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Mulheres no Legislativo

08 de Janeiro de 2021 às 12:40
Crédito: Arquivo pessoal
Mulheres no Legislativo
Ex-deputada Berenice Artiaga
A Agência de Notícia retoma, esta semana, publicações de entrevistas do projeto Mulheres no Legislativo. Nesta edição, um resgate da história da primeira mulher eleita para o Legislativo goiano: Berenice Artiaga.

Nascida, em 29 de janeiro de 1916, na pequena Santa Cruz (GO)[1], a filha de Benedicto Teixeira e Alzira de Carvalho Teixeira se tornou professora, casou-se aos 19 anos e teve três filhos[2]. Segundo ela mesma, teria se dedicado exclusivamente à família se a vida tivesse seguido o rumo previsto. Porém, uma tragédia familiar de grande proporção reorientou toda a sua trajetória e fez com que, em 1950, ela fosse a primeira mulher a se candidatar e a ser eleita deputada em Goiás. Berenice Teixeira Artiaga, que dá nome à Comenda com a qual a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) homenageia mulheres notáveis para o desenvolvimento do estado, foi ela própria uma pessoa marcante.

Com 3.859 votos, ela obteve a maior votação entre os eleitos para a 2ª Legislatura (1951-1955) da Alego e foi, posteriormente, reeleita para a 3ª (1955-1959). Berenice, em seu segundo mandato, compôs a Mesa Diretora da Casa, sendo 1ª secretária em 1956-1957 e 4ª secretária em 1958-1959. Na política, em tempos de acirrada rivalidade e atuação por vezes violenta, ela foi uma voz conciliadora, de poucos discursos mas muita presença. 

Filiada ao Partido Social Democrático (PSD)[3], Berenice foi uma grande incentivadora da construção de Brasília. Ela participou da Campanha Nacionalista, uma comitiva de deputados goianos que esteve com os presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, em momentos distintos, para discutir a capital e a cessão de terras de Goiás para a nova sede federal.

Berenice também foi tabeliã, a primeira titular do 4º Tabelionato de Notas de Goiânia, criado pela Lei nº 699, de 14 de novembro de 1952. “Naquele tempo, era nomeação do governador[4]. O Tribunal de Justiça encaminhava uma lista tríplice ao governador e ele então escolhia. Em 1957, eu assumi o cartório como escrevente. Em 1962, eu prestei concurso. Foi em 1962 que o governador Mauro Borges transferiu o cartório para mim”, explica Índio Artiaga, filho mais velho de Berenice, hoje com 84 anos e aposentado das funções no cartório que leva seu nome. 

Para conhecer mais profundamente a história da ex-parlamentar, que faleceu em 2012, aos 96 anos, o projeto Mulheres no Legislativo ouviu seus dois filhos vivos, Indiara Artiaga de Almeida Castro e Índio do Brasil Artiaga Lima, e um de seus netos, Adriano de Artiaga. (As entrevistas foram feitas remotamente, em dezembro de 2020, em função das restrições fitossanitárias decorrentes da pandemia de covid-19.) Também são fontes desta reportagem as  entrevistas anteriormente concedidas por Berenice à Agência Assembleia de Notícias e à TV Assembleia, além de matérias jornalísticas e trabalhos acadêmicos que resgatam detalhes da participação feminina na política goiana.  

Nestas páginas, para além da deputada pioneira e da tabeliã bem sucedida, evidenciam-se também outras faces de Berenice: esposa, mãe, avó, mulher que traduzia em versos seus maiores conflitos e sentimentos e que, nas palavras da filha, “era adaptável como a água”. A Berenice Artiaga que vemos pelos olhos dos entrevistados e analistas políticos que compõem o escopo deste texto pode, por vezes, parecer contraditória. Na verdade, ela é o retrato de uma mulher que evoluiu com o tempo e, a despeito de sua tragédia pessoal e das convenções sociais, buscou intensamente a felicidade. 

 

Casamento e Viuvez

Foi a morte do marido, o deputado Getulino Artiaga[5] (PSD), o ponto de inflexão que redefiniu a vida de Berenice. Casada há 14 anos e mãe de três adolescentes, ela acompanhava de perto a vida política do marido, com quem tinha uma relação de muita parceria, algo incomum para os padrões da época. “Meu pai tinha muita admiração por ela. Os dois brincavam feito crianças. Eles eram muito alegres. Dançavam muito, brincavam (…) De certa forma, ela já tinha uma participação política, mas apenas no âmbito doméstico. Meu pai partilhava com ela os assuntos de campanha. Os dois eram muito companheiros. Meu pai morreu com 36 anos, não tinha completado 37 ainda. Então, eles eram muito jovens, muito amigos, muito companheiros”, relembra Indiara. 

A filha, hoje com 83 anos, tinha 13 quando o pai foi brutalmente assassinado no fatídico comício de Nova Aurora (GO), em 8 de setembro de 1950. “Foi uma coisa horrível, o meu pai morreu fuzilado. Foram 33 tiros. Uma gangue de bandidos contratados para matar, para calar uma voz. Não foi casual a morte do meu pai. Não foi não. Hoje, eu tenho plena certeza disso”.

Os documentos do caso, entretanto, informam que Getulino recebera 18 tiros. Índio, que à época tinha 14 anos e estudava em Uberaba, relatou: “as divergências políticas eram bem grandes entre UDN[6] e PSD. Seis pessoas ligadas à UDN tiveram um desentendimento por causa de um caminhão com faixas nas ruas de Nova Aurora. E essas seis pessoas mataram dois integrantes que conduziam os caminhões com faixas do PSD. Meu pai estava em um jantar de um comício quando alguém chegou e falou que estavam matando os companheiros aí fora. Meu pai, que era delegado de polícia, saiu para exercer não o mandato de deputado, mas para exercer a função de policial. Ele entrou na casa onde estavam os assassinos, e aí ele foi morto”, disse Índio, em entrevista  concedida à repórter Bruna Mastrella, da TV Assembleia, em 2018. 

Para os filhos, o caso tratou-se de uma emboscada, um crime político. A suspeita se baseia, sobretudo, na falta de investigação e punição dos responsáveis: “na ocasião, o Mauro Borges Teixeira[7] era diretor da estrada de ferro em Araguari, que é pertinho de Nova Aurora. Os assassinos do meu pai mandaram dizer para o Pedro Ludovico que se ele continuasse com o inquérito, eles iriam matar o Mauro Borges. Aí ele suspendeu o inquérito. Assim, o inquérito não foi para frente e ninguém foi punido”, apontou Índio. 

Indiara recupera fortes lembranças acerca de como a mãe reagira à notícia e como aquela tragédia marcou para sempre a vida de toda a família. Ela conta que ao saber pelo rádio do que ocorrera, Berenice tomou um banho de horas, enquanto aguardava a chegada do corpo de Getulino. “Quando saiu debaixo do chuveiro, ela chamou os três filhos e nos disse: Éramos cinco, agora somos quatro e vamos ter que nos amar como se estivéssemos os cinco. Nunca vamos ter ódio nos nossos corações, porque Deus está acima de tudo e nós vamos viver para assistir cada um deles morrer da forma que mataram. E ela passou um longo período observando todos os assassinos. Todos tiveram morte trágica. O que ela nos ensinou foi isso: aqui se faz, aqui se paga”. 

