O vergonhoso Santa Genoveva
* Samuel Belchior é deputado estadual pelo PMDB (deputadosamuelbelchior@gmail.com)
Não é novidade para ninguém, e eu nem serei o primeiro a dizer, o quanto dá orgulho viver em Goiânia. Uma cidade conhecida internacionalmente por seus parques, pela beleza exuberante e pelo abundante verde que colore as nossas paisagens urbanas. Morar aqui é ótimo, assim como é (ao menos dizem) visitar, conhecer essa metrópole e interagir com seu povo, marcado pela hospitalidade. Como ficou claro, cartões de visita da mais alta qualidade não faltam para esse período do ano marcado pelo aumento absoluto no número de viagens.
Contudo, ao mesmo tempo que temos essas belezas inquestionáveis, temos também um velho problema: nosso lastimável Santa Genoveva, sobre o qual, entre outros motivos, escrevo por ser bisneto do progressista Altamiro Moura Pacheco, o homem que doou as terras para a construção do aeroporto com a expressa condição de que ele precisaria se tornar internacional em 20 anos. Isso não aconteceu e não podemos continuar sentados esperando alguma coisa acontecer.
Com a mesma capacidade de passageiros contabilizada há dez anos (600 mil por ano) e movimento real de 1,5 milhões de passageiros anuais (dados de 2008), o ultrapassado Santa Genoveva é inferior, em tamanho e infraestrutura, aos aeroportos de muitas cidades brasileiras menores, inclusive algumas não capitais. Esse atraso que nos leva a perdas lamentáveis. Em 2009, por exemplo, deixamos de ser uma das sedes para a Copa do Mundo de 2014, uma decisão da Fifa onde, entre outros fatores, a falta de qualidade do nosso aeroporto foi levada em conta. Isso passou e precisamos aprender com os erros. Mas isso não acontece. Por exemplo, para piorar, no dia 5 de outubro houve um preocupante desabamento em parte do teto de gesso do terminal.
Por sorte ninguém ficou ferido, mas a construção datada da década de 1960 ainda oferece perigo à população goianiense, assim como aos turistas e empresários que usualmente abarrotam o Santa Genoveva nessa movimentada e lucrativa época do ano que está só começando, as férias. Isso sem contar o Natal e ano novo É triste ver gente em pé por todo terminal, sentada no chão, sem tomadas suficientes para ligar seus laptops. Dá vontade de dizer a todos: “Gente, essa não é a Goiânia de verdade. Goiânia é muito melhor que isso”. Mas, infelizmente, dizem que a primeira impressão é a que fica. E nossa primeira impressão de quem chega pelo aeroporto é a pior possível. E o que mais indigna é que tudo isso acontece enquanto o nosso aeroporto se vê numa reforma iniciada em 2005 e vergonhosamente paralisada desde 2007, após a constatação, por parte do Tribunal de Contas da União (TCU), de que as duas empresas vencedoras das licitações abertas pela Infraero não estavam executando o projeto estipulado no planejamento da obra.
Entre as irregularidades encontradas pelo TCU, o orçamento proposto, considerado abusivo, excedia em R$73 milhões os R$287 milhões do contrato assinado pelas empreiteiras Odebrecht e Via Engenharia. E hoje, após a conclusão de 34% do serviço total, as obras continuam suspensas. Junto as soluções propostas com o objetivo de resolver a situação, a Infraero declarou o início de obras provisórias, marcadas para o mês passado – o que também não foi a frente. Não existem dúvidas de que o caso é escandaloso e pede resoluções, mas enquanto as empresas brigam com o Tribunal de Contas, somos nós, os goianos, que “pagamos o pato”. Ou quem tem que descer do avião debaixo de chuva e chega todo molhado ao terminal para pegar sua bagagem.
É triste perceber que nenhuma definição surge na burocracia dentro da qual as instituições envolvidas estão imersas. No meio disso, o discurso oficial prega para 2011 (a data já foi 2010) a retomada de um serviço com fim inicialmente agendado para o ano passado. Agora, se não brotar nenhum imprevisto, o aeroporto só ficará pronto em 2012, podendo extrapolar em quatro anos a primeira previsão. Enquanto isso, a grande parcela que aproveita as férias para viajar não consegue ter certeza de quando terá a disposição um Santa Genoveva digno das tantas outras qualidades existentes em Goiânia.
Nesse contexto recheado de embaraços, que já se mostrou capaz de espantar benefícios e assustar os goianienses, me proponho, como deputado estadual, a acompanhar de perto e com proatividade o andamento deste processo que precisa deixar para trás o vergonhoso Santa Genoveva. No lugar deste aeroporto, todos queremos um digno de nossa cidade. Por que não fazer dessa uma prioridade para Goiânia no novo ano?