado eu comparei a noção de Justiça do brasileiro com as concepções de Justiça dos franceses. Isso já começou a me dar várias pistas a respeito do porquê a nossa política é como é e está como está.

O que você notou de diferente entre a concepção de Justiça dos franceses e a dos brasileiros?

Uma das coisas que achei mais interessante é o fato do brasileiro ser bem mais resignado. Quando o brasileiro sente que sofreu uma injustiça, ele sente tristeza, que é um sentimento bastante passivo e que leva a pessoa a se recolher. O francês sente raiva. A raiva é um sentimento que te faz agir. Acho que isso diz bastante sobre nós, brasileiros, sobre essa resignação, essa aceitação emocional de todas as injustiças que as pessoas vivem.

Me parece que os franceses protestam mais...

Sim, eles protestam mais. Eles se sentem mais ouvidos quando protestam e isso naturalmente faz com que eles tenham maior possibilidade percebida de ação. Nós brasileiros não temos essa possibilidade percebida de ação.

Também o protesto, no Brasil, às vezes é considerado vandalismo. Você percebe que, aqui, um protesto tão aguerrido quanto lá seja encarado de maneira diferente?

Com certeza. O protesto para nós é encarado como uma coisa ruim e muitas vezes levado ao extremo. A gente não tem essa assertividade de realmente dizer o que a gente quer enquanto nação.

Em relação a esse cenário nacional atual, que avaliação você faz de nossos Governos Federal e Estadual?

É um cenário, para mim, de muita tristeza, porque eu acho que nós estamos vivendo muitos retrocessos, principalmente na área da Educação, que é a área em que eu atuo. Também vejo com muita tristeza essa espécie de tentativa de desmoralização do professor. Eu acho que o professor é, sem dúvida, o profissional mais necessário para um país, o mais importante, pois é ele quem forma todos os demais profissionais. Eu diria que é ele quem realmente constrói a nação. Eu convivo muito com os professores, não só do ensino superior, mas também de outros níveis de ensino. E percebo o quanto o professor tem amor pelo que faz e faz bem feito, faz de alma mesmo, de coração. No entanto, só tem recebido ingratidão e injustiça por parte dos governantes. Quando se pensa em cortar, pensa-se em cortar os salários dos professores. Quando atrasa pagamento, atrasa o pagamento dos professores. Eu acho que o Brasil tem que ter consciência de que a Educação precisa ser privilegiada. Hoje há uma política quase que de terrorismo. Dentro da sala de aula os professores voltam a ter medo de serem filmados, de serem gravados. Coisas que eu não vivi, porque, quando entrei na universidade, já tinha acabado a Ditadura Militar. Mas eu ouço vários professores contarem desse medo. Eu, por exemplo, nunca tive medo de gravarem minhas aulas, às vezes o aluno pergunta se pode gravar e eu digo que sim; que fique à vontade. Para mim faz parte. Agora hoje a gente começa novamente a viver isso, a ter medo, porque a pessoa pode recortar aquilo como ela quiser e deturpar o conteúdo que estava sendo falado ali.

Tem havido muitas críticas às universidades brasileiras, o que vem suscitando uma política de cortes neste setor que hoje faz parte do seu universo profissional. Como você vê essa questão? As universidades brasileiras realmente precisam repensar a maneira como conduzem a educação?

