CPI da Celg
Os depoimentos desta quarta-feira para a Comissão Parlamentar de Inquérito, que investiga o endividamento da Celg nos últimos 25 anos, se concentraram no impacto que os prestadores de serviço terceirizado teriam provocado na saúde econômico-financeira da Companhia. Os parlamentares ainda rejeitaram requerimento que convocaria Aniela Braga, filha do secretário estadual da Fazenda, Jorcelino Braga, para depor.
O presidente da Celg, Carlos Silva, em seu depoimento, informou que a dívida chega a R$ 5,7 bilhões e que houve lucro acumulado de R$ 6 milhões até setembro de 2009. Já os diretores das empresas Comar, Ricardo César do Espírito Santo, e da Arca, Paulo Hernani, afirmaram que os contratos com a concessionária goiana deram prejuízo nos últimos dois anos.
Os deputados-membros rejeitaram a convocação da filha do secretário estadual da Fazenda, Jorcelino Braga, a acadêmica de Direito Aniela Braga. O requerimento intimava a jovem para prestar esclarecimentos sobre a acusação de realizar tráfico de influência junto ao Governo Estadual. A Celg teria repassado recursos para uma organização não governamental a pedido de Jorcelino Braga.
Os parlamentares também aprovaram requerimentos, de autoria de Daniel Goulart (PSDB) e José Nelto (PMDB), que solicitam novos documentos para Celg e Aneel.
Nesta quinta-feira, 11, serão realizadas duas oitivas. O primeiro depoimento será do ex-presidente da Celg, José Francisco das Neves, o Juquinha, às 9 horas. Logo mais, às 11 horas, vai depor na condição de testemunha o diretor-presidente da Evoluti, Paulo de Tarso Teixeira Rabello. As oitivas serão no auditório Solon Amaral.
Depósito diário
Ex-presidente da Celg entre 1999 e 2000, Fernando Cunha Júnior afirmou que o contrato de venda da usina de Cachoeira Dourada determinava o depósito diário de valores para assegurar o pagamento da energia adquirida pela geradora. De acordo com ele, era uma cláusula contratual que obrigava a Companhia a não adiar pagamentos.
"Não estou documentado sobre isso. Mas era um contrato leonino, de cujos dados tive conhecimento durante o período em que estive à frente da Celg. Tínhamos prazo determinado para pagar pela compra de energia, em função de contrato, mas creio que essa determinação tenha se encerrado anos depois", afirmou Fernando Cunha.
O relator Humberto Aidar (PT) havia questionado parte do depoimento de Fernando Cunha sobre a existência de uma cláusula de obrigava depósitos diários de valores a favor de Cachoeira Dourada para pagar a compra de energia elétrica.
Humberto Aidar comentou que a criação do Estado do Tocantins teria feito com que ativos da Celg fossem transferidos sem a devida compensação financeira para a empresa. O petista indagou ao ex-presidente o que ocorreu de fato.
Fernando Cunha disse que não poderia afirmar com segurança sobre as circunstâncias de pagamento dos ativos, mas se comprometeu a verificar as informações possíveis e repassá-las para a CPI da Celg.
O parlamentar indagou se o valor do megawatt aquirido via contrato com Cachoeira Dourada, após sua venda, estaria acima do cobrado pelo mercado. Também indicou que a venda da usina deveria ter sido acompanhada por uma adequação administrativa para a nova realidade.
Fernando Cunha disse que o preço era 53% superior ao cobrado pelo mercado. De acordo com ele, os valores são indicados pela Fipe. O ex-presidente afirmou também que foi realizado um planejamento para ampliar a quantidade de usinas geradoras para a Celg e se adequar à realidade da empresa sem Cachoeira Dourada.
