Campanha Julho Verde

Para conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce para a eficácia no tratamento, o Hospital Araújo Jorge, juntamente com a Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG), a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) e, ainda, seus institutos parceiros, procuram colocar a temática em evidência durante todo o mês de julho. Dessa forma, o médico especialista em cabeça e pescoço, José Carlos de Oliveira, recebeu a equipe de reportagem da agência de notícias da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) e tratou sobre o assunto.
Segundo o médico do Hospital Araújo Jorge, muitas vezes os sintomas são negligenciados. A prova disso é que um dos principais problemas para o tratamento é o diagnóstico tardio, que ocorre em 60% dos casos, causando uma perda significativa da qualidade de vida durante e após o tratamento, na maioria dos casos com o comprometimento da fala e outras sequelas funcionais e psicológicas.
De acordo com o especialista, “o paciente precisa ficar atento aos sinais que aparecem no corpo, tais como: ferida na língua que não cicatriza, rouquidão permanente, dificuldade para engolir, dor constante no ouvido, nódulo no pescoço. Quanto mais agressivo é o câncer, mais rápido deve ser iniciado o tratamento e, por isso, existe a necessidade de o poder público facilitar o acesso da população para os locais especializados no atendimento do câncer, como é o caso do Hospital Araújo Jorge”.
Oliveira ressalta que é fundamental realizar o diagnóstico precoce, pois dessa forma, a chance de cura chega a 90% dos casos, preservando toda a estrutura e função do órgão afetado pela doença. Já nos casos de lesões mais avançadas, os pacientes mutilados perdem as funções desse órgão, criando uma difícil situação para continuar vivendo em sociedade, restringindo sua vida e criando um distúrbio familiar.
Ele entende que “o sexo oral tem relação direta com muitos casos de câncer de orofaringe, então especialmente os adeptos dessa prática precisam ter conhecimento e aprender a se prevenir. O correto é que todos os jovens, tanto meninos quanto meninas, entre 9 e 14 anos, sejam submetidos à vacinação. No mundo todo 170 países já aderiram a vacina como prevenção para o HPV, patologia que se tornou um forte fator de risco para os tumores de orofaringe. Para aqueles que não se vacinam, não se previnem e ainda fumam, isso aumenta sobremaneira a chance de ter um câncer de boca”.
Realidades diversas
Oliveira destacou que é preciso pensar em políticas públicas, pois no interior a população é mais prejudicada porque precisa aguardar a regulação para poder desfrutar do atendimento. Ele comentou que o estado precisa encontrar uma maneira de abreviar o tempo gasto para regular esses encaminhamentos, pois em alguns casos um mês de atraso no tratamento pode fazer muita diferença, a lesão pode tomar uma outra proporção, prejudicando o prognóstico.
“Em países avançados, apenas 30% dos casos são diagnosticados numa fase mais avançada, enquanto no Brasil essa taxa chega a 80% dos casos, isso demonstra o quanto precisamos evoluir para fazer um diagnóstico mais cedo, garantindo um tratamento mais tranquilo e uma chance maior de cura”, informou o médico.
O especialista explicou que no passado os homens estavam mais expostos aos fatores de risco devido ao estilo de vida, mas hoje os casos aumentam gradativamente entre as mulheres. Isso porque a mulher foi incorporando os mesmos hábitos que eram prevalecentes para o sexo masculino. Então, a mulher ao participar mais da vida ativa, pegou o lado bom porque isso é muito saudável, mas também pegou os fatores de risco. As mulheres hoje têm toda liberdade para beber e fumar conforme sua conveniência.
A lei do Julho Verde
Por iniciativa do presidente da Comissão da Saúde da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), o deputado Gustavo Sebba (PSDB), foi instituído em Goiás, por meio da Lei Estadual 21.957, o ‘Mês Estadual Julho Verde’, que deve ser dedicado à conscientização, prevenção e combate ao câncer de cabeça e pescoço buscando alertar e promover debates sobre a temática. O intuito é disseminar informações sobre os riscos, danos, formas de prevenção, causas de desenvolvimento e outras informações relevantes relacionadas ao câncer que afeta essa região do corpo.
A nova Lei recebeu a sanção da Governadoria no último mês de maio e advém do projeto original 6060/21. Em sua justificativa, o parlamentar explicou que os diversos tipos de câncer, que afetam cabeça e pescoço, representam a segunda causa de morte por doenças no Brasil, ficando atrás apenas dos problemas cardiovasculares. “Esse tipo de câncer costuma gerar um constrangimento público que afeta bastante a vida social das pessoas acometidas, já que, em regra, não tem como esconder seus tumores quando eles se encontram em uma parte do corpo tão evidente”, comentou.
Sebba ressalta que o tratamento é caro e complexo, sendo necessário o acompanhamento de equipe multiprofissional composta de médicos clínicos especializados, cirurgiões, dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos e psiquiatras. “A campanha busca também eliminar o preconceito que pode surgir em relação às pessoas com esse tipo de câncer, já que muitas vezes, por ter iniciar o tratamento mais tardio, existem sequelas permanentes, tais como aquelas que afetam a fala, a deglutição, a respiração, provocando uma mudança na imagem da pessoa”, esclarece o presidente do colegiado.