Dia Mundial da Hipertensão

Sedentarismo, obesidade, rotina estressante, dieta carregada em sal, frituras ou alimentos industrializados (que, via de regra, contém altas doses de sódio em sua composição), tabagismo, alcoolismo. Eis os ingredientes perfeitos para uma receita bastante indigesta, mas que vem se fazendo cada vez mais presente na vida de brasileiros e brasileiras: a hipertensão. Segundo dados da última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019 e divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em novembro passado, mais de 38 milhões de pessoas sofrem desse mal no País (o número corresponde a 18% da população nacional).
Em termos globais, a doença já afeta mais de um bilhão de indivíduos, quantitativo que, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), corresponde a 30% da população adulta do mundo. Silenciosa e fatal, a pressão alta (como também é conhecida) é, a nível mundial, isoladamente responsável por 45% das mortes por infarto e por mais de 50% das mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Ela está igualmente associada a quadros de demência e, junto com a diabetes, à doença renal crônica (DRC), que, segundo a Sociedade Internacional de Nefrologia, já afeta cerca de 850 milhões de pessoas no mundo e causa mais de 2,4 milhões de mortes por ano. No Brasil, a entidade representante da categoria, aponta que, em média, um em cada dez adultos (cerca de 15 milhões de brasileiros) apresenta algum grau de comprometimento nos rins e mais de 125 mil pessoas já estão em diálise. A pressão alta corresponde a 35% desses casos e a diabetes a 30%.
Como, no entanto, a maior parte dessas complicações médicas podem ser evitadas com mudanças de hábitos e estilos de vida, o esforço para colocar o combate à doença na agenda dos cuidados em saúde tem sido uma constante nos últimos anos. Ele envolve uma luta que já mobiliza inúmeras ações e campanhas ao redor do mundo e cujo principal foco é a prevenção. Um exemplo é a que anualmente acontece neste 17 de maio, data que marca o Dia Mundial da Hipertensão.
Iniciativas como essas têm se mostrado particularmente relevantes para países cujas populações estão, em geral, presentes em camadas sociais de média e baixa renda, como o Brasil. No calendário nacional também há um dia especialmente reservado para o tema, o 26 de abril.
O deputado Gustavo Sebba (PSDB), presidente da Comissão de Saúde da Alego, defende que a melhor maneira de se evitar males como a hipertensão e as complicações dela decorrentes é investindo, justamente, em campanhas educativas de incentivo à prevenção. Ele destaca, nessa linha, um projeto de sua autoria, que foi apresentado durante o seu primeiro mandato na Casa (2015) e que tinha como objetivo instituir o mês Setembro Vermelho. Apesar de aprovado em Plenário, o projeto foi integralmente vetado pelo governo estadual da época.
"A hipertensão é uma condição de fácil diagnóstico e acompanhamento. Com os ajustes corretos, uma pessoa com hipertensão pode levar uma vida quase sem restrições. E o acompanhamento pode ser feito até pela própria pessoa, já que os aparelhos de aferição hoje estão a preços bem mais acessíveis e o uso está muito mais intuitivo", ressaltou.
Mal silencioso
Embora altos, os números revelados sobre a hipertensão arterial podem estar longe de representar a totalidade dos casos, o que torna o quadro ainda mais preocupante. O alerta vem da própria OMS. Ele indica que, em termos globais, quase metade da população hoje hipertensa ainda convive com a doença de forma silenciosa (assintomática), o que prejudica os levantamentos diagnósticos e, consequentemente, dificultam os tratamentos.
Todos esses dados juntos têm contribuído para deixar as autoridades de saúde ao redor do mundo cada vez mais alertas. Isso porque a hipertensão, quando não controlada, pode pode chegar a reduzir a expectativa de vida dos indivíduos em até mais de uma década.
