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Um Natal conturbado

18 de Janeiro de 2010 às 21:00
Artigo deo deputado Fábio Sousa (PSDB) publicado no jornal Diário da Manhã, edição de 29.12.2009

* Fábio  Sousa é deputado estadual pelo PSDB, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa de Goiás.



Natal é um momento mágico de alegria e celebração. É quando nos reunimos para relembrar a mais bela das histórias, o nascimento do nosso Senhor Jesus. Onde a família unida passa bons momentos, deliciando-se de uma ceia farta, trocando presente e contando piadas.  Mas este natal de 2009 ficará marcado na minha memória não só pelos bons momentos que tive com minha família, em especial com meu filho. Algumas notícias me chocaram e me levaram a refletir sobre quanto o Brasil ainda precisa repensar alguns de seus valores.

Notícias como a de agulhas encontradas no corpo de uma criança de dois anos, que sofreu um verdadeiro abuso por parte do padrasto, por um ritual de magia negra para se vingar de sua companheira, a mãe da criança. Um menino de dois anos agonizando em um hospital por um ato de desumanidade e de insanidade não é um conto de Natal a que estamos acostumados. Um preso, liberado para passar as festas de fim de ano em casa, foi flagrado num assalto, no Recife. Era o quarto roubo do dia. Um homem, que estava com o filho de nove anos no carro, foi surpreendido por um assaltante. Ele rendeu o ladrão, quando percebeu que o filho seria feito refém.

Na delegacia, a polícia descobriu que o ladrão é um detento da Penitenciária Agroindustrial São João da Ilha de Itamaracá. Ele tinha recebido nesta quarta-feira (23) a autorização para passar o Natal com a família. O preso é um dos 789 detentos de Pernambuco que receberam permissão da Justiça para passar as festas de fim de ano em casa. Quando saiu da prisão, em vez de visitar a mulher e os dois filhos, ele se encontrou com um comparsa. Eles já haviam roubado três carros na região metropolitana do Recife, antes de serem surpreendidos pela vitima.

Até onde vamos aceitar “indultos” no Brasil para pessoas claramente desqualificadas para tal? Onde se encaixar “indulto” de Natal, ou de Dia dos Pais para criminosos que cometeram ou cometem crimes hediondos? Será que um homicida, um estrupador ou um pedófilo possuem a capacidade de se resocializar? Para encerrar este Natal de notícias estarrecedoras vem a minha mente a decisão do STF de extraditar o garoto Sean Goldman, de nove anos. O jovem americano veio junto com a mãe brasileira, fugindo do pai americano, morar no Brasil.

A decisão em si não está errada. Segundo convenções internacionais ou mesma da legislação brasileira o direito da criação de um filho é de seus pais. O pai do garoto tinha todo o direito de criar seu filho. Mas determinar que o garoto devesse ser extraditado (desculpe, mas não encontrei outra palavra que se encaixe melhor nesta reflexão) no dia do Natal, deixando o convívio dos avós e do padrasto que nos últimos anos completamente o criaram sem a presença do pai, se torna uma decisão totalmente bizarra.

Poderá cumprir-se o que a justiça determinou esperando até a semana posterior ao natal e ainda garantindo que um integrante da família da mãe pudesse acompanhar o garoto na viagem e ainda por um breve período nos Estados Unidos enquanto ele se adaptava a sua nova vida. Imagine o impacto psicológico que esta criança irá carregar ao longo de sua vida. Perde a mãe, um ano depois a família, na véspera de Natal. Para o garoto Sean, papai Noel deixou de existir a muito tempo.

Olhando para este Natal, para as notícias deste Natal, só consigo defini-lo através das palavras da avó materna de Sean: “Estou chocada, triste, decepcionada e envergonhada.”


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