Melhor remédio é a prevenção
Criado em 2006, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em parceria com a Federação Mundial de Neurologia, o Dia Mundial de Combate ao Acidente Vascular Cerebral é um alerta à população sobre os tratamentos e prevenções da doença, além de engajar os profissionais da saúde a orientação efetiva aos seus pacientes sobre esses cuidados. No Brasil, o Dia Mundial de Combate ao AVC é coordenado pela Rede Brasil AVC, uma organização não-governamental que tem o objetivo de melhorar a assistência aos pacientes com acidente vascular cerebral em todo o território nacional.
A adoção de um dia específico para lembrar os perigos do AVC se justifica. Os números relacionados à doença são superlativos: são cerca de 17 milhões de casos de AVC isquêmico todos os anos no planeta, sendo que, desses, 6,5 milhões de pessoas vão evoluir para o óbito. As mortes pela doença podem responder por 10% de todos os óbitos ocorridos no mundo.
Somente no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 100 mil pessoas morrem anualmente de AVC, um número superior ao total de mortes causadas por malária, tuberculose e aids juntas. É a principal causa de incapacidade no mundo, com impacto social e econômico importantes. Estudos indicam que uma em cada quatro pessoas terá a doença ao longo da vida.
E não são apenas os números de mortos que assustam. Os que conseguem se salvar podem enfrentar sérias sequelas decorrentes do acidente. Aproximadamente 41% dos sobreviventes (21% do total) evoluem com sequelas incapacitantes. Além disso, a mortalidade chega a 48% em cinco anos, quando sem tratamento específico.
No Legislativo
Os elevados números relacionados à doença motivaram o deputado Virmondes Cruvinel (Cidadania) a apresentar um projeto propondo a criação da Política Estadual de Prevenção ao Acidente Vascular Cerebral, que tem a finalidade de desenvolver ações de prevenção à doença no estado. O projeto tem três objetivos básicos: promover ações educativas sobre AVC, realizar campanhas de prevenção sobre os diferentes tipos da doença e promover a orientação técnica para pessoas suscetíveis de risco.
Além dos números já citados, o parlamentar argumenta que o AVC é a segunda causa de morte e a primeira de incapacidade no Brasil. E cita, ainda, que 90% dos AVCs estão ligados a fatores que podem ser modificados.
“Uma em cada quatro pessoas que sofreu um AVC terá outro, por isso é importante investigar as causas do primeiro e prevenir o segundo que, em geral, traz consequências mais graves. É com esse intuito que estamos apresentando este projeto de lei visando conscientizar a população sobre os riscos desta doença e como se informar dos meios para combatê-la”, diz Virmondes.
O PL já teve parecer favorável aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Redação e agora está sendo analisado pela Comissão de Saúde.
Dinâmica sanguínea
O neurocirurgião Danilo Marques Nogueira explica que o termo Acidente Vascular Cerebral é genérico e se refere a qualquer alteração na dinâmica sanguínea cerebral. Sendo assim o AVC pode ser tanto isquêmico, quanto hemorrágico. No primeiro caso o que ocorre é a obstrução de uma ou mais artérias que levam sangue para o cérebro.
Essa obstrução pode ocorrer por um coágulo de sangue, por pedaços de placas de gordura, entre outros. Quando isso ocorre, inicia-se a destruição e morte da área cerebral atingida. Já o AVC hemorrágico ocorre pela ruptura de um vaso cerebral ocasionando um "derrame de sangue" dentro do cérebro, por isso é popularmente chamado de derrame.
O AVC isquêmico é o mais prevalente e representa 85% de todos os casos, por esse motivo, é a maior preocupação dos especialistas. Ele pode ocorrer em qualquer faixa etária, porém, é mais comum em adultos e idosos.
Segundo o profissional, outro fator relevante no AVC isquêmico é que se trata de uma doença traiçoeira e silenciosa. “Quando ocorre, é de forma súbita e por vezes dramática. Na maioria dos casos não há sinais prévios perceptíveis de que o AVC está prestes a ocorrer. Existem, sim, doenças e fatores de risco que favorecem a ocorrência do AVC, como por exemplo a arritmia cardíaca, a hipertensão arterial, o excesso de colesterol sanguíneo e o tabagismo”, ensina.
Sem sinais
Nogueira lembra que, apesar de o Acidente Vascular Cerebral não apresentar sinais prévios, alguns sintomas imediatos podem ser observados. Ele explica que o AVC isquêmico pode ocorrer em qualquer artéria cerebral, e pode ocasionar variados sintomas. Porém três sintomas são considerados os mais importantes para o diagnóstico precoce do AVC: desvio da boca para um dos lados da face, fraqueza em braço e/ou perna de um dos lados do corpo e dificuldade para falar.
“Nos Estados Unidos é muito divulgada uma regra sobre o diagnóstico do AVC por leigos. A regra se resume à palavra FAST (que significa rápido, em inglês): F de face, A de arms (braços em inglês), S de speech (fala ou discurso em inglês) e T de time (tempo em inglês, uma referência para ligar o mais rápido possível para um serviço de emergência). Tentando "aportuguesar" essa regra, eu costumo chamar de os 3 "F"s: Face, Força e Fala”, resume.
Tratamentos
Quando os sintomas são percebidos e os pacientes são socorridos a tempo, existem tratamentos eficientes para conter os efeitos do AVC. Especialmente no caso isquêmico agudo, com menos de 6 horas de evolução, são utilizados medicamentos venosos para dissolver o coágulo. E ainda podem ser feitos procedimentos por cateterismo, que retiram a obstrução por aspiração ou com ajuda de stents, uma espécie de “desentupidor de vasos”.
“Porém, é sempre bom lembrar que, como qualquer procedimento médico, esse também não está isento de complicações”, alerta o médico.
A boa notícia é que, como acontece com mais uma série de doenças, ela pode ser prevenida com uma receita já muito conhecida: a adoção de hábitos saudáveis de vida. “No AVC, o melhor tratamento é a prevenção. Uma vida saudável, com uma dieta balanceada, exercícios físicos regulares, a ausência do tabagismo, a ingestão alcoólica moderada e o controle de doenças, como a hipertensão arterial e o diabetes, sempre serão mais eficazes que qualquer tratamento médico em qualquer tempo”, finaliza o neurocirurgião Danilo Nogueira.