Atenta a essa situação, a Diretoria de Saúde e Meio Ambiente do Trabalho da Casa tem promovido campanhas periódicas de combate e controle à doença. Mas, em decorrência da pandemia, o departamento informa que esses eventos se encontram paralisados desde o ano passado. No entanto, a aferição da pressão arterial e o atendimento médico continuam a fazer parte da rotina regular de trabalhos da Casa.
Nesse caso, os servidores hipertensos são atendidos pelos clínicos e encaminhados para o especialista. O departamento aguarda a admissão de um médico cardiologista, aprovado no último concurso público da Casa.
"A hipertensão é uma doença silenciosa porque geralmente não provoca sintomas e quando eles aparecem geralmente vêm associados a problemas muitas vezes irreversíveis. Por isso é importante estar atento, procurar o médico, fazer o diagnóstico correto e tratar com a medicação, quando indicada. Junto a isso é também imprescindível adotar hábitos de vida saudável, com menos estresse, perda de peso, atividade física regular e cuidados com a alimentação".
O alerta vem do atual presidente da Sociedade Goiana de Cardiologia (SGC), Leonardo Sara. Ele explica, inclusive, como a crise sanitária atual tem, de forma geral, agravado as condições de saúde da população dentro desse quadro. "Houve um aumento do número de mortes por infarto e AVC durante a pandemia e uma das causas principais é justamente o descontrole desses fatores de risco, onde se inclui a hipertensão. Além disso, a hipertensão descontrolada também está envolvida nos piores prognósticos com relação à covid-19, porque, ao contrair o vírus, o paciente nessa condição, acaba tendo maior chance de desencadear as formas graves da doença", comenta.
A inclusão de pessoas hipertensas nos grupos prioritários de vacinação contra a covid-19 leva em conta justamente os riscos apontados pelo cardiologista. Projeto sobre o tema foi defendido pelo deputado Karlos Cabral (PDT), em agosto passado. Com parecer favorável da Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), a matéria aguarda as duas fases de votações plenárias.
Outras duas matérias correlatas ao tema estiveram em tramitação em diferentes momentos na Alego. Ambas têm em comum a preocupação com as políticas de prevenção da doença junto ao público infantil. A mais recente delas foi apresentada no âmbito da atual Legislatura pelo deputado Bruno Peixoto (MDB). Ela versa sobre a obrigatoriedade de realização do chamado “Teste do Bracinho”, em crianças.
A medida tem por finalidade assegurar a identificação de quaisquer problemas relacionados à hipertensão arterial em crianças a partir de 3 anos de idade e facilitar o acesso delas ao tratamento adequado. Com relatório favorável aprovado pela CCJ, a propositura também aguarda agora as duas fases de votações plenárias.
A outra matéria citada foi sancionada em 2018 e promoveu alterações na Campanha Estadual de Esclarecimento sobre Hipertensão e Acidente Vascular Cerebral - AVC. Defendida pelo deputado Paulo Cezar (MDB) durante a Legislatura passada, a propositura previa medidas para prevenção e tratamento precoce da doença junto a jovens e crianças.
Entendendo a doença
A pressão arterial é a medida que marca a pressão exercida pelo sangue nas paredes das artérias. Ela tem como referência o chamado ciclo cardíaco, que, em linhas gerais, consiste nos movimentos de sístole (contração) e diástole (relaxamento) do músculo do coração (miocárdio). Por convenção, a pressão considerada normal e ideal é aquela que se mantém em torno dos 120 por 80 milímetro de mercúrio (mmHg), o famoso 12 por 8.
O presidente da SGC explica que a hipertensão se caracteriza, portanto, por um aumento da pressão nos vasos sanguíneos, que se mantém por longos períodos acima de 140 por 90 mmHg (conforme aferição realizada por um cardiologista na consulta). Quando presentes, os seus principais sintomas são: dor de cabeça, alterações visuais, dor na nuca, falta de ar e palpitações.
