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Literatura Infantil

18 de Abril de 2023 às 10:00
Literatura Infantil
A data homenageia também Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil no Brasil, que dedicou sua vida à escrita de histórias que encantaram e educaram gerações de crianças brasileiras.

No dia 18 de abril de 1882, nascia, na cidade de Taubaté, em São Paulo, o escritor José Bento Monteiro Lobato. Formado em direito e promotor concursado, foi na literatura, especialmente a infantil, que ele surgiu para o Brasil e para o mundo. Por causa da sua importância nesse cenário, ele é considerado o pai da literatura infantil brasileira. Em 2002, por força de uma lei federal, o 18 de abril se tornou o Dia Nacional do Livro Infantil.

Apesar de Lobato ser considerado o primeiro autor brasileiro de livros voltados para as crianças, estudiosos do tema apontam que a preocupação em ter uma produção literária direcionada a esse público é anterior.

Ainda no Século XIX, o educador Carlos Jansen dedicou-se a traduzir e adaptar clássicos europeus para o público brasileiro. Em 1894, o jornalista e poeta Figueiredo Pimentel lançou a coletânea “Os Contos da Carochinha”, que reunia histórias de Charles Perrault, irmãos Grimm e Hans C. Andersen.

No início do Século XX, autores brasileiros começam a dedicar obras a esse público. À época, a preocupação era fazer uma literatura voltada para questões nacionais com fins educativos. Em 1904, Olavo Bilac, que era um dos defensores dessa ideologia, publicou o livro “Poesias Infantis”.

Foi somente em 1921 que Monteiro Lobato publicou suas primeiras obras dedicadas ao público infantil. "Narizinho Arrebitado" foi a primeira. Em seguida, publicou “Saci” (1921) e, no ano seguinte, “O Marquês de Rabicó”.

A partir da década seguinte, o número de escritores que se voltaram para o universo infantil se multiplicou. Nomes como Cecília Meirelles, Mário Quintana, Ana Maria Machado, Vinícius de Morais, Ziraldo e Maurício de Sousa são alguns, entre milhares de outros autores brasileiros, que se aventuraram no maravilhoso mundo da literatura infantil.

Dos primeiros livros escritos no início do século passado até os dias de hoje, ocorreram muitas transformações que influenciaram toda cadeia que envolve a produção e o consumo de literatura infantil.

Mas um livro só tem razão de ser se houver leitores para ele. E, infelizmente, no Brasil, os autores não são muito prestigiados. A pesquisa Retratos da Leitura, do Instituto Pró-Livro, divulgada em 2018, mostrou que os brasileiros leem pouco. Os números apontaram que 44% da população não pratica o hábito da leitura e 30% nunca comprou um livro. Além disso, a média de obras lidas por pessoa ao ano é de 4.96. Desse total, 2.43 foram terminados e 2.53 lidos em partes. A título de comparação, os franceses leem 21 livros por ano, cinco vezes mais do que os brasileiros.

Para a pedagoga e professora da educação infantil, Patrícia Sousa, o hábito dos adultos, especialmente dos pais, influencia as crianças. “Se os pais não têm o hábito de ler, fatalmente os filhos não vão despertar  para a leitura. As crianças aprendem mais olhando o que fazemos do que escutando o que falamos”, explica.

E isso tem reflexos não apenas no aspecto educacional, mas em vários outros da vida da criança. Quando o estímulo à leitura começa nos primeiros anos de vida, antes mesmo da alfabetização, os resultados são mais surpreendentes.

Um estudo da Universidade de Nova York mostrou um aumento de 14% no vocabulário e de 27% na memória de trabalho de crianças cujos pais leem para elas, pelo menos dois livros por semana.

A mesma pesquisa apontou que a leitura frequente dos pais para as crianças leva a uma maior estimulação fonológica, o que contribui para a alfabetização, à maior estimulação cognitiva em casa e a um aumento de 25% de crianças sem problemas de comportamento.

A escritora Irene Costa, que já publicou três livros voltados para o público infantil, concorda que não há dúvidas de que a influência dos adultos próximos e a ausência de estímulos estão diretamente relacionados ao hábito de leitura das crianças ou à falta dele, mas ela vai além:  “Vejo o futuro das crianças com os livros de modo sombrio. As escolas não investem, os pais não se importam e a tecnologia avança vertiginosamente, para desespero da boa educação e cultura. Aliado a isso tudo, vem o alto preço cobrado pelos livros, que só uma parcela mínima da sociedade vence”, analisa.