No relato de Indiara, vê-se uma Berenice forte, que enfrentou o luto com uma postura quase austera, possivelmente seguindo o exemplo de sua mãe, que também ficou viúva com a mesma idade. “Ela teve essa força que a mãe dela também teve. Minha avó, Alzira de Carvalho Teixeira, teve treze filhos. Vovó Alzira casou-se aos 13 anos e ficou viúva aos 33. Ela teve 13 filhos e perdeu oito nas mortes mais diversas possíveis, por falta de recursos médicos[8]. Ela enterrou oito filhos. Nunca se casou outra vez, com cinco filhos para criar[9]. Uma mãe que teve que dar o salto quântico. Superar as dores, dar a volta por cima pensando na família”. 

Não há registros de falas da própria Berenice sobre como ela lidou com aquela perda abrupta, mas alguns fragmentos extraídos das entrevistas dos filhos demonstram certa dualidade: hora relembram o horror e as sequelas deixadas em toda a família pelo assassinato do pai e hora reduzem o impacto disso e atribuem a superação à força materna. Trata-se, claro, de um episódio complexo, que aduz sentimentos conflitantes, mas coexistentes. Ambas as citações de Indiara foram proferidas na mesma entrevista, com um lapso de poucos minutos entre elas:

 

“Mamãe sempre foi uma pessoa muito amável, nunca foi uma pessoa ditatorial conosco, nunca. Ela era forte, ela tinha um pulso, mas não era nada ditatorial. A gente aprendia porque havia coerência nela. Nossa, agradeço tanto à mamãe. Agradeço todo dia a força que ela teve. Nós não percebemos nada que transgredisse a paz que nós tínhamos quando o nosso pai estava junto”. 

(...)

“Foi muito chocante para nós todos. Eu acho que quem mais sofreu foi o Ibirá, o nosso caçula. Inclusive, morreu cedo, acho que por conta disso. O Índio ficou cardíaco muito jovem e começou a acordar para a morte do meu pai logo depois que ele deixou de ser prefeito. Ele teve crises existenciais com relação à morte do nosso pai. Eu tenho 84 anos, mas eu sou, até hoje, uma pessoa muito chocada com a morte do meu pai. Eu tenho ele muito vivo dentro de mim. Foi uma coisa horrível.”

Entre os familiares, pouco se falou sobre aquele episódio marcante. Era o modo como Berenice tentava poupar os filhos de tamanho trauma. No filho Índio também é possível perceber o quão delicado o assunto ainda é, mesmo depois de tantas décadas. Durante a entrevista, ele se esquivou de aprofundar no tema, explicando que passara a infância e a adolescência em colégios internos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. “Não falávamos do assunto porque eu tinha muitas restrições à política, né? Eu tive muitos problemas com a morte do meu pai e ela, minha mãe, também. Então ela me contou alguns episódios da vida do meu pai e dela também, mas não foram coisas marcantes. Eu estava fora de Goiás”. 

Um episódio entre mãe e filha exemplifica bem a complexidade do quadro emocional que a família vivenciou. Na casa de Berenice, revelou Indiara, nunca houve fotografias do pai falecido. Quando já estava casada e morando em outra residência, a filha colocou um retrato de Getulino em sua sala, o que causou uma indisposição com a mãe. “Ela olhou o retrato e ficou nervosa, pegou o retrato e virou para baixo. Eu fiquei zangada com ela e falei: mãe, além da senhora não botar na sua casa, você acha que eu também não devo pôr na minha? Indiara se emocionou ao lembrar que, tempos depois daquele episódio, entendeu a atitude da mãe, ao ler seu poema “O Retrato”, escrito em setembro de 1950:

 

O Retrato

Ele está me olhando sem me ver

Prisioneiro da vida já distante

A fé, a esperança, no futuro ali guardados

Nos olhos mortos há longo tempo

Não gosto de vê-lo

Assim preso no retrato.

“Na hora que eu vi isso, me deu um remorso. Me fez chorar. Coitadinha. Ela não gostava de vê-lo na fotografia. Mamãe não era de falar muito, ela não era muito discursiva. Ela era de pouca fala e muito concreta no que ela dizia. Ela não cultuou demais, excessivamente, a memória dele porque ela sabia que nós teríamos conosco as boas lembranças. Tínhamos fontes muito verdadeiras por causa do convívio que nós tivemos com ele, que era muito forte, né? Então não precisava ela ficar acordando em nós uma ausência que nos faria, talvez, até não desabrochar para o futuro da forma que desabrochamos. Eu acho que se não foi da melhor forma possível para nós, foi pra ela. Então, eu acho que nós temos que ter o respeito também pela maneira dela, que ela passou, o que ela viveu”, analisa emocionada. 

 

No mundo dos homens

Quando Berenice viu repetida em sua própria vida a tragédia que também acometera sua mãe, ela já sabia que haveria de enfrentar muitos desafios, mas a política certamente não estava em seus planos. Foi um convite do então deputado Paulo Fleury[10] (PSD) que lhe abriu os olhos para essa possibilidade. “Na mesma semana da morte do meu pai, ele (Fleury) percebeu que ficaria uma lacuna muito grande na legenda do partido. Ela acompanhava meu pai a comícios e, embora ela não fosse a palanques, nem nada, ele percebia a força que ela tinha, né? A presença da mamãe era muito marcante. Então, acho que o Paulo Fleury não teve dúvidas na hora de falar assim: bom, no lugar do Getulino, a Berenice”, resume Indiara, acerca da estratégia do PSD, que, em menos de um mês[11], conseguiu êxito em tornar Berenice deputada estadual.

Indiara  explica que, apesar do orgulho pela trajetória política da mãe, não foi fácil para os filhos dividir o tempo de Berenice logo após a perda do pai. “Ela não sentia necessidade de que vivêssemos chorando a morte de papai. Não, ela não fez isso conosco. Mas nós chorávamos porque éramos órfãos dele, né? E ficamos dela também, de certa forma. Porque, como a primeira mulher eleita no estado de Goiás, ela era muito solicitada em tudo. Além do medo que nós tínhamos de que ela também morresse da mesma forma. Nós tínhamos muito esse medo e eu passei anos atormentada por ele. Eu tinha pânico quando ela ia para a Assembleia. Ficou uma coisa, um trauma, muito forte dentro de mim”, confessa Indiara.

Ela conta, ainda, que, apesar de ter sido tudo tão rápido, não se lembra de ter visto a mãe titubear em momento algum, mas recorda-se de um choro que irrompia o silêncio de algumas noites. Indiara acordava e ouvia a mãe chorar no quarto, enfrentando sozinha a ausência do marido e os desafios da vida política que se iniciara tão abruptamente. 

Não haveria a história da minha mãe se não houvesse a do meu pai. Minha mãe é uma consequência de tudo que meu pai viveu politicamente. Realmente houve uma influência do meu pai. Ela foi eleita com uma votação tão expressiva porque o estado inteirinho percebeu o herói que ele foi naquela época”, opina Indiara. Ela também afirma que a própria mãe tinha consciência de que estava sendo um trunfo eleitoral para o partido, a partir de uma “jogada emocional”, como Indiara se referiu à escolha da viúva como substituta de Getulino nas urnas.

