Doação de Sangue
De seis em seis meses, o motorista Antonio Marcos tem um compromisso, que cumpre rigorosamente. Há mais de 15 anos ele vai ao Hemocentro para doar sangue. Antonio Marcos se tornou doador de forma voluntária, com o objetivo de ajudar pessoas que ele nem conhece. “Me sinto muito feliz em ajudar e digo para outras pessoas: Se você puder, doe sangue. É muito simples e pode salvar uma vida”.
No ano passado, em uma das idas ao banco de sangue, a esposa Ana Maria o acompanhou. Chegando ao local, eles conheceram um rapaz que estava muito necessitado de sangue. Foi o bastante para ela também se tornar doadora habitual. “Já é a segunda vez que faço a doação. Agora pretendo doar de seis em seis meses também. Me senti muito bem em poder ajudar alguém”, resumiu Ana Maria.
O ato periódico de Marcos e Ana Maria é voluntário e desinteressado. Eles oferecem um tecido vivo, vital para a vida humana, que não pode ser comprado e só pode ser obtido por meio de doação: o sangue humano. Uma única bolsa doada pode ser usada em até quatro pacientes, ou seja, pode salvar a vida de quatro pessoas.
O sangue é essencial para tratamentos e intervenções urgentes e pode ser necessário, entre outros casos, em anemias profundas, hemorragias graves, queimaduras de 3º grau e hemofilia. E, ainda: após transplante de medula ou de outros órgãos e durante procedimentos cirúrgicos, quando existe quadro de hemorragia.
O problema é que o número de doadores desse tecido líquido tão precioso e vital é insuficiente e os bancos de sangue estão sempre com estoques abaixo do ideal ou, até mesmo, em níveis críticos.
Na tentativa de ajudar a aumentar o número de doadores de sangue, o deputado Delegado Eduardo Prado (PL) apresentou um projeto de lei que visa instituir em Goiás o selo "Sangue Bom". A matéria se encontra em primeira fase de apreciação do Plenário. Se aprovado pela Alego, o certificado será concedido às universidades, centros universitários e faculdades que estimularem a doação de sangue por meio, por exemplo, do trote solidário.
A propositura esclarece que o selo é um reconhecimento gratuito e que não implicará no pagamento de qualquer valor financeiro aos participantes. Para a aquisição do certificado, as instituições de ensino superior devem se comprometer em organizar campanhas de doação de sangue, anualmente ou semestralmente, em parceria com o Hemocentro Coordenador Estadual de Goiás Professor Nion Albernaz (Hemogo).
"É importante ressaltar que a doação de sangue é um ato voluntário que pode ajudar a salvar muitas vidas. Em cada doação, uma pessoa doa, no máximo, 450 ml de sangue, e essa única doação pode salvar a vida de até quatro pessoas. Vale destacar que, em cerca de um dia, o organismo já repõe a quantidade de sangue que foi retirada na doação", defende o propositor.
Na justificativa do projeto, Eduardo Prado frisa que, no Brasil, a demanda crescente por sangue e seus derivados está cada vez mais preocupante. Segundo ele, a quantidade total de doadores de sangue no País corresponde, a cada ano, a menos de 1% da população. O parlamentar reitera a necessidade de desenvolver políticas públicas com foco específico no trabalho educativo da captação de doadores, "com a finalidade de esclarecer que a doação de sangue é um ato de solidariedade e de exercício de cidadania".
Na mesma direção da conscientização sobre o quanto doar sangue é uma iniciativa capaz de ajudar a salvar vidas, o deputado Iso Moreira (UB) apresentou matéria propondo a instituição, em âmbito estadual, do “Junho Vermelho”, dedicado à realização de campanha de incentivo a doação de sangue e medula óssea.
Pela proposta, o "Junho Vermelho" passa a integrar o Calendário Oficial de Eventos do Estado de Goiás e vai realizar atividades de conscientização, por meio de procedimentos informativos, educativos, organizativos, palestras, audiência pública e conferências, a fim de que sociedade possa conhecer melhor o assunto e debater sobre iniciativas de apoio à doação de sangue e medula.
Em sua justificativa, o parlamentar alega que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a recomendação é que, no mínimo, 5% da população seja doadora, sendo que, no Brasil, essa porcentagem não chega aos 2%.