Irene, que sempre foi uma leitora voraz, sabe bem da importância dos livros na formação integral da pessoa. Segundo ela, são incontáveis os benefícios da leitura para os pequenos. A escritora acredita mesmo que o livro tem "poderes" capazes de alargar os horizontes de uma criança. Além disso, aguça a imaginação, amplia a visão de mundo e multiplica o vocabulário. Ela ainda cita que os livros oferecem instrumentos de argumentação e controle ímpares aos leitores.

Irene Costa ainda faz questão de sublinhar que a leitura vai ter bons reflexos no presente e no futuro “Uma criança que não pode viajar, porém mantém o hábito da leitura, vai armazenar mais experiências com pessoas e lugares do que aquela que viaja, mas não lê frequentemente. Uma criança que pratica a leitura sabe conversar melhor com qualquer pessoa, de qualquer idade. A leitura desperta na criança o saber filosófico. Ela tanto faz, quanto responde perguntas, com maior e mais aguçada sabedoria do que outras que simplesmente deixam a vida acontecer sem a companhia constante de bons livros. A longo prazo, no futuro, oportunidades melhores aguardam quem lê bons livros, no presente, com diligência e persistência. Qualquer pessoa pode ter ideias brilhantes. Contudo, só quem leu muito na vida conseguirá colocar tais ideias em palavras”, empolga-se  a escritora.

Apesar de pouco otimista em relação ao futuro quanto a uma melhoria na formação de leitores, a escritora acredita que é possível mudar o cenário e criar um ambiente mais favorável à disseminação de uma cultura da leitura. Mas é necessário um grande esforço de todos os envolvidos. Para ela, os governos poderiam ter projetos de incentivo e motivação à leitura, a partir da escola.

Ela sugere ainda que, mesmo sem um plano oficial do governo, as escolas, isoladamente, possam desenvolver iniciativas para promover a leitura com as crianças. "Vejo que as escolas poderão fazer muito -se quiserem - emprestando livros aos alunos, por exemplo, e oferecendo estímulo e incentivo à leitura".

E, caso as escolas não desenvolvam ações nesse sentido, mesmo os professores podem ter alguma atividade nas suas salas para incentivar esse hábito, como separar um tempo para leituras, pelos alunos ou por ele mesmo, seguida de uma pequena interpretação e avaliação do que foi lido.

E claro, as famílias também precisam assumir seu papel nesse cenário. Segundo Irene Costa, há muitas iniciativas que os adultos podem ter para ajudar as crianças a aproximarem e tomarem gosto pelos livros. Para a escritora, o envolvimento dos familiares é fundamental: “um pai, uma mãe ou uma avó, por exemplo, poderá dedicar um minúsculo tempo do seu dia para ler para e com a criança”, opina.

Além disso, ensina Costa, a família pode reunir outras crianças para esse momento da leitura, como primos e amigos, por exemplo. Outra sugestão seria a criação de uma espécie de "clube do livro", com estímulos do modelo "todos vão ler o mesmo livro e depois se reunir para discuti-lo", ou cada um lê o seu e, em tempo "X", expõe o que assimilou. “Na escola, algo parecido seria altamente estimulante. Por exemplo, a escola possuir seu próprio "clube do livro". Cada criança levar um livro para casa, semanalmente, e ao devolvê-lo, trazer uma resenha dele, para ser avaliada e exposta, com direito a premiações”, sugere.

Irene Costa aborda ainda uma outra questão, que, segundo ela, tem prejudicado ainda mais o acesso da meninada ao mundo da leitura: o tempo que as crianças têm passado na internet, especialmente nas redes sociais.

Para a escritora, a rede mundial de computadores só tem atrapalhado os pequenos nesse quesito. “É preciso diminuir drasticamente o acesso das crianças às redes sociais. Abortar o uso do celular e substituí-lo pela leitura comprometida e perseverante de bons livros. Se algo drástico não for feito imediatamente, para combater o uso indiscriminado das redes entre as crianças e adolescentes, onde vão parar nossos líderes do futuro?  Impossível responder com precisão”, alerta.

Por fim, a escritora acredita numa outra força importante para mudar esse cenário: as pessoas que mesmo que não tenham filhos ou outras crianças à sua volta, mas que acreditam no poder dos livros, ela já está fazendo a sua parte. “Eu tenho um projeto no forno, para desenvolver com escolas, em sala de aula. Formatei um plano-piloto e já tenho uma escola disposta a ser a pioneira. Acredito nele. Penso eu que não podemos só olhar para o caos em redor e cruzar os braços, desanimados. Quem tem como despertar quem está dormindo, deve fazê-lo. Eu estou tentando descobrir como ajudar, efetivamente, a acordar os leitores neste país”, revela a escritora.

Agência Assembleia de Notícias
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