Audiência pública enfatiza importância de prevenção e educação em saúde mental

Proposta pelo deputado Mauro Rubem (PT), uma audiência pública de prevenção e educação em saúde mental foi realizada na tarde desta sexta-feira, 11, em parceria com o Instituto Olhos da Alma Sã. Profissionais-chave do tema debateram políticas públicas ligadas ao tema.
Analista, especialista em gestão de saúde pública e presidente do instituto, Jorge Antônio Moreira de Lima disse no evento que “nós estamos dentro de uma pandemia de saúde mental, infelizmente”. Um a cada seis brasileiros toma remédios controlados, pontuou, complementando que “hoje que em torno de 15% a 20% das internações nas UPAs e hospitais têm a ver com saúde mental”.
Para Jorge, o individualismo agrava o problema: “Temos que parar com essa política, esse projeto centrado no eu, na minha vida”, em que “cada um se considera a pessoa mais importante do mundo” e ignora ser a saúde mental uma questão coletiva.
O especialista afirmou serem necessárias ações suprapartidárias em prol da saúde mental, primeiramente para “levantar o tamanho do problema”, e depois para propor as ações estratégicas. Ele atentou, entre outros, para desafios como adolescentes se mutilando e um grande contingente de servidores afastados por questões mentais – seriam 25 mil servidores atualmente nessa situação em Goiás, segundo a Junta Médica estadual. “Qual o custo disso para o Estado? O que está acontecendo? E não são números, produtividade: são almas em sofrimento”.
“O Brasil”, sublinhou ainda o presidente do Instituto Olhos da Alma Sã, “é recordista mundial em transtorno de ansiedade, é o segundo país das Américas em casos de depressão, e hoje temos uma demanda reprimida por psicólogos treinados trabalhando para o Estado de Goiás”.
Falou em seguida, na audiência, a ex-vereadora de Goiânia Dra. Cristina Lopes Afonso, hoje à frente da Procuradoria da Mulher da Alego. Ela foi a propositora, na Capital, da Lei Janeiro Branco, que criou uma campanha de atenção às graves consequências dos problemas de saúde mental.
Fisioterapeuta especialista em tratamento de queimaduras, Cristina sublinhou ser “alarmante o número de pessoas que tentam suicídio que usam algum inflamável e fogo”. Ela afirmou, ainda, que os dados da saúde mental brasileira são subnotificados, e que em Goiás as políticas “voltadas à saúde pública, especialmente a mental, vêm sendo esvaziadas”.
Também falou no evento o voluntário do Centro de Valorização da Vida Manoel Messias de Jesus. Ele lembrou que o centro funciona desde 1962 e tem, no País, 120 postos físicos e 4 mil voluntários, tendo realizado mais de 3 milhões de atendimentos em 2022. “O voluntário do CVV sempre está ali para valorizar a vida do outro, não importa o que o outro seja ou traga para nós”, explicou.
O trabalho é baseado em 100% de sigilo e funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano, por meio do telefone 188, de chat, email ou idas pessoais aos postos do CVV em horário comercial (todas essas opções são especificadas no site da instituição).
"Seria preciso, hoje, dobrar o número de voluntários que atuam no CVV", afirmou Manoel, lembrando que em outubro haverá novo processo de seleção dos interessados. "A madrugada", prosseguiu, "é o período 'mais sensível', em que há maior demanda por novos voluntários. Há muitas pessoas que não conseguem ser ouvidas por falta de atendentes. A gente não desliga telefonema, por isso as chamadas podem demorar”, contextualizou. Manoel afirmou, ainda, que “o que mais pedimos é compreensão, empatia” em relação a pessoas com ideações suicidas, porque “ a pessoa não quer acabar com a vida, e sim com a dor dentro dela”.
Ainda na audiência, foi apresentado o programa “Um salto pela vida”, que utiliza o paraquedismo como “um esporte que traz energia, que traz o pulsar da vida, que rompe limites” para motivar pessoas com depressão. A apresentação foi feita por uma das idealizadoras, Mariana Maria Fernandes, mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goiás. Idealizou também o projeto Rejane Damaceno, especialista em saúde mental e paraquedista.
Outro projeto apresentado – pela advogada, especialista em Direito Penal e Criminologia e ativista Sara Gabriela Alves da Costa – foi o “Seja a princesa que salva a si mesma”, que combate à violência contra as mulheres.
Integraram também a mesa e falaram ao público o mestre em psicologia pela UNB Ronaldo Celestino, servidor de carreira da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás e da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia; e o psicólogo e psicoterapeuta Denis Canal Mendes, um dos coordenadores da clínica social Jung Brasil.
A audiência na íntegra pode ser vista em vídeo da TV Alego no YouTube.