No Dia Mundial do Diabetes, ações alertam para a necessidade de monitoramento. Alego analisa vários projetos
Instituído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Federação Internacional de Diabetes (IDF), 14 de novembro é o Dia Mundial da Diabetes. No Brasil, conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), 15,8 milhões de pessoas têm o diagnóstico. Do total, a entidade estima que 50% não sabem que têm o problema.
Segundo dados da IDF, o Brasil é o quinto país com maior incidência de diabetes no mundo, atrás apenas, nesta ordem, de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. Estima-se que, em 2030, o número de brasileiros diabéticos chegue a 21,5 milhões.
Mundialmente, os dados mais recentes da federação (2021) apontam para a existência de 537 milhões de diabéticos. São 32 milhões na América Latina. E as projeções crescem a cada ano. Em 2010, a IDF previa 438 milhões de diabéticos globalmente em 2025, quantidade já ultrapassada. Agora, a estimativa para 2030 é de 643 milhões.
O estudo aponta que a diabetes é uma das emergências de saúde que cresce mais rapidamente neste século. Em 2021, aproximadamente 6,7 milhões de adultos entre 20 e 79 de idade morreram por complicações de diabetes não tratada. O custo global gerado pela condição gira em torno de U$966 bilhões anuais, número que aumentou 316% nos últimos 15 anos.
O que é o diabetes?
De acordo com a definição do Ministério da Saúde (MS), a diabetes é uma “síndrome do metabolismo, de origem múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos”.
Produzida pelo pâncreas, a insulina é o hormônio responsável pela metabolização da glicose (transformação do açúcar no sangue em energia para as células, permitindo o funcionamento delas). A ausência ou mau funcionamento da insulina ocasiona altos níveis de açúcar no sangue, a hiperglicemia, que, a longo prazo, são prejudiciais à saúde.
Atualmente, há quatro grupos de diabetes mellitus: tipo 1 (DM1); tipo 2 (DM2); gestacional e outros tipos. O DM1, 5 a 10% dos casos, é autoimune, ou seja, o próprio organismo destrói as células produtoras de insulina em decorrência de defeito do sistema imunológico. O tratamento exige o uso contínuo de insulina injetável e os sintomas incluem fome e sede constantes; perda de peso; fraqueza e vontade constante de urinar.
Já o DM2, cerca de 90% das ocorrências, é resultado de resistência à insulina e/ou deficiência em sua secreção. O cuidado não depende de injeções do hormônio e a modalidade pode ser controlada apenas com medicamentos orais, alimentação adequada e exercícios físicos. Entre os sintomas estão infecções frequentes; visão embaçada; dificuldade de cicatrização e formigamento nos pés.
A variante gestacional ainda tem causas desconhecidas e é a diminuição da tolerância à glicose, diagnosticada pela primeira vez na gestação, podendo ou não persistir após o parto. Por fim, outros tipos incluem doenças do pâncreas; casos induzidos por produtos químicos e defeitos genéticos.
Com o tratamento correto para controle dos níveis de glicemia, os diabéticos podem ter uma vida longa e saudável. Caso não seja cuidada, a síndrome metabólica provoca danos graves à saúde, como problemas neurológicos, na visão, rins, pés e pernas, além de acidente vascular cerebral (AVC) e infarto do miocárdio.
O MS avalia que a crescente prevalência do diabetes se explica por uma interação complexa entre fatores socioeconômicos, demográficos, ambientais e genéticos. No Brasil, a plataforma TID Index calcula que o número de casos aumenta cerca de 5% a cada ano. Em destaque, o aumento do DM2. A população, em especial pacientes com histórico familiar, pode prevenir o DM2 com, por exemplo, manutenção do peso; controle da pressão arterial; prática de atividades físicas e alimentação equilibrada.
O dia a dia diabético
A arquiteta Aracy Berocan, 76 anos, tem DM1 desde os seus 15. Quando foi diagnosticada, em 1962, os médicos disseram aos seus pais que ela não passaria dos 30 anos. “As opções de tratamento eram bastante limitadas e tudo era mais difícil. Não deram uma boa perspectiva de sobrevida”, conta.
Na época, Aracy estudava em um internato em São Paulo e o diagnóstico fez com que ela precisasse voltar a Goiânia, o que a então adolescente considerou um ponto positivo. Entre a família, contudo, prevaleceu a preocupação. “Emagreci mais de dez quilos em um mês e cheguei a desmaiar dentro da piscina, passei muito mal. Não foi fácil para mim, especialmente porque eu era muito nova, mas, quando temos uma condição de saúde crônica, é preciso fazer o que é possível para manter nosso bem-estar.”
