Estudantes participam de "Abraço Negro" na Assembleia Legislativa, em comemoração ao Dia da Consciência Negra
“Um sorriso negro, um abraço negro
Traz....felicidade
Negro sem emprego, fica sem sossego
Negro é a raiz da liberdade”
A letra do samba “Sorriso Negro”, imortalizada na voz marcante de Dona Ivone Lara, animou a tarde desta terça-feira, 19, no Palácio Maguito Vilela. Uma multidão de estudantes de 20 escolas estaduais e municipais ocuparam a entrada da sede do Poder Legislativo goiano para exaltar as influências da cultura negra na sociedade e se posicionar contra o racismo e o preconceito.
Com camisas estampando a frase “Racismo é crime” e cartazes onde se lia “Escola Antirracista”, as manifestações encampadas pelos jovens aprendizes marcaram as comemorações do novembro negro na Casa. O “Abraço Negro”, promovido pela deputada estadual Bia de Lima (PT), pelo segundo ano consecutivo, antecede o Dia da Consciência Negra, que é celebrado anualmente em 20 de novembro e que, neste ano, ganha o status de feriado nacional.
A parlamentar exaltou, nesta edição, a participação de jovens e crianças e destacou a importância do papel da escola na construção de uma nova mentalidade em prol da valorização e respeito à população negra, em Goiás. “Essa é também uma oportunidade para conhecerem a Assembleia e terem clareza da sua representação enquanto cidadãos. Para esta Casa, fica a tarefa de contribuir para melhorar a convivência social independente das diferenças. Cada tempo tem seus desafios e avanços. Atualmente, temos a impressão de retrocesso, por conta de pessoas que se manifestam contra cotas raciais nas esferas de poder, concursos públicos, nas universidades”, complementou.
Presidente da Comissão de Educação e representante do segmento, na atual Legislatura da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), a legisladora destacou os compromissos com a implementação da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira em toda a educação básica. “Queremos que este feriado seja um momento favorável à compreensão da contribuição extraordinária e rica da cultura negra em todas as áreas. Não dá para continuar apagando as centenas de contribuições da negritude na nossa ancestralidade e bem viver”, manifestou.
Representando o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), principal parceiro do evento, a tesoureira Ieda Leal destacou a importância da iniciativa. “Mais uma vez os estudantes estão aqui dando uma aula de cidadania para Goiás e pedindo o apoio da Casa no combate ao racismo. Todas as escolas deveriam seguir esse exemplo. Precisamos de uma escola antirracista para construir uma cidade antirracista”, ponderou.
O Movimento Negro Unificado (MNU), que já soma 49 anos de luta contra a discriminação racial e as injustiças sociais, também marcou presença nesta edição do evento. O coordenador regional da entidade, Delmo da Silva, destacou os desafios enfrentados. “Combater e vencer o racismo segue sendo sempre o principal foco da nossa luta. Nossa meta é alcançar a equidade entre os povos e reafirmar a nossa história enquanto povo lutador, que sobreviveu à escravidão e que hoje resiste ao apagamento, buscando, enquanto povo liberto, reconhecimento à sua cultura e a seus ideais. Nossa história, hoje, é marcada pela luta em prol da igualdade de acesso à educação e ao mundo do trabalho”, pontuou.
Diretor do Centro de Ensino em Período Integral (CEPI) Dom Abel, localizado no Setor Universitário, o professor Wanderson Souza relatou conquistas alcançadas no campo pedagógico. “Hoje nossa escola veio trazer, por meio da capoeira e do maculelê, um pouco do trabalho que realizamos ao longo do ano em prol da valorização da cultura afro-brasileira e de combate ao racismo. São 50 estudantes, da faixa etária entre 11 e 13 anos, do sexto ao nono ano do ensino fundamental, que estão aqui hoje. O racismo está presente em todas as esferas sociais e na escola não é diferente. Mas já temos notado uma mudança significativa, que começa com aceitação do cabelo e da cor da pele, e que acaba levando a uma maior identificação com as suas raízes identitárias”, observou o gestor.