Ícone alego digital Ícone alego digital

Mulheres, guayaberas e o acordo de Cancún

14 de Dezembro de 2010 às 10:59
Artigo do deputado Thiago Peixoto (PMDB) publicado no jornal "O Popular", edição de 14.12.2010.
*  Thiago Peixoto, economista, deputado estadual e deputado federal eleito (PMDB), Integrou a comitiva brasileira da COP-16, em Cancún,no México



A COP-16, em Cancún, representou, do seu início ao fim, o oposto da COP-15, realizada em Copenhague no ano passado. Diferente do ano anterior, desta vez as expectativas estavam reduzidas e a esperança não se fazia presente.

Os líderes mundiais e demais celebridades que badalaram e disputaram holofotes na COP-15 também não apareceram na conferência do clima das Nações Unidas deste ano. A título de ilustração, o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger - presença vip em Copenhague -, e o ativista ambiental e ganhador do Prêmio Nobel, Al Gore, ex-vice-presidente norte-americano, não apareceram nos eventos em que suas presenças foram previamente anunciadas.

O Brasil também ficou sem os figurões na plateia do México. O presidente Lula apostou no fracasso das negociações e avisou que não iria. A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) e o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), que digladiaram por visibilidade na conferência do ano passado, também não. A senadora Marina Silva (PV) estava lá, mas o destaque político brasileiro ficou para a também senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presenteada no evento com o troféu "moto-serra de ouro" - vergonhosa "homenagem internacional" feita pelo GreenPeace.

Inúmeras ausências à parte, a COP-16 foi marcada pela informalidade. Diplomatas e negociadores abandonaram seus ternos escuros e bem cortados para usar as famosas guayaberas - camisas plissadas típicas da região do Caribe. A informalidade não pautou apenas os figurinos, mas também os diálogos. Tudo isto parece mero detalhe, mas foi muito importante para criar uma forte cumplicidade entre as partes envolvidas e quebrar o clima formal e de fracasso que prevaleceu na COP-15.

Outra importante característica desta COP foi a liderança exercida pelas mulheres. A presidente da conferência deste ano foi a mexicana Patrícia Espinosa. A secretária-geral foi a habilidosa diplomata de Costa Rica Christiana Figueres. Destaque também para nossa ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Extremamente competente, liderou uma das mais relevantes negociações ao lado do representante do Reino Unido. De forma otimista e bastante pragmática, Izabella foi uma das responsáveis por salvar o famoso Protocolo de Kyoto que quase teve seu fim na COP-16.

Mas o ápice mesmo foi a restauração da confiança e da esperança perdida em Copenhague. O Acordo de Cancún não salvou o clima, mas salvou o processo de negociações climáticas. Foi um triunfo da diplomacia, um importante passo para a construção de um sólido compromisso para os próximos anos.

A conferência, que em seu início quase destruiu o Protocolo de Kyoto, deu a volta por cima e entregou importantes resultados, como o Fundo Verde, que será a entidade operacional responsável por investir em ações de redução de emissões e adaptação às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento. O financiamento de começo imediato prevê o destino de US$ 30 bilhões de 2010 a 2012. O texto reconhece o compromisso dos países desenvolvidos em doar US$ 100 bilhões por ano até 2020.

O pacote também determina regras para a criação do Redd, sigla em inglês para Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação de Floresta, que proveria recursos para os países preservarem suas florestas. Estima-se que 20% de todas as emissões atuais sejam causadas pelo desmatamento, sendo que Brasil e Indonésia possuem os maiores índices no mundo. O Redd será uma ferramenta muito útil para a mantermos o Cerrado de pé.
Em 2011, a Conferência Mundial do Clima desembarca em Durban, na África do Sul. Chegará lá com o caminho das negociações restaurado e com a esperança mundial restabelecida e de novo em pauta.

Faço votos de que as celebridades políticas - e as vaidades extremas - não compareçam na COP-17. Está mais do que provado que para o nosso Planeta é melhor ficarmos com as competentes líderes mulheres, a informalidade colorida das guayaberas e os avanços nas negociações que Cancún proporcionou ao mundo.


Compartilhar

Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse nossa política de privacidade. Se você concorda, clique em ESTOU CIENTE.