Deputado Amauri Ribeiro comanda debate na Alego sobre dificuldades do segmento leiteiro em Goiás e no Brasil

Por iniciativa do deputado Amauri Ribeiro (UB), a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) realizou, na manhã desta terça-feira, 17, reunião para discutir a situação dos produtores de leite em Goiás, que vêm sendo duramente afetados pela importação do leite em pó de países do Mercosul.
O evento teve lugar no auditório Carlos Vieira, no térreo da Casa, e contou com a participação de deputados federais e estaduais, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores, presidentes de sindicatos e, principalmente, de produtores rurais de várias regiões do Estado.
Além do propositor da reunião, participaram da mesa dos trabalhos: os deputados federais Marussa Boldrin (MDB), Glaustin da Focus (Podemos), Daniel do Agrobom (PL) e Adriano do Baldy (PP); os deputados estaduais Paulo Cezar (PL), Wagner Neto (Solidariedade), Cairo Salim (PSD), Delegado Eduardo Prado (PL) e Rosângela Rezende (Agir); o secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás, Pedro Leonardo; e os representantes dos produtores de leite dos municípios de Mineiros, Wglevison Alegre Souza, e de Mossâmedes, Edélcio José Borges.
Amauri Ribeiro inaugurou sua fala afirmando que a importação de leite em pó está sendo uma competição desleal, pois não dá para competir com aqueles que têm incentivo ou vivem situação muito mais favorável em outros países. "Peço a todos os deputados federais do nosso Estado para que essa importação seja paralisada imediatamente", exortou.
Ele lembrou que, assim como há política pública que beneficia os produtores de soja, milho, algodão, também é preciso ter uma política para o produtor de leite, excluindo a possibilidade de os laticínios continuarem botando preço nesse produto e pagando somente 50 dias depois da entrega. "O produtor de leite gera milhões de empregos neste País. A cadeia é muito grande, precisa ser valorizada.”
O legislador informou que vai apresentar hoje, no plenário da Alego, um projeto de lei com o objetivo de retirar os incentivos fiscais de todas as empresas que compram e vendem leite importado. Disse também que é necessário pensar num movimento nacional que socorra o produtor de leite. "Precisamos de uma solução imediata, a categoria está no desespero, o governo federal precisa ajudar. Esse movimento precisa acontecer em todo o País."
O parlamentar reclamou, além diso, da questão energética em Goiás. Segundo ele, os produtores de leite goianos sofrem perdas por falta de energia elétrica. "A Equatorial precisa também dar manutenção nas redes elétricas existentes nas zonas rurais”, pontuou, relatando os problemas mais atuais daqueles que compõem a cadeia leiteira.
Luta em Brasília
A deputada federal Marussa Boldrin, vice-presidente da Frente Parlamentar dos Produtores de Leite na Câmara dos Deputados, trouxe um relato da sua luta em Brasília em prol da bacia leiteira de Goiás. De acordo com ela, recentemente, numa reunião entre todos os ministérios envolvidos nessa causa, algumas medidas foram tomadas para que seja baixado um decreto elevando as tarifas de produtos lácteos de outros países, além de aumentar a exigência das medidas sanitárias que são menos rigorosas nesses países.
A parlamentar, que é engenheira agrônoma e produtora rural em Rio Verde, disse que o leite brasileiro tem qualidade excelente e assegurou que existe um monopólio de mercado dos laticínios que domina essa cadeia e tem controle sobre o mercado e o preço pago para os produtores, fazendo um grande lobby no governo para manter essa situação. "Precisamos proteger o mercado interno para que nenhuma empresa compre leite em pó de qualquer outro país. Falta pouco para que o decreto seja sancionado. Precisamos de um governo que tenha mais olhar para agricultura e a pecuária, que é quem alimenta esse País”, enfatizou Marussa.
Glaustin da Focus destacou as dificuldades que o produtor de leite enfrenta — não tem descanso, não tem feriado, não tem Natal. E, ao final, disse o deputado, o produtor não sabe o quanto vai receber. "O governo precisa criar um fundo para o produtor rural, fazer um gesto que o auxilie. Já relatamos dois projetos impedindo importação de leite de outros países, como a Nova Zelândia, por exemplo. Apesar de o leite ser o primeiro produto que o ser humano consome, só o laticínio sabe o preço e paga o que quer. Precisamos da união dos produtores de leite, porque temos que enfrentar o lobby que existe em Brasília.”