"Houve uma revolução eleitoral em 1998. A Celg estava com endividamento brutal. Precisávamos resolver as dependências imediatas. Começamos a planejar a nova Celg, inclusive com levantamento para edificar novas geradoras. Iniciamos entendimentos com grupos que poderiam se associar conosco. A galinha dos ovos de ouro sempre foi a geração", afirmou Fernando Cunha.
Demissão voluntária
Ex-presidente da Celg, Fernando Cunha disse que não houve preparação na Celg para a realidade que se seguiu após a privatização da usina de Cachoeira Dourada, porque o Governo anterior não acreditava que perderia as eleições em 1998. De acordo com ele, havia um plano de demissão voluntária e descobriu que havia problemas financeiros no fundo de pensão da Companhia, a Eletra.
"Descobri que havia esse PDV, para ser justo, e que o órgão mais sonhado na Celg é a Eletra, que é o fundo de aposentadoria. Diziam que era mais rica que a Celg, com patrimônio e dinheiro no caixa. Fizemos levantamento e chegamos à constatação de que estaria quebrada. A arrecadação da Eletra não dava para pagamento das pensões dos funcionários. Fizemos trabalho para salvá-la", afirmou o ex-presidente.
Fernando Cunha disse que implantou novas subestações durante sua gestão, como Acreúna, Anápolis e Chapadão do Céu. De acordo com ele, a principal subestação de Goiânia havia sofrido incêndio próximo ao Carnaval de 2000. O ex-presidente disse que seria necessário construir nova instalação, ao custo de R$ 6 milhões, mas optaram pela reforma em aproximadamente uma semana pela metade do preço orçado.
O deputado Daniel Goulart (PSDB) havia solicitado a Fernando Cunha um balanço sobre sua gestão. O tucano, no início de seus questionamentos, havia afirmado que não considerava necessária a presença do ex-presidente da Celg porque sua gestão teria dado lucro para a Companhia, de acordo com dados da Fipe.
"Questionei ex-presidentes aqui que assumiram a empresa após a venda de Cachoeira Dourada. Passsaram a administrar a Celg sem receita. Entendo que não houve essa preparação. Fernando Cunha realizou investimentos e fez com que o déficit fosse reduzido", afirmou Daniel Goulart.
Concorrência
O ex-presidente da Celg, Fernando Cunha Júnior, afirmou que a teceirização de alguns serviços era necessária e teria custos menores do que se feita pela própria Companhia. De acordo com ele, os processos licitatórios procuravam atender - via concorrência - os interesses da empresa para a prestação do serviço contatado com qualidade e menor preço.
O relator Humberto Aidar (PT) havia questionado sobre o processo de terceirização da empresa. O petista também citou depoimento de Benjamin Bezze, que afirmou sobre a existência de empreiteiras que tinham influência sobre a empresa. De acordo com o parlamentar, a Celg ainda teria muitos recursos para receber e que teria sido "uma mãezona".
Fernando Cunha confirmou que a Celg possui muitos créditos a receber. "Não é fácil recebê-los, mas também não é impossível. Procurei receber créditos relacionados aos subsídios que o Governo Federal manteve para a Codemin, mas não repassou à Companhia, por exemplo".
Terra arrasada
Ex-presidente da Celg, Fernando Cunha Júnior, disse que não encontrou terra arrasada na companhia ao assumir sua gestão. De acordo com ele, a transição foi tranquila e com respeito de ambas as partes. O gestor disse que ainda conseguiu realizar um convênio para auxiliar a saúde financeira da empresa.
"Formamos nossa diretoria com dois técnicos da melhor categoria a partir do quadro de carreira da Celg. Não houve uma tomada complicada. Foi muito respeitosa e pacífica. A dívida que asssumi era de aproximadamente R$ 1,4 bilhões", afirmou o ex-presidente.
Fernando Cunha disse ainda que, se fosse presidente da Celg à época da privatização da Usina de Cachoeira Dourada, não seria favorável à venda. De acordo com ele, caso assumisse após a transferência do ativo, teria buscado os recursos junto ao governo estadual para investir na empresa.
