Santas Casas de Misericórdias
Foi realizado nesta manhã de segunda-feira, 29, o debate sobre as Santas Casas de Misericórdias que atuam no Estado de Goiás. O evento foi sediado no Auditório Costa Lima da Assembleia Legislativa de Goiás. O presidente da Comissão de Saúde e Promoção Social, deputado Gustavo Sebba (PSDB) foi o autor da proposta.
A direção dos trabalhos foi feita por José Roldão Gonçalves, que é presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas do Estado de Goiás (Femigo). Também fizeram parte da composição da mesa o superintendente geral da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, José Antônio Lobo; Alexandre João Meneghini, que é presidente da Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG) e Edivânio Antônio, que é diretor geral do Hospital São Pio X de Ceres.
Para debater sobre o tema foram convidados os representantes das diversas Santas Casas que estão instaladas no Estado de Goiás.
Em seu discurso de abertura, José Roldão, mais conhecido como Professor Roldão, afirmou que atualmente as dívidas das Santas Casas superam os 17 bilhões de Reais e, por isso, destaca a importância da reunião.
“Hoje a dívida das Santas Casas é de cerca de 17 bilhões. Por isso estamos fazendo esse movimento em prol da saúde. A tabela não é reajustada há mais de 14 anos. O repasse para uma UTI é de apenas 470 reais, sendo que o custo operacional para a unidade, somado ao auxilio é de mais de 1200 reais,” comentou o professor que é presidente da Femigo.
Em sequência, o superintendente geral da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, José Antônio Lobo destacou que a reunião é motivo de tristeza para a população, pois a situação atual é extrema. O representante da unidade de saúde ainda ressaltou que a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) há muito tempo não é reajustada e, por isso, está muito complicada a administração financeira das unidades.
“A nossa situação é muito difícil, por isso fazemos essa reunião para divulgar para a imprensa. Corremos o risco de fechar a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia. Se a Santa Casa fechar hoje serão menos 40 cirurgias, 600 consultas e 1100 procedimentos, podem ser números inexpressivos, mas pode fazer falta. Quem vai atender esses pacientes? Os Cais de Goiânia?,” questionou o superintendente José Antônio Lobo.
Em seguida, o presidente da ACCG, Alexandre João Meneghini disse que os parlamentares precisam entender qual Brasil que querem para a população. Para ele, no atual momento, a única saída é o fechamento das unidades.
“Está chegando o ponto que não tem mais jeito. Existe um contrasenso de que essas unidades não precisam ter lucro. Mas vai chegar a hora que a Santa Casa, Araújo Jorge e Pio X vão fechar. Queremos um país sem hospital? Esse é o ponto que queremos chegar? Vai ser igual na Venezuela que não tem hospital?”, questionou o presidente da ACCG.
Alexandre Meneghini ainda alertou que há a necessidade de chamar a atenção da classe política para a situação da Saúde, não somente em Goiás, mas em todo o país.
“Temos que chamar a atenção para isso. Temos que engrossar o discurso de que vai fechar. Não temos dinheiro, não temos mais acesso ao financiamento. Vamos fechar. O Estado Brasileiro não investe na Saúde. Não tem dinheiro para a Saúde. Há 12 anos que temos a redução de leitos e o aumento de pacientes. Foram 500 Santas Casas que já fecharam as portas e não houve nenhum hospital público inaugurado ao lado,” declarou Meneghini.
Já o diretor geral do Hospital São Pio X, de Ceres, Edivânio Antônio contou que no ano de 2006 o Governo Federal queria fechar a unidade de saúde. O dirigente ainda destaca que há muito tempo a instituição passa por dificuldades financeiras.
“Na teoria, o hospital seria financiado com 60% de verbas do Governo Federal e 40% com doações. Na prática funciona com 99% de doação. É muita fábula e pouca ação. Os nossos representantes precisam escutar. Hoje o hospital tem, por lei, que atender 26 municípios que compõem a região cerca de 300 mil pacientes. Mas na prática atendemos mais de 30 municípios e mais de 400 mil pacientes,” explanou o representante da unidade de saúde do interior do estado.
De acordo com Edivânio, cirurgias são iniciadas em outras cidades da região, e diante de complicações, o paciente é encaminhado para Ceres, na expectativa de que a unidade de saúde possa solucionar o problema.
“Recentemente uma cirurgia foi iniciada em um hospital da Cidade de Mara Rosa, houve complicações, aí o paciente foi colocado em uma ambulância simples e encaminhado para Ceres. O que vamos fazer? Fechar as portas para esses pacientes? Por lei não podemos fazer isso e temos que atender. Nossa unidade, em números de atendimentos e especialidades, fica atrás apenas de Goiânia e Anápolis,” destacou o diretor geral do Pio X.
No encerramento do debate, os dirigentes das unidades de saúde entraram em acordo para divulgar a mensagem da real situação financeira vivida pelos hospitais. E ainda, se comprometeram em levar ao Governo do Estado e aos parlamentares que compõem a Assembleia Legislativa os pedidos, no sentido de evitar o fechamento das unidades.