Para proteger e cuidar
Data alerta para um dos mais graves problemas na sociedade. Na Alego, foi criada a Procuradoria da Mulher e servidora da Casa conta sua história de sofrimento e superação, que lhe deu instrumentos para ajudar outras mulheres.
A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) mas ainda está longe de ter seus objetivos cumpridos. Pelo contrário, os números mostram que a violência contra a mulher tem aumentado, em vários países do mundo. O Brasil é um deles.
Liliane Sales, 34 anos, estudante de técnica de enfermagem, moradora da cidade de Nova Veneza, e Cleidslane Henrique, 41 anos, moradora de Aparecida de Goiânia, têm histórias que seguiam rumos completamente diferentes, mas que se cruzaram na última semana. As duas foram mortas em um intervalo de pouco mais de 48 horas e o que aproxima a morte delas, é o fato de que os assassinos foram os companheiros com quem dividiram suas vidas por algum tempo.
Cleidslane foi esfaqueada por Johnathan Rodrigues, de 24 anos, quando trabalhava no Bosque dos Buritis, em Goiânia, em 18 de novembro. De acordo com a Polícia Civil, o crime foi cometido pelo ex-companheiro da vítima, que não aceitava o fim do relacionamento.
Na noite de quinta-feira, 20 de novembro, Liliane Sales foi morta, também a facadas, pelo companheiro. Amigos de Liliane relataram a veículos de imprensa, que a agressão que culminou na morte da mulher, não foi a primeira. O casal colecionava um histórico de violência e de separações e voltas. Liliane deixou três filhos, entre eles, uma criança diagnosticada com autismo e que dependia dos cuidados dela. Depois de matar a mulher, o homem também tentou se matar.
Na mesma semana, aconteceram, pelo menos, mais dois casos de violência contra a mulher que tiveram grande repercussão. Em Anápolis, um homem com várias passagens pela polícia foi preso após matar uma mulher e carbonizar o corpo dela. E em Aparecida de Goiânia, um homem ateou fogo na casa da namorada. O motivo, segundo ele mesmo admitiu, foi uma crise de ciúmes, provocada por uma suposta traição da mulher.
Esses casos integram as tristes estatísticas de crimes cometidos contra mulheres. Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na última semana, cerca de 840 milhões de mulheres em todo o mundo já sofreu algum episódio de violência doméstica ou sexual ao longo da vida, quase uma, em cada três mulheres. Apenas nos últimos 12 meses, 316 milhões de mulheres foram vítimas de violência física ou sexual praticada pelo parceiro.
Outra informação trazida pela OMS mostra um lado ainda mais perverso desses registros: ao longo dos últimos 12 meses, 12,5 milhões de adolescentes, com idade entre 15 e 19 anos, sofreram violência física e/ou sexual, praticada pelo parceiro.
No Brasil, dados do Mapa Nacional da Violência de Gênero apontam que no primeiro semestre de 2025 foram registrados 718 feminicídios no país, em média, quase quatro ocorrências por dia. O levantamento, elaborado pelo Observatório da Mulher Contra a Violência, do Senado Federal, também aponta registros de 33.999 estupros contra mulheres de janeiro a junho, uma média de 187 todos os dias.
Em Goiás
Em Goiás, nos últimos anos, está ocorrendo uma queda expressiva na maioria dos crimes, inclusive, contra a vida. A exceção, é justamente, no número de feminicídio, que não apresentam redução. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, divulgado em julho e que traz dados relativos ao ano anterior, em 2024, Goiás teve a nona menor taxa estadual de Mortes Violentas Intencionais.
O documento aponta que, no estado, entre 2023 e 2024, houve uma redução de 16,4% na taxa de Mortes Violentas Intencionais (MVI), que soma vítimas de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais em serviço e fora. Já o feminicídio teve o mesmo total nos dois últimos anos em Goiás, 56 casos em cada um deles. Em Goiás, praticamente uma de cada duas mulheres mortas em homicídio doloso (47,1%) sofreu feminicídio.