"É uma doença multifatorial, com várias causas, sendo a genética o fator principal. Na imensa maioria das vezes não apresenta sintomas, principalmente nas fases iniciais. Quando eles surgem, acabam refletindo o resultado de anos ou até mesmo décadas de pressão arterial elevada e não controlada. Por isso é considerada tão perigosa", esclarece Leonardo Sara, que também coordena atualmente o Serviço de Tomografia Cardiovascular da Clínica CDI, em Goiânia (a instituição atende servidores do estado, via convênio com o Ipasgo).
Segundo o cardiologista, o convívio com esse aumento descontrolado e silencioso da pressão arterial ao longo dos anos acaba sobrecarregando o organismo e provocando lesões nos vasos sanguíneos e alguns órgãos alvo como o coração.
Com quase 40 anos de atuação na área, o cardiologista Vilmondes Oliveira, do Hospital do Coração Anis Rassi (a instituição também possui convênio com o Ipasgo), informa que a doença se divide em duas categorias bastante distintas. A depender de seu fator de origem, ela pode ser identificada como hipertensão arterial secundária ou essencial. A diferença fundamental entre ambas, explica o médico, é que, no primeiro caso, há a possibilidade de cura.
“Já presenciei casos de cura, nos casos em que temos nas mãos a chamada hipertensão arterial secundária. Isso ocorre principalmente em crianças e adolescentes que geralmente têm doenças como tumores na região dos rins ou da supra renal. Ou mesmo que possuam algum tipo de obstrução nos vasos renais, seja por nascença ou por outros motivos. Também acontece nos casos de redução da obesidade, com a perda significativa de peso pelos pacientes, seja de forma natural ou cirúrgica (cirurgia bariátrica). Nesses casos, uma vez tratada a doença ou o problema de base, há um processo de restabelecimento do equilíbrio da pressão e, consequentemente, de suspensão do tratamento com os remédios até então usados. Já nos casos em que ocorre a chamada hipertensão arterial essencial, que é aquela que não tem causa conhecida, geralmente os pacientes fazem uso de medicamentos e outros controles por toda a vida”, exemplifica.
Coração por um fio
Você pode achar que não, mas as doenças cardiovasculares (DCV) são a primeira causa de mortes no Brasil e no mundo, mesmo diante da própria pandemia do novo coronavírus. Com cerca de mil óbitos diários e de 350 mil anuais, a média nacional supera, por exemplo, em mais de duas vezes, o somatório de todas as vítimas fatais de câncer no País.
Esses são alguns dados atualmente divulgados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. Para mostrar a magnitude do problema, a entidade criou o Cardiômetro - um medidor que, desde 2016, acompanha a evolução do quadro e fornece projeções atualizadas sobre o assunto. Do início do ano até o momento do fechamento dessa matéria, mais de 147 mil óbitos já haviam sido contabilizados.
O cardiologista Leonardo Sara lembra, inclusive, que esse é um quadro que a própria crise sanitária está ajudando a agravar. Isso porque, com a nova rotina de isolamento social imposta, as pessoas acabam indo menos ao médico, fazendo menos atividades físicas, além de estarem tendo que conviver diariamente com maiores níveis de estresse. “Nessa pandemia é importante não abandonar a saúde do coração, porque as doenças do coração continuam matando”, alerta.
Obesidade em alta
Para o cardiologista Vilmondes Oliveira, a evolução das cardiopatias nos últimos anos é uma consequência direta do aumento dos diagnósticos de hipertensão junto à população. O médico afirma ainda que essa situação guarda uma relação direta com o aumento da obesidade, por exemplo, que já atinge pessoas de diferentes faixas etárias. Estima-se que, somente durante a pandemia, o ganho médio de peso, no Brasil, tenha girado em torno dos seis quilos (por indivíduo). "Esse ganho de peso, na maioria das vezes, é acompanhado de aumento da pressão arterial, surgimento de diabetes mellitus, além de problemas ortopédicos como artrose nos joelhos e quadris”, pondera.
