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2ª Edição "Mulheres no Legislativo"

29 de Abril de 2019 às 09:00
Crédito: Foto Y. Maeda
2ª Edição "Mulheres no Legislativo"
Projeto Mulheres no Legislativo
Betinha Tejota, deputada integrante da 16ª Legislatura, é a 2ª entrevistada do programa "Mulheres no Legislativo". Autora da lei que ampliou a licença-maternidade para servidoras estaduais, ela discorre sobre sua trajetória política.

“Que coisa horrorosa, não tem nenhuma mulher! Olha quantos homens! Está faltando uma mulher aí”, disse a personagem deste texto ao se deparar com o cenário onde seria gravada a entrevista. Um lugar não estranho para quem já trabalhou no Legislativo goiano ou mesmo para quem visita o Salão Nobre da referida Casa de Leis.

O painel de presidentes da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) tem cravado, em retratos em bico de pena do artista plástico goiano Amaury Menezes, 47 homens, revelando a face patriarcal de um poder que segue sua linha cronológica com pouca representatividade feminina. Nenhuma mulher ocupou, até o presente momento, a cadeira da presidência da Alego.

A autora da frase, entrevistada desta segunda edição do programa “Mulheres no Legislativo”, é Adalberta da Rocha dos Santos Pereira Neto, mais conhecida como Betinha Tejota. Ela nasceu em 1963, na cidade de Crixás, região Norte do Estado de Goiás, ali tendo permanecido “até quando cursava a 7° série”, antes de migrar para Goiânia.

Filha de uma família numerosa, com 13 irmãos, ela herdou de sua mãe o amor pela literatura e hoje escreve “poemas curtos e simples sobre o amor”. Betinha ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa de Goiás pelo PSB, entre os anos de 2007 e 2011 (16ª Legislatura).

Sobrevivente, Betinha traz no seu corpo as marcas de quem superou, em 2014, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quase fatal, que não conseguiu tirar a sua vontade e o seu vigor pela vida. Hoje, com algumas sequelas do AVC, ela tenta preservar a independência, que lhe parece ser uma de suas marcantes características. Dispensando a nossa ajuda, ela se locomove sozinha por toda a sala, onde estamos reunidas. Uma autonomia que se revela, portanto, mesmo nos pequenos gestos.

Vemos, então, diante de nós, a imagem de uma mulher enérgica. Aquela mesma que, outrora, não fugia de nenhum debate, percorrendo, semanalmente, e com inabalável disposição, os diversos cantos do Estado. Em seus olhos, pode-se encontrar a defesa constante de seus ideais. Ela, que um dia lutou contra o machismo, o assédio, a desmoralização na tribuna da Assembleia Legislativa, faz hoje das redes sociais o palco de seus embates por maior valorização da mulher, sendo uma militante ativa em prol da redução dos altos índices de casos de feminicídios hoje registrados em Goiás.

Sua trajetória política tem início junto ao Diretório Central do Estudantes (DCE) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC/GO). Época em que era, segundo ela mesma afirma, “metida a marxista”.

Mas Betinha, em verdade, sempre esteve cercada pela política. Ainda que nem sempre tivesse tido nela o papel principal. É que seu irmão Alfredo Bambu (PRP) já havia disputado eleições. Ela também foi casada com o ex-deputado estadual Sebastião Tejota.

Ao tomar para si o protagonismo no campo político, Betinha brigou pela ampliação da licença-maternidade (de quatro para seis meses), benefício este que foi então concedido às funcionárias estaduais. E, tendo sido relatora do Plano Plurianual (PPA), lutou igualmente pela priorização das obras inacabadas do Estado.

Além dessas conquistas, de que fala com muito orgulho, Betinha também afirma ter sido uma ávida defensora da modernização do interior de Goiás, região pela qual ela diz ser apaixonada.

E, se tem uma coisa que Betinha sustentou com afinco foi o espírito combativo. Brigar, aliás, foi uma ação levada a cabo em seus quatro anos de mandato na Alego. Postura que ela assumia “por questão de sobrevivência”, afirma.

