Mais visibilidade à doença

Enfermidade afeta milhões de pessoas, principalmente nas Américas. A data busca aumentar a conscientização sobre essa patologia silenciosa, para promover o acesso ao tratamento e fortalecer a prevenção.
Por causa da data, o deputado José Machado (PSDB) promoveu, na manhã desta segunda-feira, 14, sessão solene para homenagear os profissionais que atuam no enfrentamento da doença em Goiás. “É um gesto de reconhecimento e gratidão por sua dedicação e empenho na luta contra essa doença silenciosa, que afeta milhares de famílias em nosso estado”, afirma. O parlamentar é autor da lei nº 23.031, de 2024, que institui o Dia Estadual de Conscientização e Enfrentamento da Doença de Chagas.
A Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e historicamente associada à transmissão pelo inseto barbeiro, apresenta um cenário epidemiológico em transformação no Brasil. Segundo o cardiologista Marcellus Sousa Arantes, a incidência da doença transmitida pelo vetor tem demonstrado uma significativa redução no Brasil ao longo das últimas décadas.
Segundo ele, foram cruciais para esse declínio as melhorias nas condições de saneamento, o controle vetorial com inseticidas e os novos padrões das habitações rurais, com a substituição de casas de barro e madeira, que são ambientes propícios à proliferação do barbeiro.
Apesar da queda na transmissão vetorial, o médico adverte para o aumento de outras formas de contaminação. A transmissão oral, através da ingestão de alimentos contaminados com fezes ou restos do barbeiro tem ganhado destaque, principalmente na região amazônica, devido ao consumo de frutas silvestres mal higienizadas, como o açaí.
Segundo o cardiologista, outras vias de transmissão, embora menos frequentes, também merecem atenção, como a transmissão congênita (da mãe para o feto durante a gravidez) e acidentes laboratoriais. Ele ressalta que a transmissão congênita é particularmente preocupante, pois muitas gestantes portadoras crônicas da doença são assintomáticas e desconhecem sua condição, podendo transmitir o parasita para o bebê.
Historicamente, os maiores focos da doença de Chagas transmitida pelo barbeiro concentravam-se em regiões como o norte de Goiás, o oeste e sudoeste da Bahia e o norte de Minas Gerais. Essas áreas, com características rurais e precariedade habitacional, ofereciam o ambiente ideal para o ciclo de vida do inseto vetor.
Parasita
A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e transmitida principalmente por insetos vetores conhecidos popularmente como barbeiros. A transmissão também pode ocorrer por transfusão de sangue contaminado, transmissão congênita (da mãe para o bebê durante a gravidez), transplante de órgãos e, menos frequentemente, por via oral através da ingestão de alimentos contaminados.
Muitas pessoas infectadas pela patologia permanecem assintomáticas por anos, ou apresentam sintomas leves e inespecíficos na fase aguda, como febre, mal-estar e inchaço no local da picada. Essa característica "silenciosa" dificulta o diagnóstico precoce, permitindo que a doença progrida para a fase crônica, quando podem surgir complicações graves, principalmente no coração (cardiomiopatia chagásica) e no sistema digestivo (megaesôfago e megacólon).
Desafios
Apesar de ser uma enfermidade descoberta há mais de um século pelo médico brasileiro Carlos Chagas, o enfrentamento à doença ainda enfrenta diversos desafios. O acesso ao diagnóstico e tratamento, especialmente em áreas remotas e com populações vulneráveis, ainda é limitado. A falta de informação e o estigma associado à doença também dificultam a busca por cuidados e o apoio aos pacientes.
No entanto, importantes avanços têm sido conquistados nos últimos anos no Brasil. A intensificação de programas de controle vetorial, a melhoria dos métodos de diagnóstico e o desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento da doença representam passos significativos na luta contra a Chagas. A criação do Dia Mundial da Doença de Chagas é um marco importante para dar visibilidade à causa e mobilizar esforços em nível global.
Em Goiânia, assim como em todo o Brasil e em outros países endêmicos, o Dia Mundial da Doença de Chagas é uma oportunidade para lembrar que a luta contra essa enfermidade é contínua e exige o engajamento de todos. A informação, a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são as armas mais importantes para proteger a saúde de milhões de pessoas.
Lei
José Machado é autor da Lei Estadual nº 23.031 (originalmente projeto de lei nº 1812/23), que cria o Dia da Conscientização e Enfrentamento à Doença de Chagas, a ser comemorado anualmente em 14 de abril. A data também fica incluída no Calendário Cívico, Cultural e Turístico do Estado de Goiás.
São finalidades especificadas na nova legislação: promover a divulgação de informações cientificamente embasadas sobre as medidas de prevenção e controle do vetor transmissor da doença, bem como estimular a pesquisa científica e a produção de conhecimento no campo da doença de Chagas.
O artigo 2º determina que o dia estadual, instituído pela lei, tem por objetivos conscientizar a população sobre os riscos, sintomas e formas de transmissão da doença de Chagas e estimular a realização de campanhas educativas, palestras, seminários e outras atividades que tenham por objetivo a conscientização e o enfrentamento da enfermidade.
Entre os objetivos está também o de estimular a realização do diagnóstico precoce, assim como do tratamento adequado e acompanhamento médico da doença e promover a celebração de parcerias ou convênios junto a instituições de ensino e entidades médicas.