Eu vejo com muita tristeza. Eu acho que o país só tem uma saída, que é a Educação. A gente poderia provocar cortes em tudo, menos na Educação, que é o futuro do país. A gente vê que os países de primeiro mundo investem maciçamente em educação, porque eles têm consciência de que um cidadão bem educado constrói uma nação. Infelizmente, o Brasil ainda não adquiriu essa consciência. Eu acho que as universidades federais do Brasil prestam um grande serviço à nação, em termos de pesquisa, de ensino, e já têm um orçamento bastante reduzido, se a gente considerar o tamanho do país. Esse orçamento já tem sido cortado sistematicamente. É cortar do que já foi cortado. Não sei realmente como as universidades públicas vão sobreviver. Para as mulheres, isso me parece ainda mais grave, visto que a Educação, desde cedo, é de mais difícil acesso para as mulheres. Das mulheres socialmente também sempre foi cobrado menos a questão do estudo. Mas hoje a gente já percebe nas universidades um aumento muito grande de mulheres. Então eu acho que realmente as universidades podem fazer essa transformação, porque as mulheres estão chegando aqui e aqui mesmo tem que ser feito um trabalho para que elas saiam daqui dispostas a lutar pela participação da mulher em todas as áreas da vida social, do mercado de trabalho e da vida política. Sobretudo para romper com aquela questão do preconceito sutil e que se faz presente inclusive na carreira docente. Por exemplo, existe uma diferença quando um professor entra na sala de aula e quando uma professora entra na sala de aula. Isso é tão impregnado que existem coisas que um professor pode fazer ali, que uma professora jamais pode fazer. Até na forma de chamar a atenção do aluno, a mulher é muito menos compreendida do que o homem. Esses realmente são valores que estão muito impregnados na sociedade brasileira. Por todas essas razões é que eu acredito que ainda há um trabalho realmente forte, ativo e a longo prazo a ser feito na educação. Com certeza nós não estamos acertando. Nos últimos 20 anos, parece que a gente progrediu, mas se a gente for olhar de forma cautelosa, a gente não progrediu em muita coisa. A gente tem que realmente avaliar o rumo que temos dado a essas questões.

Em relação às impressões sobre a política atual, agora mais focada nessa questão de gênero mesmo. Na sua época, havia sete deputadas estaduais em Goiás. Na legislatura passada, tínhamos quatro. Nesta, reduzimos para duas. E a gente vê políticas afirmativas, como as cotas partidárias. Mas, na hora de eleger essas mulheres, esse voto não vem e a representatividade tem caído no nosso estado e mais propriamente no Centro-Oeste. Os outros estados estão um pouco melhores nesse sentido. A que você julga dever-se essa baixa representatividade?

Em primeiro lugar, penso que deva ser a questão do sacrifício pessoal. Quando eu saí da Assembleia foi um alívio imenso. Foi tipo assim: nossa, graças a Deus vou poder respirar! Já vi também várias denúncias de que as mulheres pegam o dinheiro e repassam para os homens para que eles sejam eleitos. Além do caminho delas ser muito mais difícil, mesmo com essas políticas afirmativas. Eu acho que muitas vezes elas pensam que não compensa correr tanto, investir tanto e ter que conviver com um mundo tão masculino e tão cruel como ainda é a política. Nos estudos que tenho feito, sobre os valores, uma das coisas que tenho notado é que o brasileiro é extremamente conservador e tradicional. O que eu tenho visto é que esses valores tradicionais que incluem o sexismo, têm sido muito reforçados, o que talvez até explique esse retrocesso, porque a gente chegou a ter mais deputadas e hoje esse número tem diminuído mesmo. É o que se repete na Assembleia, na sala de aula, nas famílias. A mulher é punida quando ela alcança um cargo onde socialmente ela não é aceita. Isso eu senti bastante na pele mesmo. É uma punição sutil, mas bastante cruel.

O que a gente poderia propor para que haja um avanço nesse campo?

Nesse sentido que eu acho que a única saída é a educação. A educação tem que agir no sentido de dar dignidade à mulher. Hoje o que as pessoas pregam e dizem que é o movimento feminista ou que é a liberação da mulher está colocado de uma forma muito sexualizada que, para mim, é muito nos reduzir a um pedaço de carne, é muito corporal. É a mulher ter liberdade sexual, poder expor o seu corpo, mas isso tudo acaba, em algum aspecto, reforçando o machismo. Porque eu não tenho que ter um corpo bonito, não tenho que expor o meu corpo, não é por aí. É importante esse lado, claro, mas a conquista maior, acredito, é sobretudo no campo político. O que adianta a gente ter todas essas liberdades sendo que a gente continua restrita aos lugares supostamente femininos da sociedade, sem poder ter uma representatividade feminina, de fato, e ainda com a mulher ganhando 30% a menos que os homens nos mesmos cargos? Então se a gente for olhar, por esse aspecto, não avançamos quase nada.

Você acredita que essa é uma pauta que interessa só às mulheres ou essa pauta também interessa aos homens e eles também têm que ter um olhar atento para isso?