"A CPI da Celg vai dizer o que ocorreu com a Celg. O relatório da Fipe já indica muito o que houve na empresa ao longo dos anos. É difícil dar uma resposta para afirmar todas as causas do endividamento. Acredito que o relator Humberto Aidar vai oferecer uma resposta sobre o que de ocorreu", Fernando Cunha.
O deputado Coronel Queiroz (PTB) havia questionado se Fernando Cunha havia encontrou a sensação de terra arrasada. O parlamentar argumentou que não havia projeto para a transição da empresa após a venda de sua principal geradora, mas indagou o que teria proposto se fosse presidente à época da privatização.
"Nessa preparação poderia incluir uma mudança de mentalidade de gestão da Celg. A empresa perdeu uma importante fonte de receita, a galinha dos ovos de ouro, que era Cachoeira Dourada. Deveria ter ocorrido uma preparação administrativa e financeira para essa nova realidade", afirmou Coronel Queiroz.
Concessão
Fernando Cunha Júnior considerou que os dois aspectos mais importantes de sua gestão foram a renovação da concessão da Companhia no setor elétrico até 2015 e o reajuste tarifário, por meio da situação adimplente junto à Eletrobrás e demais fornecedores.
"Conseguimos ampliar o período de concessão, algo que considero de grande importância para a empresa. Obtivemos mais 15 anos como concessionária do setor elétrico. Também conseguimos o reajuste da tarifa após tornar a Celg adimplente. Procuramos cumprir os pagamentos em atraso e regularizar a situção junto aos fornecedores e credores", afirmou Fernando Cunha.
O presidente da CPI, Helio de Sousa (DEM), afirmou que a presença de Cunha foi importante para mostrar às empresas públicas o melhor caminho para tocar suas gestões.
"Fernando Cunha foi presidente da Celg durante um período muito complicado, logo após a venda de Cachoeira Dourada. Ainda assim, implantou ações para aumentar o faturamento da empresa e ampliar a distribuição de energia no Estado", comentou.
"Cunha conseguiu, ainda, renovar o contrato que garantia que a Celg fosse a única distribuidora de energia do Estado, além de efetivar o reajuste de tarifas. Hoje, a Companhia precisa refazer este reajuste, pois as tarifas praticadas atualmente levam à perda de R$ 25 milhões por mês", destacou o democrata.
Arca
Presidente da Arca, que presta serviços para a Celg, o engenheiro elétrico Paulo Hernani informou que sua empresa possui atualmente quatro contratos em vigor com a Celg. Três se referem à prestação de serviços em Luziânia, Formosa e Morrinhos; outro trata de unidades de serviços leves, que trata do empréstimo de automóveis de pequeno e de médio porte.
Paulo Hernani disse que a Arca iniciou em 1991, em Luziânia, com objetivo de construir redes. De acordo com ele, passou a prestar depois atividades como suspensão, vistoria e restabelecimento de fornecimento de energia elétrica, leitura de relógios e mudança de padrão, entre outros.
"Comecei a participar da empresa em 1995, quando comprei a parte de um sócio. A Arca já tinha negócios com a Celg. Administro outras quatro empresas e esta talvez seja a que menos dedico tempo, talvez por ser a natureza de sua atividade muito específica", afirmou Paulo Hernani.
O empresário informou que assumiu a administração da empresa a partir de 2004. De acordo com ele, há quatro diferentes contratos em vigor com a Celg. O empresário disse que um dos acordos trata da unidade de serviço leve, que cede automóveis para a Celg.
Tadeu Filipelli
Presidente da Arca, Paulo Hernani informa que o deputado federal Tadeu Filipelli (DF) é um dos sócios da empresa, que presta serviços de manutenção para a Companhia. De acordo com ele, o parlamentar esteve poucas vezes na Celg e quando veio foi a seu pedido para resolver especificamente negócios da empresa.