Já as tentativas de feminicídios em Goiás tiveram um aumento em 2024 de 8,8% de casos a mais que 2023. Foram 187 ocorrências, no ano passado, ante 170, no ano anterior.
Iniciativas para tentar, ao menos, reduzir esses dados não faltam. Na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) vários projetos em tramitação, buscam mecanismos de frear essa violência. Uma dessas iniciativas é do deputado Licoln Tejota (UB), com projeto apresentado no ano passado que prevê pagamento de multa pelo agressor, além do ressarcimento das despesas decorrentes do atendimento à vítima.
Segundo a proposta, que tramita na Casa com o número 21596/24, a multa a ser aplicada, será de acordo com a capacidade econômica do agressor, não podendo ser inferior a R$ 500,00, nem superior a R$ 50.000,00. Em caso de reincidência, a multa dobra de valor.
A matéria estabelece ainda os passos para o procedimento de cobrança, definindo que o órgão ou entidade que fez o atendimento deve apresentar um relatório a partir do qual deve ser aberto processo administrativo para identificar o agressor, estabelecer o contraditório e a ampla defesa e, por fim, fixar o valor da multa e o valor a ser ressarcido.
O deputado argumenta que a violência contra a mulher, especialmente, a praticada por homens, ainda é muito presente na nossa sociedade, apesar dos avanços no que se refere à legislação e à estruturação do Estado para atender as vítimas. “O poder sancionatório do Estado para coibir abusos contra a mulher, principalmente na área penal, é evidente. Além disso, alguns estados têm implementado iniciativas para cobrar multa e ressarcimento do agressor pelos atendimentos prestados às vítimas de violência (...) a partir desse contexto, o presente projeto de lei visa trazer para Goiás mais um instrumento jurídico de combate à violência contra a mulher”, justifica.
Projeto de lei com teor semelhante foi apresentado pelo deputado Mauro Rubem (PT) e apensado (juntado) à proposta de Tejota, que está em análise da Comissão de Constituição, Justiça e Redação da Casa.
Bia de Lima (PT) também tem iniciativas nesse sentido. Ela pediu o envio de requerimento ao governador Ronaldo Caiado (UB) e ao secretário de Estado da Segurança Pública, Renato Brum, solicitando a adoção de providências para a melhoria das estruturas das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (Deam), com o aperfeiçoamento e ampliação da infraestrutura, dos equipamentos eletrônicos fornecidos e dos recursos humanos empregados.
Ainda sobre as Deams, vários parlamentares apresentaram projeto solicitando a criação desses equipamentos em municípios do estado: Paulo Cezar Martins (PL) pleiteou a criação de unidade em Aragarças; Bruno Peixoto (UB) solicitou instalação de uma unidade em Quirinópolis; Lucas do Vale (MDB), em Rio Verde; e Charles Bento (MDB), em São Luís de Montes Belos.
Procuradoria
Além dos projetos dos deputados, a iniciativa do presidente Bruno Peixoto, de criação da Procuradoria da Mulher, foi a medida mais efetiva de combate à violência contra a mulher, implementada no Legislativo goiano. A presidência da alçada é feita em um revezamento anual, pelas quatro deputadas desta legislatura: Rosângela Rezende (Agir) foi a primeira a comandá-la, em 2023; Bia de Lima foi a responsável em 2024; e neste ano está a cargo da deputada Dra. Zeli (UB). Em 2026, Vivian Naves (PP) será a procuradora.
A Procuradoria da Mulher é vinculada à Secretaria de Projetos Especiais, comandada por uma sobrevivente de uma tentativa de homicídio praticada por um namorado há quase 50 anos: Cristina Lopes Afonso.
O meio escolhido por ele para matá-la foi uma das formas mais cruéis e dolorosas: depois de jogar uma garrafa de álcool, ele ateou fogo no corpo da namorada. Na época não havia a qualificação para o feminicídio. Se fosse hoje, o crime cometido teria sido uma tentativa de feminicídio.