 Em entrevista à Agência Assembleia de Notícias, em 2008, Berenice resumiu modestamente sua passagem pela política como uma homenagem a Getulino. Ela sabia, portanto, que sua eleição em 1950 foi realmente ocasionada pela comoção popular que envolveu a morte do marido. Em seu primeiro discurso como deputada, em 17 de abril de 1951, como consta na Ata da segunda Sessão Ordinária do Poder Legislativo goiano, Berenice se posicionou contra a participação direta das mulheres na política:

“Inicialmente, diz a nobre oradora ser contrária à participação direta da mulher na vida política, mas que por circunstâncias, já de todos assaz conhecidas, ocupa hoje um lugar no Legislativo estadual. Em palavras repassadas de sentimento e pesar pelo motivo que a trouxe à representação popular e levando aos seus pares a sua admiração pela atuação parlamentar do deputado Getulino Artiaga, a oradora agradece ao eleitorado goiano que de maneira tão expressiva sufragou o seu nome para nesta Casa Legislativa ser o porta voz de suas aspirações e anseios, bem como do seu repúdio ao bárbaro assassinato do deputado Artiaga, tendo tido tão precocemente roubada a vida em consequência de uma administração de desmandos e violências. Finalizando suas palavras, a Sra. Berenice Artiaga requer a inserção de um voto de saudade ao deputado Artiaga na ata dos trabalhos do dia. Por deferência à Sra. deputada, é votado ainda na presente sessão, o voto requerido, voto esse aprovado por unanimidade, determinando então, o Sr. Presidente conste o mesmo da ata dos trabalhos” (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE GOIÁS, 1951, Diário da Assembleia de 9 de maio de 1951, p. 8).

Do discurso de Berenice depreende-se que, ao menos naquele momento, ela não sentia que a atividade parlamentar fosse própria das mulheres, mas se colocara como uma espécie de extensão ou porta-voz do marido morto. De certa forma, Indiara endossa essa visão ao dizer que a mãe, para ingressar na vida pública, “passou a assumir o lado masculino interno dela, passou a exercer muito mais o papel de provedora, orientadora”. Nesse ponto da conversa, a filha sentiu necessidade de reforçar a feminilidade e beleza da mãe. “Ela era feminina, muito feminina, mas tinha o vigor, força interna. Ela nunca abdicou da feminilidade dela para ser forte. Ela foi profundamente forte. Mais forte que antes. Depois que ficou sozinha, ela se tornou uma soma da força dele, que seria o meu pai nela, e a força dela mesma. Então, ela foi uma pessoa com muita concretude pessoal. Uma pessoa que entrava e marcava presença. Muito bonita, ela foi lindíssima. Bonita demais. Ela era alta”. 

Em outro momento da entrevista, a filha ponderou sobre como o ingresso na vida pública afetou o comportamento e a personalidade de Berenice. Sendo a primeira mulher a assumir um cargo no Legislativo goiano, a ex-deputada não pôde contar com referências femininas e sabia que estaria em ambientes completamente dominados por homens. “Ela saiu de uma mulher inteiramente doméstica para um mundo onde não havia mulheres. Ela foi para um mundo machista. Até hoje o Brasil é machista, né? Imagina naquela época. Ela tinha que enfrentar aquilo. Logo em seguida, ela começou como tabeliã do 4º Ofício. Ela tinha que ter um pulso muito forte sobre tudo que estava acontecendo, para não nos perder na tragédia do meu pai. A diferença ficou muito visível nela, mas sempre muito feminina”. 

O machismo acima mencionado foi debatido em dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Goiás (UFG). Raimunda Velázquez (2012) discutiu algumas sutilezas que demonstram o despreparo da Casa Legislativa para receber mulheres parlamentares nas primeiras legislaturas.

“Dado que a atividade parlamentar se realiza basicamente por meio da linguagem, devido ao seu papel fundamental como elemento estruturante do pensamento e da ação, verificamos, primeiramente, o impacto da presença das deputadas na linguagem utilizada no Plenário e averiguamos que as denominações dos cargos e os vocativos não sofriam as flexões de gênero apropriadas ao sexo feminino. Desse modo, verifica-se, em atas da 2ª Legislatura (1951-1955), época em que a primeira deputada teve assento na ALEGO, referências a ela como “o ilustre parlamentar Berenice Artiaga [...]”, “por deferência à Sra. Deputado”, dentre outros. Em 1956, com duas deputadas na Alego, a questão da linguagem falada no Plenário ainda permanecia sem tratamento. Confere-se que, em uma mesma Sessão, Berenice Artiaga, que já exercia a função de “Primeiro Secretário”, várias vezes recebeu tratamento como homem, “o Sr. 1º Secretário – Berenice Artiaga”, e algumas vezes como mulher, “A Sra 1ª Secretária”. (p. 70-71).

Para Indiara, o machismo da época não atingiu o relacionamento de Berenice com os demais 31 parlamentares da Casa, todos homens. “Eles tinham muito respeito pela minha mãe. Ela não tinha dissidência partidária.  Ela se dava muito bem com Emival Caiado[12] e com Willamar Guimarães[13], ambos da UDN. Todos eles tinham carinho, respeito e admiração por ela. Os homens daquela época eram diferentes e as mulheres também. Mamãe agia como mulher, né?  As mulheres hoje na Câmara sobem na tribuna e sobem na mesa. Eu vejo isso e fico horrorizada. Eu falo: o que é isso? Mamãe era profundamente respeitada”, compara Indiara, deixando transparecer que até mesmo para as mulheres muitas vezes é difícil compreender a necessária igualdade de condições entre os gêneros na atuação política. 

Indiara se recorda de ouvir muitos elogios à postura da mãe. “Ela era muito respeitada, tanto pelas mulheres quanto pelos homens, pela maneira como se colocava. Ela era delicada. Não era uma pessoa agressiva, mesmo sendo política. Ela se posicionava, ela tinha a posição correta dela, mas nada que fosse agressivo”. O relato faz refletir sobre os limites impostos à atuação e até mesmo à expressão das pioneiras que ingressaram na política. As expectativas limitantes acerca do comportamento que é, ou não, tido como o naturalmente feminino configura-se, nos dias atuais, como um dos elementos questionados pelas mulheres, que exigem o mesmo direito ao debate e à luta pela conquista de seus intentos políticos.

Na continuidade da entrevista, porém, Indiara explica que se referia ao recrudescimento da política, que tem saído da arena do diálogo para o campo dos insultos e da violência. “Uns engolindo os outros. Naquela época, havia um recrudescimento político muito grande. Havia rua em que só podia passar quem era da UDN e rua que só passava quem era do PSD. Existia essa divisão e ela era muito forte, como é hoje. Voltou a ser assim. Houve um momento de calmaria, mas voltou muito recrudescido, né?”, pondera Indiara.

Nesse contexto, ao ingressar no Parlamento, a Berenice, de poucas mas assertivas palavras, foi uma deputada discreta. A observação de Indiara, de que havia, na deputada e nos filhos, um grande medo, ajuda a explicar seu comportamento comedido, por exemplo, no uso da tribuna. “Ela tinha medo, e nós tínhamos pânico, de que acontecesse com ela o que aconteceu com meu pai. Eu acho que talvez por isso a minha mãe foi uma voz amena. Meu pai foi uma voz muito vibrante, a voz dele ecoava. Então, acho que por isso também ela foi uma pessoa assim. Ela tinha os posicionamentos muito corretos dela, mas na dosagem que não a pusesse em risco”, acredita a filha. 