Oliveira aproveita ainda a oportunidade para questionar, inclusive, hábitos que, segundo ele, vêm sendo sistemática e equivocadamente cultivados pelo modelo de sociedade atual. “A gente não vê um caminho favorável pela frente porque tudo ao nosso redor nos induz a consumir principalmente alimentos industrializados que, na grande maioria das vezes, são muito danosos à saúde. A criança já começa a perceber o mundo através dos alimentos divulgados pela mídia, fundamentalmente através da televisão", lamenta.
Fazendo coro à fala do colega, o atual presidente da SGC também reforça o alerta sobre perigos referentes a esse ganho descontrolado de peso. “A obesidade interfere diretamente no metabolismo do indivíduo, alterando todas as funções fisiológicas do organismo. Consequentemente isso traz impactos para os quadros de hipertensão e para as demais doenças em que ela resulta, principalmente o infarto e o AVC [também conhecido como derrame cerebral]", arrematou.
Projeto correlato a esses temas foi apresentado na Legislatura passada e teve sua votação encerrada por decurso de prazo. Ele havia sido defendido pelo então deputado Luis Cesar Bueno (PT) e visava a criação de um cadastro de obesidade infanto-juvenil nas escolas de ensino fundamental e médio da Rede Estadual de Educação de Goiás. “A obesidade é uma das doenças crônicas não transmissíveis mais comuns na infância, com tendência a se prolongar até a vida adulta, tornando precoce o surgimento de outras doenças a ela associadas, tais como hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes tipo 2, entre outros fatores de risco cardiometabólico”, justificou o autor, na ocasião.
Convivendo com traumas
Quem sobrevive a uma dessas situações traumáticas provocadas pelo infarto ou derrame cerebral, normalmente é obrigado a conviver com sequelas muitas vezes duradouras. Esse é o caso da ex-deputada Betinha Tejota. Ela sofreu um AVC em 2014 e luta até hoje para se recuperar por completo das marcas deixadas pela passagem da doença.
Ainda com pequenos comprometimentos na fala e na locomoção, a ex-deputada da Alego se viu obrigada a fazer modificações importantes em sua rotina de trabalho. “Tive um AVC hemorrágico e dois isquêmicos. Tudo isso mudou minha forma de viver, pois antes eu corria o tempo todo trabalhando. Andava em todo o estado de Goiás, ficava de quatro a cinco dias trabalhando direto, mas agora o ritmo diminuiu, infelizmente”, lamentou em entrevista concedida à Alego, em 2018.
Outro caso semelhante foi vivenciado mais recentemente por um jovem servidor da Casa, Leonardo Reis. Ele sofreu um AVC, em agosto passado, quando tinha apenas 26 anos. "Após sentir uma forte dor de cabeça, fui parar no hospital. Fiquei dois dias na UTI e outros cinco internado. Ao sair da internação, fiquei cerca de 1 mês e meio sem conseguir andar e usando cadeira de rodas", relembrou.
Após sair da internação, Reis foi diagnosticado com hemiparesia, uma paralisia que afetou todo o lado direito do seu corpo, fazendo com que perdesse por completo o equilíbrio e a voz. "Com ajuda de uma equipe muito boa fui voltando a conversar, a mexer o braço e comecei a andar, mas ainda tenho um pouco de dificuldade por causa da perda muscular, principalmente no braço e na mão direita. Não consigo fazer coisas muito delicadas, nem correr", relatou.
Ainda que sem previsão de quando voltará a ter autonomia para realizar com plenitude as suas atividades físicas, Leonardo vem conseguindo, no entanto, retomar, aos poucos, parte de sua rotina. Ele voltou a trabalhar no gabinete do deputado Thiago Albernaz (Solidariedade) no início deste mês e relata que tem conseguido realizar as suas funções sem grandes dificuldades, até o momento. "É preciso muita dedicação e força de vontade para superar essa situação'', finalizou, agradecendo a todos os profissionais envolvidos em sua reabilitação.