A tipificação foi criada em 2015, para enquadrar o assassinato de mulheres cometido em razão de violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Mais uma tentativa de inibir a violência contra a mulher.
Dra. Cristina conta que na época do crime, era uma jovem de 20 anos, muito aplicada aos estudos, recém-formada em Educação Física e prestes a embarcar para mais uma etapa da formação acadêmica. Ela havia sido aprovada para uma pós-graduação na Alemanha.
Nascida no interior do Paraná, ela vinha de uma família de 14 irmãos. Muito jovem se mudou para Curitiba para estudar. No final de 1985, ela iria passar as festas de fim de ano com a família no interior e logo depois voltaria à capital paranaense para seguir para a Europa e continuar os estudos.
Cerca de um ano antes, Cristina começou a namorar um homem bem mais velho, um médico, por quem ela nutria uma grande admiração. “Eu tinha um fascínio pela inteligência, pelo raciocínio dele. Sua forma de ver o mundo me encantava. Eu ainda não tinha a compreensão de que quando eu tivesse a idade dele, eu também teria aquele raciocínio, aquelas conclusões.”
Apesar de nunca ter feito agressão física, muitas vezes o namorado apresentava um comportamento agressivo, especialmente quando bebia. Cristina conta que ele dirigia em alta velocidade e freava de repente, além das cenas de ciúme que protagonizava. O homem também ameaçava se matar caso ela rompesse o namoro. Na época também não havia uma compreensão sobre a violência psicológica, especialmente, por uma menina que tinha acabado de sair da universidade e que ainda sonhava em mudar o mundo.
Quando voltou a Curitiba, no início de 1986, de malas prontas para a Alemanha e com o relacionamento já desgastado por conta do comportamento do namorado, Cristina decidiu terminar o namoro. Ela conta que quando o homem estava sóbrio, apoiava a decisão dela de dar continuidade aos estudos, exaltava as qualidades da namorada, mas quando bebia, se transformava e sempre ameaçava se matar caso ela o deixasse.
Nessa época, por causa da bebida, ele havia tido uma cirrose hepática e estava proibido de ingerir bebidas alcóolicas, mesmo assim, no dia que reencontrou Cristina em Curitiba, ele bebeu muito. Foi para o apartamento em que ela morava, esperou ficar sozinho com a jovem e a atacou. O irmão dela, que havia acabado de deixar o local, escutou os gritos, voltou e a socorreu.
Mesmo depois de tanto tempo, Cristina lembra detalhes do ocorrido e relata que não esperava ser atacada, mesmo quando ele apontou a garrafa de álcool em sua direção. “Eu sou de uma família extremamente amorosa, então alguém mostrar uma garrafa de álcool para mim não significava nada. Eu não tinha a menor noção do que era uma queimadura, a menor noção do que o álcool poderia produzir em combustão.”
Ele conta que foi o dia mais trágico de sua vida, depois da morte de sua mãe, pessoa a quem dedicou seu amor incondicional. "Aquela dor, aquele cheiro, o barulho dos palitos de fósforo sendo riscados… são lembranças dolorosas, porém necessárias.”
Não satisfeito com o que já tinha feito, o homem ainda foi ao hospital, para onde ela tinha sido levada e tentou matá-la novamente. Só não conseguiu porque foi impedido por médicos e enfermeiras.
A jovem teve 85% do corpo queimado, queimaduras graves, não conseguia se mexer. Os médicos que a atenderam, em Curitiba, deram poucas chances de sobrevivência. Um detalhe que chama a atenção é de que mesmo com a gravidade das lesões e com a extensão do corpo atingido, Cristina permaneceu consciente, passou por todas as dores físicas e emocionais, sentindo tudo.
Destino: Goiânia
O diagnóstico dos médicos paranaenses era o pior possível: as chances de recuperação eram mínimas. Foi um amigo da irmã de Cristina, que era médica, que indicou o tratamento em Goiânia. Ele conhecia o também médico Nelson Piccolo, cuja família era dona do Hospital de Queimaduras, especializado nesse tipo de tratamento.
