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Combate a crimes sexuais

18 de Junho de 2021 às 14:04
Crédito: Seção de Publicidade
Combate a crimes sexuais
Dia internacional da eliminação da violência sexual em conflito
O 19 de junho foi instituído pela ONU como o Dia Internacional para Eliminação da Violência Sexual em Conflito. Na Assembleia, parlamentares defendem medidas, através de projetos, que coíbem tal prática.

Em 2015, as Nações Unidas (ONU) partiram para uma abordagem de conscientização e enfrentamento de uma triste realidade que atinge sobreviventes em zonas de guerra, a violência sexual, que muitas vezes é praticada contra mulheres e meninas, mas que também afeta homens e meninos. A data escolhida para o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Sexual em Conflito foi 19 de junho.

No que compete à Assembleia Legislativa do Estado Goiás, não há histórico de atuação sobre questões pertinentes a conflitos armados, até mesmo porque o Brasil raramente esteve envolvido em confrontos com outras nações ou foi palco de insurgências. Entretanto, a Casa de Leis tem contribuído para coibir a violência sexual que atinge principalmente as mulheres e menores em nosso tempo, através de proposituras que se converteram em lei ou que atualmente estão sob análise.

De volta ao cenário internacional, o secretário-geral da ONU, António Guterres, conclamou os países a implementar ações para conter esses crimes quando da campanha idealizada para a data em 2020. Ele apontou que o caminho é colocar os sobreviventes no centro da reposta, responsabilizando os autores e expandindo o apoio a todos os afetados.

Guterres avalia que os sobreviventes de crimes sexuais enfrentam desafios ainda maiores no meio da pandemia de covid-19 porque “denunciar essas ocorrências pode ser difícil, abrigos e clínicas podem estar fechados”.

Na mensagem aos países-membros, secretário-geral afirma que as Nações Unidas querem acabar com a violência sexual em conflito na próxima década como parte da meta de “eliminar todas as formas de violência de gênero”. Para a organização, essa é uma ameaça à “segurança coletiva, uma violação do Direito Internacional e um flagelo na consciência da humanidade”.

Uma das 14 agências com esforços pelo fim da violência sexual em conflito armado é o Fundo das Nações Unidas para a População (Unfpa). A agência apoia sistemas de referência para melhorar o acesso dos sobreviventes a serviços como saúde, apoio psicossocial, segurança, proteção, justiça, assistência jurídica e ajuda socioeconômica.

Em abril de 2019, o Conselho de Segurança adotou a Resolução 2.467, que exorta os estados-membros da ONU a se comprometerem com o fim de todas as formas de violência sexual em conflito com foco no sobrevivente.

Violência de gênero

Refere-se a qualquer tipo de agressão física, psicológica, sexual ou simbólica contra alguém em situação de vulnerabilidade devido à sua identidade de gênero ou orientação sexual. Conforme estimativa publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2017, uma em cada três mulheres em todo o mundo, especificamente 35%, já foram vítimas de violência física ou sexual durante a sua vida. A constatação mais lógica é que a maioria das vítimas é do sexo feminino, contudo, é preciso chamar a atenção para as agressões sofridas também por homens e minorias sexuais e de gênero.

Com o intuito de aprofundar no tema, a Agência Alego de Notícias ouviu a psicóloga Cida Alves, que é doutora em educação e acompanha pessoas em situação de violência, há 24 anos, na Secretaria Municipal de Saúde da Capital.

“Infelizmente, além da população em geral sofrer com os conflitos armados e grandes crises humanitárias, nós temos uma realidade que afeta mais ainda as mulheres e as meninas, que é violência sexual nesse contexto tão dramático”, observa. Assim como foi delimitado pela ONU, ela considera que o Brasil vive uma crise humanitária provocada pela pandemia do novo coronavírus, responsável por aproximadamente meio milhão de mortos.

Cida Alves avalia que a crise pandêmica tem feito a violência sexual e conflitos domésticos em geral aumentar no Brasil.  “É importante nós termos um olhar atento e proteger todas as vítimas, pois perdemos os principais canais de proteção como a escola, principalmente, para crianças e adolescentes. Mas não podemos abandonar as vítimas, precisamos desenvolver formas de protegê-las”.

De acordo com a especialista, a violência sexual traz um efeito de sofrimento semelhante a um enfrentamento de guerra e que costuma deixar marcas mais profundas quando há demora na busca das delegacias especializadas no atendimento à mulher e no suporte psicológico à vítima. “Precisamos agir rápido, acreditando nas vítimas, interditando as violências e responsabilizando os autores”.

A psicóloga ainda orienta as pessoas que testemunham ou têm conhecimento de crimes sexuais a procurar o Serviço de Denúncia de Violações aos Direitos Humanos (Disque 100) e, em caso específico de violência doméstica, a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180). “Não permita que uma vítima sofra sozinha, todos nós somos responsáveis por essa realidade tão brutal e precisamos cuidar de todos os sobreviventes, de todas as vítimas”, reforça.