Dentre as principais concepções políticas de Berenice, demonstram os entrevistados, estava a noção de que a política deve ser feita com honestidade e focada no interesse de bem servir. Índio afirma que Getulino e Berenice compartilhavam esses princípios e os transmitiram aos filhos como legado político. Índio foi o primeiro prefeito de Goiânia nascido na região (nasceu em campinas, região que futuramente viria a se tornar a capital). Nomeado pelo então governador Ary Valadão[14], exerceu o cargo de 30 de junho de 1979 a 14 de maio de 1982. “Ela sempre me instruiu no caminho de fazer o que é certo, e a não vacilar na hora de decidir pelo que é correto. Por isso que eu não fui um bom prefeito. Eu não tinha jogo de cintura político, porque foi o que eu aprendi, né? Ela dizia sempre: Meu filho, primeiro a coisa certa, depois a coisa política e depois o interesse do político. E eu fiz isso”. 

O filho conta que, quando prefeito, chegava a consultar a mãe sobre como lidar com políticos e com a imprensa, por entender que ela tinha mais conhecimento e experiência. “A minha mãe tinha jogo de cintura. Ela era muito ponderada, serena, pensava muito. Antes de decidir as coisas, ela pensava muito. Às vezes, quando eu perguntava alguma coisa para ela, ela falava: filho, volta aqui amanhã que eu te falo”, expõe Índio, sobre as características políticas da mãe, que a essa altura já estava afastada da vida pública havia muitos anos, como será melhor discutido no tópico seguinte. 

Indiara também se recorda de momentos alegres que envolviam a campanha de Berenice à reeleição. “Os momentos políticos da mamãe com o Juscelino Kubistchek[15] foram muito bonitos. Eu dancei muito com o Juscelino durante a campanha. Eu era mocinha, na época da campanha política dela. As campanhas eram muito alegres, principalmente a do Juscelino, em Goiás. Ele foi candidato a senador pelo PSD e minha mãe a deputada. Eram correligionários e fizeram muita campanha juntos”.  Ao fim desta campanha, Berenice obteve 3.131 votos e foi a 16ª colocada entre os 32 eleitos. Ao contrário da Legislatura anterior, nesta teve a companhia de outra mulher, Almerinda Arantes[16] (PTB), eleita na 26ª posição com 2.784 votos. 

Adriano, o quarto neto da vovó Beroa, como era chamada pelos familiares, relata que ela, até o fim da vida, sempre assistia atentamente ao noticiário político e se manifestava indignada contra condutas que considerava absurdas. “Ela sempre falava que estava tudo muito errado, confuso e mal administrado. Dizia que os valores estavam se perdendo no tempo e no espaço, que os políticos não tinham mais a menor vergonha de roubar e se questionava acerca do motivo da Polícia e o Judiciário estarem tão fracos e coniventes. Ela também diria que as pessoas de bem já não se interessam mais pela política, o que é péssimo e perigoso, e que mais e mais mulheres deveriam vir e ajudar a arrumar a casa”, elenca Adriano, com base nas longas conversas que mantinha com a avó. 

Em 2012, bem mais experiente, em sua última entrevista à TV Assembleia, concedida no ano de sua morte, Berenice fez às mulheres um convite muito diverso daquele primeiro e acanhado discurso que proferira na Assembleia em 1951. Ela honrou as mulheres que já atuavam nos bastidores das casas políticas e defendeu uma maior representação feminina nos cargos eletivos. "Eu não entrei sozinha na política, não. Tinha muita mulher na política que trabalhava arduamente para conseguir coisas boas para o estado de Goiás. Então, a minha mensagem é que a mulher goiana continue, participe. Há muito poucas deputadas na Assembleia. Que elas entrem mais na política, que se elejam deputadas. É disso que precisamos, de mais mulheres no Parlamento", concluiu Berenice.

 

Saída da Vida Pública

A parlamentar, contudo, teve uma passagem relativamente curta pela política (1950-1958). Depois do segundo mandato na Alego, ela optou por retornar à vida doméstica. Os dados sobre essa decisão são inconclusivos, visto que não há registros de suas falas sobre o assunto e os entrevistados divergem sobre os motivos que levaram ao afastamento da ex-deputada. Abaixo, fragmentos da entrevista com Índio Artiaga:

O senhor acredita que ela quis mesmo esse desligamento ou teve alguma outra motivação?

Ela casou-se e desligou completamente da política. Eu acho que ela quis. Ela fez a opção pelo casamento.

As duas coisas não podiam andar juntas naquela época?

Naquela época era muito difícil, né? Ela deixar o marido em casa e ir para a Assembleia. Acho que era um óbice muito grande para as mulheres que naquela época foram deputadas, ou exerceram qualquer função pública, de Legislativo ou Executivo.

Hoje ainda talvez seja um pouco, né?

Sim, mas muito menos. Hoje a mulher está liberta, né? Hoje a gente vê sem preconceito uma mulher como minha mãe era. Hoje é uma coisa bem diferente.

Enquanto Índio acredita que essa foi uma decisão completamente subjetiva da mãe, Indiara atribuiu firmemente o fato a uma imposição do segundo marido de Berenice, o professor Júlio Machado Salles[17], a quem Indiara até hoje se refere como Doutor Júlio. Eles começaram a se relacionar em 1957, quando Berenice era deputada em segundo mandato. Quando se casaram, Berenice nunca mais concorreu a nenhum cargo público. Segue a íntegra desta parte da entrevista, na qual Indiara revela muitas nuances sobre as convenções sociais que limitavam (e em certa medida ainda limitam) as mulheres e podem ter tirado da vida política a primeira representante feminina do Parlamento goiano:

Como foi o segundo casamento dela?

O casamento deles foi conturbado. Ele bebia um pouco e ela não aceitava. Mamãe não aceitava álcool. Ela não tinha convívio nenhum com álcool. Ela foi uma pessoa que não bebia. Então, não foi um casamento, assim, no qual eu a visse plenamente realizada não. Ficou viúva também muito cedo dele. Ficaram juntos por 11 anos. Ele morreu de enfisema pulmonar. Ele bebia muito. Não era alcoólatra, mas ele tinha deficiência respiratória e o mau hábito piorou a condição dele. Ele era uma pessoa boa, mas eu não sentia que ele era a pessoa para a mamãe. Eu acho que ele tinha uma personalidade muito machista e queria segurar nela essa vocação política que veio à tona. Ele não gostava de vê-la política, sabe?

Quando ele a conheceu, ela era muito envolvida na política?

Ela ainda era deputada, mas ele tinha ciúmes. Ele era um homem sufocador. Ele era machista. Neste ponto aí que os dois não se acertaram. Com o Dr. Júlio era uma relação mais severa, mais fechada, muito diferente do que foi com meu pai. Tanto que eu segui chamando-o de doutor, né? Nunca o chamei pelo nome. Ah, teve um momento que ele quis trazer também o domínio dele para mim. Eu era adolescente. Cheguei nela e falei: “mãe, você quis um segundo marido. Eu só tive um pai. Homem nenhum vai mandar em mim como pai. Pode avisar para ele”.

E ela o fez?

Fez. Ele nunca mais se meteu.

A senhora percebe se essa personalidade mais dominadora influenciou de alguma maneira a sua mãe? Ou ela conseguiu driblar isso?

