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Na História: Goiás já teve dois hinos diferentes

30 de Janeiro de 2019 às 10:39

A execução dos Hinos Nacional e do Estado de Goiás será obrigatória nas escolas do ensino fundamental da rede estadual a partir deste ano. A nova regra faz parte do Decreto nº 9.394, de 28 de janeiro de 2019, assinado pelo governador Ronaldo Caiado (DEM). Embora decretos do Poder Executivo não necessitem de aprovação pela Assembleia Legislativa, o Parlamento Goiano sempre procurou valorizar o hino oficial de Goiás ao longo de sua história.

Há 100 anos, a Assembleia Legislativa do Estado de Goiás aprovava a Lei nº 650, de 30 de julho de 1919, que dispunha sobre o hino, as armas e o pavilhão. A bandeira e o brasão são os mesmos, mas o hino foi alterado. O diploma legal foi alterado pela Lei nº 13.907, de 21 de setembro de 2001, que modificou os versos e a música do hino oficial de Goiás.

As alterações legislativas sobre o hino são mais interessantes do que parecem em razão dos personagens envolvidos e do teor informativo de seus versos. A legislação sobre a canção oficial do Estado de Goiás permite reconstruir parte de sua história, o que, de certa maneira, traz informações valiosas sobre uma possível identidade goiana através dos versos de ambas as letras.  

A primeira versão do hino, definida pela Lei nº 650/1919, havia sido organizada pelo professor Antônio Eusébio de Abreu com a música composta pelo músico e pianista Custódio Fernandes Góes. A legislação foi debatida na então 8ª Legislatura do Congresso Legislativo de Goiás (1917-1920), cuja Câmara na época era presidida por Arnulpho Ramos Caiado – curiosamente, o 1º Secretário dessa Legislatura era Cylleneo de Araújo, um dos maiores poetas de Goiás, conhecido como Léo Lynce. A norma foi sancionada pelo governador João Alves de Castro.

Embora os nomes dos autores soem hoje desconhecidos, foram ambos personagens de destaque no cenário cultural erudito goiano durante a Primeira República. O autor dos versos do primeiro hino, Antônio Eusébio de Abreu, devotou sua carreira à educação. Foi fundador do Colégio Bonfinense, um dos mais renomados centros de ensino de Goiás no final do século XIX, quando Silvânia ainda era conhecida por seu nome original: Bonfim. A então vila era reconhecida pela excelência da educação oferecida em suas escolas.

O professor Antônio Eusébio de Abreu foi pai de Antônio Americano do Brasil, médico, que consolidou um grande volume de informações sobre a História de Goiás. Reconhecido por sua vasta produção intelectual, Americano do Brasil foi deputado federal por Goiás entre 1921 e 1923, mas acabou assassinado pelo engenheiro agrônomo Aldovandro Gonçalves, em Santa Luzia (hoje Luziânia), em abril de 1932.

O compositor da música original do hino goiano, Custódio Fernandes Góes, teve uma consagrada carreira como pianista, com destaque nacional. Foi professor do Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro, e já havia composto hinos sobre Benjamin Constant e ao primeiro presidente republicano, Deodoro da Fonseca.  

A versão original do hino do Estado de Goiás era ensinada nas escolas estaduais e fazia parte dos atos oficiais da administração públicas. Sua presença era tão marcante que a Lei nº 11.517, de 22 de julho de 1991, tornava obrigatória a publicação do hino e do nome de todos seus autores em todos os números dos Diários Oficiais do Estado. Essa norma, ainda vigente, foi sancionada durante o último mandato de Iris Rezende à frente do Poder Executivo.

 

MUDANÇA DE AUTORIA

 

Embora o hino original do Estado de Goiás tenha sido utilizado em atos oficiais por 82 anos, uma nova lei o revogou em favor de uma nova ode, com letras do professor José Mendonça Teles e música do maestro Joaquim Jayme. A nova canção oficial foi introduzida por força da Lei nº 13.907, de 21 de setembro de 2001, publicada no Governo Marconi Perillo.

A lei que alterou o hino do Estado de Goiás ocorreu durante a 14ª Legislatura (1999-2003), que teve como presidente Sebastião Tejota, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Goiás. Dessa vez, não havia nenhum poeta declarado na composição da Mesa Diretora.

O novo hino traz uma particularidade: sua letra foi escrita por José Mendonça Teles, um dos mais renomados pesquisadores da cultura de Goiás. Morto em abril de 2018, aos 82 anos (o mesmo período de vigência do hino anterior), Mendonça Teles havia sido presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e da Academia Goiana de Letras. Deixou um vasto legado literário e histórico, preservando obras fundamentais da história e literatura do Centro-Oeste brasileiro.

Autor da música do novo hino, o maestro Jarbas Jayme foi um dos fundadores da Orquestra Filarmônica de Goiás. Ex-aluno da professora Belkiss Spencière Carneiro de Mendonça, foi professor de Música na Universidade de Brasília ( UnB), além de ter lecionado na Alemanha e no Chile. Havia sido um dos precursores do Instituto de Educação em Artes Professor Gustav Ritter, uma das mais importantes escolas de música de Goiás.