A vinda para a capital goiana foi outro desafio. Cristina veio acompanhada de dois irmãos e do médico amigo da família. Na época não havia unidades de terapia intensiva (UTIs) aéreas. De Curitiba a Brasília, ela veio em um voo comercial. Foram necessárias oito poltronas com os encostos abaixados, para encaixar a maca nesse espaço.
O restante da viagem foi em um táxi aéreo, que segundo ela “mal cabia a maca, seus irmãos Diniz e o Gil, e o doutor Márcio que veio acompanhando. Mas isso era apenas o início de mais uma etapa de muito sofrimento. Para ela e a família.
A recuperação de Cristina envolveu toda a família. Primeiro, para custear o tratamento caríssimo. O pai teve que se desfazer de uma fazenda e um dos irmãos vendeu todo o café que tinha estocado na lavoura, para pagar todos os procedimentos e terapias pelos quais teve que passar. Outros irmãos mudaram suas vidas para vir para Goiânia acompanhar Cristina durante todo o processo.
Além disso, o tratamento proposto exigia a retirada de todo o tecido atingido, que estava morto, e cobrir todo a extensão com uma “nova pele”, que teria que ser doada. Dois irmãos fizeram a doação. Ela relata que o procedimento para a retirada da pele era muito doloroso. Os irmãos tiveram as coxas descascadas, o que causava uma dor lancinante e ficaram 15 dias sem poder andar. Mesmo assim, eles concordaram em fazer o procedimento, que daria chances de sobrevivência a ela. “Os cuidados e o amor de minha grande e generosa família, me salvaram da morte. O amor me salvou.”
Ao longo do ano de 1986 a vida de Cristina Lopes se resumiu a internações, tratamentos, fisioterapia, cirurgias, enxertos e outros procedimentos, que, aos poucos, foram trazendo de volta os movimentos do corpo, a autonomia e a dignidade perdidas no dia do ataque. Ela também teve que ir aos Estados Unidos para comprar uma roupa especial, que teria que ser confeccionada e não havia disponível no Brasil.
Em 1987, a jovem conseguiu retomar os estudos e decidiu por uma nova graduação: fisioterapia, muito em função do que a especialidade a havia ajudado na recuperação, mas também por causa dos desafios no tratamento, pela falta de conhecimento de como lidar com vítimas de queimadura.
Repercussão internacional
A história da jovem queimada pelo namorado ganhou repercussão internacional, com o convite para um encontro com o tricampeão de Fórmula 1 Niki Lauda, em Viena, na Áustria, que também se queimou durante um acidente, no Grande Prêmio da Alemanha, em 1976. Reportagens em veículos de imprensa na Áustria, Alemanha, nos Estados Unidos e em outros países ajudaram a pressionar o Judiciário e, em menos de três anos, o agressor foi a júri popular.
O movimento de mulheres “Quem ama não mata” desencadeado pelo julgamento de Doca Street, marido que matou Ângela Diniz, outro caso que ganhou fama em todo o país, também foi decisivo na agilidade da justiça. O agressor de Cristina Lopes foi julgado e condenado com a vítima viva. "Foi um julgamento histórico, exemplar. Ele pegou uma pena de 21 anos e, na verdade, caiu para 14 anos e 9 meses, porque, para a justiça, ele era réu primário.”
Ela lembra que outras três mulheres também tinham sido agredidas por ele, antes da tentativa de assassinato, mas como elas não o denunciaram, ele foi beneficiado como réu primário.
Ao longo da batalha pela recuperação e pela penalização do agressor, Cristina foi se tornando uma voz de outras mulheres agredidas. Mas um encontro com uma outra vítima de um homem violento foi decisivo para que ela se tornasse uma ativista pelo fim da violência contra as mulheres.
Um dia, após contar sua história, pela primeira vez, em uma entrevista ao vivo, em uma emissora paulista, já no aeroporto, para embarcar de volta para Goiânia, foi abordada por uma mulher. A interlocutora disse a ela que tinha acabado de assistir ao programa, que estava voltando para a casa dos pais e nunca mais apanharia do marido. Foi o insight que faltava.
