Deputados opinam sobre torcida única nos jogos entre Goiás e Vila
O anúncio da Federação Goiana de Futebol (FGF) de que os clássicos entre Goiás e Vila Nova no Campeonato Goiano deste ano permitirão a entrada de apenas uma torcida por partida, a do time mandante, desagradou torcedores de ambos os times — os maiores e mais importantes do Estado.
A decisão pela torcida única nos clássicos foi tomada pela FGF, com a concordância dos clubes por ela afetados, da Polícia Militar de Goiás (PM-GO) e da administração do Serra Dourada, para evitar episódios de violência dentro e nas imediações do estádio. As duas torcidas são antigas rivais e já protagonizaram diversos atos violentos, que variam de depredações e vandalismo a assaltos, espancamentos e até assassinatos.
A deputada Delegada Adriana Accorsi (PT), que preside a Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa, é favorável à torcida única nos clássicos goianos. “Apesar de dura, a medida é um mal necessário em razão do grau de violência, ao ponto em que a situação chegou. O futebol perde um pouco do seu brilho, mas a tentativa de diminuir os crimes relacionados às torcidas organizadas é mais importante”, declarou.
Na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, onde atuou por cerca de dez anos, a parlamentar diz ter investigado várias ocorrências graves envolvendo membros de torcidas organizadas, incluindo homicídios.
O deputado Major Araújo (PRP), reservista da PM-GO com mais de 20 anos de corporação, discorda da medida, que considera ilegal, porque acredita que ninguém deva ser privado de comparecer a qualquer evento de lazer que lhe agrade. “Se a pessoa entrar na Justiça acredito que possa facilmente conseguir o direito de assistir à partida, mesmo torcendo para o time rival”, refletiu.
O deputado pensa que outras abordagens poderiam obter melhor resultado, como o cadastramento biométrico de torcedores e a punição dos que se envolverem em brigas e agressões. “Temos que separar antes para punir depois e usar a tecnologia a nosso favor”, completou.
Na abertura do Goianão, no domingo passado, no jogo entre Vila Nova e Goiás, no Estádio Serra Dourada, só entraram os torcedores do Vila. A ausência dos torcedores alviverdes, contudo, não evitou a confusão, que dessa vez aconteceu entre membros da própria torcida vilanovense. A briga resultou em ação da PM e na detenção de 26 pessoas.
“Me diga do que adiantou a medida, se vimos no fim de semana uma só torcida brigando. Está mais do que provado que o problema está em algumas pessoas, que devem sim ser punidas, mas não nas torcidas em si”, disse o deputado Álvaro Guimarães (PR), que se declara radicalmente contra a decisão da FGF. “A proibição da entrada de uma torcida inteira não é nada inteligente e nada democrática: causa prejuízos para os clubes, para a Federação, para o estádio, para a imprensa, para o público... Enfim, para todo mundo.”
O deputado Mané de Oliveira (PSDB), cronista esportivo com décadas de atuação, assume ser contra a torcida única, porque também acredita que a medida não resolve o problema. “A festa ficou mais sem graça, a arrecadação foi prejudicada e as brigas no estádio não foram evitadas. Aconteceram dentro da própria torcida vilanovense. Vimos também brigas nos terminais de ônibus, onde elas geralmente ocorrem”, contou.
Para Mané, a questão não se resolverá com medidas paliativas, porque seu cerne estaria no uso de drogas. “A briga não é só no estádio. Acontece na rua o tempo todo por causa da droga. A violência entre torcidas só vai acabar quando a droga acabar.”
O parlamentar acredita que nem a punição dos torcedores flagrados cometendo crimes adiantará, porque a polícia prende mas solta no mesmo dia. "A violência ligada ao futebol, assim como as demais, tem seu sustento também nessa impunidade.”
Alternativas para o Legislativo
Na Inglaterra os torcedores fanáticos, chamados de hooligans, causaram no fim dos anos 1980 e início dos 1990 dezenas de mortes em brigas dentro e fora dos estádios ingleses. Para combatê-los, o país adotou medidas e leis que conseguiram, de maneira eficaz, diminuir a violência das torcidas.
Por lá a segurança nos estádios baseia-se no tripé tíquetes e cadeiras numeradas, monitoramento de imagens intensivo nos estádios e leis que tratam especificamente da violência relacionada ao futebol e da punição dos infratores.
Uma das leis, por exemplo, obriga clubes a pagar pelo policiamento no interior dos estádios. Outra proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, a entrada de pessoas embriagadas e até mesmo o transporte de álcool nos automóveis que levam torcedores.
Além disso, há lei que proíbe a entrada de torcedores com histórico de violência; que os obriga a comparecer a uma delegacia durante o tempo em que o jogo estiver sendo realizado; que criminaliza o arremesso de objetos ou invasões ao campo; que não permite cânticos e gritos racistas ou ofensivos; que obriga a emissão de ingressos nominais, entre outras restrições.