Influenciou muito. Influenciou muito porque ela casou com ele. Estava casada com ele, e na cabeça da mamãe, se a mulher casou, tinha que se submeter. Aí ela ficou mais na cozinha, voltou àquele modelo familiar tradicional, ficou mais domesticada. Ela entrou mais ainda nesse modelo familiar do que com meu pai, porque meu pai era família, mas era alegre, brincava. Com o Dr. Júlio, ela era dona de casa, sempre na cozinha fazendo comida gostosa para ele comer. Mudou muito, virou outra pessoa.

E na vida política também?

Deixou toda a vida política. Ele dominou mesmo. Esse lado ele dominou.

Havia uma exigência da sociedade para que a mulher fosse casada?

Na época, ela teve muita vergonha. Ela dizia: “eu não posso me expor a público com coisas difíceis”. Porque ela era muito pública, né? Então ela se curvou à dificuldade, numa escolha difícil para o que ela era na época. Talvez se eles tivessem se encontrado em outro contexto, no qual ela não fosse deputada, talvez até fosse muito bom para os dois, pois ele não era uma pessoa má, mas não era o homem para ela. Ela estava vivendo um momento muito especial. Um momento em que ela inaugurava uma nova época para as mulheres todas, era uma pessoa muito admirada, e de repente ver tudo isso falhar, é difícil, né?

A senhora considera que houve um retrocesso no aspecto político, no engajamento dela? Ela escolheu retroceder neste sentido?

Nas convicções políticas dela ela era muito firme. Eu até me lembro de uma briga dela com ele. Ele era contra qualquer ideia política dela, na época. Ela era tão contundente... Eu fiquei horrorizada no dia. Em uma discussão política, eu lembro dela puxar a toalha da mesa e sair com os pratos tudo caindo no chão. Ele parou estatelado olhando para ela e ela falou: “não me desafie nunca mais”. Umas coisas, assim, que ficam na memória. Vem uma força na pessoa. Mamãe era muito mulher, muito feminina, mas na hora que precisava de um braço forte, ela tinha. Ela aprendeu com a mãe dela.

Por que a senhora acredita que, apesar dessas convicções e dessa força que ela demonstrava sempre que necessário, ainda assim ela se curvou no sentido de sair da vida pública? Já era um desejo dela naquele momento ou de fato ela se curvou?

Eu acho que ele pressionou de uma forma tão grande, porque ela não podia voltar atrás na relação dela com ele para não se desmoralizar publicamente. Ela preferiu curvar-se a ele e não causar nenhuma celeuma pública. Ela foi dominada na época, né? Uma judiação. Eu tive muita pena. Não na época, porque eu não tinha essa consciência. Eu vim ter [essa consciência] apenas muito mais tarde. Ela poderia ter uma carreira muito brilhante. Ela abriu mão. Abriu mão. O modelo da mulher, naquela época, ainda era esse. Eu vejo que o inconsciente coletivo é muito forte dentro da gente. Até que você vá desmanchando esses elos todos, é dolorido, é demorado. Eu, por exemplo, para ser uma mulher diferente do que foi minha mãe, também tive que passar pelas minhas batalhas, né? São laços, culturas que a gente vai desconstruindo ao longo da vida para que a gente chegue a se tornar o que a gente realmente é. 

Ela chegou a falar sobre essa vontade de romper o casamento e não poder por causa da imagem pública?

Uma única vez. Ele já estava muito mal, com enfisema, estava inclusive traqueostomizado. No momento, ela falou sobre esse desejo para mim. Foi a única vez que ela tocou no assunto. Essa dominação do homem na relação também é um paradigma que vem sendo vencido ao longo do tempo.

Sua mãe não questionava essa dominação?

Ela questionava. Ela não suportava. Ela não se sujeitava, em termos do eu mais profundo dela. Do eu social, superficial, ela podia até abrir mão, e ela abriu. Mas sempre foi fiel ao seu eu mais profundo. Ela era Berenice em tudo que pôde. Ela não era concessiva. Ela abriu mão em termos sociais, né? Uma satisfação à sociedade. Até mesmo talvez pelos filhos que ela tinha, né? Ela não podia ser uma pessoa desmandada, desnorteada, ela tinha que ter um norte. Acho que ela pensava: "casei novamente. Então agora eu tenho que corresponder"

Então ela tinha receio de não ser bem vista porque a sociedade ainda julgava muito?

Naquela época, sim, muito. Eu ainda peguei muito isso, né? Se bem que a mamãe não era tão mais velha do que eu, né? Saltos muito grandes levam mais que vinte anos para ser mudados. Ela era uma mãe muito jovem. Agora os saltos são mais rápidos, né? A evolução, o processo evolutivo é bem mais acelerado. Na época era mais lento. Os conceitos que a mãe dela tinha passado para ela eram muito fortes dentro dela. Os conceitos que ela passou para mim eram fortes, mas eu passei pela grande revolução da década de 1970. Nossa, a década de 1970 virou tudo do avesso, né? Toda a conceituação, todos os paradigmas, foram muitos deles postos abaixo. 

A senhora acha que se a sua mãe tivesse nascido um pouco depois, em outro momento histórico,  ela teria feito coisas diferentes? Ela tinha vontade de fazer coisas diferentes, mas que ela se sentiu pressionada pela sociedade para fazer do mesmo modo, seguindo padrões?

Não sei. Mamãe era uma mulher profundamente evoluída. Ela é do ar, do signo do ar. Ela era muito evoluída, pelo menos na cabeça dela. Não havia nada que conseguisse podar a liberdade interna que ela tinha. A liberdade social, ela era um ser profundamente sociável. Ela era, internamente, muito, muito, muito evoluída. Todas as gerações da família, todas, têm verdadeira admiração por ela. Era amada porque a cabeça dela batia com as gerações todas. Os netos todos a adoram. Bisnetos também. 

Mas a senhora acha que sua mãe gostaria de ter vivido mais na política?

Eu acho que talvez tenha sido um momento de frustração sim. Eu acho que, ainda que ela deixasse muito pouco visível, porque ela não externava muito, ela se sentiu, sim, devedora com a política. Devedora da oportunidade que lhe foi dada, né?

Se o impasse foi o casamento, que, na verdade, acabou cedo, relativamente, por causa do falecimento precoce do segundo marido, não houve aí nenhum movimento dela no sentido de voltar para a política ou de falar a respeito?

Não, não. Ela nunca mais manifestou nenhuma vontade.Ela veio para Brasília e perdeu o contato de todos os correligionários políticos dela. Era outro universo aqui. Engraçado que neste período que ela poderia ter voltado, me convidaram para me candidatar aqui em Brasília. Ela veio atrás de mim, mudou para Brasília por minha causa. Ela não deu conta de ficar sem mim lá em Goiânia. Ela veio para cá quando o Dr. Júlio ainda era vivo. 

Como foi para a senhora a decisão de nunca se envolver na política, apesar de ter um exemplo tão relevante, que foi a sua mãe, a primeira mulher deputada em Goiás?

Eu não sabia, e estou sabendo agora, que eu tinha tanto medo. Agora eu tenho susto até de me manifestar, porque tenho visto as dissidências tão fortes no mundo político, que as pessoas até matam para poder sobreviver na luta que está aí. Foi o que aconteceu com meu pai. Então, eu não tinha me dado conta de que eu era uma pessoa assustada e que eu não entrei por isso. Ter uma voz, no mundo de hoje, é tão perigoso quanto foi para o meu pai. Hoje, se você se manifestar, tanto sobre política quanto sobre religião, você corre perigo. Eu não sabia que eu tinha esse medo. Perseguem os políticos, os religiosos... 

