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Pai, o suporte psíquico do filho

08 de Agosto de 2025 às 09:14
Pai, o suporte psíquico do filho

Dia dos Pais, comemorado em 10 de agosto, chama atenção para o seu papel fundamental na constituição psíquica do filho. Hoje, na sociedade, pais solo assumem papel antes exclusivo das mães. 

O Dia dos Pais é celebrado neste domingo, 10, o segundo domingo do mês, conforme estabelecido pelo calendário de datas comemorativas. Esse é um momento de grande alegria, onde diversas famílias se reúnem nos lares brasileiros para celebrar a paternidade, entendendo seus desafios e seu papel crucial na sociedade. 

No Brasil, o Dia dos Pais ganhou força por meio de uma ação do publicitário Sylvio Bhering, em 1953, que pretendia estimular o comércio no segundo semestre, já que o Dia das Mães movimentava a economia no primeiro semestre e o Natal no fim do ano. 

Na tradição cristã, a data é associada à figura de São José, cuja missão de vida foi proteger, educar e amar o Filho de Deus, sendo, portanto, considerado como modelo de paternidade que transcende a imposição da genética e os laços preservados somente pela questão puramente consanguínea.

Ao longo de toda a história da humanidade, por diversas civilizações, se perpetuou a importância do papel paterno na vida de todas as crianças, compreendendo que ser pai é muito mais do que simplesmente acrescentar um nome na certidão de nascimento para assegurar certos direitos.

Do ponto de vista filosófico, a paternidade transcende a mera relação biológica e abrange aspectos éticos, sociais e existenciais. Filósofos como Sócrates e Platão focaram na educação e na formação do caráter do filho. Mais adiante, Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, explorou a influência do pai na constituição psíquica do indivíduo.

Função paterna 

Dentro desse contexto, a psicanalista Maria Carolina Andrade Rodrigues explicou que a paternidade vai além da reprodução e do laço biológico, abrangendo cuidado, presença e envolvimento emocional. É a forma como o pai interage com a criança, como a educa, como a guia e como a ama, que vai construir o vínculo ativo que influencia diretamente no desenvolvimento e bem-estar da criança.

“A figura paterna tem um papel estruturante na constituição psíquica do sujeito, simbolizando a lei, a interdição e a ordem simbólica. No desenvolvimento infantil, a figura paterna é, inicialmente, percebida como um intruso ou um rival na disputa pelo amor da mãe. No entanto, com o passar do tempo, a figura paterna é internalizada, seja como um modelo de identificação, ou internalizado enquanto lei, pois é essa figura que proíbe o desejo de fusão primária com a mãe. Essa passagem é crucial para a entrada no mundo da cultura e da linguagem”, comentou a psicanalista pontuando a obra freudiana.

A estudiosa explicou que, dentro de uma cultura patriarcal inquestionável, o pai foi visto como aquele que dá suporte e organiza o mundo psíquico da criança ao longo da caminhada pela vida, sendo capaz de assemelhar-se aos super-heróis. Porém, muitas vezes esse homem encontrava dificuldades para separar sua individualidade das funções de pai e se mantinha protegido no silêncio, comprometedor de toda possibilidade de diálogo com a família, especialmente com os filhos. Ele foi sempre apoiado pela cultura que, sendo patriarcal, reservou seu lugar acima da trama doméstica constituída, sobretudo pela mulher e pela criança. 

Entretanto, ela considerou que essa situação foi se modificando ao longo dos anos, lenta e progressivamente, sob a égide de transformações mais amplas, impondo uma mudança de hábitos nas famílias. Mas, antes de assimilar o esboço de nova configuração familiar, modelado no processo que introduziu a mulher no mercado de trabalho, o homem é surpreendido pela ruptura da hierarquia doméstica e pelo constante questionamento de sua autoridade. 

A psicanalista advertiu que tais mudanças não contribuíram para reduzir o vazio instalado nas relações afetivas. Permaneceu o distanciamento entre o homem e os demais membros do núcleo familiar denunciando a fragilidade do vínculo estabelecido entre pai e filho, principalmente quando se trata de crianças do sexo masculino. Penetrar este silêncio e entender a questão do pai, tendo como eixo a identidade masculina, culturalmente determinada, tem sido tarefa de diversos estudos, que colocam em perspectiva experiências contemporâneas de paternidade.

Antes prevalecia, segundo ela, o modelo de família organizado com base na hierarquia, regido pela severidade de princípios, mas agora ele vem sendo substituído por formas diferenciadas de organização, sem deixar lugar para o autoritarismo do antigo pai provedor, que exercia domínio sobre o grupo familiar. O mundo contemporâneo pede a adoção de formas alternativas de convivência familiar e criam-se espaços para a manifestação diferenciada da paternidade. Se, de um lado, exigências sociais operam pulverizando a figura do autoritarismo paterno, de outro, as famílias buscam se organizar, formando casais de dupla renda ou de dupla carreira. Emerge então uma nova figura paterna que exige que o homem se faça presente de outras maneiras.

Guarda compartilhada

Adotando esse novo modelo familiar, o advogado Marcelo Gurgel, 41 anos, tem a guarda compartilhada com a ex-mulher para criar a sua filha desde a separação do casal, hoje com 5 anos. Apesar da criança ter sido planejada, ele se separou quando a pequena tinha apenas seis meses, e não quis abrir mão dos cuidados e da convivência. Desde então, ele e a mãe conseguem alternar os cuidados semanalmente e entendem que esse modelo é o ideal nesses casos. 

Ele garante que não estranhou quando veio a guarda compartilhada. “Desde o nascimento, todas as funções da rotina diária eram divididas pelo casal.  Como estávamos em pandemia, a gente se alternava, a minha ex-esposa trabalhava pela manhã e eu trabalhava à tarde. À noite ambos contribuíam com banho, amamentação, colocar para dormir e todos os outros cuidados que fossem necessários”.

Entretanto, ele revela que, na semana em que ele estava com a filha, não podia assumir nenhum outro compromisso depois que pegava ela no berçário. Tudo durante a semana em que estava com ela, precisava ter planejamento prévio e, em caso de necessidade de qualquer outra coisa, ele pedia para ser entregue em domicílio. 

“O pai precisa assumir o filho com responsabilidade, com coragem e entrega, já que a criança não tem nenhuma culpa dos nossos medos e fraquezas. Assumir a guarda compartilhada da minha filha em semanas intercaladas, implicou numa grande responsabilidade e mudança de rotina. Foi um desafio tanto para mim, quanto para a mãe. Mas, mesmo assim, não mudaria nada, faria tudo de novo”, destacou o advogado. 

Marcelo acredita que doravante precisa haver o entendimento de que os pais não são somente os genitores, aqueles que contribuíram com seu material genético para que o filho pudesse ser concebido. “Os pais são muito mais do que isso. Na verdade, são os responsáveis por dar colo, transmitir afetividade e dar apoio psicológico e financeiro à criança”.

 

Agência Assembleia de Notícias - Ana Cristina Fagundes
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