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Um ato que salva vidas

14 de Junho de 2023 às 11:15
Um ato que salva vidas
Goiás celebra Dia Mundial do Doador de Sangue com aumento das doações em anos recentes. No Parlamento goiano, ao longo dos anos, diversos projetos de lei — dois deles na atual legislatura — incentivam a doação.

São aproximadamente 450 ml que salvam até quatro vidas, declaram os especialistas.

A transfusão de sangue – feita pela primeira vez entre humanos em 1818, confiável especialmente a partir da descoberta dos grupos sanguíneos, no início do século 20, e realizada aos poucos em hemocentros, no Brasil, dos anos 1940 em diante – é hoje uma ação descomplicada que demanda a doação, muitas vezes, de não mais que uma hora.

Neste dia 14, comemora-se, mais uma vez, o Dia Mundial do Doador de Sangue, que é envolto pela campanha do Junho Vermelho, em Goiás instituída em 2004.

A Rede Hemo (Rede Estadual de Serviços de Hemoterapia) vem registrando, em anos recentes, aumento do total de candidatos à doação de sangue entre os goianos – de 41.829 em 2019 para 60.281 em 2022, um crescimento de quase 50% em três anos, mesmo sob a pandemia do novo coronavírus.

Acidentes, cirurgias, queimaduras, anemia, leucemia e outras doenças geram a necessidade de renovação constante do estoque de sangue. Os doadores do grupo AB são sempre necessários, ressalta a Rede Hemo, e a coleta apresenta grande variação pelo estado – a unidade de Quirinópolis, por exemplo, tem o menor número de bolsas coletadas, embora o município seja mais populoso que alguns outros também com unidades da Rede.

Há um hemocentro estadual (em Goiânia) e quatro regionais (em Catalão, Ceres, Rio Verde e Jataí), além de quatro unidades de coleta e transfusão (em Formosa, Iporá, Porangatu e Quirinópolis). Endereço e contato de todas podem ser conferidos no site do Hemocentro. Há ainda unidades transfusionais em 15 municípios goianos.

Corpo recupera sangue imediatamente após a doação

Doar sangue envolve recepção e cadastro, pré-triagem, entrevista clínica, coleta do sangue e lanche. São, portanto, várias etapas, mas todas simples e com durações de minutos, exceto no caso da doação de plaquetas, um pouco mais prolongada.

A coleta, embora gere receio em muitos, envolve problemas em poucos casos.

Segundo dados de 2020 da AgêncIa Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), houve uma reação vagal (resposta ligada à ativação inapropriada do nervo vago, podendo levar a desmaios) a cada mais de 200 coletas de sangue naquele ano em Goiás, uma dificuldade de punção venosa a cada mais de 30 coletas e outros tipos de problema a cada cerca de 40 coletas.

É válido ressaltar, ainda, que a quantidade de sangue retirada não afeta a saúde do doador, pois a recuperação ocorre imediatamente após a doação. Um adulto tem, em média, cinco litros de sangue. Em uma doação, são coletados no máximo 450 ml.

Além de rápida e relativamente simples, a doação de sangue permite folga aos doadores – por um dia a cada 12 meses de trabalho, em caso de doação voluntária devidamente comprovada, conforme o art. 473, IV, da CLT.

Para os servidores públicos federais ou do estado de Goiás, a doação também permite um dia de folga, com a diferença de que é possível doar novamente no mesmo ano dentro dos limites estabelecidos pelas autoridades de saúde – homens podem doar a cada 60 dias, mas no máximo quatro vezes ao ano; mulheres podem doar a cada 90 dias, mas no máximo três vezes anualmente.

O doador de sangue, além disso, fica isento da taxa de inscrição em concurso público, desde que tenha doado ao menos três vezes nos 12 meses anteriores ao edital. Essa previsão consta em lei do estado de Goiás. Um projeto semelhante em trâmite na Câmara dos Deputados visa garantir esse direito para concursos federais (para doadores de medula óssea, a isenção é garantida tanto em Goiás quanto federalmente).

Até a Constituição de 1988, o sistema transfusional brasileiro baseava-se na doação remunerada, com doadores dos bancos de sangue públicos e privados recebendo pagamentos, relembra o Ministério da Saúde na Biblioteca Virtual em Saúde, relatando que “a prática favorecia a proliferação de bancos de sangue privados que recrutavam pessoas doentes, contaminadas por doenças infecciosas, anêmicas, alcoólatras ou que omitiam informações relevantes sobre seu estado de saúde no momento da coleta, provocando a transmissão de enfermidades aos que recebiam o sangue”.