Começou tudo outra vez, a caça às bruxas. Eu não sabia que isso estava tão vivo dentro de mim. Pensei que já tinha superado isso lá na infância. Percebo que não. Eu sou uma pessoa muito assustada ainda, com tudo que eu vejo. Eu falo: "meu Deus, como as pessoas são capazes de matar por conta disso?" Mas depois eu penso assim: "não puseram Jesus Cristo na cruz? O mundo foi sempre assim". A gente tem que superar o medo, mas superar mesmo. Quem já passou pelo drama sabe que não é tão fácil.

...

Aos 50 anos, em 1966, Berenice voltou a trabalhar. Ela foi designada como assessora fazendária no Distrito Federal e posteriormente atuou como auditora na Secretaria de Finanças também do DF. Para a política realmente ela nunca mais voltou, embora mantivesse seu interesse nos rumos do país, um tema frequente nas conversas da família. “Por exemplo, ela detestou o sistema político que veio quando Brasília foi concebida, que o governador da cidade era escolhido pelo presidente da República. Ela achava que isso era um mérito a ser decidido pelo povo. Ela ficou horrorizada quando criaram Câmaras de Vereadores. Ela falou: Isso é uma porcaria para a política. E é mesmo, olha a quantidade de cabides de empregos que são criados, a quantidade de vereadores que não entendem nada de legislação. Pluripartidarismo foi outra coisa que ela abominou. Ela falava: Nossa, mas isso é absurdo, porque a gente perde a noção do perfil de quem a gente está votando. Ela tinha uma consciência muito plena e falava muito disso. Ela veio de um modelo com três partidos, né?”, contextualizou Indiara. 

Velhice

Depois de toda sua trajetória política e profissional e de ficar viúva pela segunda vez, Berenice dedicou-se completamente à família. Já nessa fase da vida, experimentou outra grande perda, que foi a morte do caçula, Ibirá Artiaga Lima, que era pai de dois filhos e, na opinião dos irmãos, foi um médico abnegado. “Um dos momentos mais tristes da minha vida, foi vê-la na beirada da sepultura do filho. Ela já estava com mais de 80 anos quando o Ibirá morreu. Foi muito triste, muito triste. Ela ficou muito sofrida, tadinha dela”, revela Indiara. 

O neto Adriano conta que todos os anos a família se reunia para passar o natal em Mogi das Cruzes (SP), onde o tio Ibirá vivia com a esposa e os filhos. Ele faleceu aos 67 anos, vítima de um agravo cardíaco decorrente de Diabetes. Saudosa, Indiara elencou grandes qualidades do irmão e a relação dele com a mãe. “Foi muito difícil para ela porque o carinho, o amor e o cuidado entre eles eram muito grandes. O Ibirá, meu irmão, era muito franciscano. Ele não era uma pessoa desse mundo. Ele era bondoso demais. Nasceu para a medicina de doação. Ele ia para a rua com caldeirão para dar sopa a mendigos. Ele tinha essa cabeça, totalmente desprendido de dinheiro. Fez uma imensa falta para todos nós”.

Berenice mudou-se sete vezes entre Goiânia e Brasília, dividindo-se na companhia dos dois filhos e dos ramos familiares deles provenientes, mas sempre morando em sua própria residência, pois não abria mão de sua independência. Indiara expõe que essa vontade de liberdade mexeu com o comportamento da mãe. “No início, ela ficou uma velhinha meio brava. Eu acho que era para não se deixar dominar por ninguém. Tem muito essa história de que o velho vai para escanteio e não tem opinião. Isso ela não aceitava de jeito nenhum. Dizia: 'eu dou conta de andar sozinha, não preciso de muleta e bengala de ninguém'. Ela era muito independente, mas depois percebeu que não corria esse perigo e voltou a ser doce como mel”. 

Para Índio, esse foi o período de maior convivência com a mãe. “Era espetacular. Eu ia à casa dela quase todos os dias conversar com ela e a gente conversava sobre qualquer assunto. Existem mulheres extraordinárias ao longo do tempo. São mulheres que viveram na Terra e habitavam as estrelas, onde elas puderam absorver as luzes que iluminavam as próprias vidas delas, e, generosamente, depois elas repartiram com aqueles que viveram no tempo delas, que viveram junto com elas. É assim que eu vejo a minha mãe. Extraordinária pelo temperamento, pela inteligência, pela memória, pelo companheirismo, pela cumplicidade que ela tinha com meu pai quando ele era vivo e pelo amor e dedicação que ela tinha aos filhos”, elogiou Índio, que também destacou a forma carinhosa com que Berenice recebeu o neto Adriano, quando ele morou com ela em Brasília na década de 1980. 

“Na minha infância ela morava em Brasília e sempre nos visitava em Goiânia. Todos os netos a esperavam com ansiedade. Vivia a nos bajular, a acariciar e trazia balas de presente. Na adolescência, eu passava boa parte das férias de final de ano em Brasília. Ficava entre a casa dela e a casa da minha tia Indiara. Minha avó era diferente das outras avós, por ser muito culta. Ela lia muito e acabei por aprender com ela a gostar de ler. Me deu vários livros e debatíamos seu conteúdo e os temas políticos que víamos na TV. Não havia assunto que ela não pudesse discutir. Sempre se posicionava a favor do que era melhor para todos. Era preocupada com o Brasil. Acho que herdei isso dela. Aprendi muito com minha avó. Ela não parecia somente uma avó. Ela era uma inspiração para aqueles que acreditam na vida”, avalia Adriano. 

Os relatos acerca da vida de Berenice na terceira idade são unânimes em enfatizar a lucidez com que ela viveu e acompanhou os acontecimentos políticos do país. Apesar da clareza mental com que conduziu a vida até o fim, por volta dos 90 anos, a fragilidade física tirou dela a tão almejada independência. “Minha avó era uma mulher surpreendente. Pensava longe e gostava de ser independente. Foi assim até os 90 anos. Depois, a idade a venceu e ela teve que se sujeitar aos cuidadores”, comenta Adriano, que também relatou que a avó, ciente de que seria bem amparada pela família, dividiu em vida os seus bens, muito antes de chegar à velhice. 

Índio, responsável pelo sustento da mãe, a cercou de todos os cuidados profissionais:  empregadas domésticas, enfermeiras, fisioterapeutas e maqueiros. Sempre bem-humorada, Berenice brincou com a filha Indiara que estaria namorando. “Ela me chamou e falou assim: 'abaixa aqui que eu vou te contar um segredo'. Eu abaixei e ela disse: 'arranjei um namorado, mas você não vai contar nada para o Índio não, porque se contar eu bato em você, sua fuxiqueira'.  Aí eu disse: 'mãe, namorado?' Aí ela disse: 'sim, ele me tira da cama e me bota no colo para passear'. Era o maqueiro”, contou Indiara, em meio a risos. 

Os filhos convergem na ideia de que a velhice foi também seu tempo de maior saudade. “Depois dos 80 anos, ela começou a reviver esse passado que ela teve com meu pai. Ela não falava muito disso não, mas dizia assim: 'saudades da minha Santa Cruz de Goiás. Saudades do seu pai'”, compartilha Índio sobre as memórias de Berenice. Índio reuniu os poemas da mãe em um livro, onde se encontram fragmentos de todas as fases de sua vida, incluindo a saudade aqui mencionada. 