Contribuição legislativa

A legislação mais célebre já idealizada para coibir todo tipo de violência doméstica contra mulheres foi a Lei nº 11.340/2006 em homenagem  a Maria da Penha, a farmacêutica cearense que foi agredida pelo esposo por seis anos até ficar paraplégica. Desde seu advento, há 15 anos, a Lei Maria da Penha vem sendo usada como garantia legal para projetos de lei que vêm tramitando na Alego com o intuito de estabelecer medidas protetivas para mulheres que sofrem abusos sexuais, agressões físicas e psicológicas no ambiente familiar.

O exemplo mais recente de propositura que teve o sinal verde da Casa de Leis, em segunda votação, e que aguarda a sanção do governador Ronaldo Caiado (DEM), foi o projeto nº 750/2019, de autoria conjunta das deputadas Delegada Adriana Accorsi (PT) e Lêda Borges (PSDB). O projeto versa sobre a obrigatoriedade, em Goiás, da divulgação da Central de Atendimento à Mulher (Disque 180) e do Serviço de Denúncia de Violações aos Direitos Humanos (Disque 100) nos estabelecimentos de acesso ao público como hotéis, pousadas, bares e restaurantes, além de estações de transporte de massa, eventos e shows, salões de beleza, mercados, feiras, shoppings e etc.

A Central de Atendimento à Mulher, conhecida como "Disque 180", foi criada pela Lei n° 10.714, de 13 de agosto de 2003, e está em operação há cerca de onze anos. Durante esse período, já foram recebidas mais de 6 milhões de denúncias. Em relação ao "Disque 100", esse é um serviço com a finalidade de receber demandas relativas a violações de Direitos Humanos, especialmente as relacionadas com crianças e adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência, LGBT, pessoas em situação de rua e outros, como quilombolas, ciganos, índios, pessoas em privação de liberdade entre outros.

Para as parlamentares, apesar do grande número de denúncias, o Disque 180 e o Disque 100 ainda não são números amplamente conhecidos e disseminados na sociedade. "Isso fica claro quando se compara, por exemplo, a quantidade de denúncias de violência contra mulher recebidas face aos casos de violência registrados - hoje na casa de cinco a cada dois minutos, em âmbito nacional. Desses, apenas 4% resultam em uma denúncia - algo que pode estar relacionado à pouca informação sobre as características dos serviços de denúncia por telefone", argumentam na justificativa. 

A deputada Lêda Borges também apresentou outra medida protetiva para as mulheres que ainda aguarda as duas votações pelo Plenário. Trata-se do processo 3984/2019, que dispõe dobre a penalização à veiculação de publicidade ou propaganda misógina, sexista ou estimuladora de agressão e violência sexual contra a mulher em Goiás. Como seu parecer favorável foi acolhido pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação, a matéria tem grandes chances de ser aprovada pela Assembleia em definitivo e seguir para a sanção do Chefe do Poder Executivo.

De acordo com a redação da proposta, toda empresa, em território goiano, que contratar ou veicular publicidade de caráter misógino, sexista ou que estimule a violência contra a mulher por qualquer meio, dentre os quais outdoor, folhetos, cartaz, rádio, televisão ou redes sociais, será penalizada com multa, nos termos do artigo 57 da Lei Federal nº 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor), sem prejuízo de outras penalidades previstas na legislação.

Já o deputado Jeferson Rodrigues (Republicanos) também aguarda a deliberação na Ordem do Dia de dois projetos de lei de sua autoria que visam garantir atendimento especial a mulheres, crianças e adolescentes pelas instituições responsáveis por perícias e exames de constatação de violência sexual de Goiás.

O primeiro é o processo 5120/2019, que obriga essas instituições, inclusive os Institutos Médicos Legais do Estado de Goiás, a adotarem medidas para o atendimento reservado e diferenciado para as mulheres vítimas de agressão, abuso e violência sexual. “O Poder Público deve estar atento às fragilidades e peculiaridades deste atendimento, pois somente desta forma será viável minimizar a dor enfrentada pelas vítimas”, justifica o autor da propositura.

Outra providência consonante é pleiteada pelo parlamentar para contemplar menores de idade dentro do processo nº 3453/2019. De acordo com ele, o objetivo é garantir o cumprimento previsto na Constituição dos preceitos que determinam a proteção a crianças e às adolescentes, considerando suas características típicas de ser humano em fase de desenvolvimento mental, moral, espiritual e social.

De modo geral, Jefferson Rodrigues pondera que a violência de gênero é uma das manifestações mais cruéis e persistentes. “Diz-se persistente porque a violência atravessa a história e sobrevive. Por um lado, na dimensão de uma pandemia, atingindo mulheres, adolescentes e crianças, em todos os espaços sociais, sobretudo no doméstico; por outro, na forma de violência simbólica e moral, aterrorizando, em especial, o imaginário das mulheres, tanto produzindo vulnerabilidades quanto promovendo uma sensação de constante insegurança, contribuindo para a perpetuação de uma cultura violenta e patriarcal”.

Agência Assembleia de Notícias
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