“Eu pensei: se ela decidiu que não vai apanhar, eu posso salvar tantas outras. Aquilo foi muito marcante, porque até ali, eu falei muito, eu viajei muito, participei de debates, de júris, mas quando o julgamento aconteceu, para mim foi assim: Ufa, minha missão foi cumprida, finalizei. Mas essa mulher me mostrou que não, que eu tinha que ajudar tantas outras”, recorda.
A partir daí, Cristina Lopes Afonso, que veio definitivamente para Goiânia, trabalhar no hospital onde fez o tratamento, na reabilitação de queimados, nunca mais parou de atuar no movimento antiviolência contra as mulheres.
Atualmente, na Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa de Goiás, desenvolve vários projetos nessa linha. Uma das iniciativas é apoiar a instalação de procuradorias da mulher nas câmaras municipais do estado.
Um trabalho que vem dando bons resultados. Em 2023, apenas quatro câmaras de vereadores no estado tinham procuradorias da mulher. Com a ajuda da procuradoria da Alego, hoje elas estão presentes em 91 legislativos municipais. “É um trabalho difícil, desgastante, eu tenho viajado o estado inteiro, palestrado, apresentado o projeto, participado de sessões, mas gente conseguiu avançar. E essa rede de proteção é fortalecida pela Procuradoria Especial da Mulher.”
Outra ação realizada é o grupo reflexivo “Reescrevendo uma nova história”, desenvolvido com mulheres vítimas de violência doméstica, que são atendidas pela Defensoria Pública de Goiás e concordam em participar da iniciativa. As reuniões são realizadas uma vez na semana, com no máximo 15 mulheres. Os grupos têm duração semestral e são conduzidos pela psicóloga Carmem Lupianez e pela advogada Maria Silvia. Para incentivar a participação, as mulheres ganham a tarifa do transporte coletivo e um café da manhã.
Críticas
E é assim, em iniciativas pequenas, mas cheias de propósito que essa sobrevivente tem levado adiante a tentativa de evitar que outras mulheres sejam vítimas de uma verdadeira epidemia que acomete a sociedade brasileira: de homens que agridem ou matam as mulheres que dizem amar. Ele lembra que, às vezes, é criticada, por encampar uma luta inglória, mas segue firme. “Eu não quero saber o que, exatamente, vai surtir resultado, a gente precisa fazer. Eu já ouvi muita gente falar 'ah, vocês estão enxugando gelo', mas é melhor enxugar gelo do que morrer afogado, porque é isso que está acontecendo, todo mundo está morrendo afogado.”
Ela destaca, especialmente, a transformação alcançada pelas mulheres no grupo reflexivo, como um dos motivos para continuar. “Se a gente resgatar 10, 15, 20 mulheres, para mim, são vidas que você transforma, porque, realmente, as mulheres saem daqui com outro olhar para si mesmas, um olhar mais generoso, mais amoroso”, analisa.
Marta (nome fictício) é uma das participantes. Ela relata que quando chegou no grupo o pensamento mais frequente era de suicídio, mas que nos últimos seis meses em que esteve no grupo, tudo mudou. “Eu vim na doutora Carmem (Lupianez) pensando que se ela não pudesse me ajudar, eu tinha certeza, eu tinha plena certeza de que quando eu saísse daqui eu ia me jogar do viaduto, mas para casa eu não ia voltar. Mas agora eu sou uma mulher fortalecida e tenho vontade de continuar vivendo.”
Cristina, que carrega no corpo as cicatrizes da agressão, diz que as feridas emocionais foram curadas e que já perdoou o seu agressor. Ela também afirma que recontar o que viveu não é algo que a agrade, mas que as lembranças são necessárias. “Hoje, quando olho para minhas cicatrizes, sinto que renasci e me tornei uma mulher mais forte. O crime deixou marcas e, sem dúvidas, foi difícil de ser superado. Mas faço questão de contar essa história para que mais mulheres não passem pelo que passei."