Lembranças

Vivo a eternidade

do momento

em que te conheci.

O meu sorriso

é o teu sorriso que sorri.

Dos teus olhos

não consigo me separar.

Querido, vem depressa

me abraçar.

 

Velhice

Não atentai para os meus cabelos brancos

Para os anos vividos na minha pele marcados,

Para as minhas pernas trôpegas

Para as minhas mãos marcadas

De pele escura, enrugadas

Para a tristeza dos meus olhos

Onde a claridade pisca e apaga.

Aos meus ouvidos, o som chega

Se mistura entrecortado, e foge

Estou velha, sinto o peso dos anos

E os meus pés já não me levam aonde vai o meu desejo.

 

Comenda Berenice Artiaga

Em 1998, quando a ex-parlamentar estava com 82 anos, foi homenageada pelo Poder Legislativo estadual. A então deputada Dária Alves[18] (PMDB) teve a ideia de criar uma comenda para honrar e incentivar as mulheres que se destacam na vida pública. “Nada mais justo que escolher o nome da primeira deputada estadual, Berenice Artiaga, que foi uma guerreira. Teve seu marido assassinado e assumiu a cadeira de deputada estadual. Foi um sucesso”, confirma Dária em entrevista à repórter Luciana Martins, da TV Assembleia. 

A então deputada Isaura Lemos[19] (PC do B), em 2008, apresentou novo projeto para dar continuidade à entrega anual da Comenda, a cada 8 de março, por comemoração do Dia Internacional da Mulher. “Ela representou o pioneirismo na luta e na defesa dos direitos das mulheres. A força e a coragem da mulher goiana são representadas por ela. Com justiça, todos os anos homenageamos as mulheres que se destacaram em Goiás, concedendo uma comenda que leva o nome da ex-deputada”, destacou Isaura. 

Quando era deputada, Eliane Pinheiro[20] (PSDB) tentou aumentar para cinco a quantidade de homenageadas pelas parlamentares mulheres, mas a proposta foi apensada ao processo original e rejeitada. Anualmente, cada parlamentar, independente do gênero, pode indicar por ano no máximo duas mulheres para receber a Comenda Berenice Artiaga. Todas as mulheres agraciadas com esta condecoração demonstram imensa gratidão e deferência pelo gesto, passados 70 anos daquela eleição que conduziu Berenice ao cargo de deputada estadual por Goiás. 

Morte e Homenagens

Foi no dia 8 de maio de 2012 que a pioneira veio a falecer, vítima de falência múltipla de órgãos. Seu corpo foi velado no Salão Nobre da Assembleia, que fica ao lado do Plenário Getulino Artiaga. Na ocasião, vários políticos proferiram homenagens à ex-parlamentar, enaltecendo sua trajetória.

Berenice foi deputada numa época muito difícil. Ela foi uma grande deputada. Foi por isso que propus a Comenda, para homenagear as mulheres e entidades que trabalham em prol das mulheres. Conseguimos perpetuar o nome dela no cenário político”, disse Dária Alves, propositora da Comenda Berenice Artiaga.

 “O simbolismo para Goiás e para o Brasil é a marca desta grande mulher. Ela era uma mulher ativa, que tinha uma liderança e que buscou, através da sua determinação, que as mulheres pudessem ser enxergadas. Ela se tornou um símbolo, e podemos comemorar hoje, no Brasil, as milhares de mulheres que ocupam cargos eletivos”, parabenizou Helio de Sousa[21], à época deputado pelo Democratas.

Tenho que enaltecer suas conquistas ao longo destes anos. Uma mulher excepcional, guerreira e inovadora. Sentiremos saudades”, declarou Cláudio Meirelles[22], então deputado pelo PR. “A ex-deputada foi um exemplo de mãe de família e deixa uma herança de honradez, seriedade e honestidade para toda a classe política”, definiu Misael Oliveira, então deputado pelo PDT. 

A amiga e também ex-parlamentar, Ana Braga[23], esteve no velório e, segundo Indiara, chegou a deixar um bilhete[24] no caixão de Berenice em homenagem à amizade das duas. Elas partilharam desafios semelhantes ao ingressarem em uma época com tão poucas mulheres na política. 

Dos filhos e familiares, Berenice recebeu as mais diversas homenagens. Índio conta que até hoje sente a presença dos pais e chega a conversar com eles todos os dias. “Eu tenho muita saudade dela, vontade de ver outra vez. Eu tenho uma fotografia da minha mãe, junto com meu pai e meu irmão, de quando a gente era pequeno. Eu devia ter uns cinco ou seis anos. Está na cabeceira da minha cama e todos os dias, invariavelmente, eu converso com eles. Sobre tudo: o que me aflige, o que me deixa feliz, o passado, aquilo que me fez sofrer, sobre a ausência e a presença deles”, conclui o filho mais velho. 

Indiara também fala sobre a presença constante da mãe em sua vida. “A figura dela é para mim uma coisa interna, sabe? A cada passo que eu dou, ela está junto. Sempre está muito viva em mim e muito admirada por todas as gerações da família”, define a filha. 

“Mulher forte, determinada, muito alegre e independente. São legados que ela deixou à família: seu carisma, exemplo de amor à vida, sua integridade, sua firmeza, e, principalmente, sua visão de mundo. Devo a ela o gosto pela leitura e o amor pela política, e acho que todos da família devemos a ela a nossa força interior”, elenca Adriano. 

As palavras escolhidas pelos familiares para homenagear Berenice se assemelham àquelas com as quais ela mesma se definiu, em seu poema mais autobiográfico:

Eu sou rosa sempre rosa

(...)

Sou filha do tempo, 

Mas o tempo não me alcança.

Meu domicílio é o vento 

E o vento sopra as cinzas das eras. 

Sou terra, sou raiz, sou fruto, 

Sou semente e semeadura. 

Sou fonte, sou cântaro, 

Sou água e sou aguadeiro. 

Em mim o verbo é. 

Eu sou rosa, sempre rosa. 

(Maio de 1952)

 

Notas explicativas

[1] Considerado uma das primeiras povoações do estado de Goiás (local descoberto por Manoel Dias da Silva em 1729), Santa Cruz de Goiás foi criado como distrito em 1759 e elevado a status de Vila em 1833. Mais tarde, seria anexado ao município de Pires do Rio. Foi novamente elevado à categoria de município, com a denominação de Santa Cruz de Goiás, em 1947.

[2]  Índio do Brasil Artiaga Lima (1936), Indiara Artiaga de Almeida Castro (1937) e  Ibirá Artiaga Lima (1939). Segundo Índio, os nomes dos filhos foram escolhidos por Getulino Artiaga, como homenagem às suas raízes. Getulino era descendente de índios Goyazes, etnia que, antes da descoberta do Brasil, habitou a região do rio Orinoco, na Venezuela. Grande parte fugiu após a invasão dos índios Caraíbas, transpondo o rio Amazonas, para a região do rio Araguaia. Em terras goianas proliferaram e possuíram a região. 

[3] O Partido Social Democrático (PSD) foi fundado em 17 de julho de 1945, sob o comando dos interventores estaduais nomeados por Vargas durante o Estado Novo. Em seu programa, o PSD defendia a legislação trabalhista e a intervenção do Estado na economia. Disponível em https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/QuedaDeVargas/PartidosPoliticos Acesso em 15 de dezembro de 2020. 