Mostrar força
O deputado federal Daniel do Agrobon disse que essas reuniões são muito importantes, porque são oportunidades para o segmento mostrar força para ir a Brasília, "onde está a solução para todos os problemas do Brasil". Segundo ele, essa é uma luta incansável. "Já fui tirador de leite e, naquela época, o preço do produto já não pagava o custo. Essa luta sempre foi difícil. É preciso que o governo intervenha para manter essa cadeia do leite funcionando, pois ela é muito importante para o País, já que gera milhões de empregos e mantém as pessoas no campo."
Adriano do Baldy afirmou que, desde a sua infância, ouve seu pai falar sobre a dificuldade de produzir leite, porque o preço nunca está estável — "uma hora está bom e no mesmo instante está mal". De acordo com ele, é preciso coibir a importação do leite em pó de outros países, auxiliando nas políticas públicas de incentivo ao produtor. “Venho acompanhando a situação do setor com grande preocupação”, declarou.
Desunião
O deputado estadual Paulo Cezar falou também como produtor, lembrando que está há 25 anos produzindo leite. Ele disse que a classe é muito desunida, sendo esse o primeiro ponto que devem corrigir para buscar uma maior união. “Não quero fechar nenhuma empresa, mas se tem alguma empresa que quer impedir a abertura de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) do leite, então vamos deixar ela ir embora. Não queremos laticínio nenhum ganhando dinheiro às nossas custas, sem compromisso."
O legislador falou, ainda, em propor um planejamento para que a empresa Equatorial possa melhorar as redes elétricas em Goiás, de forma a resolver de vez o problema de falta de energia. Por fim, o deputado convocou a Federação da Agricultura e OPEcuária (Faeg) a se empenhar mais na luta em favor da classe.
O deputado Cairo Salim lembrou que liderou a CPI da Enel [antecessora da Equatorial no Estado; a CPI foi realizada na Alego em 2019] para pressionar na melhoria da qualidade do serviço. "Vamos continuar pressionando para que invistam e melhorem essa questão. Com relação ao lobby do leite em pó, vamos nos organizar e pedir ajuda aos senadores de Goiás. Vamos trabalhar para melhorar a vida de todos”, destacou.
A deputada Rosângela Rezende lembrou que seu pai também foi produtor de leite e, portanto, ela conhece os problemas da cadeia produtiva, que atravessa um momento muito difícil. "Precisamos capitalizar toda essa luta do produtor e buscar alternativas. Podemos pensar na criação de pequenas cooperativas”, sugeriu.
Wagner Neto ressaltou que não dá para fugir de uma das vocações econômicas do Estado, mas que é necessário equacionar essa conta para que o produtor tenha condições de continuar com a atividade. “O deputado Amauri vai apresentar hoje o projeto e, como presidente da Comissão Mista, digo que vamos votar esse projeto ainda hoje. Também não vejo dificuldade para o governador sancionar essa lei. Sabemos que o produtor de leite tem urgência na solução desses problemas”, pontuou.
Eduardo Prado lembrou que, como delegado de polícia, uma das suas ações foi ser delegado do consumidor, e depois participou ativamente da CPI do Leite. "Estou à disposição para acabar com a questão do cartel que prejudica vocês e para apoiar o projeto que diminua os incentivos fiscais de todos os laticínios que importam leite. Meu mandato é de vocês. Contem comigo."
Representantes do produtores
Na sequência, dois produtores de leite, em Goiás, falaram em nome do segmento. Darci Júnior abordou várias pautas que fazem parte da dificuldade do atual cenário dos produtores de leite. Ele afirmou que o produtor nunca sabe o que vai receber, afundando numa crise sem fim.
"Pedimos aos deputados estaduais e federais que legislem para barrar a entrada do leite em pó importado, reduzir impostos e taxas para produtos lácteos, tirar todos os incentivos fiscais e sobretaxar os laticínios que importam qualquer derivado lácteo de onde quer que seja. Os produtores rurais não conseguem mais viver com tanto sacrifício”, disse Darci.
O produtor José Borges, que atua em Mossâmedes, afirmou que a reunião é o início de uma marcha que precisa ter continuidade para melhorar a vida do produtor de leite, que está sendo massacrado pelos laticínios.