O mês sugerido para a campanha no estado, além de seguir o calendário nacional, se justifica pelas condições climáticas características do período, que levam a uma redução no número de doadores. “Com a chegada do inverno, o número de doações diminui significativamente. Por conta da baixa temperatura durante esse período, o aumento das infecções respiratórias e outras enfermidades fazem com que as doações diminuam, em média, 30%”, alega o parlamentar. O projeto foi aprovado em segunda votação e, agora, será encaminhado para a sanção do governador Ronaldo Caiado (UB).
O Junho Vermelho é promovido pelo Ministério da Saúde em vários estados brasileiros, como forma de ampliar o apelo do Dia Mundial do Doador de Sangue, instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2005. Naquele ano, a 58ª Assembleia Mundial da Saúde publicou a regulamentação que instituiu a data, a ser celebrada, anualmente, no dia 14 de junho. O documento solicita aos estados membros da OMS que promovam e apoiem a celebração anual e, ainda, que estabeleçam sistemas de sangue nacionais que fortaleçam a doação voluntária e não remunerada, com aplicação de critérios rigorosos para seleção dos doadores de sangue.
O chamado se justifica. Em praticamente todo o mundo, a situação de estoques de hemocomponentes abaixo do ideal se repete. Mas há, ainda, dados mais preocupantes: no que se remete à doação de sangue, há disparidade no campo socioeconômico entre países pobres e ricos. Globalmente, 42% do sangue é coletado em países de alta renda, os quais abrigam apenas 16% da população mundial.
No Brasil, o cenário também é desafiador. E, depois do início da pandemia de covid-19, a situação piorou. Em 2020, houve uma queda entre 15 e 20% no número de doações de sangue. E mesmo o arrefecimento da pandemia provocada pela vacinação, não levou todos os doadores contumazes de volta aos hemocentros.
Situação em Goiás
No começo desse ano, a Rede Estadual de Hemocentros de Goiás (Rede Hemo) pediu socorro. No mês de janeiro, foi registrado um déficit de 41% no estoque de sangue e hemocomponentes. Nesse mesmo período, em 2021, o déficit era de 22%. O agravamento da situação se deu por conta do aumento de casos de covid-19 e influenza, que provocou o receio de muitos doadores frequentes de irem ao Hemocentro. Em contraponto, por causa do período de férias, a demanda por sangue aumentou.
A diretora técnica da Rede Hemo, Ana Cristina Novais, explica que, no momento, os estoques da rede estão 20% abaixo do volume ideal. A preocupação maior é em relação aos tipos sanguíneos negativos, especialmente, do grupo O.
Segundo Novais, como acontece no resto do Brasil, em Goiás, muitos doadores habituais deixaram de fazer suas doações periódicas por causa da pandemia, o que é uma ameaça às 222 unidades hospitalares que recebem hemocomponentes da rede. “A situação se complicou ainda mais porque, nesse ano, estamos tendo os casos de dengue junto com os de covid-19”, alerta.
Nesse mês, as equipes dos hemocentros estão empenhadas em aproveitar a data para tentar aumentar o número de doadores. Estão sendo estabelecidas parcerias para campanhas internas e externas de doação de sangue. Uma outra aposta da rede é na comunicação, com a criação de conteúdos para site e redes sociais, desmitificando a doação de sangue, além de contar com a divulgação dos órgãos de imprensa.
A parceria com empresas, instituições, entidades e outros organismos onde exista um número expressivo de potenciais doadores para a visita de uma unidade móvel é outra estratégia que está sendo adotada, na tentativa de aumentar o volume de doações. “Caso haja o interesse em agendar uma campanha da unidade móvel, orientamos a procurar o setor de captação com grupos de pelo menos 120 pessoas, entrando em contato pelo telefone (62) 32317925 ou pelo e-mail: hemocentro.captacao@idtech.org.br. Será feita uma visita técnica ao local pretendido para avaliar as condições e iniciada a divulgação”, esclarece Ana Cristina.
Doação de plaquetas
Já no Hospital de Câncer Araújo Jorge, unidade referência para toda a região Centro-Oeste do País no tratamento da doença, a maior preocupação é com a doação de plaquetas, um componente do sangue que atua, principalmente, no processo de coagulação sanguínea, sendo fundamental para evitar grandes sangramentos. Isso porque os pacientes oncológicos têm muito sangramento por conta da baixa produção de plaquetas, que ocorre após a realização da quimioterapia. Além disso, os pacientes de grandes cirurgias realizadas na unidade apresentam esse alto risco de sangramento e, consequentemente, precisam da transfusão de plaquetas.