Hoje, divorciada, Betinha acompanha, com orgulho reafirmado, o trabalho de seu filho, Lincoln Tejota (Pros), e de sua nora, Priscilla Tejota, os quais perpetuam, agora, parte do seu legado político. Ele, enquanto atual vice-governador do Estado, e ela como vereadora na Câmara Municipal de Goiânia.

Mãe de outros dois filhos, Flávia e Yuri,  Betinha contou, em entrevista à Agência de Notícias as dificuldades e as vitórias de quem liderou e representou, por uma vez, o povo goiano no Poder Legislativo.

Betinha, para começar nossa entrevista, eu queria saber um pouco sobre o momento em que você resolve seguir carreira política. Quando surgiu, em você, a vontade de liderar?

Eu não tinha a pretensão de ser deputada, mas os prefeitos das nossas bases pediam para que eu me candidatasse. Sempre falavam assim: ‘Betinha você precisa ser candidata’. Então, quando meu ex-marido foi para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) eu aceitei o desafio.

Mas e antes de se candidatar a deputada você participou de algum movimento político?

Quando eu fazia pedagogia, na PUC/GO. Eu era metida a ser marxista (risos), fazia parte do DCE de lá. Naquela época meu ídolo foi o Che Guevara, mas hoje eu sei que ele era um sanguinário.

Fazer campanha para deputada foi desafiador?

Foi facílima. Maravilhosa. Eu adorava viajar para fazer campanha, mas foi muito cansativa.

E o que você destaca no processo?

Olha, eu tive 23.260 votos, quase 9 mil só em Goiânia. Não encontrei dificuldades porque os prefeitos queriam que eu fosse candidata e eu sempre fui muito apaixonada pelo interior do Estado. Eu viajava cinco dias por semana na época da campanha, o ritmo era tão frenético que eu cheguei, certa vez, a subir no palanque com os sapatos trocados: fui com o pé de um e o outro pé, de outro (risos). Só percebi depois, na volta, já dentro do carro.

Então era um trabalho que exigia muito do seu tempo. Você teve apoio da sua família?

Eu sempre tive muito apoio da minha família na vida pública. A princípio do meu ex-marido e, depois, principalmente do meu filho Lincoln e da minha nora Priscilla.

E aqui na Assembleia, você teve apoio? Qual foi o maior desafio?

Não tinha muito apoio. Existia muito machismo, muita piadinha machista. Eu era muito reservada e nunca aceitei ser desrespeitada. Mas existia muita gente que olhava para nós (deputadas) com olhar de desprezo, duvidando da nossa capacidade, por sermos mulheres. A Assembleia é muito machista. Até por conta disso eu adotei uma postura mais incisiva e brava.

Você sente que esse tratamento de desprezo dado às mulheres era uma tentativa de intimidação?

Sim, era um jeito de tentar nos calar, menosprezando nossas demandas. Por sermos mulheres existia, de certa forma, essa questão de assédio moral. A Assembleia é muito machista até hoje. Olha a quantidade de homens! Isso é uma barreira.

Na Legislatura em que você foi deputada, foi a que mais houve representatividade feminina: sete deputadas, no total. Você, inclusive, brinca, chamando o período de “A Casa das Sete Mulheres”, em alusão a uma minissérie televisiva da época. Como foi compartilhar a Legislatura com outras seis mulheres?

Nós éramos sete mulheres aguerridas na Assembleia Legislativa. Nós fizemos um pacto de que mesmo em disputas políticas nós ficaríamos unidas, não arranjaríamos disputas entre nós. Nós éramos fortes, unidas e feministas, nada nos separava. Percebemos que tínhamos mais força unidas do que separadas. Havia também uma afinidade para além do Plenário.

