7 de abril, Dia do Jornalista

Este 7 abril, Dia do Jornalista, traz uma reflexão ímpar para quem vivencia os atuais desafios da profissão, mas também convida a sociedade a refletir sobre os impactos que os ataques à imprensa, cada vez mais comuns, podem trazer.
Um relatório divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgado no início do ano deu luz àquilo que todo jornalista já sentia na pele: em 2020, o Brasil registrou recorde de ataques à imprensa. O número, 428 ataques, foi o maior desde 1990 quando os dados começaram a ser coletados.
Quase metade desses ataques, 40,89% do total, foram efetuados pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido-RJ).
A jornalista Cileide Alves, apresentadora na Rádio Sagres e colunista do jornal O Popular, considera que existe uma campanha do Executivo federal contra a imprensa. Campanha que, segundo ela, em última análise, é para atingir a liberdade da informação e da manifestação.
Cileide observa que vivemos um momento muito duro. "Acredito que ataques como esses nós devemos ter sofrido na época da ditadura militar, em momentos de autoritarismo mesmo, e eu ainda não tinha vivido isso. Não vivi a época da ditadura militar, mas acompanhei a época da reabertura política, vimos tudo que aconteceu, é inesquecível a morte do Vladimir Herzog. Acho que o que estamos vivendo agora é similar, resguardada as proporções ao período da ditadura. Digo isso porque hoje estamos, em tese, vivendo uma democracia institucional, então não há como a violência ser física como foi naquele momento da ditadura”, diz Cileide, ao lembrar a morte do jornalista que se tornou figura central no movimento pela restauração da democracia após o golpe de 64.
Apresentador do Jornal Boa Notícia da TV Pai Eterno, Jordevá Rosa diz que o jornalismo passa pelo seu pior momento, depois do período marcado pela ditadura militar.
“Há uma tentativa de desacreditar o jornalismo que é feito com profissionalismo, sempre colocando em xeque a informação por meio de fake news, com as redes sociais. Muitas pessoas com má intenção trabalham a informação de forma errada para que a sociedade possa desacreditar do jornalismo”, afirma.
Cileide e Jordevá analisam que o ataque à imprensa é, de fato, um ataque á própria democracia e a tudo que ela representa. “Quando você ataca o Judiciário, o Legislativo e os veículos de comunicação, você acaba desacreditando os pontos principais para a manutenção da democracia”, ressalta Jordevá.
No entanto, Cileide acredita que o momento também é importante para ressaltar o papel primordial do jornalista na sociedade. “Acho que a gente vive um momento ímpar porque conseguimos, em função dessa realidade, mostrar a importância do jornalismo. Quando o presidente ataca dessa forma a imprensa, se ele dedica tanto esforço para combater jornalistas e o jornalismo, é porque têm importância, é relevante. Ninguém joga pedra em fruta podre. Acho que isso é até nesse aspecto um ato falho do presidente. Ele está atacando aquele que ele teme, que é relevante para a democracia”, pondera Cileide.
Há o que comemorar
Apesar dos desafios e do momento difícil que o jornalismo enfrenta, os dois profissionais são unânimes em defender que jornalistas têm sim o que comemorar e que um futuro melhor está a nossa espera.
“Essa fase vai passar porque o Brasil não suporta esse tipo de coisa. Existem pesquisas que demonstram isso. Quando você coloca os níveis de confiabilidade de cada veículo que divulga uma informação, você percebe que as redes sociais estão lá atrás. Isso comprova que as pessoas vão atrás dos veículos tradicionais para confirmar uma notícia e mostra que temos condições de reagir e de superar essa fase”, diz Jordevá.
“Estamos passando por transformações profundas no processo da notícia, da informação. Períodos assim são difíceis para quem está vivendo ele, a próxima geração de jornalistas já vai encontrar as coisas transformadas, e ela não vai ter noção do quão difícil foi a mudança”, prevê Cileide.