"Temos cerca, hoje, de quatro faturamentos com a Celg em atraso. Isso equivale a R$ 2,7 milhões a receber por parte da empresa. A situação de atraso nunca esteve como atualmente. A Companhia restringiu trabalho", afirma Paulo Hernani.
O relator da CPI da Celg, Humberto Aidar (PT), questionou sobre a relação do deputado Tadeu Filipelli com dirigentes da Companhia. O deputado também indagou o crescimento do faturamento da Arca com a Celg ao longo dos últimos anos.
Doação de campanha
O presidente da Arca, Paulo Hernani, afirmou que a Arca não realiza doação de campanha eleitoral. O engenheiro elétrico, por outro lado, disse que contribui como pessoa física. O empresário também informou que sua empresa não possui vantagens na obtenção de contratos firmados com a Companhia.
"A Arca não doa recursos para campanhas eleitorais. Não é uma prática realizada pela empresa. Digo que eu, particularmente, doei dinheiro para campanha política na condição de pessoa física", afirmou o engenheiro elétrico.
Paulo Hernani afirmou que jamais teve relacionamento com dirigentes da Celg que pudesse se traduzir em vantagens contratuais para sua empresa. De acordo com ele, conheceu pessoalmente quatro presidentes da Companhia, entre os quais José Paulo Loureiro, André Rocha, Ênio Branco e Carlos Silva.
"Posso afirmar quer nunca tivemos benefício junto à Celg para obtenção de contratos. Quando há uma licitação, contratamos uma empresa para realizar assessoria para a obtenção de contrato", afirmou o emprésario.
Aditivos contratuais
Sobre os aditivos em contratos firmados com a Celg, Paulo Hernani confirmou a prática. De acordo com ele, o tempo faz com que os valores orçados na licitação fiquem desafasados.
O deputado Daniel Goulart (PSDB) havia questionado se a Arca havia doado algum valor para campanha eleitoral em Goiás. O tucano chegou, inclusive, a indagar se encontraria junto ao TSE registros de doação por parte da empresa. Paulo Hernani reiterou que a empresa não realiza essa prática.
"É importante que Paulo Hernani saiba que qualquer afirmação que fizer sobre doações de campanha por parte da Arca poderá resultar em indiciamento, caso seja comprovada a prática", afirmou o tucano.
Paulo Hernani ressaltou, em entrevista a jornalistas, que "as empresas terceirizadas não são responsáveis pelo endividamento da Celg, pelo menos no segmento de leitura".
Prejuízos
O presidente da Arca, Paulo Hernani, afirmou que está tendo prejuízos com os contratos firmados com a Celg. De acordo com ele, os negócios serão devolvidos para a Companhia. O engenheiro disse ainda que, ao longo de 2009, a empresa prestou serviços para a Celg com prejuízo.
"Possivelmente, não deveremos continuar com os contratos firmados com a Celg. Tivemos prejuízo ao longo de 2009. Vamos devolver os contratos para a Companhia; não somente a Arca, mas outras empresas terceirizadas também sofrem prejuízos com a prestação de serviços", afirmou Paulo Hernani.
O engenheiro elétrico disse que os prejuízos decorrem da falta de atualização dos valores contratados. De acordo com ele, a Arca também possui um significativo passivo trabalhista que incide sobre a margem de lucro da empresa junto aos contratos firmados com a Celg.
"Os valores dos contratos estão defasados e os aditivos nem sempre resolvem. A prova mais real de que os contratos não são rentáveis é que as empresas os estão devolvendo para a Companhia. O contrato de unidades de serviço leves registram, ao todo, 13 veículos alugados para a Celg", afirmou Paulo Hernani.
Enxugar gastos
O presidente da Celg, Carlos Silva, afirmou que tomou medidas para enxugar os gastos da empresa e manter a empresa viável até resolver a negociação com o Governo Federal. O acordo poderá transferir parte das ações da Companhia goiana para a Eletrobrás como forma de obter empréstimo para sanar parte das dívidas da empresa.