Devido ao grande número de transfusões realizadas, o hospital não possui vínculo com o Hemocentro Estadual Coordenador Prof. Nion Albernaz (Hemogo) e mantém um banco de sangue próprio, que também enfrenta a crise provocada pela escassez de doações durante a pandemia. No pico da crise, a unidade registrou uma redução de 71% no estoque de bolsas de sangue. Situação que ficou mais grave por conta do aumento do número de cirurgias, provocada pela ausência dos pacientes por medo da covid-19 e o consequente atraso no início do tratamento. Com isso, as pessoas chegavam com cânceres em estágios mais avançados, o que levou ao aumento dos casos cirúrgicos.
Hoje, o banco de sangue do Araújo Jorge trabalha com estoques quase 30% abaixo do nível de segurança, uma das estatísticas mais graves dos últimos anos.
Por causa da grande necessidade, o “Junho Vermelho” na unidade hospitalar está concentrando esforços na solicitação da doação de plaquetas. Na prática, o processo de coleta é praticamente igual ao da doação convencional, sendo que o doador precisa ficar um tempo maior no banco de sangue. Mas os benefícios para o paciente compensam o tempo despendido na coleta, especialmente porque o procedimento retira, de uma única vez, a quantidade de plaquetas existentes em oito bolsas de sangue, o que reduz, significativamente, um processo que pode demorar até dois dias.
A hematologista do Hospital de Câncer Araújo Jorge e supervisora do banco de sangue da instituição, Carolina Iracema, explica que os critérios exigidos dos doadores também são praticamente os mesmos da doação convencional. O que difere é que o doador precisa ter doado sangue, anteriormente, e precisa pesar, pelo menos, 60 quilos.
Quanto ao receio sobre a possibilidade de contaminação com o coronavírus, a médica garante que várias medidas foram implementadas para que a doação seja feita de forma segura, com risco mínimo para o doador. “Diante da pandemia, reconhecemos o medo de algumas pessoas em sair de casa e ir até o banco de sangue para fazerem suas doações. Contudo, devemos destacar que todos os cuidados estão sendo tomados nesse período. Nossa equipe cuida para que o doador se sinta confortável durante o processo. Tudo é assistido por enfermeiros e técnicos, que estão à disposição. Além disso, no fim do procedimento, a pessoa recebe um lanche para sair mais forte dali”, reforça.
Uma particularidade do Hospital Araújo Jorge revela, ainda, uma maior vulnerabilidade do banco de sangue da unidade em relação aos bancos tradicionais. No local, não existem os chamados “períodos sazonais”, já que o hospital realiza procedimentos que necessitam de transfusões, durante todo o ano. Segundo Carolina Iracema, das 160 pessoas atualmente internadas na unidade, estima-se que 45 façam uso diário dos hemocomponentes.
Por fim, a supervisora lembra que a doação de sangue (e de plaquetas) é parte fundamental para o sucesso do tratamento dos doentes. “Os nossos pacientes precisam de transfusões de sangue e plaquetas para viver. Com as transfusões eles podem realizar cirurgias, radioterapia e quimioterapia. É juntando tudo isso que eles chegam à cura. Precisamos ajudar a curar essas crianças e adultos com câncer. Eles lutam pela vida, diariamente, mas sabemos que toda batalha combatida em equipe é mais fácil de ser vencida”.
Se você puder, se junte aos combatentes nessa batalha pela vida. Confira os critérios para ser um doador de sangue:
• Idade entre 16 e 69 anos;
• Idade de 16 a 17 anos com autorização do responsável legal;
• Idade até 60 anos, se for a primeira doação;
• Peso superior a 50 kg;
• Boas condições de saúde;
• Não estar em jejum;
• Portar documento oficial original com foto;
• Não ter realizado vacinação contra a influenza (gripe) nas últimas 48 horas;
• Última doação há mais de 90 dias para mulheres e mais de 60 dias para homens;
• Não estar grávida ou amamentando;
• Não ter feito uso de bebida alcoólica nas últimas 12 horas;
• Não ter feito tatuagem ou maquiagem definitiva há menos de 12 meses;
• Após o almoço ou jantar pede-se um intervalo de três horas para iniciar a doação.
O Hemocentro Estadual Coordenador fica na Av. Anhanguera, 5195, no Setor Coimbra, em Goiânia. No site http://www.hemocentro.org.br/ você encontra o endereço de todas as unidades regionais espalhadas pelo interior do estado.
Já o Banco de Sangue do Hospital Araújo Jorge está localizado na Rua 239, nº 181, Setor Leste Universitário. Informações pelo telefone (62) 3243-7031.