Dentre esses profissionais, estava a terapeuta ocupacional Gisele, cuja contribuição, inclusive, foi fundamental para que Leonardo pudesse retornar às suas antigas atividades laborais. "Eu fiz treinamentos para que ele pudesse voltar os movimentos funcionais do braço direito. Adotamos um programa de reabilitação inteiramente focado na retomada de suas atividades ocupacionais, especialmente as que envolviam o uso de computador, que é a sua principal ferramenta de trabalho", explicou.
Já no caso de Betinha, o tratamento de reabilitação incluiu outras terapias não tão conhecidas nem convencionais. Segundo um dos filhos da ex-deputada, Yuri Tejota, a autonomia alcançada pela mãe, que hoje consegue dar entrevistas e andar sozinha, por exemplo, só foi possível graças ao uso terapêutico do canabidiol. Seu relato foi apresentado durante audiência pública realizada na Alego em 2019, onde defendeu, na condição de Presidente da Associação Goiana de Apoio e Pesquisa à Cannabis Medicinal (Agape), o uso do medicamento.
Em 2016, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a prescrição médica do canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabinol (THC), mas outras políticas públicas ainda precisam ser devidamente implementadas para facilitar o acesso a esses remédios, no Brasil. Isso foi o que argumentou, na ocasião, o então deputado Diego Sorgatto (PSDB), que é atualmente prefeito de Luziânia. Propositor do encontro, ele também é autor de um projeto que dispõe sobre a política estadual de uso da cannabis para fins medicinais e que visa, inclusive, assegurar a distribuição gratuita do medicamento. A matéria, que tramita sob o processo de nº 2572/19, aguarda a primeira fase de discussão e votação em Plenário.
Vida saudável
Embora os exemplos de superação protagonizados por Betinha e Leonardo possam ser inspiradores em vários aspectos, a experiência do trauma e as sequelas por ele deixadas atualizam uma antiga e conhecida máxima em saúde que diz: "melhor prevenir do que remediar". No caso de Leonardo, que teve um AVC em decorrência de uma malformação genética (cavernoma cerebral), infelizmente, a prevenção não estava ao seu alcance.
Mas, para lidar com a hipertensão e evitar as complicações dela decorrentes, prevenir continua a ser, sim, o melhor remédio a se alcançar. Isso é o que afirmam não apenas todos os profissionais aqui entrevistados, mas também o que as próprias campanhas do Ministério da Saúde não cessam em reiterar.
Exemplo mais atual é encontrado no panfleto "Vida Saudável: o melhor remédio", que estimula a adoção de hábitos de controle e prevenção da doença por parte da população, em geral. Atividade física regular e alimentação de qualidade, com foco na redução do consumo de sal, estão entre as recomendações mais importantes.
O educador físico Cleber Alexandre da Silva, que atua, há 14 anos, com reabilitação neurológica, atendendo principalmente vítimas de AVC, faz coro a cada uma dessas orientações. Especialista em psicomotricidade clínica e relacional, ele informa que a maior parte dos pacientes que atende tem histórico de hipertensão associada a maus hábitos, que podem ser evitados. E, por isso, dá as suas dicas para a manutenção da saúde na vida diária.
"Todo indivíduo, independente das doenças que tenha ou não, deve estabelecer em sua rotina a tríade da vida saudável: aliar um bom repouso e sono, a uma alimentação equilibrada e balanceada e a prática regular de exercícios físicos direcionados. Em termos de condicionamento e preparo físico, a gente sugere que os indivíduos cultivem, ao menos, o hábito de fazer caminhadas, superiores a 30 minutos diários, ou outras atividades que lhe deem prazer, que pode ser, por exemplo, uma natação ou hidroginástica, ou que pedale. E que tenha acesso a atividades com peso para fortalecer o músculo esquelético e, assim, evitar a osteoporose e problemas articulares", orienta.
Areda Fiori é professora de yoga em Goiânia, há mais de cinco anos. Formada em escolas de referência na Índia, país de origem da prática, ela afirma que muitos dos alunos que a procuram para as aulas fazem algum tipo de tratamento para hipertensão.