A Constituição de 1988, no art. 199, § 4º, vedou todo tipo de comercialização da coleta, do processamento e da transfusão de sangue. Posteriormente, a lei nº 10.205/2001 regulamentou esse artigo, consolidando a vedação. Atualmente, são permitidos apenas incentivos não remunerados, como a mencionada isenção da taxa em concursos.

Incentivos legislativos

A isenção da taxa foi um motivo a mais para que o servidor público Adam César, 33 anos, morador da capital goiana, se tornasse doador regular de sangue. Em uma tarde de quarta-feira do início de junho, ele estava novamente no Hemocentro Estadual Coordenador Prof. Nion Albernaz (Av. Anhanguera, 7.323, Setor Coimbra, Goiânia).

Adam ficou sabendo do Hemocentro ao ouvir falar do ônibus que realiza a coleta móvel. Desde então, mesmo tendo doado menos vezes durante o pior período da pandemia, ele estima totalizar aproximadamente 20 doações.

Seu perfil é justamente o predominante entre os doadores da Rede Hemo – os homens acima de 29 anos são o maior grupo daqueles que doam sangue.

A coleta móvel da Rede é feita em empresas ou instituições que demonstrem interesse em recebê-la, tenham em média 120 candidatos para doação e façam o agendamento com pelo menos 30 dias de antecedência. São dois ônibus operando das 8 às 16 horas, em Goiânia ou em deslocamentos para outras cidades.

Outra iniciativa do Hemocentro é o Banco virtual de sangue, que foi criado em 2019 e envolve um cadastro gratuito realizado no site. A proposta é facilitar o processo para encontrar doadores ao cruzar seus dados com os dos pacientes que necessitam de doação, identificando a compatibilidade entre os tipos sanguíneos.

Basta preencher cidade, sexo, tipo sanguíneo, nome, e-mail, CEP e telefone. É possível cadastrar-se como “primeira doação”, doador ou receptor. Com iniciativas assim, a Rede Hemo destaca ter atingido 95% de doadores espontâneos, ou seja, aqueles que se voluntariam a doar em vez de serem motivados pela ajuda a pessoas conhecidas.

Na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), diversos projetos de lei ligados à doação de sangue foram apresentados nas últimas legislaturas.

Na atual, são duas as matérias apresentadas até agora, ambas do médico e deputado Gustavo Sebba (PSDB): as de no 374/23 (em fase de primeira discussão e votação em Plenário) e no 560/23 (em discussão na Comissão de Constituição, Justiça e Redação).

A primeiro obriga a presença de mensagem de incentivo à doação de sangue nas faturas de água, luz, telefone e internet. Mais especificamente, a frase de incentivo proposta é “Você é a gota que faltava, doe sangue!” e deve vir acompanhada tanto do site quanto do número de telefone (62 3231-7900) do Hemocentro de Goiás, além de menção do local mais próximo da residência em que o consumidor pode fazer a doação.

O segundo projeto, por sua vez, autoriza os estabelecimentos de saúde, públicos e privados, a oferecerem aos doadores regulares de sangue, gratuitamente, a realização do exame laboratorial de hemograma completo. Os estabelecimentos que aderirem à proposta terão outorgado o “selo laboratório parceiro”.

Desconhecida de boa parte da população, a coleta de sangue em estabelecimentos privados de saúde desempenha um papel complementar aos bancos de sangue públicos, diversificando as opções de doação, explica Sebba, especificando: “Eles são especialmente importantes em casos de emergência ou quando há uma demanda maior por sangue devido a cirurgias, acidentes graves ou desastres naturais”.

Quanto à oferta dos hemogramas completos, diz o legislador, ela pode ser um incentivo adicional para algumas pessoas se tornarem doadoras. O hemograma, ressalta, avalia a saúde geral do doador, incluindo a contagem de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas, bem como a análise dos componentes do sangue. São aspectos distintos dos avaliados nos testes laboratoriais feitos nas doações – tipagem ABO, tipagem RhD, pesquisa de anticorpos antieritrocitários irregulares, pesquisa de Hemoglobina S, sífilis, doença de Chagas, hepatite B, hepatite C, HIV e HTLV I/II.

Ainda que haja custos para a realização dos hemogramas, argumenta Sebba, eles são justificados pelos benefícios para a saúde pública e a possibilidade de incentivar e conscientizar as pessoas quanto à doação de sangue.

Apresentada há dois anos, e aprovada em segunda discussão e votação no último dia 25 de abril, a matéria no 5632/21, do deputado Delegado Eduardo Prado (PL), também traz incentivo à doação. Fica instituído em Goiás, conforme a proposição, o “Selo Sangue Bom”, a ser concedido a universidades, centros universitários e faculdades que estimularem o trote solidário. Para fazer jus ao selo, essas instituições devem se comprometer em organizar campanhas de doação de sangue anual ou semestralmente em parceria com o Hemocentro de Goiás.

