Sessão de cineclube com filmes de temática queer e apresentação de beatbox movimentam público na Assembleia Legislativa
Dois eventos culturais marcaram a noite de sexta-feira, 26, na sede da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). Realizados nos auditórios 1 e 2 do Palácio Maguito Vilela, os eventos integraram o rol de realizações da Assessoria Adjunta de Atividades Culturais da Casa de Leis.
O Cineclube Laranjeiras, que existe há 16 anos, promoveu sessão de filmes e debate com temática queer. O cineclube é uma iniciativa dos estudantes da disciplina História do Cinema II, sob a orientação do professor Sandro de Oliveira, no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Câmpus Goiânia-Laranjeiras.
“A gente faz com esse projeto uma tentativa de estabelecer um diálogo com a comunidade. O cinema é um suporte capaz de promover esse diálogo, importante com o acirramento político de hoje”, contextualizou o professor para a Agência Alego de Notícias. “Eu sentia necessidade de conversar com outros pares e agentes sociais, com pessoas que trafegam por um questionamento de novas maneiras de se enxergar”, explicou a respeito da decisão de abordar, nesta sessão, o cinema queer.
Foram exibidos três curtas-metragens: "Os sapatos de Aristeu", de René Guerra; "Bailão", de Marcelo Caetano; e "Eu não quero voltar sozinho", de Daniel Ribeiro.
Compuseram a mesa inicialmente, além de Sandro, o professor doutor de História da Arte e Imagem, Samuel José Gilbert, e o vereador de Goiânia Fabrício Rosa (PT). Rosa propôs tornar a mesa mais plural, convidando as travestis Cristiany Beatriz, integrante da ONG UniTransGoiás, a Associação Goiana de Pessoas Trans, e Rachel Eshilley, estudante do curso de cinema da UEG.
Gilbert fez uma síntese da evolução do cinema queer e ressaltou que ele é cada vez mais múltiplo. “Hoje o cinema queer tem um escopo bem mais amplo”, disse, explicando perdurar uma linha mais estereotipada desses filmes, mas ganhar força outra linha, que problematiza o tema de forma mais sutil.
Fabrício Rosa afirmou, sobre os curtas exibidos, que “os três emocionam, porque conseguem tocar em temas sensíveis da alma humana”.
Os convidados destacaram, sobretudo, "Os sapatos de Aristeu", que trata de uma travesti morta cuja família decide enterrar como homem. Uma procissão de travestis então se encaminha para o velório para se despedir.
Cristiany Beatriz e Fabrício Rosa lembraram terem vivenciados a situação descrita no curta. Beatriz lembrou da cena em que a família corta o cabelo da travesti falecida. “Já vivenciei isso do [corte de] cabelo para não envergonhar a família. Para a feminilidade de nós, mulheres travestis, o cabelo tem um significado muito grande. Esse corte do cabelo é como cortar a minha vivência.”
Rachel Eshilley lembrou que inúmeras travestis passam por essa experiência de terem “o corpo violado”, até mesmo em situações como a do filme, “para que sejam como nasceram, como os outros querem”.
Beatbox
Além da sessão de cinema, o Palácio Maguito Vilela também foi palco de um pocket show de beatbox com o artista goiano Penido. O beatbox consiste na arte de fazer som de baterias, percussão, sintetizadores e graves com a boca.
No show, o jovem artista Penido, de apenas 18 anos, apresentou uma sequência de covers de músicas conhecidas no formato beatbox.
Para a gestora cultural da Alego, professora Ana Rita, a diversidade de manifestações culturais apresentadas é uma marca da política cultural implementada pelo Legislativo goiano. “A Casa tem se tornado um espaço cada vez mais acessível às pessoas que vêm acompanhar as atividades legislativas, mas também acompanhar a arte e a cultura produzidas em Goiás. É a Casa do Povo sendo ocupada pelo povo”.
Penido conheceu a comunidade beatbox assistindo a vídeos na internet, há quatro anos. Apaixonou-se pela arte e logo descobriu que tinha talento para fazer o som. Não demorou e começou a participar de batalhas pela internet.
Em 2022, participou do primeiro evento presencial, o campeonato nacional da categoria, realizado em São Paulo, quando ficou no top 8 da competição.
Mas a surpresa maior viria no ano seguinte, quando ele levou o primeiro lugar no campeonato brasileiro. “O que foi destaque e chamou a atenção foi a minha grande presença de palco e o som alto e potente que eu consigo fazer.”
A vitória na competição garantiu também a classificação para o campeonato internacional, que vai acontecer ainda este ano, mas ainda não tem data marcada.
Além das apresentações, Penido trabalha pela divulgação da cultura beatbox, criando conteúdo para as redes sociais. “Além disso, eu também tenho o sonho de ter uma casa de shows voltado para o beatbox.”
Agência Assembleia de Notícias