Nesse dia de luta, os muitos homens da Assembleia Legislativa (38 dos 41 deputados estaduais) só ouviram. Na sessão solene em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, realizada na tarde dessa terça-feira, 8, no Plenário Getulino Artiaga, somente as mulheres discursaram na tribuna.

Isaura Lemos rememorou o passado inglório das mulheres, relembrando tragédias e dores já vividas por aquelas que nasceram com o sexo feminino, durante séculos. A parlamentar destacou o fato de em alguns países árabes, que exigem o uso de burca, mais mulheres ocuparem cadeiras nos parlamentos do que no Brasil e apontou, ainda, que Goiânia é uma das cidades de destaque no ranking da violência contra a mulher.

A deputada Delegada Adriana Accorsi (PT), segunda a subir a tribuna, disse que o dia era de comemoração, mas também de reflexão. "Mulheres ainda recebem menos que os homens, realizam jornadas duplas de trabalho, e quase não encontram representação na esfera política", declarou. A deputada disse também que o Brasil teve, somente no ano passado, mais de 63 mil denúncias de violência doméstica contra a mulher, o que representa um caso a cada sete minutos.

Última parlamentar a discursar, Eliane Pinheiro diz enxergar a trajetória das mulheres como difícil, mas também vitoriosa. Ela acredita que a capacitação, a meritocracia e o esforço devam prevalecer ao gênero, à raça, à condição social, à orientação sexual e à religião. Por fim, ela frisou que mulheres como essas, que modificam a realidade do Estado através de ações sociais e engajamento político, merecem receber medalhas.

Quem também discursou foi Marta Cezária de Oliveira, fundadora e diretora do Grupo Mulheres Negras Dandara do Cerrado. Há mais de 20 anos na luta pelo direito das mulheres goianas, principalmente das negras e quilombolas, Marta arrancou aplausos da plateia em diversos momentos de sua fala – espontânea, e não previamente elaborada.

“Falar de mulher é bom demais, mas se comprometer com nossa luta é um desafio”, declarou. Ela destacou as inúmeras dificuldades que as mulheres ainda enfrentam, como o preconceito e o feminicídio, acentuado por inúmeros fatores, e que ainda evidenciam a vulnerabilidade da mulher.

Marta Cezária falou em nome das 67 homenageadas no evento de hoje: uma sessão solene pensada para enaltecer mulheres goianas que prestam relevantes serviços à sociedade, com a entrega da tradicional comenda Berenice Teixeira Artiaga. A insígnia leva o nome da primeira mulher eleita deputada estadual em Goiás, nos idos de 1951.

Para que o evento começasse às 16h, a sessão ordinária teve que ser suspensa logo após o Pequeno Expediente, sem discussão e apreciação de matérias da Ordem do Dia.

Ao abrir à sessão solene, depois de ouvir a execução do Hino Nacional Brasileiro pela banda da Polícia Militar de Goiás, o presidente da Assembleia Legislativa, Helio de Sousa (DEM), reconheceu o valor das mulheres e aplaudiu a combatividade das mesmas. Mais tarde, durante a cerimônia, o parlamentar cedeu a presidência da sessão às deputadas Isaura Lemos (PCdoB), Adriana Accorsi (PT) e Eliane Pinheiro (PMN), responsáveis pela realização dessa reunião especial.

A Mesa dos Trabalhos também foi composta pelas autoridades: secretária de Estado da Mulher, deputada Lêda Borges, que representou o governador Marconi Perillo; secretária Municipal de Políticas Para as Mulheres, Teresa Cristina Sousa, que representou o prefeito do município de Goiânia, Paulo Garcia; chefe de gabinete particular do governador, Glória Miranda Coelho; coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Educação do Munistério Público do Estado, promotora de Justiça Simone Disconsi de Sá; vereadora Tatiana Lemos, representando a Câmara Municipal de Goiânia; presidente da Indústria Química do Estado, Andrea Aurora Guedes Vecci; subdefensora pública geral do Estado, Lúcia Silva Gomes Moreira; presidente da Federação das Indústrias do Estado, Pedro Alves de Oliveira; diretor-superintendente do Sebrae Goiás, Igor Montenegro; representante do Comando de Operações Especiais, Camila Sietto.