A política e a pregação do Evangelho
A reconciliação da humanidade com o seu Criador passa não apenas pela pregação do Evangelho – expressão do amor de Deus -, mas pela vivência de forma integral dessa boa nova, que é marcada pela encarnação do seu filho Jesus em nosso mundo, em todas as esferas de atividade humana. Temos, portanto, a obrigação de sermos diligentes com a criação divina, cultivando-a e guardando-a em todos os momentos, com capacidade criativa, disposição e senso de responsabilidade.
No passado, a participação política era repudiada e condenada entre os evangélicos. Basicamente, cumpríamos, de maneira muito tímida, o dever do voto, acomodando-nos em não lutar pelo ideário bíblico de justiça social. Prevalecia uma postura arredia e alienada de isolamento político, conveniente aos manipuladores e oportunistas.
Esse posicionamento vem sendo substituído pelo despertar de uma nova visão. Afluiu-nos a consciência de que somos uma comunidade plural e co-responsável pelo espectro da coletividade na qual estamos inseridos. Não obstante, mesmo ausentes das esferas de poder político, sempre cumprimos com competência e determinação a nossa missão evangelizadora e assistencial, recuperando vidas do flagelo do alcoolismo, das drogas, do crime, do desespero e da desesperança.
As igrejas são grandes promotoras da cidadania. Elas desenvolvem redes de solidariedade e casas de recuperação, combate à fome e à miséria. É imensurável o trabalho de assistência à vida realizado em todo o país pelo voluntariado evangélico. No entanto, poucas entidades organizadas pelas nossas igrejas têm acesso às verbas oficiais em contrapartida ao papel que desempenham com eficiência em prol dos menos favorecidos, muito superior a do próprio governo.
Compreendemos que, como cidadãos, de alguma forma as nossas vidas dependem das decisões políticas. Para construir uma casa é necessário o alvará expedido pela prefeitura. A obtenção de qualquer documento exige que se recorra a uma repartição pública. Será que há como viver numa sociedade sem qualquer relação direta ou indireta com a política e seus desdobramentos?
O governo de Deus, instalado em nossos corações, é o que nos potencializa para influenciarmos a política e a sociedade com a ética e a justiça do Evangelho. Na Bíblia, a propósito, encontramos vários servos que foram políticos e exerceram cargos públicos. Samuel foi profeta e juiz. Ele conduziu Israel no período de transição entre a Teocracia e a Monarquia. Então vieram os reis Saul, Davi, Salomão, que determinaram a sorte política da nação.
Pelo pecado de Israel, o Senhor usou a política imperialista da Assíria e da Babilônia para os corrigir. No exílio, Daniel exerceu cargo de confiança na corte do rei Nabucodonosor, de Babilônia, e de Dario, da Pérsia. Após o exílio, Neemias e Esdras fizeram política em Jerusalém. Cuidaram da reconstrução da cidade, combatendo os inimigos e empreendendo uma reforma religiosa
O compromisso principal deve ser o de manifestarmos o caráter de Cristo em todas as nossas ações políticas, como fazemos na igreja, na família e na vida. O político evangélico tem que ser, sobretudo, um evangélico na política. Consequentemente, a nossa ação na política deve-se dar tendo como perspectiva o fato de sermos “sal e luz” – a Bíblia nos traz o ensinamento de que devemos ser o sal da terra e a luz do mundo -, nunca como uma busca por favorecimentos pessoais ou corporativos.
Esse é o papel do político evangélico. Temos uma responsabilidade ainda maior. O cristão verdadeiro deve sim participar das decisões, como um cidadão com direitos e deveres, e tem todo o direito de concorrer a qualquer cargo eletivo e assim poder implementar os valores e os princípios que aprendeu na sua igreja.
O nosso papel na política deve estar revestido de uma ação viva, firme e forte no cotidiano das pessoas, com propostas, projetos, planos, leis e regulamentos, que estejam a serviço do bem estar da população. Em todos os ambientes da vida pública, seja nas agremiações partidárias, nas Casas Legislativas, nos órgãos do Executivo ou nas instâncias do Poder Judiciário, devemos ser sinônimo de compromisso com a verdadeira mensagem evangélica de construção do bem comum para todos os brasileiros. A vida e o ministério de Jesus Cristo devem ser a fonte principal de inspiração da nossa atuação na política.