Carlos Silva disse que o convite para dirigir a Celg era um grande desafio. De acordo com ele, havia a consciência de que teria apoio do Governo, da Assembleia, da população e dos servidores da Companhia.
"A Celg é indutora de desenvolvimento de Goiás. Energia é elemento de soberania e segurança nacional. É peça fundamental para que o Estado continue crescendo", afirmou o presidente da estatal.
Carlos Silva disse que discutiu com o corpo técnico da Celg uma linha de ação para buscar um equilíbrio econômico financiero da Celg. De acordo com ele, o endividamento é um problema estrutural, cuja solução tem sido buscada pelos Governos Estadual e Federal.
"Coube a nós oferecer condições para a continuidade dos trabalhos da Companhia. A Celg tem prestado bons serviços para Goiás com qualidade e frequência. No período de chuva, enfrentamos dificuldades pelo alto índice de descargas elétricas no solo. A equipe tem sido eficiente e sanado os problemas com celeridade", afirmou Carlos Silva.
Reajuste de tarifa
O presidente afirmou que se buscou resgatar a autoestima dos funcionários da empresa, com visitas setoriais e ações para procurar reestrutar a Companhia. O engenheiro também informou que buscou interação e informação para estabelecer condições de recuperação para a Celg.
"O primeiro grande problema que encontramos foi o reajuste da tarifa. Foi autorizado, mas não sua aplicação. Isso reduziu o fluxo de caixa nos últimos 12 meses da ordem de R$ 300 milhões. Isso era um problema muito difícil", afirmou.
Carlos Silva disse que, em relação aos contratos, convidou os funcionários da Celg para participarem ativamente da execução dos contratos. Foram destacados, informa o engenheiro, três empregados para acompanhar a gestão dos vínculos da Companhia com empresas externas e realizar relatórios de produtividade, economicidade e eficiência.
O presidente da Celg disse que adotou uma medida radical de não realizar nenhum reajuste contratual, previsto legalmente. De acordo com ele, os prestadores de serviços foram informados e declararam que tinham ciência de que não haveria aditivos. O engenheiro afirmou que a economia resultante chegou a R$ 11 milhões apenas com a medida.
Carlos Silva disse que foram proibidas as horas extras dentro de áreas administrativas e que a concessão do benefício de periculosidade foi restrita. De acordo com ele, houve cortes também com comissionados, resultado em economia anual de aproximadamente R$ 20 milhões.
"Realizamos ainda o Plano de Demissão Voluntária, que teve 402 adesões. Houve desligamento de empregados nos últimos meses, resultando em economia para a empresa. A taxa de retorno foi de 14.73%, que atinge os empregados em teto de carreira, com vantagens pessoais agregadas, reduzindo ainda mais os custos com Recursos Humanos", afirmou o engenheiro.
Corumbá III
O presidente da Celg afirmou que a Companhia é acionista da usina de Corumbá III. De acordo com ele, a empresa detém 15% do valor acionário da geradora, que produz 94 megawatts. O engenheiro afirmou ainda que obteve economia na realização dos pregões da empresa.
"Temos procurado convergir os recursos para a atualização da nossa tarifa. Nossos passivos judiciais tem sido revertidos pelo corpo jurídico da Celg, que enfrenta bancas renomadas no País. O processo dos municípios, que trata de créditos do ICMS, é um dos que mais afligem a Celg hoje e podem somar R$ 2 bilhões. Temos oferecido todas as informações solicitadas pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás", afirmou o engenheiro.
Carlos Silva informou que têm sido realizados grandes esforços para obter os recebíveis da Celg. De acordo com ele, os prefeitos têm procurado junto à Companhia uma solução para o acerto de contas de energia elétrica em atraso. O presidente disse ainda que tem sido oferecido mecanismos para regularizar a situação junto a credores e devedores.