[4] Pedro Ludovico Teixeira, amigo e correligionário de Getulino e Berenice, era o governador em Goiás. Foi o responsável pela criação do 4º Tabelionato de Notas de Goiânia e pela nomeação de Berenice Artiaga como titular do referido cartório. 

[5] Getulino Artiaga Lima nasceu em Itaberaí (GO), em 1913, e era filho de Raimundo e Carolina. Aos 16 anos ingressou na Polícia Militar, tornando-se, em 1936, comandante das forças policiais da antiga capital, Goiás. Foi designado delegado, atuou em diversas cidades goianas e se elegeu deputado constituinte em 1947. Durante sua campanha à reeleição para a Assembleia Legislativa de Goiás, foi assassinado. Era dia 8 de setembro de 1950. Conforme informações do jornal Cinco de Março (atual Diário da Manhã), estava programado um comício do PSD em Nova Aurora (GO), com a presença de seu correligionário Pedro Ludovico, que era candidato ao governo. Estava na cidade uma caravana udenista de Goiandira. Nos atritos políticos, foi morto Tatico Rosa, líder do PSD local. Getulino, então, dirigiu-se ao bar onde os udenistas brigavam, sendo morto com 18 tiros ao adentrar no recinto. O plenário da sede da Alego leva seu nome. 

[6] A União Democrática Nacional (UDN) foi fundada no dia 7 de abril de 1945, reunindo diversas correntes que nos anos anteriores haviam se colocado em oposição à ditadura do Estado Novo. Até a sua extinção em 1965, o partido esteve no centro dos principais acontecimentos da vida política do país. Caracterizou-se pela defesa da democracia liberal e pelo combate aguerrido às correntes getulistas.

[7] Mauro Borges é filho de Pedro Ludovico. Iniciou sua carreira política em 1958, como deputado federal. Em 1961, foi eleito governador. Em 1964, depois da intervenção federal em Goiás, renunciou ao Governo. Em 1990, conquistou seu segundo mandato de deputado federal e ao fim do mandato deixou definitivamente a vida pública. Faleceu em 29 de março de 2013, após 14 dias internado em UTI, em decorrência de complicações de uma pneumonia. 

[8] Os índices de mortalidade infantil em Goiás e no Brasil eram muito altos nas primeiras décadas do século XX.  Estavam entre as principais causas de morte de crianças o sarampo, a coqueluche, os vermes, a broncopneumonia e a tuberculose. 

[9] Segundo Indiara, todos os filhos de sua avó Alzira, obtiveram êxito e destaque profissional. Ela destacou o tio Osiris Teixeira (1931-1993), que foi bacharel em Ciências Jurídicas e em Economia. Depois de exercer cargos administrativos nos poderes Legislativo e Executivo, tornou-se deputado estadual pelo PSD em 1962 e vice-governador eleito em 1965 no governo de Otávio Lage (1966-1971). Filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de apoio ao regime militar instaurado no país em abril de 1964. Nessa legenda, tornou-se senador por Goiás em 1970. 

[10] Paulo Fleury da Silva e Sousa (1911-1990) foi promotor público, juiz do Trabalho e deputado federal eleito em 1950. Em 1974, foi nomeado ministro do Tribunal Superior do Trabalho, cargo no qual se aposentou em 1977.

[11] Entre a morte de Getulino (8 de setembro) e as eleições de 1950 (3 de outubro), passaram-se apenas 25 dias.

[12] O udenista Emival Ramos Caiado (1918-2004) foi deputado estadual eleito em 1950, deputado federal eleito por dois mandatos pela UDN e reeleito à Câmara Federal em 1966, mas dessa vez filiado à Arena. Em 1970 foi eleito senador por Goiás e abandonou o cargo e a carreira política em 1975, quando retornou à advocacia. 

[13] Willamar da Silva Guimarães (1917-1981) foi deputado estadual pela UDN nas 3 primeiras Legislaturas da Alego. Ainda pela UDN, foi deputado federal por dois mandatos (1959 a 1967) e novamente foi deputado federal, mas dessa vez pela Arena (1967-1971). 

[14] Pela UDN, Ary Ribeiro Valadão foi prefeito de Anicuns por dois mandatos (1947-1951 e 1955-1959) e deputado estadual na 4ª e 5ª Legislaturas (1959-1963 e 1963-1967). Pela Arena, foi deputado federal por 3 mandatos consecutivos (1967 a 1979), secretário de Estado do Interior e Justiça no governo de Irapuan Costa Jr e governador de Goiás, eleito indiretamente, tendo governado de 15 de março de 1979 a 15 de março de 1983.

[15] Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) foi médico e deputado federal pelo PP em 1934. Exercido o mandato até 1937, quando Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacional. Em 1940, foi prefeito nomeado de Belo Horizonte, função que ocupou concomitantemente com a atividade médica. Com a deposição de Vargas, Juscelino foi afastado da prefeitura e em 1946 regressou à Câmara Federal. Em 1950, foi eleito governador de Minas Gerais pelo PSD e assumiu a presidência da República em 31 de janeiro de 1956. A transferência da capital federal para Brasília foi um de seus principais feitos políticos. 

[16] A professora Almerinda Magalhães Arantes (1906-1996) foi deputada estadual na 4ª e 5ª Legislaturas (1959-1967). 

[17] Júlio era professor de vias navegáveis em cursos de Engenharia em Brasília. Irmão de Colombo Salles, ex-governador de Santa Catarina. 

[18] Dária Alves (1948) nasceu em Trindade (GO) e exerceu seu mandato de deputada estadual durante a 13ª Legislatura (1995-1999). Na ocasião, ela integrou a Mesa Diretora, como segunda secretária. Eleita pelo PMDB, recebeu a sexta maior quantidade de votos. 

[19] Isaura Lemos (1954) é natural de Jundiaí (SP) e participou de cinco legislaturas consecutivas na Alego, de 1999 a 2019. 

[20] Eliane Pinheiro (1965) é formada em Gestão Pública e atuou na área administrativa de campanhas eleitorais desde 1993, quando trabalhou com a então deputada federal Lydia Quinan. Foi chefe de gabinete do então governador Marconi Perillo e deputada estadual eleita pelo PMN em 2014. Em 2018, filiou-se ao PSDB. 

[21] Médico natural de Buriti Alegre (GO), Helio de Sousa (1947) foi deputado de 1995 a 1999, e, depois, por mais cinco mandatos consecutivos, da 15ª à 19ª Legislaturas. Foi presidente da Alego de setembro de 2014 a janeiro de 2017. 

[22] Cláudio Meirelles (1960) é deputado estadual desde a 16ª Legislatura (2007 a 2023). Antes, foi vereador por Goiânia em quatro mandatos também consecutivos (1992 a 2005). 

[23] Ana Braga de Queiroz (1923) nasceu em Peixe (TO). Professora, advogada e jornalista, ela integrou a 4ª Legislatura (1959 a 1963), eleita pelo PSD. Antes, de 1947 a 1951, foi vereadora da 1ª Legislatura da Câmara Municipal de Goiânia, pela Arena. 

[24] Infelizmente, não foi possível conhecer o conteúdo do bilhete. Ana Braga continua viva e lúcida, mas é cuidada por sua filha, Edetina Augusta, que impossibilitou o contato da reportagem com sua mãe. 

Agência Assembleia de Notícias
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