O predileto

O Brasil é o maior produtor mundial do grão, mas a alta histórica nos preços deixa um gosto amargo para o consumidor. Em Goiás, o cultivo de café ganha relevância e, na Alego, projeto prevê criar o Circuito das Cafeterias Goianas.
O Dia Internacional do Café, 14 de abril, foi instituído em 2015 pela Organização Internacional do Café (OIC) com vistas a unificar as comemorações ao redor do planeta. A data tem o objetivo de promover a cultura do café, valorizar os cafeicultores e movimentar toda a cadeia produtiva do grão, além de celebrar a paixão por essa bebida que se transformou na segunda mais consumida em todo o mundo, perdendo apenas para a água.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo e o segundo maior consumidor, perdendo apenas para os Estados Unidos da América (EUA). A produção brasileira é tão expressiva que, sozinho, o país é responsável por 30% da produção mundial e, conforme dados da Organização Internacional do Café, são consumidas diariamente cerca de 2 bilhões de xícaras de café de vários tipos.
O consumo diário tão expressivo se deve pelo prazer de saborear uma xícara de café que vai muito além do sabor, envolvendo uma experiência completa, que combina aromas, texturas e nuances que encantam até os paladares mais exigentes. Apreciar uma boa xícara de café tem o poder de conectar pessoas e momentos. Seja em uma conversa entre amigos, em uma pausa durante o trabalho ou em um ritual pessoal de reflexão, a bebida se transforma em algo que vai além do simples consumo, criando uma atmosfera de acolhimento e intimidade.
Mas, para além do prazer da bebida, com o preço lá nas alturas, até quando a bebida vai continuar sendo a queridinha de milhões de brasileiros? O café, uma das commodities mais apreciadas no mundo, está enfrentando uma alta histórica nos preços, mas o que explica esse aumento tão expressivo?
Comprometimento
De acordo com o boletim informativo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), na safra de 2024/2025, as mudanças climáticas provocaram queimadas, calor intenso e pouca chuva em diversas regiões produtoras. Todos esses fatores comprometeram a granação e maturação, afetando a produtividade. Além das questões climáticas, o preço do produto também é afetado pelo mercado, já que é uma commodity global.
Nesse contexto, a economista e professora de marketing na Universidade Federal de Goiás (UFG), Nubia da Cunha Simão, explica que isso significa que o preço do café no mercado interno brasileiro é diretamente influenciado pela cotação internacional da moeda americana. Como o Brasil é o maior produtor e exportador mundial do produto, o preço que pagamos aqui reflete, em grande parte, a cotação internacional multiplicada pela taxa de câmbio.
Segundo a acadêmica, outro fator que influenciou a alta dos preços é que, apesar da safra 2024/2025 ter aumentado, o consumo global também subiu, o que reduziu drasticamente os estoques. Atualmente, o estoque final de café é o menor registrado nos últimos 25 anos, com cerca de 21 milhões de sacas, o que provocou um aumento significativo nas cotações internacionais. Esse cenário de alta demanda e baixa oferta fez os preços subirem vertiginosamente, afetando diretamente o bolso do consumidor brasileiro.
No ano passado, o país bateu um novo recorde de exportação e embarcou cerca de 50 milhões de sacas para o exterior. Dando sequência à série de alta produtividade, o país abriu o ano de 2025 com uma alta de quase 20% em relação ao mês anterior. “Entretanto, com o novo tarifaço divulgado recentemente pelo presidente americano, Donald Trump, que impõe uma tarifa de 10% para os produtos brasileiros, o produtor de café pode decidir não exportar e gerar um excedente de oferta interna. Isso pode ter como consequência a regulação ou até a queda nos preços”, pontua a economista.
Relativo ao assunto, no último ano, começou a tramitar na Assembleia Legislativa de Goiás o projeto de lei 97/24, de autoria da deputada Vivian Naves PP), que pretende criar o Circuito das Cafeterias Goianas, com o objetivo de divulgar os estabelecimentos existentes em Goiás e expandir o negócio relacionado ao café. A matéria já passou pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação e pela Comissão de Cultura, Esporte e Lazer.
Produção cafeeira em Goiás
Em Goiás, de acordo com dados divulgados pelo governo, o cultivo do café arábica ainda tem produção tímida e busca espaço frente a outras culturas se desenvolvendo prioritariamente em áreas irrigadas. Apesar disso, a cultura já apresenta um crescimento de áreas em formação (117,1%), indicando investimentos promissores. Essa variedade é a principal cultivada no país e vem sendo impulsionada pelo aumento da área em produção.
Apesar da área dos produtores goianos ainda ser pequena, a adoção das melhores práticas de produção, aliadas ao investimento em irrigação, tornam a cafeicultura praticada em solo goiano uma das mais produtivas do Brasil, fruto do esforço contínuo dos agricultores que apostam na diversificação de culturas.
Nos dias de hoje, os principais estados produtores são Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, que concentram cerca de 80% da produção brasileira. Mesmo contribuindo com apenas 0,8% da produção nacional, Goiás ocupa a sétima posição, tendo dez municípios goianos produtores no estado: Cristalina, Cabeceiras, Campo Alegre de Goiás, Paraúna, Ipameri, Catalão, Inhumas, São João d’Aliança, Niquelândia e Itauçu.
A produção goiana tem como destino importantes players no mercado internacional, como Estados Unidos, Alemanha, Itália e França.
“O uso de tecnologias de manejo tem contribuído para manter o estado em posição de destaque no cenário nacional de produtividade, com a expansão das áreas em formação e investimentos promissores no cultivo do café arábica em Goiás ganham destaque no cenário nacional”, avalia o titular da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Pedro Leonardo Rezende.