O presidente da Celg disse que em 2009 pode ter conseguido lucro operacional na casa dos R$ 6 milhões.
Passivo de R$ 5,7 bilhões
O presidente da Celg, Carlos Silva, afirmou que o passivo é de R$ 5,7 bilhões. De acordo com ele, o valor é fruto de premissas de avaliação, que considerou dívidas consolidadas também. O engenheiro disse que passivo são obrigações e que precisam ser colocados no balanço para oferecer transparência, já que se trata de companhia de capital aberto.
"Procuramos nos adequarmos à nossa despesa. O problema da Celg é a falta de equilíbrio de receita e despesa. Para angariar novos clientes depende de crescimento vegetativo e de demandas localizadas. Por isso, precisamos gerenciar nossos custos a partir da receita disponível", afirmou o engenheiro.
Carlos Silva disse que para se entender o processo de endividamento é necessário contextualizá-lo no tempo. De acordo com ele, em 1980, o reajuste da tarifa levava em conta a inflação. O engenheiro afirmou que houve depreciação do valor real da tarifa ao longo dos anos.
"As empresas do setor elétrico estão preocupadas com o fim da concessão, em 2015, caso da maioria das empresa. As tarifas, até 1995, eram únicas. Foram segregadas na década de 1990, da qual uma parte há custos não gerenciáveis pela companhia. Trata-se de modelo inglês, adotado em uma realidade sem inflação", afirmou o presidente da Celg.
Carlos Silva afirmou que não realizou gastos com publicidade em 2009, à exceção do que era necessário, como campanha de educação. De acordo com ele, ainda assim isso resultou em investimento da ordem de aproximadamente R$ 2,2 milhões.
O relator da CPI da Celg, Humberto Aidar (PT), havia questionado sobre o real valor da dívida por parte da Companhia. O parlamentar indagou ainda sobre quais seriam os fatores que colaboraram para a atual situação de endividamento.
Lucro acumulado
O presidente da Celg, Carlos Silva, disse que a empresa obteve lucro acumulado de R$ 6 milhões até setembro de 2009. De acordo com ele, foram contraídos empréstimos para sanar dívidas da Companhia junto ao fundo de aposentadoria dos funcionários, a Eletra.
Carlos Silva disse que o volume de empréstimos foi uma maneira de atender aos compromissos firmados pela Celg. De acordo com ele, em sua gestão, foram contraídos R$ 78 milhões aproximadamente para sanear a dívida junto à Eletra - fundo de aposentadoria dos funcionários da Companhia.
"Temos apresentado busca no equilibrio econômico-financeiro por meio da área operacional. O resultado do balanço que podemos demonstrar para compor o acervo, sobre o terceiro trimestre de 2009, registra lucro de R$ 6 milhões acumulados até 30 de setembro de 2009. Tinhamos inadimplemento na Aneel, em Cachoeira Dourada e em Itaipu. Infelizmente, tivemos dificuldades de entendimento e conversação", afirmou o presidente.
Carlos Silva informou que as limitações para realizar um acordo junto a Eletrobrás foi reflexo do histórico da Celg. De acordo com ele, houve dificuldades para se obter acordos, que poderiam permitir o reajuste tarifário.
O presidente disse que não tinha conhecimento da proposta firme e consistente da venda das ações da Celg para a Eletrobrás. De acordo com ele, há um acordo para gestão corporativa e refinanciamento - e alongamento - da dívida da Companhia, que pode ter uma economia de até R$ 600 milhões por ano.
O deputado Daniel Goulart (PSDB) havia questionado sobre os empréstimos realizados pela Celg junto às instituições financeiras. De acordo com ele, nos últimos anos houve crescimento muito grande no volume de financiamento por meio de capital de terceiros de um ano para outro. O tucano indagou ainda sobre teor dos balanços de 2007 e 2008.
