A importância da taquigrafia
Enquanto os deputados atuam no Plenário Iris Rezende da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), a equipe de taquigrafia da Casa de Leis se reveza para registrar os discursos e tudo que acontece durante as sessões. Os taquígrafos acompanham e transcrevem, à mão, cada palavra dita pelos parlamentares. Em gestos rápidos e precisos, usando uma escrita de taquigramas, com símbolos e fonemas, tudo é anotado de forma simultânea. A importância dessa celeridade no registro taquigráfico ocorre em vários momentos durante as plenárias, como no caso de o parlamentar apresentar proposição de sua autoria. Tudo o que for dito pelo deputado é registrado pelo taquígrafo, a fala é transcrita em sinais.
Eles se revezam de três em três minutos durante as sessões. Sempre munidos de blocos e canetas, as taquígrafas e taquígrafos da Alego seguem anotando nas sessões plenárias e também nas solenes e itinerantes. Segundo o chefe da seção de Taquigrafia, Kleber Pereira Houri, a equipe é formada por 10 pessoas e nove colaboradores do apoio técnico. Kleber, que tem 42 anos no exercício da profissão, destacou que o trabalho exige concentração e discrição. “A taquigrafia é a palavra da Assembleia. Tudo é registrado na íntegra, a escrita é única”, pontuou.
O chefe da Seção comentou que existem recursos tecnológicos, mas o trabalho humano é crucial na área. “Mesmo com os novos programas, com o uso da inteligência artificial, nada substitui a escrita humana. Nós escrevemos as palavras na íntegra, conhecemos os termos usados pelos parlamentares, entendemos o linguajar de cada um. Os programas de inteligência artificial não entendem, muitas vezes, as palavras e acabam traduzindo para algo completamente diferente do que foi falado”, explicou.
Já a taquígrafa Vanessa de Freitas Castro, que atua na profissão há 38 anos, reforçou a importância do serviço feito pela equipe e enfatizou que o trabalho, além de dedicação, exige uma grande parceria entre os colegas. “Aqui é um serviço de formiguinha, tudo feito em conjunto. Aos poucos vamos juntando as descrições de cada parte e assim vai se formando o texto final da sessão que ocorreu no dia, que, posteriormente, será publicada no Diário Oficial da Assembleia Legislativa”, disse.
O Diário Oficial da Casa de Leis pode ser conferido pelo cidadão e ele fica disponível no Portal da Alego na aba Transparência. Ele pode ser acessado por meio deste link.
Jeancely Salgado, também taquígrafa, frisou, durante entrevista à equipe de reportagem da Agência de Notícias, que a taquigrafia é a escrita rápida do áudio, do som. “Nós ouvimos tudo o que é falado nas sessões e transcrevemos com símbolos, usando a fonética e depois escrevemos tudo para língua portuguesa”, afirmou.
Por sua vez, o taquígrafo Ivo Flores apontou que a taquigrafia diariamente contribui para a história da Assembleia Legislativa de Goiás. “Cada dia que passa, a gente acaba escrevendo mais um capítulo da história do Parlamento goiano. E tudo é publicado com transparência e contribui para essa relação de aproximação do Poder Legislativo com a sociedade”, evidenciou.
A servidora Juliana Ferreira também acentuou que é, por meio do discurso, que o parlamentar manifesta sua cultura, opiniões, bordões e sua relação com o meio e grupos de interesse. “A manutenção da fidelidade ao discurso do orador se faz imprescindível e, muito além disso, o contexto histórico da própria manifestação. O discurso é a ferramenta pela qual a atividade parlamentar se torna ainda mais visível aos olhos da sociedade”, argumentou.
Arte milenar
Os primeiros registros de um sistema organizado de escrita rápida datam de 63 a. C., época dos grandes oradores romanos. Marco Túlio Tiro inventou um método taquigráfico que foi usado para anotar os pronunciamentos de Cícero, Sêneca e outros membros do Senado. O sistema de Tiro foi ensinado nas escolas romanas, aprendido por imperadores e amplamente utilizado. A taquigrafia de princípio fonético, hoje largamente utilizada, foi criada pelo reverendo inglês Phillip Gibbs, em 1736.
A taquigrafia já era uma arte plenamente desenvolvida quando foi adotada para registrar as atividades parlamentares. A instituição oficial da taquigrafia parlamentar no Brasil foi em 3 de maio de 1823, por iniciativa de José Bonifácio de Andrade e Silva, quando se abriram os trabalhos da primeira Assembleia Constituinte.
“A taquigrafia é uma técnica ou uma arte que remonta à antiguidade”, lembrou o taquígrafo Luiz Gustavo Vito. Ele contou que começou na taquigrafia no apoio técnico. “Estudei e passei no último concurso público que ocorreu em 2015. Eu aprendi o trabalho aqui na Assembleia Legislativa e, hoje, faço parte da equipe de taquígrafos”, sublinhou.
Fabrício Lunardi, também aprovado no mesmo concurso que Luiz, pontuou que a história da taquigrafia é para ele encantadora. “Saber que provavelmente os discursos mais relevantes da história foram possíveis graças aos recursos da taquigrafia, em função desse conhecimento que vem de décadas antes de Cristo, é realmente fascinante”, enalteceu.
Todos os servidores da taquigrafia na Alego são efetivos. Para o próximo concurso, que foi anunciado pelo presidente do Parlamento goiano, Bruno Peixoto (UB), as vagas ainda não estão definidas e o edital não foi concluído. “Nós já conversamos com a presidência e solicitamos que o certame também contemple a área de taquigrafia devido à demanda”, afirmou o chefe da seção de Taquigrafia, Kleber Pereira.
Apoio técnico
Juntamente com os taquígrafos, há uma equipe de apoio técnico. Após transcrever tudo que ocorre nas sessões, os taquígrafos passam para o sistema de taquigrafia. Luiz Felipe Torres é um dos servidores do apoio técnico e conta que está na função há oito anos. “A ordem chega aqui, nós aguardamos a revisão dos servidores que compõem a equipe de revisão da taquigrafia. Quando eles liberam as ordens já corrigidas, nós começamos a fazer o agrupamento e montar a sessão que ocorreu”, explicou.
Thiago Debs, que também faz parte do apoio técnico, destacou que, além dessa parte, eles também ajudam na conferência de informações. “O apoio técnico da taquigrafia é voltado para a parte de documentação também, dos projetos de lei, de requerimentos, além da montagem da sessão, que será enviada para o Diário Oficial da Assembleia Legislativa. Tudo tem que estar certo, numeração, teor do projeto de lei, tudo passa por conferência”.
Toda a equipe de taquigrafia da Casa de Leis está sempre pronta e atenta às necessidades do Poder Legislativo. São profissionais que carregam consigo, por meio do registro taquigráfico, a memória, o registro histórico de debates e discussões importantes para o futuro da sociedade. É um trabalho delicado, cheio de nuances e de muita responsabilidade.