 

O HINO DE GOIÁS NO PARLAMENTO

 

Ao longo dos últimos 20 anos, ao menos oito projetos de lei sobre o hino do Estado de Goiás tramitaram na Assembleia Legislativa. O registro mais antigo desse período consta do processo nº 3770/1997, de autoria do então deputado Carlos Luz, que torna obrigatório o estudo e a divulgação dos hinos de Goiás, da Bandeira e Nacional nas disciplinas de Ciências Sociais e História nas escolas estaduais e municipais, em matérias.

Segundo dados da plataforma Opine Cidadão, a última matéria a tramitar sobre o Hino de Goiás foi o processo nº 876/2017, de autoria do deputado Sérgio Bravo, que torna obrigatória a execução do Hino do Estado de Goiás nos eventos esportivos e culturais oficiais. A matéria foi relatada na Comissão de Constituição, Justiça e Redação pelo deputado Henrique Arantes (PTB), que se manifestou favorável à sua aprovação.

O texto foi aprovado pela Assembleia Legislativa e se tornou a Lei nº 19.805, de 24 de agosto de 2017, que estabelece a obrigatoriedade de execução do Hino Nacional e do Hino do Estado de Goiás nas solenidades que especifica. A norma está em vigência.

 

OS HINOS

 

Ambos os hinos oficiais de Goiás foram escritos – tanto letra quanto música – por grandes nomes em suas épocas. A riqueza literária, histórica e cultural das duas odes oferece um panorama sobre elementos associados à narrativa histórica de Goiás ao mesmo tempo que empresta imagens sobre o que significa ser goiano.

Abaixo, confira ambas as letras dos hinos:

 

HINO DE GOIÁS – VERSÃO 1919

No coração do Brasil,
Domínio da primavera,
Se estende a terra goiana,
Que nos legou Anhanguera.

O bandeirante, atrevido,
Desbravador do sertão,
Em cada pedra abalada,
Deixou da audácia um padrão.

Em cada pico azulado,
No dorso da serra erguido,
Recorda a lenda encantada
De algum tesouro escondido.

Outrora a terra, esquecida,
Mas sempre augusta no porte,
Viveu a lei do destino,
Vergada aos lances da sorte.

Depois, volvida, alentada
Do grato influxo estafante
Do vil metal reluzente,
Tornou-se Estado possante.

E hoje, estante, orgulhosa,
No labutar do progresso,
Riquezas, dons naturais
Ostenta em vasto recesso.

Este céu tão estrelado,
Este solo tão fecundo
Parecem provar destino
De ser o solar do mundo.

Este clima salutar,
Esta brisa embalsamada,
Noite e dia, são cantadas
Nos trinos das passaradas.

Seus lindos bosques nativos,
Orlando campos e montes,
Ao sol ocultando c'a sombra,
A clara tinta das fontes.

Buritizais alinhados,
Quais batalhões da natura,
Ali defendem co'os leques,
Da chã leveza e frescura.

De sul a norte, afinal,
Da natureza no arquivo,
A fauna, a flora se enlaçam
Em doce amplexo festivo.

Este solo que pisamos
Hoje, em fraternal abraço,
É berço da liberdade,
Da Pátria Amada um pedaço.

Outrora fora o retiro
Dos filhos do Mucunana;
Mas hoje a terra, exaltada,
É a nossa Pátria Goiana.

Goianos, nobres, altivos,
Da liberdade alentados,
Jamais consentem que os touros
Da Pátria sejam pisados.

Cantemos todos, unidos,
Da liberdade a vitória.
Mais um padrão ajuntemos
Aos faustos da nossa história.

Salve plêiade cintilante
De patriotas goianos
Que em sulcos e bênçãos pátrias
Conquistam louros, ufanos.

Desperta além, mocidade,
A voz do grande ideal
De fazer Goiás fulgir
No vasto Brasil Central.

Viva o Brasil respeitado,
Como Nação Soberana.
Viva o progresso encetado
Na bela terra goiana

 

 

 

HINO DE GOIÁS – VERSÃO ATUAL

Santuário da Serra Dourada
Natureza dormindo no cio
Anhanguera, malícia e magia,
Bota fogo nas águas do rio.

Vermelho, de ouro assustado,
Foge o índio na sua canoa.
Anhanguera bateia o tempo:
—Levanta, arraial Vila Boa!

Estribilho:
Terra Querida
Fruto da vida,
Recanto da Paz.
Cantemos aos céus,
Regência de Deus,
Louvor, louvor a Goiás!
(repetem-se os três últimos versos)

A cortina se abre nos olhos,
Outro tempo agora nos traz.
É Goiânia, sonho e esperança,
É Brasília pulsando em Goiás!

O cerrado, os campos e as matas,
A indústria, gado, cereais.
Nossos jovens tecendo o futuro,
Poesia maior de Goiás!

(Estribilho)

A colheita nas mãos operárias,
Benze a terra, minérios e mais:
—O Araguaia dentro dos olhos,
eu me perco de amor por Goiás!

(Estribilho)

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