Custo maior
O presidente da Celg, Carlos Silva, disse que o custo dos funcionários próprios chegam a ser até três vezes mais alto do que a teceirização dos serviços. De acordo com ele, não se pode prescindir da prestação de atividades por parte de terceiros.
"O Plano de Cargos e Remuneração dos funcionários da Celg gera custos muito mais altos do que a prestação de serviços por terceiros. Também deve se levar em conta que a realização de determinadas atividades com empregados próprios também consome - além da mão de obra - outros custos operacionais", afirmou Carlos Silva.
Comar
Diretor da Comar, o engenheiro elétrico Ricardo César do Espírito Santo detalhou na etapa inicial de seu depoimento a relação de sua empresa com a Celg. De acordo com ele, a Comar presta serviços para a Companhia desde 1986. O empresário é o quarto depoente desta quarta-feira, 10, à CPI da Celg.
O representante da Comar foi precedido por Fernando Cunha Júnior, ex presidente da Celg, que falou pela manhã; Paulo Hernani, presidente da Arca (14 horas); e Carlos Silva, atual presidente da estatal (16 horas).
Ricardo César disse que os primeiros contratos com a Celg datam de 1986, aproximadamente. O empresário diz que a empresa começou a ampliar sua atuação e buscou novos mercados, como Mato Grosso e Minas Gerais.
"Hoje, a Comar presta serviços em energia elétrica e construção civil, tanto para a Celg quanto para Cemig. A empresa conta hoje 650 funcionários. Trabalhamos com larga experiência no setor de energia, em rede de distribuição, linhas de transmissão e construções de subestações", afirmou.
Sem influência
O presidente da Comar, Ricardo César do Espírito Santo, disse que os contratos junto à Celg foram obtidos por meio de processo licitatório. De acordo com ele, a empresa não possui influência nas decisões da empresa. O engenheiro afirmou que a Comar registrou em 2008 cerca de R$ 5 milhões em contratos junto à concessioária.
Em relação aos aditivos contratuais, Ricardo César citou a Lei 8.666/93, que regula os processo licitatórios. De acordo com ele, o contrato poderia sofrer acréscimo ou decréscimo de valor da ordem de até 25% do valor acertado.
"Sempre obedecemos o percentual permitido por lei na realização de aditivos. Confirmo que existe alguns atrasos nas faturas de 30, 60 dias. Nem sempre ocorre de recebermos o valor contratado em dia", afirmou Ricardo César.
O presidente da Comar afirmou que não se lembrava de nenhuma doação por parte de sua empresa para campanhas eleitorais. De acordo com ele, se houve alguma doação, está registrada no Tribunal Regional Eleitoral.
O deputado Daniel Goulart (PSDB) havia questionado sobre a possibilidade da empresa ter realizado doação de campanha eleitoral. O tucano afirmou que vai verificar junto ao TRE a existência de doação e a quantidade.
Gestores públicos
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o endividamento da Celg nos últimos 25 anos, Helio de Sousa (DEM), afirmou que os trabalhos poderão auxiliar os gestores públicos a orientar suas administrações. De acordo com o democrata, a CPI tem conseguido atingir seus objetivos com segurança e de maneira técnica.
O relator da CPI da Celg, Humberto Aidar (PT), rebateu as críticas de que a atividade da Comissão não daria nada. De acordo com ele, a vontade popular de fazer com que os trabalhos resultem em prisões e punições depende não dos deputados-membros, mas do Judiciário.
"Tenho convicção de que esta tenha sido a principal Comissão de Inquérito instaurada nesta Casa e que vai apresentar resultados que muita gente não esperava. Afirmo que são dois momentos distintos: a apresentação do relatório que apontará as causas e, em segundo ponto, legar às futuras gestões formas de evitar que os erros do passado sejam repetidos", afirmou Humberto Aidar.
O petista afirmou que a CPI tem trabalhado durante o recesso parlamentar, diariamente, independentemente de ser ano eleitoral.