Betinha, ainda falando sobre participação feminina, foi você quem fez a articulação política para a ampliação da licença- maternidade às funcionárias estaduais, que foi aumentada de quatro para seis meses naquela época. Como foi aprovar esse projeto? Você enfrentou dificuldades?

Pra mim, esse projeto foi o mais importante do tempo em que estive aqui. Muita gente não acreditava que eu conseguiria aprovar. Por isso isso eu tenho muito a agradecer ao doutor Alcides Rodrigues (ex-governador pelo PP; hoje do Patri), que acreditou e sancionou o projeto, depois de muita insistência minha. Eu pedia muito: "Dr Alcides o senhor precisa aprovar essa licença maternidade para mim". Até que, um dia, ele cedeu. Mesmo sendo desencorajada, eu não desisti da articulação e conseguimos aprovar a (ampliação) da licença- maternidade.

Há algum outro projeto que você considere um importante legado da sua atuação?

Sim. Quando fui relatora do PPA eu briguei para que as obras inacabadas no Estado fossem priorizadas. A aprovação desse também foi difícil de articular, muita gente não acreditava e eu lutei para isso.

Você disse que não quer voltar a se candidatar, mas, se a senhora voltasse ao Parlamento hoje, você faria algo diferente?

Eu seria mais feminista e ainda mais incisiva nas minhas demandas. Pediria cota de 50% para atuação feminina na Alego, pois acho que 30% (para candidaturas apenas) não é o certo, visto que nós, mulheres, somos mais de 50% da população. O justo, portanto, é sermos metade/metade no Parlamento.

Interessante a senhora tocar nesse ponto das cotas, porque hoje vemos que as cotas são de 30% apenas nas candidaturas. Mas, na hora do pleito, elas não se convertem em votos efetivos para as candidatas. Qual a sua opinião sobre isso?

As mulheres perdem muito na eleição, porque muitas de suas campanhas são hoje feitas apenas nas redes sociais. Campanha tem que ser feita de casa em casa, no corpo-a-corpo. Sem falar também que as mulheres não votam em mulheres por falta de certa maturidade política, digamos.

O que a senhora considera ser, neste sentido, o maior desafio para a mulher na vida política?

A questão salarial/financeira. Entre deputados e deputadas o salário é igual, mas em outras esferas isso não acontece. A disparidade salarial é algo muito grande e isso interfere na política.

É sabido que existe uma representatividade pequena da mulher na política. Qual a sua opinião sobre isso?

Acho que há uma certa falta de maturidade política de quem se candidata, seja pela falta de persistência ou pela forma ainda pouco eficaz de se fazer campanha. Também, por outro lado, existe a questão do preconceito, do machismo, que são culturais em nossa sociedade. As mulheres, neste sentido, ainda contam com pouco apoio político e financeiro.


Você poderia declamar um dos seus poemas, para deixar uma mensagem?

“Devemos criar coragem, mesmo, com aqueles que amamos

Uma verdade sem nenhuma relação com seus propósitos

Essa é a minha verdade

e teria que ser a sua autocrítica

Essa é a nossa verdade arrebatadora”

O projeto Mulheres no Legislativo é uma produção da TV Assembleia em parceria com a Agência Assembleia de Notícias, e compõe a série "Mulheres no Legislativo", que foi criada para homenagear as célebres trajetórias de todas as mulheres que cumpriram mandatos nesta Casa de Leis. Lançada neste 12 de abril, o programa reflete nova produção da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Além dos dois setores citados, a iniciativa conta também com a parceria das Seções de Assessoramento Temático e de Publicidade, Imagem e Identidade Corporativa deste Poder. Ação que reforça, portanto, o caráter integrado de todo o projeto, uma marca forte nos trabalhos da Alego. A entrevista com a deputada Betinha Tejota foi gravada, na Assembleia Legislativa, no dia 28 de março, pela repórter Luciana Martins (TV Alego) e Jéssica Cardoso (Agência Assembleia de Notícias). 

Esta entrevista está na grade da TV Alego, no canal aberto (61,2), na Net (8) e no Youtube.




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