Ícone alego digital Ícone alego digital

O que há por trás do empréstimo à Celg

16 de Junho de 2009 às 11:29
Artigo do deputado Daniel Goulart (PSDB) publicado no jornal Diário da Manhã, edição de 14.06.2009.

* Daniel Goulart é deputado estadual e vice-presidente do PSDB   

Mais uma vez o governo do Estado vai a Brasília e faz o anúncio do empréstimo que vai quitar a dívida da Celg. Desta vez, R$ 1,35 bilhão vai sair dos cofres do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e também do Banco do Brasil. Nesse último encontro, ficou clara a intenção do governo federal com essa iniciativa, que é discutir a sucessão nos Estados, mesmo que grande parte dos políticos goianos adote o discurso de que ainda é cedo para falar em eleições.

Apesar da festa do governo federal para anunciar o empréstimo, é pertinente ressaltar que os referidos bancos e os articuladores ligados à Presidência da República não estão sendo “bonzinhos” com Goiás. Para os bancos, o empréstimo será uma transação vantajosa, senão ela jamais aconteceria. Ao fazer um investimento ou mesmo conceder um empréstimo a um Estado, como nesse caso, a instituição financeira analisa a relação receita-dívida do futuro beneficiado. Desde o início do governo Marconi Perillo, Goiás vem cumprindo o seu dever de casa no que se refere aos seus compromissos fiscais, e essa relação vem diminuindo.

Em 1999, primeiro ano da gestão do Tempo Novo, a relação receita-dívida era de 3,45. Em 2008, ano passado, esse número já estava em 1,4, de acordo com dados da Secretaria Estadual da Fazenda. Isso significa que o Estado agora tem uma capacidade maior de endividamento, o que possibilita que as instituições financeiras concedam empréstimos a Goiás.

Sem contar que essa transação gera um grande problema. Um empréstimo dessa ordem vai deixar uma grande dívida para o Estado. Goiás pode se tornar a unidade federativa mais endividada do Brasil.

Outra questão que deve ser analisada, nesse caso, é a permanência desse dinheiro do empréstimo na esfera federal. Ele vai sair do BNDES e vai direto para os cofres da Eletrobrás. Sem contar que a Celg também tem créditos com o governo federal, pois desde 2005 tramita uma ação de recuperação tributária que exclui o ICMS da base de cálculo do PIS e Confins na conta de energia.

Além disso, se o governo federal tinha tão boas intenções com relação à Celg, por que então fez um contrato tão radical e que prejudicou tanto essa empresa? Por determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a dívida impede que a empresa reajuste suas tarifas. Assim, nos últimos dois anos a empresa deixou de receber R$ 700 milhões.

Não poderia deixar de mencionar a origem de toda essa situação que envolve a dívida da Celg: a venda da Usina Cachoeira Dourada. A estatal não recebeu nada por essa venda. E pior, a empresa foi obrigada a contratar a compra de energia por 53% acima do preço de mercado por 15 anos. Sem contar o lucro que a ex-galinha dos ovos de ouro de Goiás vem dando aos acionistas espanhóis das Centrais Elétricas Cachoeira Dourada (Endesa Cachoeira). Em 2008, foram mais de R$ 286 milhões a título de dividendos. No ano anterior, foram cerca de R$ 145 milhões.

Se a usina de Cachoeira Dourada não tivesse sido vendida a um preço tão irrisório, todo esse lucro poderia estar nos cofres do Estado. Assim, a Celg hoje não precisaria buscar empréstimo junto ao governo federal. A partir de 1997, Cachoeira Dourada poderia ter rendido a Goiás mais de R$ 1 bilhão. E para onde esse dinheiro está indo? Para a Espanha.

A festa que o governo federal faz ao anunciar um empréstimo para salvar a Celg pode até fazer barulho. Mas os fatos mostram que sempre faltou sensibilidade da esfera federal para tratar o problema. Ele está sendo cuidado agora porque pode ser vantajoso para ambas as partes, seja no âmbito financeiro ou no eleitoral.

Compartilhar

Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse nossa política de privacidade. Se você concorda, clique em ESTOU CIENTE.