Para a professora, a prática do yoga, que vem se difundindo no ocidente há algumas décadas, traz tanto benefícios físicos quanto mentais. E não apenas para indivíduos hipertensos, mas também para todos aqueles que possuem diagnósticos relacionados a problemas cardíacos, de forma geral.
"No aspecto psicológico, a pessoa muito agitada tende a ficar mais nervosa, mais ansiosa e o yoga trata muito isso, fundamentalmente por causa do foco que a prática dá ao desenvolvimento de uma respiração mais consciente. Por outro lado, por possuir também uma intensa prática física, ele acaba ajudando igualmente na melhoria da circulação", explica.
Porém, para Areda, o maior ganho do yoga está mesmo no campo psicológico, apresentando bons resultados, sobretudo para o controle do estresse. "Apesar de malhar bastante o corpo e deixá-lo mais definido, o yoga nos ajuda a agir, fundamentalmente, com menos impulso e mais consciência. A mente vai ficando mais equânime, porque os picos de emoções mais fortes vão diminuindo com o passar do tempo. Desta forma, ao reagir aos estímulos da vida cotidiana, o indivíduo passa a oscilar, com cada vez menos frequência, entre quadros de extrema euforia e outros de extrema tristeza, por exemplo, que são hoje ainda muito comuns", argumenta.
O yoga integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICs), sendo uma das 29 abordagens terapêuticas atualmente reconhecidas pelo Ministério da Saúde. Na Alego, o tema ganhou destaque durante a 16ª Legislatura, quando, por iniciativa do então deputado Luis Cesar Bueno (PT), lei correlata foi aprovada no estado de Goiás, fazendo com que as PICs passassem a integrar a rede pública de saúde goiana (em vigor desde 2009).
Políticas públicas
Embora reconheça a existência de avanços nas políticas públicas de prevenção e combate à hipertensão, o cardiologista Vilmondes Oliveira considera que, diante da magnitude do problema, os resultados alcançados ainda são muito tímidos. Em razão disso, ele defende ampliação dos investimentos na área e sugere o desenvolvimento de programas integrados, capazes de envolver, por exemplo, de forma mais contundente outros setores, como o educacional, por exemplo.
“O nosso povo, por uma condição histórica, não tem cultura de prevenção. Desse modo, a política pública e também a da rede privada precisam ter um incentivo muito maior para que as noções de saúde preventiva possam atingir de forma mais intensa o cidadão. Por isso, eu penso que ela deve começar pela da escola, na educação básica, com o ensino de um novo estilo de vida, para que os indivíduos possam, desde sua primeira formação, aprender bons hábitos, a partir do incentivo aos esportes e a uma alimentação correta, assim como já acontece em alguns países desenvolvidos”, arremata.
Apesar de também enaltecer as ações que, via de regra, promovem a reeducação e a conscientização, o presidente da Comissão de Saúde da Casa, deputado Gustavo Sebba (PSDB), afirma que o poder público não pode se descuidar, no entanto, dos demais investimentos na área. “É preciso ampliar o acesso aos tratamentos, especialmente a partir da descentralização dos serviços. Aqui em Goiás, a Região Metropolitana de Goiânia ainda concentra a imensa maioria dos especialistas, fazendo com que as pessoas do interior tenham que se deslocar para a capital para exames de rotina”, pondera.
Segundo ele, essa descentralização é salutar, inclusive, para o próprio sucesso das campanhas de controle e prevenção de doenças, incluindo a hipertensão. “Nem todo mundo tem condições ou está disposto a cruzar centenas de quilômetros para cumprir uma agenda médica preventiva. Muitos acabam vindo apenas quando a situação já é crítica. Nesse ponto, ainda temos muito o que investir, erguendo unidades de saúde e contratando profissionais especializados por todo o estado”, reivindica, ao final, o médico e parlamentar.