Contrariando as expectativas iniciais, a arquiteta já convive com sua diabetes há 61 anos e acompanhou, com o passar do tempo, a evolução das opções de cuidado com a síndrome. “Eu já enfrentei alguns problemas de saúde em função da diabetes, mas eu nunca tive raiva. Vivo muito bem, sempre trabalhei, tive relacionamentos sociais, às vezes tomo uma cervejinha para relaxar…”, reflete.
No início de sua jornada com a diabetes, Aracy revela que os testes para medir a glicemia eram raros e pouco precisos e as insulinas eram aplicadas em dosagens fixas com o uso de agulhas grossas. Para ela, o desenvolvimento da ciência e as novas tecnologias para cuidado com a diabetes são os principais responsáveis pela qualidade de vida e longevidade dos que sofrem o mal.
Vale lembrar que a insulina só foi descoberta por cientistas canadenses em 1921, pouco mais de cem anos atrás. Desde então, inúmeras vidas têm sido salvas com as inovações médicas e científicas. “A evolução das insulinas e das formas de monitoração da glicemia foram e são, com certeza, um grande ganho para nós”, pondera.
Hoje, a rotina de cuidados de Aracy envolve a aplicação de dois tipos de insulina e o monitoramento dos níveis de açúcar no sangue várias vezes ao dia. Usuária de uma tecnologia que permite fazer a verificação da glicemia apenas com o celular, a arquiteta não sente saudades da época de picadas dolorosas e insegurança com o futuro.
“É possível ter uma vida saudável com o diabetes, mas é importante o controle diário, atividades físicas e alimentação equilibrada. Não há nada que o diabético não possa fazer, mas, por exemplo, é bom evitar gordura, frituras e o próprio açúcar”, conclui.
No Parlamento goiano
Desde o início da 20ª Legislatura, oito projetos de lei que propõem auxílios diversos aos diabéticos de Goiás foram protocolados pelos parlamentares da Casa.
A deputada Dra. Zeli (UB) assina dois deles. O de nº 697/23 pleiteia assegurar o atendimento prioritário às pessoas com diabetes mellitus nos serviços públicos e privados de saúde. A matéria já foi aprovada em primeira fase pelo Plenário e prevê, mais especificamente, o direito de prioridade na realização de exames complementares de diagnóstico que exigem jejum prévio, coletas de sangue e ultrassonografia de abdômen.
O outro texto, nº 2738/23, requer alteração da Lei n° 20.253/2018, que institui o Estatuto do Portador de Diabetes, para promover medidas de prevenção ao “pé diabético”, uma complicação arterial periférica decorrente dos níveis de glicemia descompensados.
Busca-se, entre outros, instituir, aos diabéticos, o direito de ter os pés examinados em toda consulta médica, independentemente da especialidade, com encaminhamento a um especialista no caso de pé de risco, inclusive crianças. O projeto está na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), onde aguarda relatório do deputado Veter Martins (Patriota).
O deputado Anderson Teodoro responde por outros dois dos processos legislativos que tratam do tema. As sugestões são para instituir o Dia Estadual do Diabetes em 14 de novembro e para criar, na primeira semana de maio, a Semana Estadual da Conscientização do Descarte Correto do Lixo Gerado no Tratamento do Diabetes e Outras Doenças. Ambas sugestões estão em análise na CCJ.
Estabelecer que o laudo médico que ateste o DM1 tenha prazo de validade indeterminado, no âmbito do Estado de Goiás, é a proposta de José Machado (PSDB) e Rosângela Rezende (Agir).
Enquanto isso, o deputado Dr. George Morais (PDT) quer autorizar escolas da rede pública e privada de ensino a disponibilizarem geladeira, armário ou outro móvel semelhante para a guarda e conservação de insulinas, seringas, lancetas ou canetas aplicadoras utilizadas por alunos com diabetes. A proposta tramita sob o nº 3524/23 e aguarda relatório de Vivian Naves (Progressista) na CCJ.
Por fim, Virmondes Cruvinel (UB) quer estabelecer um protocolo de fornecimento compulsório de dispositivo de monitoramento contínuo da glicose para crianças de até 12 anos diagnosticadas com DM1 no Estado. A propositura também está na CCJ e o relator designado é Amilton Filho (MDB).