Os estudos da psicologia mostram que a gente passou de um preconceito flagrante para um preconceito sutil, que é chamado de preconceito frio, porque ele é muito pautado pela indiferença. Então, a gente vê muito isso, uma questão de tanto faz. Eu posso até aceitar a mulher se candidatar, mas eu não me engajo, eu não voto nela. É aquela frieza, aquela indiferença. Esse preconceito sutil é uma nova forma de preconceito e talvez seja muito mais deletério. Como ele é mascarado, talvez a gente tenha a sensação de que ele diminuiu. Mas não. Ele se transformou. E eu acho que por isso, a gente fala tanto e, ao invés de fazer o efeito que deveria, só gera a transformação de um preconceito flagrante em um preconceito sutil. Hoje as pessoas não agridem mais com “seu lugar é no tanque”, qualquer coisa assim, mas as pessoas também não dão o lugar devido à mulher.

Você teve uma base muito favorável ao seu desenvolvimento… Como é para você perceber hoje que a gente vive em uma sociedade tão desestruturada, com tantas pessoas que ainda não conseguiram alcançar um lugar de conforto, de fato?

Isso foi uma coisa que meus pais trabalharam muito comigo e com os meus (quatro) irmãos. Apesar de eu ter sido filha de médico, numa cidade pequena, que, naquela época, significava um status muito grande, a minha mãe sempre me levou para os bairros, por exemplo, para limpar a casa dos idosos. Muitas vezes eu fui nos presídios com minha mãe. Sempre fui criada tendo muita consciência do privilégio que eu tinha em ter todo o conforto de que desfrutava. Ela sempre se importou, desde que eu era criança, com essas questões na minha educação. Por isso, fui criada nos bairros, fazendo trabalho social. E isto me levou a criar meus filhos assim. Depois que eu saí da Assembleia eu fui para Anápolis e integrei um projeto de lá chamado Missão Vida, que cuida de moradoradores de rua. Eu criei meus filhos nesse projeto, sempre tendo a consciência de que eles têm uma vida privilegiada, mas que existem pessoas numa vida muito ruim. Para mim, isso é o que existe de pior no Brasil, essa desumanidade da gente aceitar com tanta passividade a desigualdade. A gente é tão cauterizado para isso! Por exemplo: a gente vê um menino de rua e o chama de pivete, mas trata-se de uma criança. Uma criança! Tem inclusive um capítulo no livro que eu escrevi em que eu falo sobre isso, a teoria da crença ao mundo justo.

[Lila publicou o livro 'Psicologia aplicada ao direito' e  coordenou a publicação do livro "Contribuições da Psicologia Social ao Direito", coletânea composta por textos de cinco universidades francesas e duas brasileiras].

Você percebe que existe um legado deixado pela participação feminina no Parlamento Goiano? Qual importância você credita a essa questão?

Existe, claro. Eu acho que hoje as mulheres têm mais condição de participar da política e acho também que elas têm que buscar entrar de forma mais consciente. Eu fui pega de surpresa por uma coisa que não estava em meus planos. E para mim foi muito dramático. Mas eu acho que o único jeito da gente mudar a situação atual é realmente através de mulheres que tenham coragem e persistência de entrar na política e enfrentar o jogo. Até porque temos, enquanto mulheres, na maioria das vezes, olhares distintos aos dos homens sobre a sociedade. Os homens, de forma geral, se interessam mais pelo orçamento, pelas questões administrativas, como se o dinheiro pelo dinheiro fosse alguma coisa em si. E eu acho que as mulheres pensam mais no uso desse dinheiro em benefício da nação. Eu acho que isso está faltando muito, essa sensibilidade, que não é naturalmente feminina, mas que socialmente a gente adquire, até porque a vida da mulher é muito mais dura do que a do homem. E é por isso que eu acho que a nossa sociedade precisa incentivar as mulheres a serem realmente protagonistas de sua própria trajetória. Nada contra aquelas que herdam sua carreira de um pai, de um marido. Mas o problema é que isso faz com a gente tenha um compromisso com eles, como eu tive um compromisso com a minha mãe. O que acaba não te liberando para ter aquela força realmente diferenciada, como geralmente acontece quando uma mulher faz a sua carreira de forma autônoma. Mas, pelo exemplo da minha mãe eu tenho orgulho de falar. Uma mulher precisa trabalhar 20 anos para conseguir ser eleita como ela. Sem dinheiro. E a gente sabe que o valor financeiro pesa ainda hoje. Talvez aí esteja a principal dificuldade da mulher chegar à política ou de só chegar quando um homem a banca. Isso é muito triste.

 

 

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