O projeto de Prado segue agora para a sanção do Poder Executivo estadual.

Maior rede de hemocentros do mundo

“São vários Brasis”, sublinha o hematologista Guilherme Genovez, coordenador da Política Nacional de Sangue entre 2008 e 2014 e atual diretor-técnico do Hemosc, a respeito da coleta de sangue país afora. Em linhas gerais, os hemocentros ainda são menos avançados nas regiões Norte e Nordeste: “É preciso trabalhar politicamente para que haja equidade, para nivelar os programas de saúde.”

No Brasil, menos de 2% da população doa sangue de forma regular, um pouco abaixo do que define a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), justamente 2%, e muito abaixo do que é coletado em países da Europa, 5%.

Esse quantitativo brasileiro, porém, está sendo resolvido de alguma maneira, não se está morrendo por falta de sangue, explica Genovez. “Não é só seguir o porcentual de maneira cega, porque assim a gente vai acabar jogando sangue fora”, acrescenta, lembrando da validade de 40 dias das bolsas de coleta.

O que acontece, especifica o hematologista, é que às vezes se posterga um pouco a transfusão. "Cirurgias como as de oncologia e cardiologia consomem grande quantidade de sangue. O acesso ao SUS e a cirurgias de grande complexidade é diferente daquele nos países desenvolvidos.”

Genovez pondera que o Brasil tem a maior rede de hemocentros do mundo, cada estado tem uma estrutura dessa rede vinculada à coordenação nacional, que define a política toda em relação à doação de sangue. "Mas houve, em anos recentes, um abandono de iniciativas como o Programa Nacional de Doação Voluntária de Sangue (PNDVS), a reunião dos diretores dos hemocentros estaduais [feita] para arredondar a política nacional”, e um comitê de assessoramento técnico ao Ministério da Saúde.

Entre os problemas enfrentados atualmente pelo país está, por exemplo, a falta de plasma – componente líquido que compõe mais da metade do volume do sangue – para que a Hemobrás produza medicamentos.

Ao comparecer a um hemocentro, esta é mais uma contribuição dos doadores de sangue.

Serviço

Hemocentro de Goiás: https://www.hemocentro.org.br/

Agendamento de doação de sangue: 0800 642 0457 ou online

Quais as condições básicas para doar sangue?

- Estar em boas condições de saúde;

- Ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 anos, precisam de autorização, baixe o formulário clicando aqui.

- Pesar no mínimo 50 kg;

- Estar descansado (ter dormido pelo menos seis horas nas últimas 24 horas);

- Estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas quatrro horas que antecedem a doação);

- Apresentar documento com foto emitido por órgão oficial.

Impedimentos temporários:

- Gripe, resfriado e febre: aguardar 15 dias após o desaparecimento dos sintomas;

- Período gestacional;

- Período pós-gravidez: 90 dias para parto normal e 180 dias para cesariana;

- Amamentação (até 12 meses após o parto);

- Ingestão de bebida alcoólica nas 12 horas que antecedem a doação;

- Tatuagem e/ou piercing nos últimos 12 meses (piercing em cavidade oral ou região genital impedem a doação);

- Exames/procedimentos com utilização de endoscópio nos últimos seis meses;

- Ter estado exposto a situações de risco acrescido para doenças sexualmente transmissíveis (aguardar 12 meses após a exposição).

- Pessoas que tiveram contato com pacientes infectados ou com suspeita de covid-19 ficam impedidas de doar sangue pelo prazo de sete dias.

- Pessoas que foram consideradas caso suspeito ou confirmado, devem aguardar o prazo de dez dias após a remissão dos sintomas.

- Vacinas têm um período de inaptidão que varia entre 48 horas e 12 meses. 

Critérios definitivos de impedimento:

- Ter passado por um quadro de hepatite após os 11 anos de idade;

- Evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças transmissíveis pelo sangue: Hepatites B e C, aids (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas;

- Uso de drogas ilícitas injetáveis;

- Malária.

Recomendações úteis após a doação de sangue:

- Permanecer sentado por cico a dez minutos;

- Manter o curativo no braço pelo menos por quatro horas;

- Tomar o lanche oferecido pelo Hemocentro;

- Evitar dobrar o braço puncionado por 30 minutos;

- Aumentar a ingestão de líquidos nas próximas 24 horas;

- Não ingerir bebidas alcoólicas por 12 horas;

- Não fumar por cerca de duas horas;

- Evitar grandes esforços físicos por 12 horas;

- Não desempenhar atividade de risco (manipular máquina de corte ou torno, trabalhar em andaimes ou grandes alturas, dirigir transporte coletivo ou motocicletas).

Agência Assembleia de Notícias
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